quinta-feira, 17 de abril de 2014

Crónica de uma vergonha anunciada

O Benfica está na Final da Taça de Portugal depois de virar a eliminatória contra o FC Porto. Num jogo em que se atingiram os píncaros da emotividade, as Águias foram mais astutas, mesmo jogando uma hora com menos um jogador. Pedro Proença esteve mal por não saber segurar a partida, que teve um FC Porto divorciado da sua identidade e ausente de ideias. Nota ainda para o excelente ambiente na Luz, mas para alguns excessos que não ficaram nada bem aos olhos de Michel Platini, que veio ver o palco da Final da Liga dos Campeões.
 
No que ao futebol diz respeito, o Benfica confirmou a supremacia sobre o grande rival dos últimos anos e deu a certeza de que 2014 é ano Encarnado. Salvio, Enzo e André Gomes foram enormes na actuação, Rodrigo voltou a ser frenético, Fernando foi curto para um Dragão que teima em pedir férias antecipadas (já só sobra a Taça da Liga para tentar ganhar).
 
Salvio abriu o activo, Varela magicou o empate, só que Enzo e Gomes saíram do meio para a frente e fecharam a eliminatória.
 
Artur na baliza, Jardel ao lado de Garay, André Gomes a acompanhar Enzo Pérez, Cardozo como lanterna da frente para Gaitán, Salvio e Rodrigo. O onze Encarnado era este e tentava combater o fogo que o Dragão cuspiu na primeira mão da eliminatória.
 
Com a Luz bem preenchida (45 380 pessoas a assistir) e em polvorosa pelo bom momento da equipa, os decibéis cresceram fortemente de tom com o apito inicial de Pedro Proença, ameaçando aquilo que é 'permitindo por lei'. E, mesmo em clara minoria, os adeptos Portistas nunca se amedrontaram com os cânticos opostos. Poder-se-ão ter amedrontado, isso sim, pela entrada da Águia em campo.
 
Lado a lado com os adeptos, os jogadores do Benfica surgiram muito pressionantes, num quase sufoco de dez minutos iniciais que, além de uma oportunidade desperdiçada por Salvio após cruzamento de Rodrigo, teve ainda a particularidade de seis pontapés de canto consecutivos (no espaço de dois minutos), batidos por Gaitán na direita, para o primeiro poste, onde Mangala e Fernando iam trocando de cabeças para tirar o perigo.
 
Mais do que tácticas e esquemas de encaixe, a grande diferença do primeiro quarto de hora esteve na atitude imposta em campo. De um lado, um Benfica confiante e positivo, com vontade de ter bola e de a carregar para a área contrário. Do lado oposto, um FC Porto a jogar com o 1 x 0 de há três semanas e fiado num relógio com 90 minutos pela frente.
 
Perante o fogo Encarnado, o bombeiro principal era Fabiano, a conter demoradamente a bola nos pntapés de baliza. Auxiliavam, depois, Luís Castro e companhia no banco de suplentes em saltos de trampolim sempre que algo fugia dos conformes dentro do rectângulo de jogo.
 
Foi neste ritmo de supremacia Benfiquista que o golo da vantagem (ou melhor, do empate na eliminatória) surgiu. A jogada aconteceu pela esquerda, o cruzamento tenso foi de Gaitán, o encosto de cabeça, ao segundo poste, aconteceu por Eduardo Salvio. O Argentino começa a ser o homem das noites do meio da semana para Jorge Jesus, desta vez com um Fabiano que não ficou totalmente isento de culpa.
 
Ora, com a eliminatória empatada e com a Águia esvoaçando por cima do Dragão, o ímpeto permaneceu com tendência para o Encarnado, perante um FC Porto demasiado dependente de um rasgo individual de Ricardo Quaresma, principal foco também da ira dos adeptos do Benfica - continua a ser impressionante a falta de bom comportamento em Portugal, seja qual for o estádio.
 
Passando o meio da primeira parte, o jogo deu mostras de querer acalmar para uma passagem à expectativa. Dos dois lados, a sabedoria de que um mínimo erro poderia ser fatal para a eliminatória, tal o poderio ofensivo que as frentes de ataque ostentam.
 
E, se o ensaio para essa calmaria aconteceu a partir dos 25, confirmou-se aos 28'. Siqueira viu dois amarelos num curto espaço de tempo e recebeu ordem de expulsão por parte de Pedro Proença, num ajuizamento que motivou muitos protestos dos da casa, sobretudo pelo primeiro.
 
Assim, o jogo não apenas acalmou, como mudou de rotação. O Benfica (sem Cardozo, que deu lugar a André Almeida) passou a encolher-se no seu meio campo e a dar a posse de bola ao FC Porto, que passou a requisitar Herrera e Defour não apenas para desarmar, mas também para construir. Terá sido uma mudança demasiado drástica para interiorizar com efeitos imediatos, o que resultou numa posse de bola corrente só que inofensiva, no que à criação de oportunidades diz respeito.
 
Vinha o intervalo e a injeção de novas ideias, para uma segunda parte que viria a ser frenética, graças a Varela. Tantas vezes desaparecido das boas investidas, inventou um fabuloso lance individual, rompeu a defensiva Encarnada e bateu Artur à saída da baliza. Era um golo que valia por dois, era uma eliminatória que ficava, mais do que nunca, na mão do Dragão, era uma demonstração de que o fogo continua activo!
 
Todavia, os 35 minutos davam à Águia, mesmo reduzida a dez homens, um balão de crença que foi suportada precisamente pelo número 35: Enzo Pérez converteu com sucesso o pénalti ganho por Salvio a Diego Reyes (má abordagem do Mexicano) e relançou a eliminatória, que poderia ter mudado pouco tempo depois, não fosse Rodrigo ter escorregado depois de roubar a bola ao central (outra vez) e de ter aparecido na cara de Fabiano.
 
Construindo muito, mas com poucos efeitos práticos, o FC Portro ia gerindo a bola longe da sua baliza, mas de forma perigosa, tão perigosa que André Gomes reservou um momento sublime que viria a inverter a eliminatória. Magistral o trabalho do número 30, que puxou a bola vinda da esquerda, picou por cima de um adversário e fuzilou Fabiano.
 
O jogo praticamente não teve muito mais que contar, com excepção para inúmeras cenas lamentáveis, proporcionadas por adeptos dentro do campo, escaramuças entre jogadores, expulsões de treinadores e de Ricardo Quaresma e um árbitro que não teve mão para segurar o jogo - Proença foi o pior em campo, sobretudo pela falta de categoria para manter a partida com foco principal no futebol dentro das quatro linhas.
 
Ainda assim, nada belisca a vitória do Benfica, que mostrou muito mais estofo, contra um FC Porto divorciado da sua identidade e que não conseguiu segurar uma eliminatória que teve na mão.
 
Retirado de zerozero
 
Melhor em Campo: Ricardo Quaresma

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Pedro,

Sou benfiquista mas queria dar-lhe os parabéns pela forma isenta e imparcial como fez a análise ao jogo.

Um abraço,

Miguel

Pedro Silva disse...

Miguel penso que se está a referir ao que escrevi no meu blog pessoal.

Agradeço a sua mensagem e aproveito para o felicitar pela quase conquista do Campeonato. Aproveite para festejar pois "para o ano" o Dragão irá dar a devida resposta.

Um abraço.