É sabido que muito longe vão os tempos em que os grandes clubes passeavam a sua superioridade perante adversários ditos inferiores, que caíam vencidos só pelo peso do nome do adversário. Jornadas Europeias com resultados surpreendentes sempre as ouve também, mas penso que chegou a altura de assumirmos que as razões de isso suceder alteraram-se.
A explicação clássica para as derrotas dos grandes clubes perante adversários ditos inferiores gira sempre em redor de duas correntes de pensamento:
- O Facilitismo e Displicência derivados de se tratar de um adversário sem nome, que não motiva os grandes jogadores a explanar o seu talento natural - pois de outro modo venceria naturalmente;
- A táctica extremamente defensiva empregue pelo adversário, estacionando o autocarro à frente da baliza e recorrendo à falta todas as vezes necessárias para travar o oponente.
Sendo certo que ambos os casos continuam a verificar-se todas as semanas em qualquer Campeonato, o seu valor alterou-se substancialmente: Não só o facto de se tratar de um adversário sem nome deixou de poder constituir desculpa para os maus resultados, como as “tácticas” empregues pelo adversário se tornaram muito mais refinadas (e isto é particularmente visível nos jogos da Champions, onde até o mais frágil dos adversários é possuidor de superiores condições de trabalho). Os clubes pequenos compreenderam que lhes pode ser muito difícil, até impossível, atingir o nível e prestígio dos clubes grandes, mas é extremamente fácil obrigá-los a jogarem no limite e dificultar-lhes a tarefa. O jogo Barcelona - Rubin Kazan foi particularmente elucidativo disso mesmo.
Já o Real Madrid, quiçá o clube mais altivo do Mundo (não estando desprovido de razões para isso, reconheçamo-lo) contraiu no início do Séc. XXI (aquando dos primeiros “Galácticos”) uma estranha doença que adquiriu contornos de problema estrutural ainda sem solução á vista, quase uma década volvida: divorciaram o Esforço do Talento, profetizando que tal soma de Craques torna tudo o resto supérfulo. O trabalho e o sacrifício em prol do Colectivo, em vez de serem o caminho para conquistar tudo o resto, passaram a ser vistos como algo característico das pequenas equipas, que procuram com isso compensar o seu défice qualitativo. Quem possui os melhores jogadores está acima dessa condição (como quem separa os Deuses dos simples mortais); terá sido assim nos tempos de Alfredo Di Stéffano, Puskas e Ca. e continuará a ser agora. Ora, é certo que quem esquece os erros que a História reteve está condenado a repeti-los, mas creio que o pior favor que podemos fazer à História é distorcê-la.
Esta semana, apareceu-lhes pela frente um Milan em horas baixas mas ferido no orgulho, pois na véspera a “prensa” madrilena chamou-lhes tudo, desde “equipa de velhotes” até “acabados”. Ao que acrescia o facto de o Milan jamais ter vencido no Barnabéu e recentemente ter perdido em casa com o Zurique. Um grande Clube vê-se também no seu brio, e os Rossoneri venceram porque compreenderam que o mais importante era respeitar a camisola que envergam…. quando o adversário não o soube fazer.
Diz-se que à Mulher de César, não basta sê-lo, também há que parecê-lo… Pois bem, os grandes clubes já sabem que não lhes chega sê-lo….nem parecê-lo! – também têm obrigatoriamente que demonstra-lo a cada minuto.
No futebol de hoje, “Favorito” é a equipa que, mais além do seu talento individual, melhor estiver preparada no plano físico, táctico e (sobretudo) mental. Porque é no relvado que se constroem as Lendas.
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