quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Pensamentos de um Mito (VII) – Exibições X Resultados (A Equação Impossível) ; F.C.Porto vs Benfica - Diferentes Modos de Vida

Embora o Campeonato esteja ainda na sua fase inicial, os jogos disputados até ao momento deixaram certas indicações (nenhuma para já conclusiva) que merecem especial referência, e que seguramente serão sujeitas a constante reapreciação ao longo desta temporada.
Assim, constata-se que se por um lado os clubes ditos “pequenos” estão gradualmente a entrar num estado próximo do comatoso (tentemos esquecer por uns momentos aqueles que ultimamente morreram por incompetência dos seus dirigentes, que os deixaram ligados ás máquinas antes de passar a bola a outro…), como este V.Setúbal que terá de provar até ao final do campeonato não se tratar de um rotundo erro de Casting na I Divisão; por outro lado, clubes como o Olhanense e o Nacional propõem um futebol bastante positivo e serão capazes de (sobretudo no seu reduto) fazer frente a qualquer adversário, e caso os sorteios lhes sejam favoráveis não lhes desdenharia uma boa carreira na Taça de Portugal.

Temos um Sporting de Braga que vem confirmando um ascendente anunciado desde há várias temporadas e que parece estar a entrar na fase adulta da sua maturação como equipa e clube (faltar-lhe-á apenas uma massa adepta semelhante à dos seus vizinhos de Guimarães), e no qual quero destacar um jogador que recuperou a alegria de jogar: Hugo Viana, o único 10 de nível internacional que o futebol Português produziu pós- Rui Costa e que, à semelhança de Hélder Postiga, nunca atingiu o patamar que em tempos prometeu porque saiu demasiado cedo e para o clube errado. O nosso campeonato precisa de jogadores como ele e a Selecção não pode continuar só com Deco como opção para principal armador de jogo. Um regresso, portanto, que se saúda a vários níveis.

Olhando para os 3 grandes e para os seus percursos, devo admitir que há algo que me perturba no caso dos Dragões: das 2 vezes que a equipa se exibiu abaixo das suas capacidades reais (em Paços e em Braga - ainda que nem por isso tenha jogado menos que os adversários) a equipa foi incapaz de ganhar o jogo. Este meu raciocínio pode parecer à primeira vista confuso, mas a verdade é que um dos principais atributos de uma equipa que se quer Campeã é precisamente a sua capacidade de levar de vencido o adversário jogando bem…ou mal (infelizmente, há muito que se descobriu que no futebol, falando de jogar bem e ganhar, a relação causa-efeito é, por si só, inexistente). A inspiração não vai bater à porta todos os dias, pelo que convirá mudar de “Chip” e ter um plano B à mão sempre que necessário…

No Sporting, Liedson (este ano secundado por Veloso e Carriço) continua a ser o abono de família….numa família que, até ver, apresenta todos os sintomas de desagregação. As últimas vitórias arrancadas a ferros não escondem o mau momento que a equipa continua a viver e até a massa adepta Leonina, que já deu provas de marcar sempre presença nos bons e maus momentos, parece estar a meter os papéis para o divórcio. Se a equipa nada ganhar, esta temporada será capital para os lados de Alvalade.

Já o Benfica apresenta o seu melhor plantel desde a temporada 93/94 e surge, finalmente, como candidato ao título de corpo inteiro. Considero que, a nível exibicional, tem oscilado tanto quanto o F.C.Porto, mas ao contrário deste mesmo jogando mal consegue levar água ao moinho. Tem também a seu favor toda uma onda de euforia que partiu dos dirigentes, foi impulsionada pela imprensa desportiva, e que se espalhou por todo o País - onde goza de uma capacidade de mobilização sem par (sempre que visitar um clube sem massa adepta que se veja, como o Leiria, é como se jogasse em Casa).

E estava eu a pensar para mim, até com alguma apreensão (sem ofensa, mas se eu me ponho a pensar no Benfica, é porque algo não está de todo bem) sobre até onde o público poderá carregar aquela equipa, e eis que passo por um quiosque e vejo na capa de quase todos os jornais uma frase de Jorge Jesus: “Estamos a voltar aos tempos de Eusébio”, e eis que subitamente desaparecem quase todas as minhas preocupações (nunca na vida tomei calmantes, mas o efeito não deve andar longe). Ora, tendo eu todo o respeito pelo Pantera Negra (partilhando inclusive da opinião de que o seu Benfica de 62, Bi-Campeão Europeu, é a melhor equipa Portuguesa de sempre, por muito difícil que seja comparar equipas de diferentes eras), confesso que é por frases como esta que jamais poderia ser Benfiquista. Explico:

Tenho para mim desde há muito que Porto e Benfica são (literalmente) tão diferentes entre si quanto o Azul é do Vermelho. São “gémeos-perfeitos-opostos”, que se recusam a beber água das mesmas fontes e passam a vida a olhar-se como reflexos no espelho, quais imagens invertidas. O Porto começou como uma força regional (mais tarde potência) que estendeu o seu domínio além-fronteiras sem nunca deixar de cumprir o seu papel de porta-estandarte de uma cidade orgulhosa como poucas. Talvez por isso a conquista além-fronteiras tenha sido mais fácil e rápida que a nível nacional.

Já o Benfica tem (mesmo) uma estranha forma de vida: Sendo indiscutivelmente o clube com mais adeptos a nível nacional e tendo conseguido manter nos últimas duas décadas (pese o insucesso desportivo) a maior parte do seu capital humano, tem também seguramente um problema crónico de memória. Anos a fio, bastou ás direcções um discurso populista do tipo “este ano é que é” para toda uma nação acreditar religiosamente nessas palavras. Parecia hipnótico, e para todos os que não eram benfiquistas, também caricato. Depois, é esta cisma de mandar vir à baila “o Benfica de Eusébio”. Porra! (desculpem o termo, mas no rico e extensíssimo património linguístico Português não existe palavra mais adequada), mas será que esta gente não conhece mais nenhuma equipa que a dos idos anos 60? E que tal a equipa que terminou um Campeonato sem derrotas nos anos 70 (de Jimmy Hagan)? E o Benfica de Eriksson? E o Benfica de 93/94 acima referido que até se dava ao luxo de ter Alexander Mostovoi sentado no banco? Qualquer uma destas equipas era exemplo de bom futebol e de sucesso desportivo. Porque é que nunca as evocam? E como é que um clube que durante décadas teve na sua Presidência homens que eram verdadeiros Cavalheiros do Futebol como Vieira de Brito leva com um Vale e Azevedo (que enganou todos) e pouco depois acata sem pestanejar com o populismo de um Luís Filipe Vieira (este nunca enganou ninguém, e a prova disso é que foi reeleito por esmagadora maioria)?

O Porto já teve na sua longa história um bom punhado de equipas e jogadores memoráveis, e presume inclusive de ter mais troféus Internacionais que o Benfica; mas se há coisa que nunca vi (mesmo nos períodos sem títulos internacionais ou mesmo nacionais, como no momento em que Mourinho chegou ao Porto) – nem imagino um adepto Portista fazer, é sair-se com uma frase do tipo “há que voltar aos tempos do Porto Campeão Europeu de Viena”. É uma simples questão de cultura de Clube. No Porto habituámo-nos a viver o Presente (o bom e o mau) sem olhar ao passado conscientes que só com Sangue, Suor e Lágrimas (e não com um camião de primeiras páginas tingidas de Vermelho e Branco..) nos pode sorrir o Futuro. A memória e a consciência da sua capacidade de trabalho (cá está, tal qual a cidade..) são o nosso património mais valioso. Saibamos preservá-lo.

Para terminar, uma observação (e advertência) sobre Hulk: Há momentos em que, vendo-o jogar, me recordo do tenista Espanhol Rafael Nadal: Um portento físico, a quem a Natureza dotou de condições que o colocam num patamar aparte dos seus adversários. Contudo, alguém terá de explicar a Hulk que, pese embora não haver dia em que os jornais não se refiram a ele como um “super-herói” ele não deixa de ser tão de carne e osso como qualquer outro jogador. No início da sua carreira, Nadal corria desenfreadamente de uma ponta a outra do Court, alcançando bolas quase impossíveis para gáudio do público, até ao dia em que especialistas fizeram-no ver que, pese embora a sua Juventude, ele não poderia continuar a submeter os músculos e articulações a semelhante massacre. Isto para dizer que, ou Hulk aprende a dosear o seu esforço e a usar a sua velocidade e poder de choque de forma inteligente, ou auguro-lhe uma carreira cheia….de irregularidade exibicional e lesões musculares. De um jogador pleno de capacidade de Explosão, passará para um jogador em plena…..Combustão (em Braga meteu dó vê-lo incapaz de uma única arrancada).

PS: Sábado há Clássico no Dragão. Independentemente do desenrolar do desafio e das habituais incidências, qualquer desfecho que não seja a vitória sobre o Sporting constituirá fracasso. Jesualdo e a equipa têm a palavra.

1 comentário:

ricardocosta disse...

Excelente texto zé!!Parabéns.Brilhante mesmo.abraço