André Villas-Boas antes do jogo afirmava que o grito de revolta relativamente ao que aconteceu na época passada continuaria dentro de campo. E isso mesmo foi o que aconteceu. 5-0. Goleada, banho de bola, recital, é só escolher o adjectivo. No entanto, esta vitória merece uma série de outras reflexões importantes e através dela algumas pessoas saíram da toca e acabaram por confessar algumas verdades que antes tudo faziam para branquear.
- A estratégia estrutural para o jogo
O Benfica optou por uma estratégia de condicionar o clássico com meses de antecedência. Era a não comparência ao jogo, era para os adeptos não irem ao estádio mas afinal depois até se contradisse e pediu bilhetes para o mesmo…
Já aqui, o Benfica demonstrava ter medo do Porto. Parecia estar muito cedo a abdicar do campeonato e a partir do principio que, efectivamente, seria uma missão impossível saírem do Dragão com os 3 pontos. Como tal, preocuparam-se logo a tentar encontrar desculpas antecipadamente para o que quer que ocorresse no Dragão.
- De mestre a catedrático, de catedrático a nada
Jorge Jesus. Um treinador que era tão querido por tanta gente afecta ao F. C. Porto, quase tanta como a legião de fiéis que conseguiu estabelecer no Benfica. Ano passado era o mestre da táctica…Um campeonato de goleadas e de grande futebol diziam. Este ano, J.J. passou da arrogância para a gabarolice. Não tem mentalidade para treinar um F. C. Porto. Está bem no clube que está. Porquê? Porque se contenta com pouco. Bastou-lhe ganhar um campeonato, da forma como o ganhou, na última jornada e com os casos dos túneis, para realmente começar a acreditar no que diziam entendidos do futebol como cineastas e afins…que ele era melhor até que o Mourinho.
Não deixa de ser curioso, que o Benfica perde e cai com maior estrondo esta época, em todos os jogos que Jorge Jesus mandava uma das suas bujardas. Antes da supertaça dizia que em Portugal não havia equipa que este ano pudesse estar à altura do Benfica…Levou logo o 1º banho, na continuação do banho que já havia levado ano passado no Dragão quando achava que viria celebrar o campeonato ao Porto. Depois, só o Barcelona jogava melhor que o Benfica…resultado? Perdeu com o Schalcke.
Antes do Lyon? Ganhar em Lyon era o normal e o Benfica defendia como nenhuma equipa no Mundo…Resultado derrota? Antes do jogo com o Porto, o Benfica tinha uma super defesa uma vez que estava há 5 jogos para a liga sem sofrer golos ( não gostava de meter os jogos da champions pelo meio) resultado? 5-0.
Jorge Jesus está a revelar-se este ano. Ano passado o Benfica apetrechou-se muito bem e a SAD do Porto adormecida pelo sucesso não fez o seu trabalho e não se reforçou convenientemente achando que mais uma vez Jesualdo faria crescer uma série de jogadores sem precisar de grande matéria-prima.
Este ano Jesus ainda busca desculpas para derrotas claras. Fala ainda do Di Maria e do Ramires…O Porto perdeu igualmente dois titulares, com a agravante de serem os dois capitães, ambos internacionais portugueses e ambos vistos como pilares da equipa durante anos.
Outra desculpa era o Mundial…Como se o Álvaro Pereira não tivesse estado no Mundial e até nem fosse dos jogadores do Porto com mais minutos nas pernas e sempre em alta rotação.
- Ideia
Chegar ao topo não é o mais difícil, complicado mesmo é manter-se por lá. Jorge Jesus está a provar isso. Quiseram fazer da vitória do Benfica no ano passado uma vitória que seria a 1ª de muitas e o rosto de uma mudança no domínio do futebol português, mas o facto é que foi uma vitória descontextualizada e isolada como foi a de Trappatoni.
- A abordagem táctica
Entendeu-se a ideia de Jorge Jesus com o deslocar de David Luiz para a esquerda. Na supertaça havia experimentado passar Fábio Coentrão para o meio campo e deixar César Peixoto na esquerda. Com isso, esperava que Hulk tivesse menos preponderância pois estaria a ser vigiado pelo Fábio e pelo César. De certa forma conseguiu-o. O Hulk teve menos espaços para brilhar…Problema? É que de tanto tapar de um lado, destapou do outro e o Varela fez o que quis no lado esquerdo do ataque. Hulk não apareceu tanto e teve menos espaços, mas Coentrão que é o maior dínamo ofensivo também não pode atacar nem desequilibrar, o que fez com que o Benfica fosse um vazio de ideias.
Por isso mesmo, mais do que ter medo e querer defender, Jorge Jesus pretendia com a alteração, libertar mais o Fábio Coentrão para missões ofensivas. Com o fixar do seu melhor central numa marcação homem-a homem a Hulk, ele esperava que assim Coentrão pudesse explorar mais o flanco esquerdo e atacar Sapunaru.
Acontece que para quem já se dizia catedrático, Jorge Jesus , cometeu um erro de palmatória…1º porque acabou por fazer um favor a AVB. O próprio na conferência de imprensa antecedente ao jogo, deu a entender que estaria preparado para a possibilidade de David Luiz jogar a defesa esquerdo e que isso alteraria as rotinas defensivas do Benfica.
Jorge Jesus desbaratou a sua própria defesa ainda antes do Porto poder aniquilá-la com o seu tridente fantástico. Se há algo que é básico no futebol é que um dos sectores do campo em que é mais complicado estabelecer rotinas e que deve ser o mais estável possível, é o centro da defesa. Ora, desviando de lá o seu melhor central e colocando em campo outro com poucos minutos de jogo, nada de bom se poderia augurar…Aliás, para quem tivesse dúvidas, era ver o que havia acontecido no último jogo de David Luiz a defesa esquerdo…derrota do Benfica em Liverpool por 4-1.
Uma série de automatismos e de movimentos defensivos que ficaram comprometidos. E do lado em que Jorge Jesus se preocupava tanto por reforçar defensivamente, foi o lado que mais sofreu e por onde nasceram os 3 primeiros golos do Porto. Se pararmos o jogo e rever-mos alguns lances, teremos grandes imagens para dar em manuais sobre táctica, das desvantagens da marcação homem-a homem.
O 3º golo do Porto é um exemplo do porquê dos treinadores modernos cada vez mais priorizam os movimentos colectivos e a marcação à zona do que a marcação homem-a.homem. Hulk sabe que tem David Luiz sempre encostado a ele e o que faz? Simples, sobe, com isso tira David Luiz do espaço defensivo que deveria ocupar, abrindo espaço nas costas para o aparecimento de um médio interior do Porto…basta depois um passe de ruptura vindo da defesa, e está criado um desequilíbrio.
A certa altura do jogo, repara-se num David Luís totalmente perdido em campo e a falar com Sidney dando a entender que não podia estar a dobrá-lo e a estar sempre atrás do Hulk ao mesmo tempo…
AVB no final referiu e bem. O Benfica pensava que isto seria um jogo de duelos e o futebol há muito que deixou de o ser. É um jogo entre duas equipas, com pontos fortes e fracos. Devemos manter a nossa filosofia, o nosso modelo de jogo, mas alterar a estratégia consoante o adversário…não devemos é nunca abdicar de princípios de jogo e de automatismos criados, por causa do adversário…não devemos deixar com que as nossas ideias sejam reféns do adversário que se coloca perante nós.
Jorge Jesus deu demasiada importância a um só jogador do Porto. Pior que isso, acreditou que colocando um polícia atrás dele que isso resolveria os problemas do Benfica…Não se preocupou na forma como iria ganhar ao Porto,preocupou-se em como iria parar o Hulk…Por estar tão obcecado com isso, acabou por não fazer uma coisa nem outra…
No final tentou tirar mérito à vitória do Porto dizendo que o Porto foi “eficaz e que teve um jogador inspirado”. O Porto não teve um jogador inspirado, teve 11. Jorge Jesus estava tão focado em Hulk que nem se apercebeu que Hulk fez um jogo normal, dentro daquilo que tem feito este ano. Nem foi o seu melhor jogo este época pelo Porto…Não viu o enorme jogo que fez Belluschi por exemplo e como ele aproveitou as costas de David Luiz que só tinha olhos para Hulk e deixava uma clareira na defesa sempre que Hulk inteligentemente subia no terreno.
Não viu o enorme jogo de Moutinho que foi o relógio suíço do Porto e que abafou totalmente qualquer esboço de reacção do meio campo do Benfica…
- A incoerência
O mais engraçado é que toda esta reverência ao Hulk vem do mesmo clube que ano passado dizia que Hulk não valia nada,que não fazia falta ao Porto e que era sobrevalorizada a sua importância pelos portistas…No final do jogo o Benfica pelo seu treinador demonstrou bem o que tem sido a sua actuação esta época…A incoerência. Dizem hoje uma coisa, amanhã outra e depois de amanhã já nem sabem o que disseram.
Jorge Jesus deu a entender que Hulk é que fez a diferença. No entanto esquecem-se que eles próprios salientavam, ano passado, que o Hulk na Luz jogou e que o Porto perdeu na mesma e Hulk pouco ou nada fez…Porquê? Porque se calhar aí o Benfica teve uma abordagem diferente ao jogo. Hulk é Incrível mas não é impossível de parar. Até o Messi e o CR7 podem ser parados. O segredo para parar Hulk é parar a equipa do F. C. Porto…Parte-se sempre do todo e não das individualidades. Quem acredita que é só cair em cima de um jogador e que o resto da equipa se desmorona por isso, está sempre próximo de perder.
Uma coisa é falar-mos de um Paços de Ferreira ou Naval que pode só ter um jogador muito bom e aí tem-se especial atenção a ele e acaba-se o foco de perigo…Agora contra uma equipa da qualidade do F. C. Porto…? Esperar que marcando um, os outros deixem de jogar…? Isto vindo de alguém que se dizia ser catedrático…
O Hulk parava-se com trabalho colectivo. Marcando bem à zona, delimitando bem os espaços que podia pisar, travando o meio campo do Porto e impedindo que Hulk pudesse entrar no jogo por ter falta de bola. Não pode ser um a marca-lo, tem que ser a equipa que colectivamente tem que se movimentar de forma a encurtar os espaços em que Hulk possa receber a bola e fazer perigo.
No final do jogo, depois de tanto falar de Hulk, ficou uma pergunta para se fazer a Jorge Jesus…Se Hulk gerou tanta preocupação e se o fez alterar uma série de rotinas da sua equipa, não acha que o facto dele ter ficado 3 meses indevidamente sem jogar, foi um factor determinante para o seu Benfica ser campeão ano passado?
Depois ficou o de sempre, a fanfarronice do treinador do Benfica. Ano passado quando goleou o Nacional ele demonstrou os 4 dedos ao treinador adversário e no final de cada jogo dizia sempre que o Benfica havia esmagado o adversário…Desta vez, quando foi ele o goleado, não se viu ele a falar de goleada ou de humilhação…Preferiu atribuir tudo a uma questão de eficácia e da inspiração individual de um jogador…Falava-se de uma superioridade tão grande do Benfica…Mas esse tal melhor Benfica dos últimos 30 anos o que conseguiu? Foi campeão na última jornada e precisou de jogar contra 10 em muitos jogos, e precisou que Braga e Porto se vissem privados de alguns dos seus melhores jogadores, de forma indevida. Nos jogos contra o Porto ganhou um na Luz, com um golo em fora de jogo e aí falou-se de uma lição de táctica…Depois graças a dois frangos de Nuno ganhou 3-0 a taça da liga. No entanto, perdeu 3-1 no Dragão com o Porto a jogar com 10 num jogo que foi um autêntico recital de futebol num Porto que não tinha o plantel ainda que tem este ano.
- Saldo de golos
Este ano, com a tal equipa que diziam que lutaria pela champions e que não tinha rivais à altura em Portugal e que tinha uma defesa como mais nenhuma no Mundo…já sofreu 7 golos em jogos com o Porto.
- A verdade desportiva
Agora comecem lá com a tentativa de branquear a goleada…Falarão de autocarros, de bolas de golf etc…( a propósito disso, não gostei do elogio de Pinto da Costa às claques, mais uma vez estiveram mal. Esquecem-se sempre que este tipo de atitudes só servem para depois os benfiquistas e a comunicação social arranjarem algo para distrair o banho de bola. Se não tivesse havido incidentes não teriam nada a apontar). O que não podem fugir é à enorme superirodade que ficou bastante clara no campo. Aquela tentativa desesperada dos órgãos socais do Benfica e dos seus colaboradores nos programas de TV sobre futebol, de dar a entender que o Benfica estava tão atrás apenas por causa dos árbitros, caiu assim por terra…No campo, verificou-se que a diferença entre ambos é mesmo assim…enorme. 10 pontos se calhar até é bastante lisonjeiro para o Benfica.
Provou-se também que afinal o Hulk é mesmo importante. Mais até para eles do que para nós…Ano passado a estratégia defensiva resultou muito melhor. Nem David Luiz nem Coentrão, a melhor forma de o parar pelos vistos é mesmo com Stewards, porque dentro do campo ele deixa todos para trás. Tal como ano passado no Dragão, o F, C. Porto deu o grito de revolta demonstrando que mesmo ano passado o Porto poderia ter sido campeão…com Hulk em campo o Porto passeou a sua classe sobre um Benfica que até estava mais forte que este ano. Ficou provado nesse jogo que a tão proclamada “verdade desportiva” ficou em causa com a tal suspensão do Hulk. Esse senhor que tanto falava em verdade desportiva, levou uma chapada de verdade desportiva onde deve ser dada…não em túneis, mas sim no campo. A verdade desportiva é o que todos vemos no jogo. E nesse sentido, o Porto nos dois jogos que fez no Dragão demonstrou de forma inequívoca a sua força.
3 comentários:
Muito bom o seu artigo, aliás como sempre, não fica quase nada por dizer.
Abraço
Estou de acordo com o Lima. Este texto do Ricardo é uma excelente Crónica onde pôe a nú as muitas das Verdades que a tal Comunicação Social tentou camuflar na Temporada passada.
Engraçado que agora é esta mesma CS que anda a tentar crucificar o Jesus que na temporada anterior resolveu "endeusar".
Esta Crónica só peca por ser muito grande.Mas este é um "defeito" com o qual todos nós podemos bem ;-)
Cumprimentos a todos.
Quer queiram ou nao, mas para mim o nosso primeiro golo contra os benfas, foi marcado a meio da semana quando mandaram a UEFA examinar a tatica do JJ (i su seringas). Nao sei quem marcou o golo, mas que foi de belo efeito là isso nao tenho duvidas.
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