sábado, 17 de outubro de 2009

Pensamentos de um Mito (X) – Carta a Joseph Blater & Cª Lda. (de um adepto que acha que é tempo de dizer basta!) ; O Futuro da nossa Selecção

"Caro Sr. Blater

Com a sua licença, ao invés de iniciar com a minha habitual crónica, desejo abrir uma nada habitual discussão relativamente à temática “Clubes e Selecções”.

Compreenda que, como amante de tertúlias e discussões acesas que sou, poucas são as coisas que desprezo mais do que passar meses, anos a ouvir falar de um tema e simultaneamente não ver ninguém disposto a discuti-lo. Este é um desses casos. De tanto ouvirmos chavões como “este é um problema sem solução” ou “é impossível o consenso” uma pessoa acaba por ficar de tal modo acomodada que prefere lavar as mãos e assobiar para o lado.


E não posso permitir-me a isso Sr. Presidente, porque não se esqueça que o futebol, estando dividido entre Clubes e Selecções (como o Sr. tão bem sabe pelas suas rixas frequentes com a UEFA), não existe para nenhum deles - Existe para nós, adeptos pagantes deste grande espectáculo (seja pelas quotas que pagamos, pelo Merchandising que adquirimos ou pelas audiências televisivas que providenciamos). Pois bem, como adepto estou enjoado de ouvir sempre os mesmos discursos sempre que um jogador se lesiona ao serviço da sua selecção e do arremesso mútuo de pedras daí resultante.

Era tempo do senhor Josep Blater e os seus compadres descerem à terra (neste caso ao relvado) e transformarem os lucros astronómicos que a FIFA e a UEFA declaram anualmente em medidas que melhorem o funcionamento deste deporto. Antes de se preocuparem em aumentar o número máximo de equipas a poder participar nas grandes competições para assim meter mais notas ao bolso deviam preocupar-se em assegurar que os jogadores chegam lá com o mínimo de condições para as disputarem.


Estou farto desta hipocrisia e desta inércia que permite que os Srs., quando confrontados com o número excessivo de jogos disputados por temporada, se defenda alegando que “hoje, o futebol é um negócio”, mas quando vos vêm relembrar as implementações de determinados meios tecnológicos, necessárias para que o Futebol se torne mais transparente, vêm “defender a pureza do jogo”. Mas toma-nos por palermas ou quê?


Sr. Blater, se o futebol é um negócio - e como tal deverá ser observado por uma óptica cada vez mais empresarial e profissional – então deixe de nos atirar areia para os olhos. Eu Explico-lhe: Representar a respectiva Selecção deve constituir o maior motivo de orgulho para qualquer jogador, pois é o mesmo que dizerem-lhe que é dos melhores entre os melhores da sua nação. Como tal, e salvo situações de carácter excepcional (muito poucas), jamais deve deixar de comparecer aos trabalhos da mesma. Isto é um princípio base não só do Futebol como do Desporto em Geral. Contudo, se olharmos pela perspectiva de Clube, aparte do prestígio inerente a possuir um jogador “internacional”, o que sobra é o receio de um desgaste excessivo do atleta ou que este sofra uma lesão grave. Parece-lhe justo? Claro que não, mas de quem é a culpa?

Da Selecção que o convocou? (como se ela tivesse algum propósito para além do de convocar os melhores) Do clube que o dispensou apesar de continuar a pagar-lhe o ordenado? Não Sr. Blater, é mesmo sua, porque seguindo os seus ditames empresariais altamente profissionalizados, estas situações já tinham de estar previstas e reguladas há muito tempo.

Como? Olhe, e que tal se pegassem numa ínfima parte do dinheiro que têm nos vossos cofres e, sempre que um atleta se lesionar ao serviço da sua Selecção, ressarcir monetariamente o respectivo clube (que no fim acaba por ser sempre o mais prejudicado) usando como critérios a gravidade da lesão (que ditará o tempo durante o qual o clube não poderá utilizar o seu atleta) fazendo um cruzamento com o valor em que o atleta está avaliado. Não lhe parece simples? E anda V. Exa. a reunir-se dezenas de vezes com os seus colegas para decidirem se um jogador quando marca um golo pode ou não tirar a camisola… Perdoe-me a sinceridade, mas pensar que são V. Excelências que regulam este desporto dá-me náuseas.

Atentamente.


No momento presente da Selecção Portuguesa, creio ser um acto de justiça felicitar Carlos Queiroz, não por todas as asneiras que cometeu na fase de classificação ou por estarmos no Playoff - porque neste grupo teríamos sempre a obrigação de ficar em primeiro – mas por ter conseguido emendar muitas coisas em pouco tempo. Com menos invenções, uma pequena dose de bom senso, uma grande dose da sorte que nos faltou noutros momentos e uns pozinhos de Liedson, até o apoio à equipa das Quinas parece ressuscitado. Que a eliminatória a disputar a duas mãos em Novembro nos sorria! No Mundial não quero torcer por nenhuma equipa que não a minha.

Para terminar, gostaria de deixar uma ideia para o que poderia muito bem ser o futuro modelo de jogo da nossa Selecção:

Já uma vez elogiei aqui o futebol praticado pela Selecção Espanhola, que eles tão orgulhosamente denominam “Tiqui-Taca”, assente numa elevadíssima posse de bola, e uma construção do futebol atacante realizada sem pressas mas também sem pausas, sempre a espreitar as desmarcações. Com este modelo, sagraram-se Campeões da Europa e fizeram o pleno de vitórias na caminhada até ao Mundial (e somando goleadas atrás de goleadas). Pois bem, sendo certo que nós não possuímos nenhum jogador como Iniesta ou Xavi (sobretudo este, que faz girar tudo), a verdade é que facilmente imagino Portugal a jogar num 4-4-2 com um Meio-Campo composto por Pedro Mendes, Tiago, Raul Meireles (ou Moutinho) e Deco, capaz de pôr o adversário a correr atrás da bola o jogo todo. Na Frente, Ronaldo abriria o jogo em qualquer um dos flancos e faria as suas habituais diagonais. O único senão desta ideia é que não temos nenhum Ponta-de-lança que faça o trabalho de David Villa (que respira tão bem dentro da área como mais recuado ou nas alas), mas a verdade é que em compensação temos um Levezinho que consegue sempre fazer sentir a sua presença…

2 comentários:

sirmister disse...

Sobre esse blatter e apesar de sairmos beneficiados com isso, acho uma vergonha o facto de se ter "inventado" que haveriam cabeças de serie nos playoff á poucas semanas, precisamente quando se soube que a frança iria aos playoff...

Quanto á selecção acho que não devemos tentar imitar a selecção espanhola que tem aquele estilo de jogo no ADN dos seus jogadores não só os que referiste mas tambem silva cesc xabi etc.

Quanto ao meio campo que imaginas é um meio campo que é possível e que foi ensaiado (não com pedro mendes ainda), e também acho que tem pernas para andar, até porque nesse sistema pode entrar danny que pode ser o sucessor de deco que não vai durar para sempre, e potenciava ronaldo que ficaria mais perto da baliza para finalizar. Ainda assim acho que em muitos jogos é importante ter pepe no meio campo dado que a nossa equipa é baixa e é presiso um jogador como ele tanto para as bolas paradas como para o meio campo.

Mito disse...

Saudações Sirmister, é sempre um prazer reencontar-te.
Essa medida que tu referiste, inventyada à última da hora pelo Sr. Blater, é tão só um exemplo de como funcionam aquelas mentes - perante o espectro de uma possível eliminação da Selecção Francesa foi num instantinho que arranjaram forma de atenuar o problema. Fossem tão lestos com os verdadeiros problemas que assolam o desporto....mas adiante, que sobre este tema já me pronunciei o suficiente.
Relativamente ao possível modelo de jogo para a Selecção que referi, não se trata de decalcar os Espanhóis. Se eles nesta geração descobriram as virtudes do futebol apoiado já os Portugueses o praticam desde sempre . A referência que fiz foi só para exemplificar uma fórmula vencedora de empregar esse estilo de jogo (que ao contrário dos Espanhóis sempre nos esteve no sangue).

Saudações