sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Recordes a bater

Os recordes que o FC Porto do Jesualdo Ferreira tem para bater esta época são vastos. Logo à partida pode tentar ser a única equipa pentacampeã por duas vezes e num espaço de tempo muito reduzido: 94/95-98/99 e 05/06-09/10. Depois pode tentar ser uma das únicas equipas sem derrotas no campeonato; marcar mais de 100 golos; sofrer nenhum... depois há a possibilidade, mediante a conquista de todos os troféus esta época igualar o Benfica em troféus. Há de facto muito a conquistar e muitos recordes a bater.

No entanto, o primeiro que surge logo à partida é o da invencibilidade fora do Dragão. Até à data, o FC Porto por duas vezes conseguiu resistir sem derrotas 11 jogos fora de casa. Esses dois momentos foram conseguidos por Artur Jorge em 1984/1985 e curiosamente 11 anos depois, por António Oliveira em 1996/1997. Agora, 13 anos depois, o Jesualdo pode, logo à primeira jornada, quebrar esse recorde se vencer o seu 12º jogo consecutivo, fora do Dragão.
A 1 de Novembro de 2008 o Porto perdia pela segunda vez consecutiva no campeonato - havia perdido na ronda anterior no Dragão com o Leixões - e muitos já questionavam a liderança do Jesualdo Ferreira. A vitória frente ao Dínamo de Kiev para a Liga dos Campeões reacendeu a chama do Dragão naquela semana e empolgou o Dragão para a série de vitórias forasteiras que conhecemos.

A primeira vitória da série decorreu apenas um mês depois daquela tal derrota frente à Naval. O adversário era o V. Setúbal e a vitória foi larga, 3-0. Vários meses depois, na penúltima jornada do último campeonato, o Trofense sentiu a fúria do Dragão e perdeu por 4-1. Ora, o FC Porto, excepto algumas épocas raras, era conhecido por ser um adversário muito complicado em casa. O Porto partia para cima dos seus adversários e poucas oportunidades dispunham para contrariar o Porto. No entanto, na época passada, os adversários - exceptuando o Leixões - sabiam como contrariar o Dragão. Estacionavam o autocarro à frente da baliza, cortavam espaços, faziam marcação apertadíssima e aos elementos certos e assim diminuíam as hipóteses do Porto marcar. Foi assim que o Porto perdeu duas mãos-cheias de pontos no Dragão.

No entanto, fora de casa os resultados eram outros. O Jesualdo Ferreira havia encontrado uma fórmula que beneficiava o jogo do Porto fora de portas. Esta fórmula passava, a meu ver, por três jogadores. Raúl Meireles, Rodriguez e o Hulk. Raúl Meireles, provavelmente o melhor médio em Portugal a fazer as transições da defesa para o ataque sabia como ninguém pegar na bola num primeiro instante e lança-la para o ataque num segundo momento. O Cristian Rodriguez, não sendo um ala como era Quaresma, recebia a bola mais atrás e tinha a velocidade para a levar para o ataque em poucos segundos. Quando a bola não vinha do Raúl Meireles para a frente em dois momentos, era o Rodriguez que a transportava para o ataque num piscar de olhos. Finalmente temos Hulk; antes de Hulk entrar o Porto era diferente daquele que conseguiu a série de vitórias em análise. O Porto era mais previsível e apesar de Lisandro encher a frente, era mais estático também. Com a entrada de Hulk no onze, a dinâmica tornou-se outra e os defesas baralhavam-se mais. O poder de remate, o poder de penetração e o poder de desequilibrar ajudavam muito o Porto a quebrar a barreira menos resguardada dos adversários quando estes jogavam em casa. Esta conjuntura de elementos permitia ao Porto ganhar mais facilmente fora do que em casa. Este ano, e apesar de Lisandro já ter partido, as ideias manter-se-ão. No entanto, é preciso saber como enquadrar o terceiro elemento de ataque: o ponta-de-lança. O Lisandro era muito móvel e entendia como ninguém como trabalhar neste sistema de alta rotação. Com pontas de lança quase "clássicos", homens de área como Farías e Falcao, será preciso ajustes para que o futebol rápido também passe por eles e para que estes estejam em condições para finalizar estas jogadas rápidas de ataque.



Esta abordagem de - chamemos-lhe "dois-momentos" - permitiu também ao Porto efectuar uma excelente campanha na Liga dos Campeões. Creio que foi Luís Freitas Lobo ou o Rui Santos numa das suas habituais análises ao domingo no Tempo Extra ao falar da participação do Porto na Liga dos Campeões que disse uma grande verdade. O Porto só não foi melhor em épocas anteriores na Champions e foi melhor este ano sobretudo por causa do elemento Quaresma/Rodriguez. Vejamos: o Quaresma é um jogador que ataca muito e bem; tem um talento que muitos poucos jogadores tem. No entanto, em termos de defesa, é um jogador que pouco contribui para esse momento. Ainda, a inclusão de Quaresma no onze do Porto em anos transactos obrigava o Porto a jogar num 4-3-3 puro, com dois alas abertos e a defender com todos menos Quaresma. Aliás, as poucas vezes que o Porto jogava com Quaresma num 4-4-2, Quaresma fazia de segundo avançado; uma estratégia que pouco rendia pois perdia-se um homem no ataque e o Quaresma recebia a bola fora de tempo.

A entrada de Rodriguez em cena implicou uma abordagem ofensiva como descrita anteriormente - provavelmente mais eficaz em termos de contra ataque o que é óptimo contra grandes equipas na Champions - e uma abordagem defensiva mais profunda. Enquanto ao jogar com o Quaresma, o Porto nunca defendia com este elemento, com Rodriguez, este ao não ser um ala, tinha uma cultura de defender mais enraizada. Ao jogar com Rodriguez o Porto podia jogar em 4-3-3 e defender em 4-4-2, algo que talvez seja essencial nestas grandes competições. Aquele elemento extra no meio-campo fez toda a diferença no equilibrar as balanças do meio campo. Mais, ao jogar com Rodriguez, o Porto não só defendia com um bloco mais distribuído, mas o Rodriguez também recebia a bola mais atrás e podia fazer uso da sua velocidade para a transportar para a frente, subindo assim os restantes avançados com ele. Com o Quaresma, muitas vezes a bola era recuperada na defesa e era lançada para o Quaresma para este partir para o ataque e muitas vezes sozinho; ou então teria que esperar por apoio o que permitia que o adversário se recompusesse.

Outro elemento chave em todo o processo defensivo/ofensivo do Porto da época transacta era obviamente Lisandro. Lisandro não só tinha a velocidade - juntamente com o Hulk - para chegar rapidamente à zona de finalização, mas também fazia o essencial pressing alto para ganhar a bola na área do adversário. Esta época, e sem Lisandro, veremos a postura do Porto.
Será certamente esta a base e este o modelo do Porto esta época. É por este modelo que imagino que o Porto e Jesualdo queiram rapidamente encontrar uma solução eficaz para o miolo do ataque, desviando o Hulk para a ala onde tão eficaz foi na época passada. Deixando o Hulk no meio pode garantir uma maior ruptura pelo centro mas tira poder de ruptura das alas.

Finalmente, e para terminar, também é preciso esperar para ver quanto tempo é que decorre até alguem varrer por completo o Hulk e o tirar dos relvados por um longo período de tempo. Eu não acredito que haja dependências em equipas. Acredito no entanto em super-valias em que uma equipa tem uma postura com esse jogador e outra completamente sem o jogador. Portanto, ao bom estilo do Rui Santos, domingo é dia 0 na contagem para ver quantos dias Hulk joga sem ficar lesionado por acção dos adversários.

P.S. A todos os leitores, relembro que foi colocado um post há uns dias sobre a participação no Xpert Eleven. Quem estiver curioso para saber como aquilo funciona e quiser participar, consulte o post AQUI.

Sem comentários: