À espera do Museu perdido

Todos os clubes que conheço o têm. Qualquer agremiação desportiva, desde a mais pequena aos maiores clubes do Mundo, encontram um pequeno espaço para colocarem os seus motivos de orgulho: os troféus. Todos os clubes? Todos não. Tal como a aldeia do Astérix, um clube (ainda por cima com um palmarés imenso) resiste à tentação de criar um espaço para o seu adepto ou associado apreciar as conquistas pelas quais chorou, gritou e vibrou. Infelizmente esse clube é o FC Porto, que há mais de uma década coloca as suas taças - desde as que são ganhas a nível nacional até à mais cobiçada de todas, a Taça dos Campeões - nos gabinetes da SAD! «Para que querem os adeptos ver os troféus?», devem pensar o Presidente e os administradores da SAD. «Eles só gostam de ir ao Estádio», devem pensar. Nada de mais errado!

De facto, desde que a efémera Sala de Troféus Afonso Pinto de Magalhães acabou - ainda as Antas davam muitas alegrias - que os troféus se tornaram invisíveis para os adeptos. Sporting e Benfica têm os seus museus, e nisso - e só nisso - eles podem rir-se de nós! Estes dois clubes rivais tiveram a preocupação de criar museus ao planificarem os seus novos estádios. O FC Porto, na planificação do Dragão no início da década, criou também um espaço para colocar os «canecos». Mas desde a inauguração que este espaço se encontra fechado, ali na bancada Norte, onde as palavras "futuro museu" se encontram comidas pelo Sol.

Imagino o turista, adepto de futebol, habituado a visitar espaços como o Museu do Barcelona ou do Liverpool, a chegar ao Estádio do Dragão curioso por ver os troféus e as memórias que projectaram o FC Porto para o topo do futebol mundial e espantar-se, depois de dar uma volta completa ao Estádio, por não encontrar o Museu. «Contentem-se antes em gastar na Loja Azul», devem dizer os Administradores se questionados porventura sobre esta situação. «As taças são bons pisa-papéis», devem pensar baixinho.

A importância económica de um Museu é considerável, para além do prestígio e do orgulho que é o adepto poder apreciar as réplicas das Taças dos Campeões, da Taça UEFA e poder ver a verdadeira Taça Intercontinental! Podem usar o argumento de que o Museu não é o mais importante, que é a construção de um presente e de um futuro continuamente gloriosos que interessam. É verdade que o passado não ganha taças nem campeonatos. No entanto, ele é catalisador para novas vitória que se querem, é querer repetir feitos que por vezes parecem irrepetíveis mas que, apesar de únicos, ninguém os considere como tal (como mostra Mourinho no final do seu primeiro livro).

A antiga sala de troféus do FC Porto situava-se no saudoso Estádio das Antas debaixo da Arquibancada. A entrada era gratuita aos sócios. Era uma sala, uma grande sala cheia de troféus e glória. Recordo-me de a visitar ainda na minha meninice com a curiosidade natural de uma um pequeno adepto iniciado no amor a um clube. Lembro-me de me maravilhar com tantas taças (agora seriam muitas mais), de ver a primeira taça conquistada em 1915 (a taça Monteiro da Costa), de ver a gigantesca Taça da vitória contra o Arsenal de Londres, de ao centro do Museu estar a réplica (em ponto pequeno) da Taça dos Campeões com a fotografia do onze que entrou em campo a coroá-la. Anos mais tarde, muito antes no entanto do Dragão ter aparecido, a sala também fechou, sendo substituída pelos serviços administrativos.

Deste modo, julgamos urgente a abertura de uma Sala museu do FC Porto para deleite de sócios, adeptos e visitantes. Um local onde se sinta a chama do Dragão, onde se perceba a sua história, para poder sonhar com novos feitos. Depois da inauguração do Dragão Caixa e do Vitalis Park, esta deve ser a próxima aposta da Administração a nível de Infra-Estruturas. Esperemos que as taças não continuem, por muito mais tempo, a enfeitar as salas da SAD.

P.S.: Acompanham este post algumas imagens de uma antiga sala de troféus do FC Porto no final da década de 80. Foram retiradas de alguns calendários avulsos que guardamos com orgulho, testemunhos de um passado.