quinta-feira, 5 de abril de 2012

O momento das grandes decisões.

Com o aproximar do fim de um dos campeonatos mais disputados da história e com tantas oportunidades falhadas para descolar dos demais rivais, aproxima-se o momento das grandes decisões. Essas grandes decisões passam não apenas pelos jogos do campeonato que faltam, mas também pelas decisões que treinadores e jogadores tomarão nesta fase decisiva da época.

Que atitude o F. C. Porto apresentará até ao fim? A atitude que nos permitiu sair da Luz com uma vitória? Ou uma equipa acomodada e pouco intensa que vimos em Coimbra?

Chegou o momento de os jogadores esquecerem-se de egos inflamados, de tácticas, de contratos, de adversários, e simplesmente concentrarem-se em demonstrar durante os 90 minutos de cada jogo que querem de facto ser campeões.

Com esta fase decisiva chega também o momento das grandes decisões para Vítor Pereira. Quer fique ou não no F. C. Porto na próxima época, ele mais do que ninguém quererá ser campeão e sabe que poderá não ter outra oportunidade tão boa como tem neste F. C. Porto. Assim que, também é importante que VP não tenha medo de tomar as decisões que são as mais correctas para a equipa, independentemente da polémica que possam gerar e independentemente de, em alguns casos, essas decisões poderem ser o reflexo de opções erradas que VP teve no passado.

O caso para mim mais paradigmático de uma decisão que era necessária e que permitiu ao Porto respirar em campo, tratou-se do posicionamento de Lucho. Já estava para escrever sobre isso desde a chegada do “el comandante”, mas outros temas surgiram. Durante muito tempo ouvi amigos, li artigos nos jornais e senti por parte de vários portistas e não portistas um sentimento de que Lucho estava a defraudar as expectativas. Senti que Lucho estava a ser alvo de uma enorme injustiça e que a grande maioria não parava um pouco para analisar o jogo e perceber o porquê de se ter a ideia que Lucho estava a ser pouco influente e o porquê de dar a ideia de estar desgastado.

Convém primeiro de tudo lembrar que Lucho chega a meio da época, numa equipa que já não tem os automatismos que tinha quando saiu. Lucho passou também por uma reciclagem no Marselha onde teve que se adaptar a outro sistema táctico e modelo de jogo, que o deixavam, tal como nestes primeiros tempos no Porto, mais distante da linha do meio campo e mais próximo da linha atacante. Pode parecer estranho, mas tal como Jesualdo Ferreira (o treinador que conseguiu tirar o melhor rendimento de Lucho) já afirmou e bem, Lucho fica mais próximo do golo se recuar mais metros no terreno de jogo.

Vítor Pereira teve a melhor das intenções colocando Lucho mais próximo do atacante. Lucho sempre apareceu bem em zonas de finalização e por isso pensar-se-ia que jogando perto de Janko seria o apoio certo para a falta de capacidade de Janko em segurar a bola, e Lucho poderia tirar partido das 2ªs bolas. Acontece que Lucho se jogar muito próximo do avançado perde a sua maior qualidade. Visão de jogo. Lucho precisa de receber a bola mais atrás, poder ter uma visão mais ampla do terreno de jogo para melhor pautar o jogo ofensivo. Lucho não é um 2º avançado. Nessa posição denotam-se mais as suas dificuldades. Primeiro, falha mais passes, porque quando recebe a bola tem poucos apoios e tem que arriscar passes condenados ao insucesso. Depois, Lucho ao contrário de médios que saíram como Belluschi, não é um transportador de bola. Lucho é um jogador de inteligência táctica e de passe.

Lucho sempre que aparecia em zonas de finalização na sua anterior passagem do Porto era fruto da sua inteligência e forma de ler o jogo, partindo sempre do meio campo e nunca de uma posição tão avançada. Lucho na sua melhor época jogava com P. Assunção fazendo o papel que faz agora Fernando, e depois jogava numa linha de dois com Meireles. Ao contrário do que se possa pensar, nem era Lucho o jogador que mais subia no terreno. Havia variedade no jogo portista, e muitas vezes era até Meireles que até se chegava mais à frente e testava o seu forte remate de longa distância. Lucho era o médio das transições, muitas vezes o primeiro jogador a quem Assunção entragava a bola, para Lucho poder fazer um passe de rutura que desequilibrava a defesa adversária.

Jogando tão adiantado, Lucho perde essa possibilidade, e também acaba por ter que se desgastar mais à procura das 2ªas bolas de Janko, acabando sempre por dar uma imagem de sacrifício. Lucho é dos jogadores com mais classe do futebol português. Colocá-lo como 2º avançado é tirar-lhe mais de metade da sua valia, principalmente porque falamos provavelmente de um dos médios mais talentosos a jogar na liga portuguesa.

Por isso, não era também por acaso que o jogo do Porto com Lucho tão adiantado parecia pouco ligado. Moutinho ficava desamparado no meio campo, tendo que se desdobrar em várias funções e tendo pouca liberdade para ele também se aproximar mais ao sector ofensivo. Ficava uma distância muito grande entre Moutinho/Fernando e Lucho. No último jogo, Lucho baixando uns metros no terreno e jogando mais numa linha de dois com Moutinho, permitiu que Lucho pegasse na batuta e pautasse mais o jogo da equipa, e ao mesmo tempo acabasse por atacar melhor e soltar também Moutinho para uma tarefa que passava a ser a dois.

Por isso, deixo aqui bem expressa a minha indignação e surpresa pelas críticas que foram sendo feitas a Lucho. Ele sacrificou-se em prol da equipa e tentou fazer o melhor que podia numa posição que não é a ideal para ele.

Lembro-me de outros jogadores que são acima de tudo médios de grande qualidade mas que colocados em posições demasiado avançadas pareciam jogadores banais. Aimar na sua 1ª época de Benfica com Quique Flores jogava demasiado perto do ponta de lança e sem liberdar para baixar no terreno e organizar jogo, isso fazia com que Aimar parecesse ainda mais velho do que é e com pouca influência no jogo do Benfica.

O mesmo aconteceu com H. Viana. A sua carreira não teve tanto sucesso lá fora como poderia ter tido, porque chegado a Inglaterra foi colocado como médio esquerdo. H. Viana explode para grandes temporadas no Braga quando é colocado numa posição ainda mais recuada do que a que tinha no Sporting quando se deu a conhecer ao mundo do futebol. H. Viana joga melhor quanto mais recuado jogar no meio campo e se puder receber a bola em condição de lançar aqueles fantásticos passes de longa distância. Coloquem H. Viana atrás de Lima e o que verão é um jogador perdido em campo, a correr atrás da bola, a desgastar-se desnecessariamente e a passar a imagem de incapacidade e de má condição física.

Com isto não quero dizer que Lucho aos 31 anos apresenta a mesma condição que com 28 anos. Claro que não. Mas por isso mesmo é também necessário gerir a sua condição física e ter um plantel que assim permita… Assim sendo não foi nada inteligente a saída de Souza, Belluschi e Guarín… Ainda assim, essa foi outra boa decisão de VP. Quando o jogo peça maior intensidade e capacidade para a equipa recuperar a bola e não tanto um jogo mais pausado e ofensivo, então por volta dos 65 minutos é uma boa altura para deixar Lucho descansar, e colocar Defour para refrescar o meio campo.

Pode-se dizer que Vítor Pereira ficou algo condicionado nas suas escolhas pela chegada de um avançado com as características de Janko. Não se pode recriminar também muito o Vítor Pereira nesse aspecto. Um avançado com as características de Janko, com pouca mobilidade, pouca participação na organização ofensiva, incapaz de comunicar com os médios, obriga a que tenha um jogador mais próximo que possa aproveitar as segundas bolas. Com a chegada de Lucho e dado a sua experiência no Marselha, Vítor Pereira considerou que Lucho poderia ser esse jogador. Tratou-se de uma questão de perspectiva… Sacrificar um talento no meio campo para rentabilizar mais o ponta de lança, ou aproveitar o talento de Lucho no meio campo ainda que isso signifique retirar influência de Janko no jogo, mais a mais quando o Porto não joga com extremos de ir à linha de fundo e cruzar para a cabeça do austríaco.

Depois de algumas semanas a insistir na primeira fórmula e depois de Lucho desgastar a sua imagem desportiva pela função que vinha fazendo em que não demonstrava o seu melhor futebol, acho que com o Olhanense Vítor Pereira teve a coragem de emendar a mão e devolver Lucho à posição que fez dele o jogador de classe mundial que ele é, sempre foi e sempre será.

Isso significa que Janko será um a menos? Não necessariamente. O jogador mais talhado em todo o plantel do Porto para fazer a posição que se pedia a Lucho, chama-se James Rodriguez. Vítor Pereira tem hesitado em dar-lhe essa liberdade a não ser em certas fases de determinados jogos.

No entanto, agora com o recuo de Lucho, trata-se de uma questão de alterar ligeiramente algumas acções sem ter que mudar o sistema táctico da equipa.. É certo que o tempo para treinar já não é muito, mas esse pequeno acerto poderá dar aquele último fôlego que o Porto precisa para cortar a meta em 1º lugar. James jogando a titular poderá muito bem fazer aproximações a Janko e jogando como segundo avançado, partindo como falso extremo. Seria um 4-3-3 um pouco semelhante ao de Jesualdo Ferreira, quando Lisandro partia de uma faixa mas no fundo jogava como 2º avançado e fazia várias aproximações ao longo do jogo.

James colocado do lado esquerdo, pode durante o jogo fazer movimentos de aproximação a Janko, e colocar-se numa zona mais central, abrindo o flanco para o aparecimento de A. Pereira que tem a capacidade de fazer todo o flanco. Essa poderá ser a solução. O meio campo ganha muito com Lucho e Moutinho a jogarem em linha, e com o diálogo entre eles, permitindo que o jogo do Porto se torne mais imprevisível. E não tem necessariamente que perder Janko…Pelo contrário, pode ser uma boa oportunidade para vermos o melhor James…O James a jogar entre linhas, o James desiquilibrador, a aparecer pelo meio do terreno e a aproveitar segundas bolas para arrancar para cima dos defesas e fazer uso da sua excelente capacidade técnica e frieza na hora da finalizar.

Mas esta não foi a única grande decisão que Vítor Pereira teve que tomarna partida contra o Olhanense e que foi decisiva. Vítor Pereira não teve medo de deixar um Rolando que está a fazer uma das suas piores épocas ao serviço do F. C. Porto. Rolando que é um dos capitães de equipa e jogando bem ou mal era visto como elemento preponderante na defesa. O facto é que Maicon vinha sendo sacrificado a lateral direito quando se percebia que VP quase sem querer, foi ganhando com essa aposta um central para ser o patrão da defesa do Porto. A falta de profundidade que dava ao flanco emperrava, contudo, o jogo ofensivo da equipa. E não deixava de ser confrangedor, ver Maicon tão dominante na direita a defender, quando no meio se via Rolando a ter algumas falhas graves e alguma falta de intensidade competitiva.

Otamendi mesmo não estando a realizar também uma grande época, não tem tido uma atitude tão passiva quanto a de Rolando. Foi uma decisão corajosa mas justa de Vítor Pereira. Espero que seja para manter. Vítor Pereira assim corrigiu um erro que cometera ao longo da época (a adaptação de um central a lateral), e ainda promoveu uma nova solução para o centro da defesa do Porto. Uma nova dupla para atacar estas 5 finais.

Por isso mesmo, com a aproximar das grandes decisões na Liga, é importante que os jogadores demonstrem em campo que querem mesmo ser campeões, mas também é importante que Vítor Pereira não fuja das grandes decisões, sejam estas mais difíceis de tomar ou não.

Chegou o momento de deixar orgulho de lado e de dar o tudo por tudo. São mesmo 5 finais. Não vale a pena olhar para os rivais, ou pensar que vão perder pontos. Com a eliminação provável na champions aos pés do Chelsea, tenho a convicção que o Benfica ganhará em Alvalade e os restantes 4 jogos até final. Considero assim que para o F. C. Porto para ser campeão terá que ganhar estas 5 finais. Acabaram-se as desculpas e a margem para errar. Chegou a hora das grandes decisões.

4 comentários:

Anónimo disse...

Analise construtiva simplesmente perfeita... Parabéns. Por acaso ainda no outro dia comentei com o meu grupo de amigos Portistas claro! Que o lucho não estava a render tanto devido ao seu posicionamento no terreno de jogo, ao qual a maior parte deles respondeu "ele tá velho pá" e dei precisamente o exemplo do Hugo viana que não é nem nunca foi um jogador rápido mas aquela visão de jogo é capaz de imprimir grande velocidade nas transições para o contra ataque, que na minha opinião é o que falta á nossa equipa,(as transições!! do viana não precisamos) e não nos podemos queixar de forma alguma do meio campo pois com moutinho e lucho lado a lado o bom futebol devia fluir naturalmente... E para terminar posso dizer com certeza que o treinador para pegar nesta equipa e faze-la crescer era sem sombra de duvidas o Professor jesualdo ferreira!! Abraço António Fonseca

Ricardo Costa disse...

Muito obrigado pelo comentário,António Fonseca.
Realmente pareceu-me de uma injustiça enorme os comentários que vinha ouvindo de portistas em relação ao rendimento do Lucho.
Até porque o Lucho mesmo jogando como 2º avançado não deixava de ser melhor que muitos jogadores.Contudo não podia ser,obviamente, o mesmo Lucho que saíu do Porto. Não apenas pela idade,mas principalmente pq esse Lucho jogava numa linha de dois no meio campo e não como 2º avançado.
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Com o recuo do Lucho, o Moutinho tem mais apoio a cortar as linhas de passe,e mais liberdade para poder participar no processo ofensivo. A equipa respira melhor e sente-se mais cómoda com bola quando Lucho joga mais perto de Moutinho.
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O único senão são as características do Janko que requerem realmente uma espécie de segundo avançado.No entanto dentro da estrutura táctica actual, o James pode ir preenchendo essa zona, abrindo espaço na linha para as subidas do Alvaro Pereira.

Pedro Silva disse...

@ Ricardo Costa

Excelente artigo! Gostei muito de o ler.

Contudo a meu ver tu expuseste a enorme dificuldade que o VP tem de perceber e gerir o plantel que tem á sua disposição.

O VP é muito lento a perceber como deve e pode aproveitar o que tem no seu plantel e depois é o que se vê.

Efectivamente não tem mesmo estaleca para ser o Treinador do FC Porto. Demorar tantos jogos a perceber que o Lucho deve jogar numa posição mais recuada no campo? Pelo amor de Deus! Incompetência crassa!

Aquele abraço.

Ricardo Costa disse...

Pois @The Blue one, eu também não sou o maior dos fãs do VP como sabes. E defendo que o Porto deve trocar de treinador independentemente de ganhar a Liga ou não.
Ganhar a Liga é uma obrigação. O trabalho do VP não justifica a sua continuidade.
No caso concreto do Lucho eu entendo o raciocínio que o VP terá feito.
O Janko não é capaz de participar no processo ofensivo nem tem qualidade técnica para tabelar, e por isso necessitava de ter um jogador perto dele para aproveitar as 2ªs bolas. O VP lembrou-se que o Lucho aparecia bem em zonas de finalização e aproveitou tb o fact do Lucho ter desempenhado papel semelhante no Marselha.
Mas por isso mesmo já no Marselha o Lucho não rendia o mesmo.
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O Lucho aparece bem em zonas de finalização mas quando parte do meio campo, como 2º avançado fica demasiado em cima dos defesas,desgasta-se muito e tem menos hipótese de pegar no jogo.
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Mas esperemos que agora o VP tenha a coragem e sagacidade de manter as apostas. Lucho no meio campo,Sapunaru a lateral direito e Maicon a central.
E foi corajoso tb a colocar o Rolando no banco. Não pode haver intocáveis no Porto.
O momento das decisões passa mt tb pelas decisões do VP até final.
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um grande abraço.