quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pensamentos de um Mito (VIII) – Uma Semana como já Merecíamos

Em bom momento a equipa decidiu reentrar nos eixos e regressar ás vitórias. Na semana em que o Clube celebrou o 116.º Aniversário da sua fundação arrancámos uma vitória justíssima diante de um dos nossos adversários directos. Como referi na minha anterior crónica, qualquer resultado que não fosse a vitória constituiria motivo de fracasso, pelo que até o “apagão” no discernimento dos jogadores na segunda parte passa obrigatoriamente para segundo plano - Clássico é Clássico e os Clássicos são para ganhar. Ponto Final.

Depois chegou o duelo na Champions com o Atlético de Madrid, em que, tendo eu nessa manhã passado os olhos um pouco por toda a imprensa deparei-me com duas notícias, tão diferentes entre si quanto os estados de espírito que em mim provocaram, sendo que uma despertou-me uma estranha nostalgia e a outra ia-me provocando um ataque de riso: A primeira referia-se a Artur de Sousa - ou "Pinga" como ficou celebrizado – que a 30 Setembro completaria o seu centésimo aniversário, e recordavam, entre outras coisas, os seus 394 golos em 400 jogos, antigos companheiros como Acácio Mesquita, ou a sentida homenagem que o jornal “A Bola” lhe dedicou pela pena de Cândido de Oliveira. Digo estranha nostalgia porque é curioso que, tendo eu nascido muitas décadas após os seus feitos (nesses tempos ainda no campo da Constituição), continuo a sentir-me tão ligado aos mesmos. O único jogador que provocará sensações parecidas quando evocado será Pavão, mas nesse caso deve-se às circunstâncias trágico-épicas da sua morte, em pleno relvado das Antas. Já no caso de “Pinga”, creio que o pequeno vazio que sinto como adepto é mesmo resultado de não ter tido uma única oportunidade de presenciar o seu génio, que muitos juram religiosamente ter estado acima do de Eusébio.

Já a outra notícia em questão era a transcrição de uma frase proferida pelo Presidente do Atlético de Madrid, Enrique Cerezo: “Vamos ao Porto ganhar o jogo e saír da Crise!”. Francamente Sr. Enrique, eu já sei que aí em Espanha o que conta são os vossos clubes e tudo o resto é para enfeitar (quem já leu os Jornais Desportivos Espanhóis saberá que a pesquisa e análise aos clubes estrangeiros é - sendo simpático – oca), mas daí a pensar que o Porto é alguma Instituição de Caridade que ajudaria a resolver as vossas misérias foi o cúmulo. Levaram 2, saíram do Dragão com o rabo entre as pernas, mas confesso que poucas vezes tive tanta pena de não ver um adversário ser goleado… De qualquer modo, como Portista, já desde há uns tempos que me sentia merecedor de uma semana assim! Agora, 3 notas para acabar:

- Falcão: Existem jogadores que, à falta de palavra melhor, dizemos de têm algo de “diferente”. Falando da posição específica de ponta-de-lança, esses são os jogadores que causam um pavor especial no adversário, porque este já sabe por antecipação (e este medo - o do que ainda não aconteceu - é o pior de todos, porque paralisa) que basta receberem a bola em determinadas condições que o golo é eminente. Falcão é um jogador com uma amplitude de movimentos muito superior à dos clássicos avançados-de-área e é tão mortífero como estes. Não sendo alto nem forte compensa com um timing de salto (mais do que impulsão) a roçar a perfeição e com a agressividade com que ataca os lances. Tem técnica assinalável e isso é notório quando recua no terreno para fazer de Pivot e ajudar a equipa a distribuir jogo, mas golos como a pérola que marcou ao Atlético revelam uma virtude muito mais rara: Instinto. Quando a bola começar a chegar-lhe com mais fluidez (Rodriguez tem estado lesionado e Hulk ainda tem muito a aprender no que a fazer assistências diz respeito) será ainda melhor.

- Guarín e Raul Meireles: Este é um daqueles casos que continuará a dividir opiniões durante muito tempo, mas tenho de dizer que sou fã deste Colombiano que pouco a pouco vai dando mostras do seu valor. Importa julga-lo pelo que é e não pelo que lemos que ele deveria ser ou pelo que nós desejaríamos que fosse: Guarín é um jogador que possui um bom remate e que é de extrema utilidade porque raramente perde uma bola - porque joga simples (aqui também pode ser visto como um defeito, porque ao contrário de Belluschi não arrisca passes de ruptura) e porque sabe usar o seu físico para a proteger (em Londres, nenhum dos gigantes do Chelsea conseguiu suplanta-lo). Ontem, com o Atlético, bastou a entrada dele em campo para a equipa começar a atacar 15m mais à frente. Hulk agradeceu. Já de Raul Meireles confirmei a impressão de que estes jogos da Champions trazem-nos a sua melhor versão (ainda assim não a tempo inteiro). A forma como ele executa o passe para Hulk que origina o lance do 1º golo, “cortando” a bola, deveria figurar em qualquer manual dos melhores gestos técnicos.

- Campeões no Futebol Sim, mas não só : Ao observar a lista das modalidades em que nos sagrámos Campeões na época transacta, ou seja: Andebol, Atletismo, Bilhar, Boxe, Pesca, Desporto adaptado, Futebol, Hóquei em patins e Natação (esta em quase todos os escalões!), não pude deixar de sentir um profundo sentimento de vergonha…por mim mesmo - por permitir que o fascínio que esse fabuloso desporto a que chamamos Futebol (sobretudo quando bem jogado..) exerce em mim suplante o dever de eu ir apoiar o meu clube sempre que o seu prestígio está em jogo, independentemente da modalidade em questão.

Fazendo, pois, Mea Culpa, deixo um aviso e um apelo a todos os Portistas: Desde a conclusão do “Dragão Caixa” que deixámos de ter desculpa para não acompanhar as várias modalidades que se exibem de Dragão ao peito. Falamos de competições que se disputam a horários por vezes muito mais agradáveis para um serão em família do que os jogos de futebol (eu gosto do ambiente de um jogo disputado à noite, mas estar a saír do Estádio num dia de semana ás 23h15 é surreal). Falamos de equipas e de Campeões que são tão merecedores do carinho e apoio da massa associativa como qualquer outra. Sei que António Nicolau d’Almeida concordaria…

1 comentário:

Bad Boy disse...

Passei apenas para deixar o meu regozijo pelo destaque que fizeste ao Pinga. Um jogador que o meu pai me lembra sempre mas que passa ainda pelas portas do fundo da história do futebol português.
Infelizmente por vezes os grandes génios são tratados como estranhos..