Os Chapeiros

Sobre a presumível indisciplina do seleccionador de futebol, convém analisar o assunto e saber do que estamos a falar, coisa que não tenho visto nos habituais pasquins desportivos, nem nas nossas queridas televisões. Pelo menos 3 entidades estão ligadas a este caso. Vamos ver quais as suas competências, desígnios, e eventuais responsabilidades.

FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE FUTEBOL É um órgão autónomo composto pelas Associações que compõe o tecido distrital do nosso País. Tem a seu cargo a organização dos Campeonatos de Futebol nas suas várias especialidades (futsal, feminino, etc.), a Formação, a Arbitragem, a Disciplina e o Licenciamento. Como é sabido, os torneios profissionais (Liga ZON Sagres e Liga Orangina) foram entregues a um organismo autónomo, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional. A FPF é então a interlocutora privilegiada junto das confederações internacionais UEFA e FIFA com quem debate assuntos de interesse comum para as selecções nacionais e os clubes, como sejam, os que dizem respeito à disciplina e regulamentos, ou à organização de provas Internacionais (Uefa League e Campeonato do Mundo). Assim, uma das suas principais funções é a gestão das equipas nacionais representativas do país, vulgarmente conhecidas como Selecções Nacionais. Na sequência da nossa participação no Campeonato do Mundo na África do Sul, a Direcção da FPF reuniu no dia 14 de Julho, proferindo no final um comunicado chapa 1:

"Foi analisada a participação da Selecção Nacional no Mundial 2010, tendo sido registado o cumprimento de dois dos objectivos subjacentes a esta campanha. Por um lado, a qualificação para a fase final da prova (a sexta presença consecutiva nas grandes competições internacionais) e, por outro, o apuramento para a fase a eliminar. Apesar do trabalho e da vontade demonstrada pelos dirigentes, equipa técnica e, naturalmente, por todos os jogadores presentes na África do Sul, não foi possível ultrapassar os oitavos-de-final, algo que se lamenta. Mesmo que a derrota tenho sido frente à Selecção que viria a consagrar-se Campeã do Mundo, o resultado fica aquém do que todos ambicionavam. Foi também enaltecido pela Direcção o trabalho árduo e competente de todos os elementos que compunham a estrutura logística e organizativa que suportou a “equipa de todos nós” durante os estágios efectuados na Covilhã e na África do Sul bem como nos jogos disputados. Por último, a Direcção entende que se justificam algumas adequações em relação aos modos de funcionamento, nomeadamente da estrutura técnica, que serão analisadas com o Seleccionador Nacional, Carlos Queiroz, no sentido de se encontrarem as melhores soluções em face do próximo grande objectivo da Selecção, que é o apuramento para a fase final do Campeonato da Europa de 2012."

INSTITUTO DE DESPORTO DE PORTUGAL É um instituto público criado pelo Decreto-Lei N.º 169/2007 de 3 de Maio onde, no seu preâmbulo, se pode ler:

"O Instituto do Desporto de Portugal, I. D. P., passa a ter por missão apoiar a definição, execução e avaliação da política pública do desporto, promovendo a generalização da actividade física, bem como o apoio à prática desportiva regular e de alto rendimento, através da disponibilização de meios técnicos, humanos e financeiros. Desta forma, impunha-se a presente reestruturação, por forma a dotar este Instituto dos meios adequados a assegurar a efectiva concretização das políticas governamentais, nomeadamente no que concerne ao fomento da actividade física e desportiva, ao reforço da sustentabilidade organizativa e financeira do movimento associativo, à luta contra a dopagem e contra as práticas irregulares na competição, à protecção da saúde dos praticantes, à garantia de transparência e verdade na gestão desportiva. Mais adiante o diploma diz-nos que o IDP “é dotado de autonomia administrativa e financeira e património próprio”, e que, das suas Funções fazem parte “propor medidas tendo em vista a prevenção e o combate à dopagem, à corrupção, à violência, ao racismo e à xenofobia no desporto. "

No cerne da questão parece estar a irritabilidade de Carlos Queiroz ao ser confrontado no estágio da Covilhã por uma equipa de médicos daquele Instituto que pretenderia realizar análises anti-doping. CQ teria feito comentários insultuosos, dirigidos ao presidente do organismo. Na sequência deste incidente, a ADoP (Autoridade Antidopagem de Portugal) terá feito a respectiva participação do incidente para a FPF que, por sua vez, a endossou para o Dr. Laurentino Dias num sobrescrito de correio interno chapa 2.

SECRETARIA DE ESTADO DO DESPORTO

Laurentino José Monteiro de Castro Dias

Militante do Partido Socialista desde 1985

Presidente da Assembleia Geral da Secção de Fafe do PS

Membro da Comissão Política Distrital de Braga do PS

Deputado à Assembleia da República nas V (1987/1991), VI, VII, VIII, IX e X Legislaturas, durante as quais exerceu funções como:

Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS

Coordenador do Grupo Parlamentar do PS para a área do Desporto

Presidente da Comissão Eventual para a Análise e a Fiscalização dos Recursos Públicos Envolvidos no Euro 2004

Vice-Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros, Comunidades Portuguesas e Cooperação

Membro da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias
Membro da Comissão Parlamentar de Juventude e Desporto

Membro da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura

Membro da Comissão Eventual de Verificação de Poderes

Membro da Comissão Parlamentar de Inquérito aos Actos do Governo e da Administração no Processo da Fundação para a Prevenção e Segurança

Membro da Comissão Parlamentar de Inquérito para Apreciação dos Actos do Governo Referentes ao Processo de Aceitação de Acções da SAD Benfica como Garantia de Dívidas em Execução

Membro do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Brasil

Presidente da Secção Parlamentar Portuguesa da Associação de Parlamentares Europeus por África (AWEPA)

Como se vê, ao longo de 23-anos-23, desde 1987, o Dr. Laurentino Dias esteve em cargos importantes para os quais deve ter produzido abundante matéria da qual, infelizmente, não me consigo lembrar de nenhuma.

Instado pela Imprensa sobre o caso do momento, o referido senhor, debitou o habitual comunicado chapa 3:

“São factos graves para a Federação ponderar e avaliar”

Portanto temos o seguinte panorama: Carlos Queiroz que depende da Federação Portuguesa de Futebol que depende do Instituto do Desporto de Portugal que depende da Secretaria de Estado da Juventude e Desportos disse uma coisa feia. O senhor Laurentino, da Secretaria de Estado da Juventude e Desporto que manda no Instituto Português de Desporto que manda na Federação Portuguesa do Futebol, encarregou o senhor Madaíl de se desmerdar do problema, ou seja, nada mais do que aquilo a que estamos habituados nos chapeiros: Bate chapas e tinta Robialac.

Até para a semana