Quem só ler o título, poderá pensar que apenas se salientam “estas” por serem as mais relevantes. Errado. É por serem as piores. Confesso que só mesmo por carolice e consideração pelos meus amigos, mais uma vez, me vou debruçar sobre este assunto.
Primeiro, porque ninguém liga peva. É frequente ouvir os adeptos dos clubes dizerem ou comentarem que “isso” não interessa nada. “Isso” é o Relatório e Contas anual, semestral ou, como neste caso, trimestral, no fundo o espelho dos “seus” clubes. Aquilo que produziram num determinado período, relativamente ao que, alguns meses atrás, aprovaram no Orçamento. Para os menos informados nestas questões, gostaria de salientar que a sua importância, não se mede pela grandeza dos números, mas sim pela sua exequibilidade. É preferível um Orçamento da SAD do Braga no valor de, por exemplo, 13M€ do que outro do Sporting, no valor de 60M€ e no final da época se concluir que, o do Braga foi aquele que menor “desvio” sofreu. Por outras palavras, o que interessa verificar, é se foi capaz de cobrir os Custos com os Proveitos ou, como agora se diz, os Gastos com os Ganhos.
No caso em apreço, tratou-se da apresentação do exercício relativo ao 3º trimestre desta época desportiva (1 de Julho de 2011 até 31 de Março de 2012). Uma demonstração de resultados. Sozinha não vale nada, é apenas indicadora de números que, isolados, nada significam. Tem que ser “somados” aos anteriores, pelo menos, os que constarem do último Balanço Anual. Excluindo raras excepções, como Pedro Guerreiro do Jornal NEGÓCIOS ou Camilo Lourenço, os pasquins só falam “do Passivo”. Estes dois sabem como aquilo anda mas, como bons benfiquistas calam-se, ou ainda pior, não criticam. Veja-se que Bagão Félix classificou de “genial” a operação que levou o estádio para a SAD! Esqueceu-se que ainda não está pago. Mas também não admira. O senhor fez parte daquele governo que aceitou uns papéis a que chamavam “acções”, sem cotação nem qualquer valor comercial, como dação em pagamento de dívidas fiscais.
Se analisarmos as Contas apenas referentes aquele período, podemos classificá-las em poucas palavras. As do Benfica são razoáveis; as nossas más; as do Sporting péssimas. Se as “juntarmos às que vem detrás”, minha nossa senhora! As nossas são más, as da “instituição” péssimas, e as do Sporting, um descalabro. Acresce o facto de os 3.os trimestres, no caso particular do futebol, terem dificuldades sazonais (decrescem as receitas, os custos são os mesmos, e não há transferências), o que constitui sempre uma boa desculpa para os responsáveis. O 4º trimestre costuma ser bom. As vendas dos “activos” (Valentim Loureiro chamava-lhes “mercadoria”) são feitas depois da época terminar, a tempo de ainda entrarem no Relatório Anual, o que disfarça a situação.
Seria preciso recuarmos até 1997 ano em que o Sporting constituiu a primeira SAD em Portugal, para percebermos como tudo isto funciona (eu ia dizer: para se chegar ao que se chegou). O mentor do “projecto” (é assim que gostam de dizer) foi José Roquette. Como o senhor era banqueiro, achou que poderia conseguir fundos através duma sociedade “especial” com privilégios fiscais e outros, que servisse os seus devaneios. Pensou que um clube eclético e prestigiado com dezenas de modalidades e um valioso património imobiliário podia ser um pólo para atracção de capitais. E se bem o pensou, melhor o fez. Aventurou-se na construção de Centros Comerciais, e um rol imenso de sociedades cruzadas que, 15 anos depois, levaram ao insólito número referido no seu último Relatório de 60 milhões de euros negativos de Capital Próprio. Quer dizer: os 34,9M€ que tinham no início desapareceram, e já estão a dever mais 60 milhões.
A qualidade de gestão dos presidentes destas sociedades é um desastre, não parecem compreender a gravidade da situação, pese embora o nosso, ter conseguido pelo menos, relevantes êxitos desportivos. Os controlos financeiros da FIFA que se anunciam não passam de remendos que só adiam o problema. As contas da última década são de arrepiar. Pior do que isso é não se vislumbrar nenhum objectivo de recuo por parte destes cavalheiros. Nem valerá a pena dissecar aqui os números, estão em vários pasquins. Andam muito preocupados com os 400 mil euros do Leiria mas pergunto: alguém tem a real noção do que significam 400 milhões de euros de Passivo, numa SAD da treta, sendo mais de metade, financeiro?
E não me venham para aqui com o exemplo do Real de Madrid que apresenta valores ainda mais elevados. Quem me dera ter “aquele” Passivo com os Ganhos que eles conseguem. Com a actual conjuntura, palpita-me que alguns Bancos vão passar outra vez a ser Cafés, e algumas Sociedades Anónimas Desportivas voltarão a ser Clubes. Foi culpa dos gestores ou da “invenção” do senhor Roquette? Se calhar aconteceu o mesmo que com o submarino do Raul Solnado: “a cor era bonita só que… não flutuava”!
Até para a semana
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