Crónica de um adeus anunciado ao sonho europeu

Um adeus com sabor a humilhação na Champions. Um adeus que pode significar um final de época penoso para uma equipa que perdeu na Terça, de forma bem dura, uma das suas poucas motivações para o que sobrava da época… Com o título perdido, o 2º lugar distante e apenas com as 2 Taças para ganhar, mais como obrigação mínima do que propriamente como um grande motivo de celebração, este fim de época arrisca-se a ser bastante doloroso para todos os Portistas…

Época mal planeada, com vendas de Lisandro, Lucho e Cissokho e jogadores que ficaram no clube desmotivados como Bruno Alves e Meireles. Faltaram reforços, falta a Direcção, são demasiados Sul Americanos contratados apenas pela Comissão e sem qualidade para vestir a camisa do Porto... Desde Mourinho que o Clube vive demasiado de negócios paralelos, de comprar jogadores apenas pela Comissão e vai delapidando o Património Desportivo, não apostando nos jovens jogadores de qualidade que tem emprestados pela Liga Portuguesa.

Este ano falhou tudo, desde jogadores em baixo de forma á Comissão Disciplinar da Liga que emperrou o Porto com a suspensão mais ridícula da história do futebol, ao suspemder durante 4 meses Hulk, o que faz com que ele, até na Champions, não seja a mais valia que costuma ser. Está fora de ritmo, não é fácil estar meses e meses apenas a treinar, perdeu explosão, perdeu velocidade e confiança, algo que é fundamental no seu jogo.

Com estes problemas todos o Porto foi-se afundando. Jesualdo não teve mão na equipa, dá ideia que o balneário está com problemas de liderança e rachado. Falta motivação e falta cultura à Porto, coisa que não costuma faltar. O Porto precisa de arrumar a casa, mandar uma série de jogadores embora, apostar mais na prata de casa e iniciar um novo ciclo com outro Técnico, com outros objectivos, mais investimento, menos vendas. Jesualdo fez um grande trabalho, foi a pessoa certa no lugar certo, ganhou 3 Ligas, Taça, fez boas campanhas na Champions, deu a cara num dos momentos mais difíceis da História do Clube quando muitos se esconderam... Mas este ciclo tem que se fechar.

Sobre o jogo de Londres:

O Porto entrou sobre brasas. Enquanto o Arsenal animicamente está em fase ascendente, este jogo veio na fase da época em que o Porto bateu no fundo, perdeu as suas hipóteses na Liga Sagres, tem tido actuações horríveis e desatenções gritantes na defesa. Entrou a perder num golo precedido de fora de jogo que intranquilizou a equipa toda, sofreu o 2º e foi para o intervalo.

No 2º tempo Jesualdo mexeu como se impunha e arriscou com Rodriguez,Varela, Hulk e Falcao no ataque. O Porto aí jogou de igual para igual com o Arsenal, esteve perto de igualar a elminatória num bom remate de Falcao e num lance em que Nasry salva o Arsenal sob a linha de golo... Aí o jogo ganhou emoção, até o FC Porto dar mais um golo ao Arsenal... Um canto a favor do Porto e o Porto entrega a bola ao Arsenal... Fucile fez dois passes para 2 golos do Arsenal e no final terminou ainda com um penalti desnecessário. Uma noite para esquecer do uruguaio...

Foram mais as desatenções e erros defensivos gritantes dos Portistas que ditaram a vitória do que propriamente o grande jogo do Arsenal... Nos 5 golos, o 1º foi em fora de jogo e mesmo assim um erro defensivo colectivo grave, o 2º e o 3º foram duas assistências de Fucile para os avançados do Arsenal, o 4º o Nasry passa por 3 defesas do Porto que já estavam a permitir que tudo acontecesse e o último é um penalti ridículo do Fucile. O Arsenal foi eficaz, aproveitando todas as falhas infantis da defesa do Porto... O Dragão quando podia aproveitar as falhas do Arsenal, não aproveitava, como aconteceu nas duas vezes em que o Hulk se isolou e chutou sem confiança.

Jesualdo esteve mal no banco, ao deixar Hulk terminar o jogo quando se notava que a paragem lhe retirou capacidades, e acima de tudo insistindo em Rúben Micael e não fazendo entrar o Belusschi. O Argentino faz a mesma posição e Rúben estava num dia mau, nada mais apropriado do que dar uma oportunidade a outro... Jesualdo acabou por mexer na equipa apenas nos últimos 20 minutos com o jogo perdido e para fazer entrar... Mariano e Guarín... Aí acho que qualquer adepto se sente incomodado... Ver a equipa a empurrar o Arsenal com Rodriguez, Micael e Hulk perdidos, e Beluschi ficar no banco o jogo todo... E depois, mexer-se com a eliminatória já resolvida e não antes quando ainda se podia fazer alguma coisa para ajudar a equipa a empurrar ainda mais o Arsenal para a sua área... Mais uma vez, não faltarão críticas a posteriori sobre a aposta em Nuno André Coelho e que Jesualdo inventou... Tal como haveriam dito o mesmo do grande jogo que fizemos em Old Trafford, caso não tivéssemos ganho...

Criticar depois é fácil. Não creio que Jesualdo tenha inventado ou que tenha sido por causa do Nuno André Coelho que o Porto perdeu. Curiosamente, considero que ele foi até dos jogadores mais esclarecidos no 1º tempo. A sua substituição deveu-se apenas a questões estratégicas. Com 2-0, Meireles poderia ser um trinco mais ofensivo libertando mais Rodriguez e Micael, um para galgar metros com a bola no pé e agitar o jogo (o que resultou), o outro para pensar o jogo (coisa que não resultou, pois Micael foi engolido pelo ambiente do Emirates e não acertou um passe). Pelo que me apercebi, Tomás Costa por algum motivo não estaria disponível para este jogo, visto que nem no banco se sentou. Assim sendo, a Jesualdo restavam-lhe 3 opções:

1ª - Apostar em Guarin. Colocaria músculo, mas Guarín sempre que jogou de inicio, tirando o jogo com o Chelsea, nunca justificou a sua aposta, o que tem em presença física falta-lhe em leitura de jogo e técnica, e isso seria fatal contra uma equipa que se movimenta com tanta inteligência em campo.

2º - Apostar em Meireles logo de inicio como trinco e jogar com Micael e Beluschi, o que seria demasiado ofensivo e suicida até para uma equipa que partia em vantagem na eliminatória. Ninguém compreenderia.

3º - Sabendo que necessitava de um jogador com a presença física de Fernando mas que conseguisse também ter a inteligência para ocupar os espaços e ao mesmo tempo serua preciso acorrer aos fogos que fossem acontecendo n centro da defesa, aí não havia nenhum médio no plantel capaz de fazer essa função... Nuno André Coelho é um jogador de técnica refinada, com boa estatura, capaz de dar maior poder de choque no meio campo, e ao mesmo tempo ter a capacidade e inteligência de ler o jogo e saber antecipar-se aos movimentos colectivos do Arsenal. A posição não lhe era de todo estranha, pois no Estrela jogou a trinco ainda bastantes vezes, assim como em alguns jogos das Selecções Jovens.

Creio que foi uma solução bastante aceitável... Critico apenas que fosse ele a sair e não o Bruno Alves que tem andado a dormir em todos os golos do Porto quase desde o incidente com Tomás Costa... Parece apático, desinteressado e já não se ouve a sua voz de comando. Vê-se sim um jogador que se vulgarizou e que está conformado com a derrota e com o baixar dos braços... Não é o Capitão que aprendemos todos a admirar...

Se não está com a cabeça no Porto, então que se dê jogo a Nuno André Coelho que para mim é o Central com maior margem de progressão no plantel, e não entendo porque tem sido a 4ª escolha. Fez uma grande época no Estrela, tem crescido muito no passar dos anos, é rápido a ler o jogo, tem classe, sai a jogar, tem tudo para ser um Central fino, muito dentro do estilo de Ricardo Carvalho.

Do jogo de Inglaterra, de uma equipa apática, com medo da própria sombra e com uma organização defensiva tenebrosa, salvaram-se, para mim, apenas: Helton (sem grande culpa nos golos), Raul Meireles (talvez por ser a Liga dos Campeões motivou-se e jogou como costumava jogar ano passado e que este ano apenas o vimos jogar assim na Selecção), Rodriguez (mexeu com o jogo, entrou cheio de vontade e contagiou a equipa) e Falcao... O Colombiano merece mesmo um destaque especial. Nesta fase final da época, quando a equipa está a cair, ele não pára de crescer como Ponta de Lança. Ele luta, deixa tudo em campo, tem movimentos felinos, aprimorou a eficácia na finalização e é dos poucos elementos da equipa que podemos dizer que é aquilo que se denomina de jogador à Porto. Que luta até ao último minuto, que nunca baixa os braços, com garra e que tem mentalidade de Campeão. Falcao merece ter neste momento o estatuto e salário que outros pesos pesados do plantel têm...Não deixa de ser curioso, numa época com tantas saídas, que o sector que nos puxou para baixo foi a defesa. Curiosamente foi o que teve menos mexidas, apenas com a saída de Cissokho e a entrada de Pereira. Não deixa de ser curioso que não se possa dizer que foram os novos jogadores que não estiveram à altura, ou que a camisola lhes pesou, ou que não sabem o que é jogar num clube como o Porto... Se formos a ver, numa lista dos melhores, este ano figurarão Varela, Rúben Micael e, acima de tudo, Falcao... Foram os que já cá estavam e que deviam dar o exemplo aos novos, como Fucile, Fernando e acima de tudo Bruno Alves e Raul Meireles, que ao longo da época não pareciam estar ao nível que o nosso clube exige...

O Porto tem que planear uma nova época, escolhendo bem o projecto que quer encetar. Nova Direcção Técnica, nova política, mais investimento no plantel mesclado com aposta na prata da casa. Um ano que o Porto tem que assumir que é para ganhar a Liga Europa e o Campeonato. Nem pode ser de outra forma...