Pensamentos de um Mito (XV) – Porto, será Desta?; Um mistério chamado Diego Valeri

Chegou Dezembro. Para além do sempre bem-vindo cheiro a Natal, a Festa e a Comércio (este último bastante mais tímido que o habitual, por razões óbvias), é também um tempo para reflexão. O Futebol não poderia fugir à regra.

Pensando em termos de Campeonato - o verdadeiro - temos um surpreendente Braga, um Benfica Forte, um Porto instável e um Sporting que dificilmente vai a tempo de esboçar alguma reacção. Concentrando-nos nos Azuis e Brancos, várias vezes escrevi aqui nas minhas crónicas que o principal cancro da equipa este ano foram os incontáveis problemas físicos que assolaram a equipa. Confesso que momentos houve em que pensei se esta não seria uma explicação demasiado redutora, mas o tempo veio mesmo dar-me razão: bastou voltarem Beluschi, Fucile e Varela para tudo se começar (finalmente!) a recompor. Não posso é sentir por isso qualquer orgulho, pois significa que o meu clube passou quase metade da temporada a fazer trabalho de remendos - o que equivale também a dizer que a equipa, neste tempo - aparte de ter inserido com sucesso Álvaro Pereira e Falcão - pouco ou nada cresceu.

A ausência de Varela, em particular, foi danosa, pois obrigou Rodriguez a regressar antes de tempo e atrasar consideravelmente a sua própria recuperação. Bastaram 2 semanas sem jogos (por causa das Selecções) para que o Uruguaio voltasse a ser o de sempre. O seu golo no D. Afonso Henriques foi acima de tudo um golo de raiva por tudo o que teve de passar. Mereceu-o. Está portanto resolvido o problema? Não! Simplesmente aumentaram as opções para atenua-lo.

A equipa continua desequilibrada, e basta passar os olhos aos primeiros 15m da segunda parte em Guimarães (até ao golo de Bruno Alves) para ver o Porto aos papéis, tal foi a agressividade com que o Guimarães abordou essa fase da partida e a impotência do Porto para fazer-lhe frente.

Apontar o dedo a Beluschi por “só durar 45m” é demasiado simplista e injusto. Olho para ele em campo e vem-me sempre à memória o Pablo Aimar do ano passado. Numa palavra, deslocado. Se Quique Flores punha este demasiado adiantado, Jesualdo faz o inverso com Beluschi, com a agravante de que este além de jogar demasiado atrasado tem de o fazer deslocado para o lado direito do meio-campo (Meireles ocupa-se do esquerdo).

Esta forma de jogar já vem desde o ano passado e também nessa altura houve uma vítima: Lucho, naquela que foi porventura (mas não por acaso...) a sua época menos produtiva no Porto. Compreendo que Jesualdo tenha as suas ideias, pois conquistou essa legitimidade à base de vitórias e Títulos, mas desperdiçar o talento destes 2 Argentinos, obrigando-os a correr como ninguém e ainda pedir-lhes que cheguem lá à frente para criar desequilíbrios (pelo menos de modo consistente) é irrealista e castrador das suas virtudes; e se à pouco referi Aimar para estabelecer uma comparação de problemas, a ele volto para sugerir a solução: Jorge Jesus só precisou de somar 2+2 para perceber que bastaria um meio-campo a 4 (em losango, com certas nuances) para que Aimar tivesse a liberdade para fazer a diferença e gastar as suas energias na direcção certa (ou seja, na da Baliza adversária).

No Porto, creio que o resultado da aplicação de tal fórmula seria superior: Fernando no seu lugar de sempre, Meireles à direita (perdoem-me os Benfiquistas, mas nada fica a dever a Ramires e possui melhor remate), Rodriguez na esquerda (tarefa que já faz…mas apenas em part-time, ele que é um médio de origem) e finalmente Beluschi no vértice ofensivo. Aposto com qualquer um que neste cenário ele dura mais de 45m… A outra vantagem é que Hulk ou Varela deixariam de estar presos à direita e jogariam mais próximos de Falcão, que deixaria de ser uma ilha. Teríamos uma equipa mais unida e jogadores mais próximos do golo.

De qualquer forma, mais importante que estas reflexões é que a vitória conquistada em Guimarães seja o ponto de “inflexão” no trajecto irregular que a equipa vem realizando e dê alento para o que resta jogar em Dezembro e, se possível, diminuir as distâncias para Braga e Benfica.

E agora, um mistério que tarda a ser desvendado: Diego Valeri

Na época passada, era quase unânime que o Porto possuía apenas 2 médios com características (mais ou menos) ofensivas: Lucho e Meireles. Guarín (que grande jogo do Colombiano em Guimarães! mais um..) ainda não estava adaptado e Tomás Costa parecia (ainda parece) aquele tipo de jogador que pode actuar em muitas posições mas não é suficientemente bom em nenhuma.

Urgia corrigir esse vazio, e com a venda de Lucho o Porto fez o que tinha de fazer: arranjou um substituto…e alguém para competir com ele pela posição. Qualquer equipa de topo tem de ter 2 jogadores por posição (Guarda-Redes e Ponta-de-Lança à parte), e este ano é isso mesmo que temos. Prediguer compete com Fernando (tanto quanto é possível a ele – e já agora a qualquer outro - competir com Fernando, e por isso mesmo Jesualdo não teve pressas para inscreve-lo na Champions); Guarín tem as mesmas características de Raul Meireles em termos de jogo (segurança no passe, poder no remate) e é-lhe muito superior no confronto físico. Já Beluschi tem...

Valeri, e a pergunta que eu coloco e que muitos outros Portistas também colocam é: Quem é Valeri? Sim, eu também fui ao “YouTube” aquando da sua contratação e fiquei agradado com o que vi, mas o que importa a todos é saber “Quem é Valeri… nesta equipa do F.C.Porto?”, que papel poderá ter nela e em que se assemelha e/ou difere dos outros? Do pouco que jogou (quando Jesualdo não o faz entrar a 3m do fim…) fica a ideia de ser tão ou mais ofensivo que Beluschi, pelo que por aí já se vê o porquê de o Treinador não apostar nele para “médio-interior”, mas tudo o resto é demasiado vago. Precisará de mais tempo para se adaptar.

Será interessante ver a movimentação do Porto neste mercado de Inverno: caso contratemos um médio, será sinal que Jesualdo pensa nele como Avançado; caso contratemos um avançado…não vejo lugar para ele neste 4-3-3 tão idiossincrático. Seria uma pena, pois sendo verdade que todos os jogadores vão e vêm, a diferença sempre esteve em que uns deixam no relvado algo para que possamos um dia recordar-nos deles…o seu talento. Ainda acredito que Valeri o tenha, e que faz falta a este Porto!

Nota: Já conhecemos os adversários para a fase de Grupos do próximo Campeonato do Mundo. Saiu-nos um crónico candidato ao título, aquela que é porventura a melhor equipa Africana do Momento (na realidade até será o Egipto, mas quiseram os Deuses que este não se apurasse) e uma Coreia do Norte da qual não se sabe rigorosamente nada. Sabendo que até ao Verão o frenesim em torno do Mundial será sempre em crescendo (e do qual os adeptos não nos quereremos dissociar), creio contudo que seria benéfico se em vez de andarmos todos a discutir o sexo dos anjos até Junho, assumíssemos o que é realmente palpável: Portugal é candidato a passar o Grupo em que está inserido, juntamente com o Brasil. Ponto final e logo se verá o resto. Traçar cenários para Portugal ou qualquer outra equipa é um exercício que os últimos mundiais têm tornado obsoleto ao serem conquistados por equipas que à partida não se afiguravam como as favoritas.