terça-feira, 25 de junho de 2013

Mundial sub 20 : Da geração coragem à geração talento. ( 2ª parte)

  • O efeito Belenenses na Geração Talento
O Belenenses acabou por ter um efeito curioso nesta geração. O clube de belém fez um campeonato extraordinário na II Liga e com alguns jovens talentos portugueses. A sua equipa directiva e técnica apostou nalguns jovens desta faixa etária no momento da constituição do seu plantel. Curiosamente foi no Belenenses que algumas decisões sobre a equipa a apresentar neste Mundial começaram a ser tomadas.
 
Primeiro na hora de afastar alguns atletas até então titulares na selecção. O caso mais claro é o do guarda-redes Rafael Veloso, que enquanto júnior do Sporting era o titular da equipa, mas que ao transferir-se para o Belenenses perdeu o comboio, por ter sido suplente durante toda a época do britânico Matt Jones. Tal serviu para dar espaço ao aparecimento de José Sá do Marítimo B, que acabou por ser uma das maiores surpresas apresentadas por Edgar Borges nesta competição. Principalmente quando Sá partiria atrás da dupla de guarda redes que tinha estado no euro sub-19. A dúvida sempre havia sido entre Veloso guarda redes do Sporting e Varela guarda redes do Benfica.
 
Veloso saiu para o Belenenses e perdeu espaço competitivo, e Bruno Varela no Benfica b teve que dividir a baliza com Mika ( curiosamente uma das figuras de destaque da Geração Coragem), e viu assim um terceiro elemento como José Sá aparecer de surpresa e roubar o lugar que parecia destinado a uma luta a dois. 
O mesmo aconteceu com o lateral esquerdo Daniel Martins. Foi titular à frente do lateral esquerdo do Sporting, Mica, durante o euro sub-19, conferindo assim um maior equilíbrio entre jogadores de Sporting e Benfica, mas que ao transferir-se para o Belenenses perdeu não só a titularidade como atá a convocatória para o Mundial, após ter efectuado apenas um jogo pelo Belenenses na época transacta. Quem saiu beneficiado foi o lateral do Sporting B, Mica, que assim assumiu a titularidade. Não se nota por aí grande diferença. A posição de lateral esquerdo é uma das pechas desta equipa, uma vez que não há um titular indiscutível como à direita onde Cancelo é mesmo uma das figuras da equipa.
 
Mas o Belenenses não retirou apenas o sonho do Mundial a alguns sub-19, concedeu o sonho a outros. Caso disso é Ricardo Dias, que no euro sub-19 era suplente e agora parte na frente de Agostinho Cá no onze inicial.
Parece-me uma decisão errada por parte de Edgar Borges. Agostinho Cá acompanhou Ié logo após o campeonato nacional de juniores numa transferência polémica para o Barcelona, quando tinham também o Inter de Milão com o negócio praticamente fechado.
Para a evolução de ambos, foi um passo complicado, pois Cá tem jogado poucos jogos no Barcelona B e tem sentido as naturais dificuldades de adaptação. Contudo, a transferência para o Barcelona já diz muito da qualidade de Agostinho Cá. Era um dos jogadores de peso desta geração. Conseguia dar o equilíbrio ao meio campo. O tal meio campo que tem o defeito de ser demasiado macio, com Cá ganhava um jogador mais forte no duelo físico e ao mesmo tempo que serve melhor de tampão aos contra ataques adversário graças à sua qualidade de posicionamento, mas ainda oferecia a capacidade de saber sair a jogar com critério e pautar bem os ritmos de jogo.
 
No jogo com a Nigéria, a equipa portuguesa que se deixou empatar e ia perdendo o meio campo, voltou a ganhar as rédeas do jogo quando Cá entrou em jogo.
 
Outro médio que saiu beneficiado com a excelente época do Belenenses, foi Tiago Silva que foi titularíssimo no meio campo do Belenenses e que viu assim nascer a oportunidade de entrar na convocatória, embora ainda sem a oportunidade de se fixar entre os titulares, talvez por ter chegado mais tarde a uma equipa já formada.
  • Problemas/ Soluções
Edgar Borges tem a enorme vantagem de encontrar um grupo com talento mas também com rodagem de futebol sénior, com jogadores que transitaram para as equipas B que aqui demonstram já ser uma aposta certíssima para o futuro do futebol português. Um espaço competitivo importantíssimo para que uma série de atletas não se percam ou sejam obrigados a emigrar cedo demais como aconteceu a jogadores da geração anterior como Danilo e Pelé ou ainda Mário Rui.
O problema maior reside talvez no facto desta geração carregar a pressão de ser encarada como uma das favoritas ao contrário da geração anterior que foi para o Mundial sem qualquer tipo de pressão.
A vantagem é que esta geração já se bateu com os campeões da Europa, a Espanha, no euro sub-19 e apesar de não ter conseguido ser superior, demonstrou que pode disputar o jogo pelo jogo com os melhores. Há a enorme vantagem de nesta competição não estarem as duas maiores potências mundiais na categoria: Brasil e Argentina.
Portugal parte como favorito, porventura será a 3ª grande favorita após Espanha e França. Portugal aparecerá na mesma linha ou ligeiramente à frente da Grécia, vice campeã da Europa e do Uruguai, campeão sul americano.
Tacticamente o desafio maior de Edgar Borges será melhorar o processo defensivo desta equipa. A Geração Coragem era menos rodada e menos experiente mas em termos defensivos conseguia apresentar uma maturidade superior que a Geração Talento que parece fiar-se em demasia na sua qualidade técnica, mas que acaba por se deixar surpreender na defesa, cometendo erros por vezes algo infantis em termos de posicionamento.
 
Pode-se pensar que se a defesa falha é porque os defesas são maus. Não é o caso. Individualmente Portugal apresenta bons valores. João Cancelo, até à tragédia pessoal que viveu, era a maior promessa do Benfica B, e um lateral direito que podia até espreitar oportunidades na equipa principal.
No centro da defesa Ié é já jogador do Barcelona, e não é por acaso, pois tem uma capacidade física interessante, falta-lhe talvez uma maior capacidade de concentração. Tiago Ferreira é a grande promessa da formação do F. C. Porto mas esta época na equipa B não foi a melhor para ele, sente-se que precisa de novos desafios uma vez que tem estagnado a sua evolução.
 
O que dizer da qualidade de um sector, quando um jogador titular do Sporting como Tiago Ilori é suplente…?
São 3 jogadores para dois postos. Edgar Borges deu prioridade à dupla original: Ié e Ferreira, que foi alterada no Euro sub-19 apenas devido à lesão de Ié. Tratava-se de optar pelo entrosamento da selecção entre Tiago Ferreira e Ié, ou apostar pelo entrosamento da dupla de centrais titular dos juniores do Sporting campeões nacionais. Ié e Ilori.
 
Borges não quis melindrar o equilíbrio do grupo ao retirar a titularidade a Tiago Ferreira, único elemento titular do F. C. Porto e que é o jogador que já tem a experiência de um mundial nas pernas. Contudo, e atendendo às falhas defensivas no jogo com a Nigéria, não seria de desaproveitar a tarimba que Tiago Ilori ganhou esta época ao assumir a titularidade na equipa do Sporting.
 
Os factos são estes: Tiago Ferreira não fez uma época brilhante no Porto b, e Tiago Ilori foi titular do Sporting na 1ª Liga.
Mesmo em termos de estrutura da equipa seria interessante ter 3 elementos da defesa mais dois no meio campo que tivessem jogado juntos durante mais que uma temporada. Uma estrutura central com: Ilori, Ié, Cá e João Mário.
 
Na lateral esquerda mantem-se um problema já algo crónico no futebol português. Mica é um jogador razoável apenas, tal como o era Daniel Martins. Não há uma solução clara para a posição que assegura uma qualidade ao nível do resto da equipa.
 
No sector do meio campo, o problema é a tal passividade no momento defensivo. Quando a equipa tem bola, tem jogadores capazes de criar e até aparecer em zonas de finalização, o problema é no momento da organização defensiva. No momento da transição defensiva (momento da perda da bola) não é tão grave, porque na defesa existem elementos com rapidez de execução, capazes de acorrer aos fogos que vão aparecendo.
 
A equipa sofre mais em organização defensiva. Quando o adversário tem a bola, e obriga a equipa a ter que se posicionar defensivamente. Nesse momento, a passividade do meio campo e algumas desatenções no sector defensivo, permitem que os adversários consigam criar perigo em ataque organizado. Tal não será tão problemático com as equipas que Portugal encontrará na 1ª fase pois grande parte delas darão as rédeas do jogo a Portugal, mas será um problema com uma selecção como a Espanha que joga em ataque organizado e usa e abusa da posse.
 
Uma solução possível para a falta de velocidade e dinâmica no meio campo, seria a incorporação e Tozé do F. C. Porto b, um jogador que apesar de ter feito grande parte da época a extremo, é um jogador que cai melhor no espaço interior e que poderia jogar no meio campo, recuando para isso João Mário um pouco mais no terreno para junto de Dias. 
No ataque reside o menor dos problemas de Edgar Borges. Tem muitas soluções para as faixas, e tem o craque da equipa que é Bruma que se tem assumido como a figura desta selecção.
Em relação ao europeu de sub-19 Edgar Borges ganhou o reforço Ricardo do V. Guimarães, não hesitando em o incluir no onze titular em detrimento de Ricardo Esgaio do Sporting B. Tal opção prende-se com a excelente época de Ricardo no surpreendente Guimarães.
A lógica que não funcionou para dar a titularidade a Ilori, funcionou aqui para dar prioridade a Ricardo em relação ao até então titular Ricardo Esgaio que fez uma brilhante e goleadora época no Sporting B. Parece-me uma má opção. Ricardo tem qualidade técnica, mas não tem o mesmo entrosamento que Esgaio tem com esta equipa e isso nota-se bastante.
Depois temos que ter em atenção as características dos jogadores que compõe o onze. O problema de passividade a meio campo, pode passar também por fazer algumas alterações no ataque. Esgaio começou a carreira como lateral e subiu para extremo. Ou seja, é um jogador que pode fazer todo o flanco, tem um enorme pulmão, boa qualidade técnica e enorme capacidade na hora de ter que auxiliar o lateral nas tarefas defensivas. Esgaio tem ainda inteligência táctica para se necessário jogar como interior direito.
Para dar mais nervo e velocidade ao meio campo português seria interessante ter Ricardo Esgaio no flanco direito, podendo fechar no meio campo, quando a equipa não tenha a bola e criar assim superioridade no sector conferindo assim, uma maior capacidade de pressão.
Acrescenta ainda Ricardo Esgaio uma excelente capacidade de finalização, uma vez que marcou 17 golos na 2ª liga, cotando-se como um dos melhores marcadores da competição e o melhor do Sporting B.
 
Do trio de ataque do euro sub-19 apenas Bruma sobreviveu como titular para este Mundial. Betinho nem convocado foi, e a titularidade acabou entregue à descoberta Aladje que ganhou o lugar após um bom torneio de Toulon.
 
O atleta do Asprella da 3ª divisão italiana, tem força, velocidade, e é capaz de encostar bem nos centrais adversários mas também tem capacidade para cair no espaço entre o central e o lateral.
É um jogador com boa capacidade de finalização. Não é um avançado tanto de tabelas, é mais um avançado de aparecer no espaço. Faltou-lhe aprimorar alguns aspectos técnicos, para que consiga dar um contributo mais completo para o jogo colectivo da equipa.
 
Edgar Borges errou talvez na convocatória ao deixar duas vezes de fora um avançado mais de área como Betinho. Se na 1ª convocatória se percebeu pela possível aposta em Gonçalo Paciência, aquando da sua lesão não se entende porque a opção recaiu por Cavaleiro que é um extremo que pode jogar no centro, em vez de um jogador que seja avançado centro de raiz como Betinho que marcou 7 golos nesta época ao serviço do Sporting B onde por vezes tinha que dividir o espaço com Diego Rubio.
Ivan Cavaleiro marcou mais golos, mas é claramente um jogador com outro tipo de características. Cavaleiro é contudo incapaz de ser a solução para outro tipo de jogo quando se queira um jogador mais fixo no ataque.
 
Esta selecção em termos de banco tem também boas soluções, desde logo neste jogo com a Nigéria havia: Ilori, Agostinho Cá, Tiago Silva e Tozé ( um dos melhores jogadores do F. C. Porto b).
 
Pena a lesão de Gonçalo Paciência pois seria um jogador que realmente traria soluções diferentes para o centro do ataque da selecção, uma pecha que tem vindo a ser trabalhada.
Para o fim deixo a baliza que encontrou em José Sá uma das maiores figuras da equipa no primeiro jogo, dando assim razão a Edgar Borges que apostou nele à frente daquelas que haviam sido as primeiras opções ao longo do trajecto desta geração os guarda redes: Bruno Varela e Rafael Veloso.
 
José Sá soube aproveitar bem o espaço competitivo no Marítimo B onde assumiu a titularidade a meio da época, bem assim como algum apagamento competitivo de Varela o até então titular da selecção , que esta época quase não jogou pelo Belenenses, ou Bruno Varela que teve que dividir a baliza do Benfica B com Mika.
 
É contudo uma das posições em que Edgar Borges menos tem com que se preocupar. Tem 3 guarda-redes de enorme qualidade, podendo qualquer um deles assumir a titularidade sem tremer. José Sá foi uma agradável surpresa no primeiro jogo e claramente ganhou o posto. 
  • Conclusão
Edgar Borges tem a matéria prima, tem o talento, será que terá a sagacidade que teve Ilídio Vale há dois anos para conseguir fazer um verdadeiro grupo, desta vez com mais talento?
Gerações muito diferentes mas num ponto semelhantes. Quer a Geração Coragem quer a Geração Talento, são provas de que se calhar muitos especialistas da desgraça, deveriam pensar duas vezes antes de anunciar o fim do futebol português a nível de selecções. 

2 comentários:

JOSE LIMA disse...

Ricardo
Ainda bem que o meu caro amigo nos continua a brindar com excelentes textos. Desta vez não é um comentário, uma crónica ou um artigo. Um ensaio é do que se trata sobre um tema tão pouco falado nos blogues, e logo numa altura em que alguns clubes parecem acreditar nesta geração de jogadores.
Que futuro os aguarda? Os clubes conseguirão suster a importação das barcaças de Baronis e voltar a confiar nos Baías? Sendo esta uma das formas de reduzir custos, é um bom tema para reflexão. Obrigado.
Abraço

Ricardo Costa disse...

Muito obrigado pelo comentário caro José Lima.
Efectivamente será curioso ver qual será o efeito desta geração no futuro do futebol português. Contudo, cada vez mais a bola está muito também no lado dos clubes e no de perceber até que ponto terão a paciência para apostar neles e deixarem de lado esses tais investimentos em jogadores estrangeiros de fraca qualidade.
Acima de tudo, prova-se com esta geração que os arautos da desgraça estão errados. Há talento para que a selecção portuguesa continue a ser competitiva, é preciso é que os clubes não fechem os olhos.

Um abraço.