domingo, 20 de julho de 2008

Estrelas do Passado: Zé Beto

José Alberto Teixeira Ferreirinha - ZÉ BETO, o guarda-redes que veio do mar.

Nasceu em Matosinhos no ceio de uma família de pescadores. Foi nas ruas da Vila que deu os primeiros pontapés na bola, por vezes uma simples bola de trapos, pois o dinheiro não dava para mais. Aos 5 anos a família Ferreirinha mudou-se para Leça, mas Zé Beto nunca perdeu o contacto com os antigos amigos de rua com quem deu os primeiros toques na redondinha. Mais tarde foram viver para a cidade do Porto. Foi aqui que a vida de Zé Beto entrou numa fase mais instável, não gostava da escola, chegando até a reprovar por faltas. Logo que terminou a Escola Preparatória inscreveu-se num curso de electromecânica e mais tarde de serralheiro. Tudo isto em vão, o puto continuava a não gostar de estudar, acabando por ir trabalhar para as obras.

O futebol surgiu na sua vida por esta altura. A convite de um amigo foi treinar para um pequeno clube chamado Pasteleira. O mais difícil foi convencer o pai, mas depois de muita insistência lá conseguiu o seu apoio, mas ficando acordado que só haveria aprovação total após a observação de um dos seus treinos. Assim aconteceu, no final do treino disse-lhe mais ou menos isto: - Tu não gostas da escola, mudas de emprego como quem muda de camisa, portanto tens o meu aval, vai tentar o futebol. Zé Beto ficou louco de contente, o pai tinha concluído que afinal o puto tinha jeito para a bola. Tornou-se o seu principal apoiante e o seu treinador particular a tempo inteiro.

Os dirigentes do Pasteleira ficaram radiantes com o aval do pai, pois tinham reparado que o miúdo tinha garra e habilidade para defender as redes do clube. Contudo, ainda faltava resolver um pormenor. O miúdo ainda não tinha idade para jogar pelos juvenis, sendo necessário pedir autorização para que ele pudesse vestir a camisola número um como era desejo de todos em especial do treinador. O pedido foi aceite e o rapaz pode assim envergar a camisola número um e tomar conta da baliza da equipa de juvenis. Desde logo, começou a dar nas vistas e não tardou em despertar a atenção dos responsáveis de outros clubes, entre os quais o Futebol Clube Do Porto.

Após disputa entre Porto e Leixões, o jovem guardião ingressa nos quadros do FCP e de lá só saiu um ano por empréstimo para representar o Beira-Mar. Na época de 1975/76 conseguiu o seu primeiro título, jogava na altura nos juvenis. Foi então que teve também a sua primeira internacionalização, actuando no campeonato europeu e no mundial de juvenis. Até chegar a sénior foi sempre o titular indiscutível das redes portistas. No primeiro ano de sénior, com Fonseca e Tibi pela frente, dois guarda-redes com muita experiência, o jovem Zé Beto foi emprestado ao Beira-Mar por uma temporada, onde rapidamente conquistou a titularidade.
Depois de uma época no clube de Aveiro, regressou ás Antas de onde, entretanto tinha saído o seu amigo Pedroto devido a diferendos entre este e então presidente portista.

Pedroto foi substituído por um Austríaco de nome Stessl, que entre Zé Beto e Fonseca, optou sempre pelo segundo. Foram dois anos de travessia no deserto, no entanto o jovem guarda-redes nunca desistiu nem perdeu o ânimo, entregando-se de corpo e alma nos treinos, confiante de que o seu dia iria chegar. Duas épocas mais tarde, Pinto da Costa assume a presidência do clube e com ele regressa às Antas o Senhor Pedroto. Zé Beto foi titular em todos os jogos da pré-época, até que num jogo com o Boavista se lesiona, adiando assim a sua estreia como titular em jogos oficiais. Triste com o azar que lhe batera à porta, não perdeu o entusiasmo e a garra que o caracterizavam e logo que recuperou da lesão entregou-se ao trabalho procurando recuperar a forma perdida.

Finalmente surge a tão merecida titularidade. Foi num jogo com o Guimarães na época 83/84.
Zé Beto tornou-se no titular indiscutível das redes portistas, as suas exibições enchiam o olho a todos os que assistiam aos jogos do FCP, rapidamente se tornou num ídolo para os adeptos que reclamavam a sua presença na selecção principal. Contudo os seleccionadores sempre preferiram o então guarda-redes do Benfica, Manuel Bento.

Mais tarde surge o castigo da UEFA. Pela primeira vez na sua história, o FCP chega a uma final europeia. Foi uma alegria imensa para todos, que encaravam aquele jogo como uma enorme festa. Mal sabiam o que estava para acontecer. A final foi com a poderosa equipa da Juventus que, desde o início do jogo até final, foi contando com as benesses do árbitro. Essa foi uma noite triste para Zé Beto. Segundo o relatório do arbitro o guarda-redes ter-lhe-á batido com a bandeirola de um dos auxiliares na cabeça. Zé Beto sempre negou esta acusação, no entanto a UEFA não teve contemplações e impediu-o de jogar nas competições europeias durante a época seguinte.

Os anos que se seguiram não se revelaram muito positivos para a carreira do guarda-redes de quem José Maria Pedroto tanto gostava. Perdeu a titularidade para o polaco Mlinarzich.
O pior ainda estava para acontecer. Quando se previa a sua saída das Antas rumo a outro clube, Zé Beto foi vítima de um brutal acidente que lhe roubou a vida e o impediu de finalmente mostrar ao mundo todo o seu talento.

Não é Portista quen quer, só é Portista quem pode

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