segunda-feira, 7 de novembro de 2011

As Contas do Futebol Clube do Porto - SAD

Existem várias formas de analisar as contas de uma sociedade como aquela que faz parte do universo do Grupo FCP. Podemos verificar apenas o ano desportivo em curso (1 de Julho de 2010 a 30 de Junho de 2011) ou estabelecer comparações com os anos anteriores. Depois, como a Sad do nosso Clube incorpora dentro de si mesma outras empresas, podemos verificar uma a uma, ou decidirmo-nos pela análise consolidada.

De forma muito simplificada podemos dizer que as Contas Consolidadas de qualquer Sociedade em que a Empresa-mãe detenha directa ou indirectamente mais de 50% do seu Capital Social noutras sociedades, deverão ser apresentadas de forma a reflectir o total das empresas que a compõe, depois de “acertados” os saldos das transacções (se existirem) entre elas.

Tomando como ponto de partida o Porto/Clube (que analisaremos noutra crónica) foi criada no dia 5 de Agosto de l997 uma Sociedade Anónima Desportiva, destinada maioritariamente “à gestão do futebol profissional”. Depois de sucessivas alterações foram criadas outras sociedades (Porto/Comercial; Porto/Estádio; Porto/Multimédia e Porto/Seguro) sendo portanto 5 as que constituem o seu perímetro de consolidação.

Não querendo maçar os nossos amigos com a transcrição de números, percentagens, desvios, etc. habituais nestes tipos de análises mas que nada dizem a quem não estiver interessado nestes pormenores contabilísticos, vou apenas referir sinteticamente que a FCPorto/Sad e a Porto/Seguro deram lucro, e as restantes apresentaram resultados negativos mas, mesmo assim, o Saldo Liquido Total foi positivo em 534 mil Euros.

PONTOS POSITIVOS

- A renegociação até à época 2017/2018 dos contratos de cedência dos direitos televisivos à PTV – Publicidade de Portugal e Televisão SA (integrada no Grupo Controlinvest) que assume a posição contratual da Olivedesportos.

- A apresentação pelo quinto ano consecutivo de resultados consolidados positivos.

- O aumento do Valor do Plantel, bem como, o Total de Activos.

- O aumento dos Proveitos Operacionais.

- Aumento das “Prestações de Serviços”: receitas (inclui prémios de UEFA), publicidade, transmissões, corporate hospitality (comercialização de lugares anuais).

- Constituição dum Departamento de Auditoria Interna de forma a zelar pelo cumprimento das normas de fiabilidade financeira, e pelo respeito pelos regulamentos.

- Os 15 kilos de André Villas-Boas, pese embora a falta que o homem faz, possibilitou o equilíbrio do exercício. A não ter existido apresentávamos um prejuízo de exploração (o saldo entre os Proveitos e Custos dentro daquele período) mais ou menos naquele valor. (As vendas de Falcão e Ruben Micael só entram nas Contas de 2011/2012).

- O rácio Salários/Proveitos (% dos Custos com o pessoal na estrutura dos Proveitos) está muito abaixo do recomendado pela UEFA ou, por outras palavras, os salários que pagamos representam um valor razoável em relação aos valores que produzimos.


PONTOS NEGATIVOS

- O valor do capital é insuficiente para cumprir o estipulado no artigo 35º (situação que, como é conhecido, ocorre sempre que se perde metade do Capital Social).

- Maior exposição aos riscos de mercado (variação das taxas de juro); crédito (contas a receber decorrentes da venda de passes de jogadores); e liquidez (falta de capacidade para cumprir as obrigações estipuladas dentro dum prazo e preço razoáveis).

- Aumento das Amortizações e Perdas de Imparidade (os prejuízos tidos com alguns “charutos”: Benitez, Tomás Costa, Orlando Sá, Stepanov, Leandro Lima etc.)

- Aumento dos “Encargos adicionais”. (Gastos com as aquisições de diversos atletas, direitos económicos, serviços de intermediação, prémios de assinatura de contratos e Custos Salariais de João Moutinho, Otamendi, Danilo, Alex Sandro, Défour, Mangala, Kléber, etc.)

- O elevado valor de “Contas a Receber” (atletas que estão a ser pagos a conta-gotas, provocando naturalmente roturas de Tesouraria).

- Subida do Passivo Financeiro (aquilo que se deve aos bancos).

- O aumento do Passivo Total justificado pela inversão da política de redução que vinha a ser seguida desde alguns anos, em troca da aposta em novas aquisições e renovações dos contratos de vários atletas.


URGENTE

- Resolver a situação do artigo 35º através da entrada de capital fresco.

- Na hipótese de não participarmos sequer na Liga Europa, a Administração deve apresentar imediatamente um Orçamento Rectificativo, aplicar medidas rigorosas de controlo orçamental, evitar dentro do possível novas aquisições e, já na próxima abertura do mercado, alienar o maior número possível de atletas desnecessários.

CONCLUSÃO

Se a situação desportiva não se normalizar rapidamente, a gestão desta SAD vai ser como andar no arame. Ao mais pequeno golpe de vento, lá vem o artista abaixo.

Até para a semana

2 comentários:

Pedro Silva disse...

Caro Lima, pelo que li a situação financeira do nosso Clube não é ainda de levar as mãos á cabeça, mas se não se tomarem medidas poderá ser o Fim do Mundo.

Esta situação foi provocada por uma aposta arriscada da SAD que ao manter o mesmo Plantel que ganhou tudo na Temporada anterior esperava que o sucesso se repetisse na actual Temporada.

Gerir uma SAD de um Clube não é o mesmo que gerir uma mercearia, pelo que existem sempre riscos, mas também existem riscos que a SAD Portista bem poderia ter dispensado dada a sua experiência.

Mas pronto, o mal está feito e agora há que saber viver com ele.

O que me chateia é que já não é a primeira vez que a SAD faz isto. Até parece que não aprendem com os erros e as malditas comissões continuam a passear no Dragão.

Grande abraço.

JOSE LIMA disse...

Perfeitamente de acordo meu amigo. Foi precisamente isso que eu tentei transmitir. A opção da SAD foi um grande risco.
Abraço