O novo F. C. Porto

A pré-época está ainda no inicio e por isso é sempre complicado fazer grandes previsões... O Benfica é já, como todos os anos, o campeão da pré-temporada e provavelmente será o único título que conquistará o ano todo a par do torneio do Guadiana e a Taça Amizade… O Sporting que era o clube que menos tinha mudado na estrutura e que por isso entrava para esta época com a vantagem da continuidade, não gera a euforia do Benfica e tem desiludido adeptos. O F. C. Porto perdeu referências importantes (mais uma vez 3 jogadores, o que nos levaria á velha questão de como é possível ano após ano, por mais dinheiro que entre, o passivo continuar a ditar que se vendam 2 ou 3 jogadores…), mas este texto é para discutirmos o plantel deste ano. O bom, o mau, fazer projecções e ver o que está a ser bem feito; em resumo, analisar o planeamento desta nova época e para onde nos leva.

Á 1ª vista e sempre com a margem de erro enorme que a pré época confere, dá a impressão que o F. C. Porto este ano tal como o ano passado parte com um onze mais fraco que o da época passada ( decorrente da perda de 3 elementos titulares, dois deles fulcrais no tetra) devido ao facto de os novos jogadores que chegam para substituir os 3 jogadores que partiram necessitarem de tempo para se adaptarem a uma nova realidade e a própria equipa necessitar de tempo para se adaptar a eles. Mais um grande trabalho para Jesualdo que terá pelo 4º ano consecutivo que repor peças básicas no puzzle da equipa do Porto e assim alterar de forma algo substancial o modelo de jogo. Já no ano passado teve que o fazer, alterando o estilo de jogo que se fazia pelas alas com o repentismo de Quaresma e as subidas de Bosingwa. Perdeu um elemento no ataque capaz de pausar mais o jogo e de o decidir num lance individual e percorrer em movimentos interiores desestabilizando assim marcações mais fechadas, dificultando por isso muitos jogos em casa contra equipas que estacionavam o autocarro. O Porto teve uma metamorfose que vinha sendo cozinhada para uma equipa cada vez mais de transições fortes, menos toques na bola, um futebol mais rápido e vertical até á baliza. Demorou tempo. Não é fácil quebrar rotinas… Foi preciso arranjar um modelo que potenciasse Rodriguez que não era um extremo como Quaresma, e ficamos entre um 4-4-2 e 4-3-3 quando Rodriguez abria do meio para a esquerda com bola. Demora tempo e principalmente quando se trabalham com jogadores jovens, tem ainda por cima que se corrigir aspectos tácticos ao longo da competição e fazer trabalho específico, tudo enquanto se vai construindo uma equipa. Porém, creio que mais que nunca, considerando todos os anos que Jesualdo leva do Porto este desafio será talvez o maior.

Porque se havia alguém no Porto que dentro de algumas inovações no modelo de jogo, mantinha o ADN da equipa de ano para ano e era mais influente na forma de jogar da equipa ser de uma forma e não de outra...Esse alguém era Lucho. O jogo todo passava pelos seus pés, não era um 10 mas era um 8 com classe de um 10, capaz de acelerar o jogo da equipa nas transições rápidas com passes decisivos e ao mesmo tempo baixar o ritmo de jogo quando a isso se recomendava… Jesualdo nunca o dispensou, porque sabia que Lucho mesmo estando mal fisicamente, nas ocasiões em que estava, só a sua influência no capitulo do passe e de organização de jogo o tornavam fundamental e sem substituto de características sequer semelhantes no plantel. Ele era a voz de Jesualdo em campo e também era ele o cérebro da equipa que mais fielmente incorporava e transmitia as suas ideias de futebol de transições rápidas, inteligente e em que se tenta simplificar processos ao máximo e potenciar a velocidade na saída para o ataque sem mastigar muito o jogo (por isso Ibson nunca se enquadraria neste estilo de jogo).

Beluschi chega e tem dado boas indicações. Parece ser mais 10 que Lucho, gosta mais de aparecer nas costas dos avançados, gosta mais de transportar a bola e é dono de boa qualidade técnica, mas com ele todo o modelo terá que sofrer alterações que, como é óbvio, demorarão tempo a efectivar-se, tal como demoraram no ano passado. Esperemos é que mais uma vez Jesualdo consiga fazer em tempo record uma nova equipa, com processos diferentes mas com uma filosofia igual se bem que com alterações no modelo.

Mas não é apenas no meio que o Porto sofre mudanças. No ataque, aquilo que no ano passado era o plano B; ter um jogador mais estático na área (com a entrada do Farías), coisa que Jesualdo sempre evitou no Porto por preferir para o seu futebol de transições 3 jogadores rápidos na frente e versáteis, capazes de mudar de posição constantemente e confundir marcações, este ano com a saída de Lisandro perde um dos elementos que tornava esse estilo de jogo mais natural. Com Falcão o Porto parece ganhar um jogador ,mais do que nunca, de área, mais fixo, posicional obrigando a que outro jogador do lado direito se cole mais á faixa (Hulk) e Rodriguez tenha que ser extremo (onde o seu futebol fica mais preso) . Esta não será talvez a melhor formula e talvez Jesualdo tenha outra solução trabalhada. Poderia tentar manter o mesmo estilo de jogo no ataque, mas para isso teria que apostar em Varela, um excelente reforço, que pode ainda acusar o peso da camisola, mas trata-se de um jogador que é muito explosivo e com características mais coaduanantes com a forma de jogar do Porto nos últimos anos. No entanto pelo investimento feito em Falcão, não se espera que seja para ele ficar no banco. Assim sendo, a solução poderá passar por mudar o processo ofensivo de uma forma mais acentuada. No meio campo deixar cada vez mais Rodriguez como interior esquerdo e fazer subir uns metros Beluschi encostando Meireles mais na ajuda a Fernando. No ataque fixar Falcão entre os centrais e dar liberdade total a Hulk para percorrer toda a linha ofensiva partindo preferencialmente da direita mas acabando por jogar como uma espécie de 2º avançado nas costas de Falcão, aproveitando para tabelar com ele, e ganhar as segundas bolas por ele conquistadas.

Para substituir Cissokho optou-se por um lateral esquerdo também é forte fisicamente e capaz de fazer todo o flanco, com a vantagem de trazer um entendimento com Rodriguez já da selecção. As mudanças aí não serão tão drásticas e ganhamos ainda uma opção capaz de jogar em todo o flanco esquerdo.

Mas se no onze titular e na forma como esta nova equipa e consequente forma de jogar ainda podem suscitar dúvidas e debate, acho que a política de contratações este ano já não tanto. Vê-se o dedo de Antero Henriques na constituição deste plantel cada vez mais… Os negócios estranhos de jogadores de qualidade duvidosa e com contornos pouco claros pelo seu pouco rendimento desportivo como: Tomás Costa, Benitez, Mareque etc, deixam de ter tanta visibilidade, e há uma clara aposta no mercado nacional, com jovens jogadores com margem de progressão e no recurso ao mercado sul americano aposta-se em jogadores com créditos firmados, jogadores que brilham nas suas respectivas ligas e não jogadores suplentes… A única excepção e ponto de interrogação que coloco é na contratação de Valeri, uma promessa que se vinha perdendo espaço e que já não era titular absoluto numa equipa que está longe de ser uma potência… Já Benitez era suplente lá e ainda hoje não se percebe o que faz no Porto. Espero que Valeri não seja mais um Benitez e que venha acrescentar algo.

Mas no resto, notou-se o critério. O Porto pode ainda não dar indicações precisas se o onze será melhor, sabe-se que tal como ano passado, de inicio em princípio e acima de tudo no principio.. não será, e terá que crescer, mas há algo que melhoramos substancialmente à partida.

Estou a referir-me ás opções que teremos no banco. Beto, Nuno André Coelho, Maicon, Miguel Lopes, Mariano , Varela, Orlando Sá etc. Há mais opções, mais argumentos para poder gerir melhor o plantel e haver maior rotatividade sem que a equipa se ressinta. Até a posição do Fernando foi acautelada. Era a única pecha. Madrid era um mero suplente e não visto como um jogador capaz de assumir o lugar. O Porto ao contratar um internacional argentino como Pediger. Mesmo não conhecendo muito do jogador, as referências são boas e já chegou a uma selecção como a argentina com muito tenra idade. Sinal claro que vem para o Porto não para dormir à sombra de Fernando, mas claramente para não deixar Fernando adormecer e, acima de tudo, permitir uma adaptação do atleta ao clube com o tempo necessário para no dia que tenhamos que perder Fernando a sucessão seja mais pacífica e tranquila.

O Porto deu sinais de ter preparado atempadamente as saídas de Lisandro, Cissokho e de Bruno Alves. Lucho viu-se que foi algo que teve que se resolver de outra forma e é a perda mais dolorosa. Creio que perdendo Lisandro, Cissokho e Bruno Alves dava para receber já uma quantia boa para sair do vermelho, e mantínhamos o Capitão de equipa e um jogador que pelo que faz a equipa jogar e simboliza no balneário seria para manter até ao final da carreira. A sua substituição é a que obriga a mais mudanças estruturais. Já mais problemático será a não saída de Bruno Alves...

1º porque ao contrário de Lucho ele manifestou vontade clara em sair,

2º porque tem um pai que fala demais e pode desestabilizar o grupo,

3º porque o clube ao chamar Nuno André Coelho e ao contratar Maicon claramente tratou de acautelar a sua saída. E caso fique agora, fará com que dois excelentes centrais sofram um revés na sua evolução dentro do grupo. E não tenho dúvidas que quer um quer outro poderiam substituir Bruno Alves sem que a equipa se ressentisse muito.

De todas as saídas, a de Bruno Alves era a que menos me preocupava, por o Porto ter reforçado muito bem o sector e já ter nos seus quadros uma grande promessa que é o N. André Coelho que faz lembrar o Ricardo Carvalho e tem tudo para ser uma referência no clube como é hoje Bruno Alves. Precisa é de oportunidades para jogar…

E vocês caros blogueiros, que acham sobre o plantel deste novo Porto época 2009-2010?