Temos um Sporting de Braga que vem confirmando um ascendente anunciado desde há várias temporadas e que parece estar a entrar na fase adulta da sua maturação como equipa e clube (faltar-lhe-á apenas uma massa adepta semelhante à dos seus vizinhos de Guimarães), e no qual quero destacar um jogador que recuperou a alegria de jogar: Hugo Viana, o único 10 de nível internacional que o futebol Português produziu pós- Rui Costa e que, à semelhança de Hélder Postiga, nunca atingiu o patamar que em tempos prometeu porque saiu demasiado cedo e para o clube errado. O nosso campeonato precisa de jogadores como ele e a Selecção não pode continuar só com Deco como opção para principal armador de jogo. Um regresso, portanto, que se saúda a vários níveis.
No Sporting, Liedson (este ano secundado por Veloso e Carriço) continua a ser o abono de família….numa família que, até ver, apresenta todos os sintomas de desagregação. As últimas vitórias arrancadas a ferros não escondem o mau momento que a equipa continua a viver e até a massa adepta Leonina, que já deu provas de marcar sempre presença nos bons e maus momentos, parece estar a meter os papéis para o divórcio. Se a equipa nada ganhar, esta temporada será capital para os lados de Alvalade.
Já o Benfica apresenta o seu melhor plantel desde a temporada 93/94 e surge, finalmente, como candidato ao título de corpo inteiro. Considero que, a nível exibicional, tem oscilado tanto quanto o F.C.Porto, mas ao contrário deste mesmo jogando mal consegue levar água ao moinho. Tem também a seu favor toda uma onda de euforia que partiu dos dirigentes, foi impulsionada pela imprensa desportiva, e que se espalhou por todo o País - onde goza de uma capacidade de mobilização sem par (sempre que visitar um clube sem massa adepta que se veja, como o Leiria, é como se jogasse em Casa).
E estava eu a pensar para mim, até com alguma apreensão (sem ofensa, mas se eu me ponho a pensar no Benfica, é porque algo não está de todo bem) sobre até onde o público poderá carregar aquela equipa, e eis que passo por um quiosque e vejo na capa de quase todos os jornais uma frase de Jorge Jesus: “Estamos a voltar aos tempos de Eusébio”, e eis que subitamente desaparecem quase todas as minhas preocupações (nunca na vida tomei calmantes, mas o efeito não deve andar longe). Ora, tendo eu todo o respeito pelo Pantera Negra (partilhando inclusive da opinião de que o seu Benfica de 62, Bi-Campeão Europeu, é a melhor equipa Portuguesa de sempre, por muito difícil que seja comparar equipas de diferentes eras), confesso que é por frases como esta que jamais poderia ser Benfiquista. Explico:
Tenho para mim desde há muito que Porto e Benfica são (literalmente) tão diferentes entre si quanto o Azul é do Vermelho. São “gémeos-perfeitos-opostos”, que se recusam a beber água das mesmas fontes e passam a vida a olhar-se como reflexos no espelho, quais imagens invertidas. O Porto começou como uma força regional (mais tarde potência) que estendeu o seu domínio além-fronteiras sem nunca deixar de cumprir o seu papel de porta-estandarte de uma cidade orgulhosa como poucas. Talvez por isso a conquista além-fronteiras tenha sido mais fácil e rápida que a nível nacional.
Já o Benfica tem (mesmo) uma estranha forma de vida: Sendo indiscutivelmente o clube com mais adeptos a nível nacional e tendo conseguido manter nos últimas duas décadas (pese o insucesso desportivo) a maior parte do seu capital humano, tem também seguramente um problema crónico de memória. Anos a fio, bastou ás direcções um discurso populista do tipo “este ano é que é” para toda uma nação acreditar religiosamente nessas palavras. Parecia hipnótico, e para todos os que não eram benfiquistas, também caricato. Depois, é esta cisma de mandar vir à baila “o Benfica de Eusébio”. Porra! (desculpem o termo, mas no rico e extensíssimo património linguístico Português não existe palavra mais adequada), mas será que esta gente não conhece mais nenhuma equipa que a dos idos anos 60? E que tal a equipa que terminou um Campeonato sem derrotas nos anos 70 (de Jimmy Hagan)? E o Benfica de Eriksson? E o Benfica de 93/94 acima referido que até se dava ao luxo de ter Alexander Mostovoi sentado no banco? Qualquer uma destas equipas era exemplo de bom futebol e de sucesso desportivo. Porque é que nunca as evocam? E como é que um clube que durante décadas teve na sua Presidência homens que eram verdadeiros Cavalheiros do Futebol como Vieira de Brito leva com um Vale e Azevedo (que enganou todos) e pouco depois acata sem pestanejar com o populismo de um Luís Filipe Vieira (este nunca enganou ninguém, e a prova disso é que foi reeleito por esmagadora maioria)?
O Porto já teve na sua longa história um bom punhado de equipas e jogadores memoráveis, e presume inclusive de ter mais troféus Internacionais que o Benfica; mas se há coisa que nunca vi (mesmo nos períodos sem títulos internacionais ou mesmo nacionais, como no momento em que Mourinho chegou ao Porto) – nem imagino um adepto Portista fazer, é sair-se com uma frase do tipo “há que voltar aos tempos do Porto Campeão Europeu de Viena”. É uma simples questão de cultura de Clube. No Porto habituámo-nos a viver o Presente (o bom e o mau) sem olhar ao passado conscientes que só com Sangue, Suor e Lágrimas (e não com um camião de primeiras páginas tingidas de Vermelho e Branco..) nos pode sorrir o Futuro. A memória e a consciência da sua capacidade de trabalho (cá está, tal qual a cidade..) são o nosso património mais valioso. Saibamos preservá-lo.
Para terminar, uma observação (e advertência) sobre Hulk: Há momentos em que, vendo-o jogar, me recordo do tenista Espanhol Rafael Nadal: Um portento físico, a quem a Natureza dotou de condições que o colocam num patamar aparte dos seus adversários. Contudo, alguém terá de explicar a Hulk que, pese embora não haver dia em que os jornais não se refiram a ele como um “super-herói” ele não deixa de ser tão de carne e osso como qualquer outro jogador. No início da sua carreira, Nadal corria desenfreadamente de uma ponta a outra do Court, alcançando bolas quase impossíveis para gáudio do público, até ao dia em que especialistas fizeram-no ver que, pese embora a sua Juventude, ele não poderia continuar a submeter os músculos e articulações a semelhante massacre. Isto para dizer que, ou Hulk aprende a dosear o seu esforço e a usar a sua velocidade e poder de choque de forma inteligente, ou auguro-lhe uma carreira cheia….de irregularidade exibicional e lesões musculares. De um jogador pleno de capacidade de Explosão, passará para um jogador em plena…..Combustão (em Braga meteu dó vê-lo incapaz de uma única arrancada).
PS: Sábado há Clássico no Dragão. Independentemente do desenrolar do desafio e das habituais incidências, qualquer desfecho que não seja a vitória sobre o Sporting constituirá fracasso. Jesualdo e a equipa têm a palavra.
1 comentário:
Excelente texto zé!!Parabéns.Brilhante mesmo.abraço
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