segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pensamentos de um Mito (XX) – Carta ao Melhor Jogador do Mundo

Já há muito tempo que desejava escrever-te, mas nunca soube quando e como faze-lo. Com tanta conversa que por aí anda sobre qual é o melhor jogador do mundo percebi que não poderia adiar mais o momento. Sei que não será fácil redigir estas linhas, pois de todas as “Cartas” que já escrevi desde que colaboro para este Blog (e mesmo considerando todas as outras) esta é a primeira que escrevo sem saber a quem se dirige. É isso mesmo – não sei quem tu és -, e ninguém parece capaz de me auxiliar neste enigma. Decidi pois escrever-te, na esperança de que se me faça luz sobre a tua verdadeira identidade.

Não penses todavia que desconheço tudo a teu respeito. Sei por exemplo que tens o hábito curioso de mudar constantemente de nome e nacionalidade e que para tornar tudo ainda mais confuso até permites que te tratem por mais do que um nome em simultâneo. Assim, ao longo das décadas adoptaste nomes tão díspares como Puskas e Di Stéffano, Pelé e Eusébio, ou Cruijff e Beckenbauer. Já foste Húngaro e Brasileiro, Inglês e Francês, Argentino e Português (mas sempre deste a entender que favorecias o continente Sul Americano – quiçá pelo clima, o que se compreende). Mas isso não te chegou, e talvez por mero aborrecimento decidiste mudar também de morfologia. Já foste alto e elegante, assim como baixo e meio atarracado. Certa vez, decidiste que haverias de desafiar a natureza e provaste ao mundo que, mesmo jogando com as pernas tortas, o futebol poderia ser algo de maravilhoso.

Com a mudança de físico, marcaste também a mudança das diferentes modas que o jogo sofreu. Se no início era a técnica, logo a velocidade, a força e a táctica ditaram também as suas regras. A única coisa a manter-se inalterável foi a inteligência que aplicas a cada uma das tuas acções em campo.

Actualmente, a tua identidade parece dividir-se entre um Argentino e um Português. Não me custa tratar-te por Ronaldo. Tenho dúvidas se alguma vez terá havido jogador onde técnica e força se encontrassem tão equilibradas no mesmo corpo, e o resultado é que, em vez de se poder falar na existência de um ponto fraco, tem-se é de procurar uma faceta do jogo em que não sejas forte (a única ocasião em que te vejo em dificuldades é quando recebes o jogo de costas para a baliza, e tens muito tempo para melhorar). Mas admito que ainda é mais fácil tratar-te por Messi; não porque seja melhor que Ronaldo (para mim estão ao mesmo nível), mas porque neste caso conseguiste atingir o mesmo nível de grandeza depois de te veres obrigado a fazer das tuas fraquezas (um problema hormonal que te dificultou o crescimento em criança) as tuas maiores forças, adquirindo uma intimidade com a bola (ás vezes parece que ela se recusa a abandonar o teu pé) e uma capacidade de drible em espaços exíguos que actualmente não tem paralelo.

Contudo, nos dias de hoje o futebol é um jogo mais complexo (não raras vezes mais aborrecido) do que o foi nos seus primórdios, e a influência que exerces na tua equipa não mais foi a mesma. Sinto-o. O colectivo, cansado de ser um mero actor secundário, há muito que se revoltou e assumiu o papel principal. Creio que há pessoas que se recusam a aceitar esta realidade e daí nasceram muitos equívocos.

Terá havido excepções, mas quando olho para os nomes que adoptaste ao longo dos tempos apercebo-me que não eras tu a peça que fazia a equipa funcionar. Tu és sim o elemento que, inserido num colectivo eficaz, o pode transportar para o nível seguinte de excelência. Se isto não se verificar (se a equipa em questão não funcionar), não passas de um poderoso canhão de guerra que passará a maior parte do tempo a dar tiros ao calhas, só acertando ocasionalmente no alvo.

A semana passada tive a confirmação definitiva de tudo isto quando vi um Treinador Português, José de seu nome, recordar ao mundo inteiro que um jogador, por muito bom que ele seja, sozinho nada consegue. Como? “Desligando-o” (ou se preferirem desconectando-o) do jogo. Há 3 anos, vi o Milan de Carlo Ancelotti fazer exactamente o mesmo, no mesmo estádio, a Cristiano Ronaldo (cá está…). Basicamente, consiste em fazer com que tu só recebas a bola em condições - em todo o jogo – duas ou três vezes; e que, mesmo dessas vezes, não tenhas ninguém a quem passá-la, num filme que bem se podia chamar 90 minutos de solidão…

Tácticas refinadas aparte, tens ainda de te haver com a violência dos teus marcadores directos - o que certos eruditos entenderam por correcto chamar "virilidade" -, que recebem carta branca dos seus treinadores para parar-te a todo o custo. Saberás bem do que eu falo, pois num tempo muito recente chamaste-te Marco Van Basten, e penduraste verdadeiramente (e tristemente) as botas aos 26 anos...

Sinceramente, creio que o tu queres é que ninguém saiba verdadeiramente quem és. Mas olha, se for verdade que, como escrevi há pouco, a inteligência é a única característica do bom futebol que se manteve intacta ao longo das eras, então arrisco que o teu nome é Xavi Hernandez. Nem essa tua aparente timidez disfarça o facto de que, contigo em campo, todos os teus companheiros serem (ainda) melhores jogadores, e não me admirava que do alto dessa torre de marfim que é o teu futebol tu te rias em silêncio, enquanto o resto do mundo procura as suas verdades noutro lado.

4 comentários:

Cristiano Moreira disse...

Sexta-feira, 23 de Abril de 2010
SLB pode perder 9 pontos

" a hipótese de o Benfica vir a perder 9 pontos pelautilização indevida do jogador Alan Kardec , Parece que é o tema do dia hoje. Na Comunicação Social ainda não vi nada, será verdade? Ora vejamos o apurado...

A situação é a seguinte:
- Alan Kardec jogou o seu último jogo pelo Vasco da Gama no dia 2009-08-29.
- Alan Kardec jogou o seu último jogo pelo Internacional no dia 2009-11-01 .
- Alan Kardec jogou o seu primeiro jogo pelo Benfica no dia 2010-01-24 .
- Resumindo: jogou por 3 clubes na época desportiva de 2009/2010 .

Nos regulamentos está o artigo 5º que diz o seguinte:
3. «Os jogadores podem ser inscritos por um máximo de três clubes durante o período compreendido entre 1 de Julho e 30 de Junho do ano seguinte. Durante este período, o jogador só é qualificável para participar em Jogos Oficiais por dois clubes .» "

Pedro Silva disse...

Caro Cristiano, este tema já foi abordado num Blog Portista e também foi desmontado por quem está por dentro do assunto...

Se queremos apontar alguma coisa a este Benfica que seja uma coisa com cabeça tronco e membros. Acredite que existe muita coisa que podemos "atirar" à cara do Benfica e esta não é uma delas.

Cumprimentos e saudações Portistas!!!

JOSE LIMA disse...

Caro Mito
É um excelente artigo. Lembra-me um argumento cinematográfico (eu fui, na minha juventude, cineasta amador) com as linhas de interesse, continuidade, narrativa e suspense que conferem ao seu texto nota 20.
Parabens

Mito disse...

Antes de mais, o meu agradecimento ao José Lima pelo elogio.
Pareceu-me que esta seria uma temática apropriada, dado o frenesim de opiniões sobre quem merece o ceptro de "melhor do mundo". Para nós, simples adeptos, quantos mais candidatos houver e mais renhida for a luta, melhor! Significa que mais e melhor futebol de qualidade teremos para ver ;)

Saudações Azuis e Brancas!