27 de maio de 2012. Faz vinte e cinco anos que o Futebol Clube do Porto conseguiu a sua primeira grande conquista internacional. Foi em Viena, como todos nós sabemos, que Madjer, Juary, Futre, Sousa e companhia valsaram frente ao poderoso Bayern de Munique, tendo entrado no Prater com o estatuto de pequena equipa que iria ser figura de corpo presente na festa do bávaros e saiu, ao fim de 90 minutos, com o estatuto de mais poderosa equipa da Europa, aquela que melhor futebol apresentava. Foi nesse jogo, de facto, que o FC Porto começou a sua ascensão a nível nacional, europeu e mundial, numa história que em 25 anos se tornou “de glória sem igual”, como se canta no hino do nosso clube.
Em vinte e cinco anos, no entanto, muita coisa mudou. Pode parecer um número pouco, mas é um número que esconde muitas mudanças. A vários níveis, desde o futebolístico até ao nível político, à sociedade, à história onde muitas e significativas mudanças ocorreram. De facto, o mundo onde o capitão João Pinto levantou o santo graal do futebol europeu já não é o mesmo passados vinte e cinco anos.
Portugal era então uma democracia que conhecia a sua adolescência. Viviam-se tempos em que o fenómeno dos hipermercados dava os primeiros passos e onde as famílias preferiam fazer compras, muitas vezes fiadas, nas mercearias dos bairros ou ruas. O Professor Cavaco Silva poucas auto-estradas mandara construir, estando Lisboa e Porto ainda sem essa rápida ligação. Os comboios que ligavam as duas principais cidades demoravam mais de três horas a percorrer os pouco mais de 300 quilómetros a que estas distam uma da outra. A rede ferroviária portuguesa era muito mais rica, podendo-se viajar até cidades como Bragança, Chaves ou Viseu. Mário Soares era o senhor que habitava o Palácio cor-de-rosa, tendo sido eleito na única eleição presidencial que necessitou de segunda volta para encontrar o vencedor. A televisão portuguesa resumia-se a dois canais públicos, e a TV Cabo era coisa que existia “só lá fora”. Havia mais jornais para ler no entanto. Títulos como o “Comércio do Porto”, “Diário de Lisboa” ou a “Gazeta dos Desportos” eram opção de leitura.
No mundo as diferenças são talvez maiores. A começar pela existência de dois blocos políticos antagónicos: os Estados Unidos e a União Soviética. O muro de Berlim ainda não tinha caído existindo, por isso, duas Alemanhas. A sua queda, julgava-se então, ainda estava longe ou nunca aconteceria. A União Europeia ainda se chamava Comunidade Económica Europeia e só tinha doze países, sendo os mais recentes os da Península Ibérica. Vivia-se, assim, um tempo de uma certa inocência depois do degelo das tensões políticas vividas nas épocas anteriores. Foram tempos saudosos para aqueles que os viveram, falando-se ainda hoje nos “eighties” com saudade.
No futebol, no entanto, a década de 80 conheceu momentos dramáticos. É mesmo a maio da década que o futebol europeu muda radicalmente devido a um triste acontecimento: a tragédia de Heysel em 1985. Até esse jogo, em que dezenas de adeptos morreram vítimas de hooliganismo na capital belga na final da Taça dos Campeões, os clubes ingleses dominavam a Europa: de 1977 até Heysel o Campeão Europeu foi sempre inglês com a excepção do Hamburger SV em 1983. Liverpool quatro vezes (1977, 78, 81 e 84), Nottingham Forest duas vezes (1979 e 1980) e Aston Villa uma vez (1982). Com a tragédia de Heysel em que os adeptos do Liverpool carregaram contra os tiffosi da Juventus antes de começar o jogo, as equipas inglesas foram expulsas pela UEFA das competições europeias durante cinco anos. Isto abriu o caminho a que países menos fortes a nível europeu aspirassem a vitórias na principal competição realizada pela UEFA. O feito deu-se logo em 1986, quando o Steaua de Bucareste ergueu a Taça dos Campeões Europeus em Sevilha. Nessa altura as competições europeias eram três – Taça dos Campeões, Taça das Taças e Taça UEFA - e todas jogadas em eliminatórias. Isso levava a grandes surpresas em fases iniciais das temporadas europeias. Foi esta uma das razões que levou a Liga dos Campeões com fases de grupos a ser criada.
A nível interno, FC Porto e Benfica dominavam a meias o futebol nacional, tendo-se o Sporting apagado progressivamente ao longo da década depois da dobradinha de 1982. Os dois rivais chegariam na década de 80 a mais do que uma final europeia, ganharam taças de Portugal e campeonatos quase por igual. No entanto, a diferença entre as duas equipas residia no facto do SL Benfica ser uma equipa de prestígio consolidado a nível nacional e internacional. Foi com a década de 80, e mais concretamente com a noite mágica de 27 de maio de 1987, que as coisas mudaram e que o futuro do hoje maior Clube português, com mais títulos conquistados e mais respeitado por esse mundo fora, começou. De facto, foi nesse dia que uma até aí equipa média se transforma em grande. É o fim da pequenez e dos fantasmas do medo de atravessar a ponte que, combatidos pela dupla Pinto da Costa – Pedroto, acabam de vez.
O futuro arranca aí, no famoso calcanhar de Madjer e no golo de Juary, passando o Porto a dominar internamente o futebol nacional e voltando, neste quarto de século, a mais conquistas europeias e mundiais. Hoje, quando recordamos o jogo das vidas de Madjer, Futre, Frasco, Juary e companhia e olhamos para a História recente mais nos apercebemos que Viena foi o glorioso começo de um futuro que agora nos pertence, e que continuará a acontecer. A cada título, em cada vitória.
1 comentário:
Bom dia amigo,
Há 25 anos atrás, em 27 de Maio de 1987, o nosso FC Porto conquistou o seu primeiro título europeu de futebol.
Foi um ano mágico e triunfal que culminou com a conquista da Taça Intercontinental.
Entre 1987 e 1988, conquistamos a Europa e Portugal.
Vencemos a Taça dos Campeões Europeus, Supertaça Europeia, Taça Intercontinental, Campeonato Nacional e Taça de Portugal.
O Estádio do Prater de Viena Áustria, perdura na minha memória. Tinha eu 9 anos, e vivi a maior alegria, da minha vida, enquanto adepto do FC Porto. Nesse dia larguei a fisga, a bola de futebol e a BMX, e sozinho sentado frente a uma televisão ITT a cores :- ), assisti àquela vitória épica!
Depois de vencer-mos o caneco, só me lembro de sair para a rua festejar, e ir "esperar" o meu pai ao comboio, para com ele compartilhar a emoção que vivia. Nasci em 23 de Dezembro de 1978, e já "vivi" 55 títulos!
20 campeonatos nacionais, 12 Taças de Portugal, 18 Supertaças Cândido de Oliveira, 2 Taças dos Campeões Europeus, 2 Taças UEFA, 2 Taças Intercontinentais e 1 Supertaça Europeia.
Já festejei mais títulos que o "paineleiro" mouro Rui Gomes da Silva que é 20 anos mais velho!!!!!
E como disse Luís Vaz de Camões no canto VII d'Os Lusíadas:
"E se mais Mundo houvera lá chegara ... ".
Abraço e bom domingo
Paulo
pronunciadodragao.blogspot.pt
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