quinta-feira, 24 de maio de 2012

André Castro, o jogador "à Porto".

Começa-se a desenhar aquilo que será o F. C. Porto versão 2012/2013. Depois de assegurada a continuidade do treinador Vítor Pereira, chegou a altura de saber quem fica e quem sai. Enquanto estamos pendentes das saídas vão chegando ecos dos jogadores que poderão entrar nas contas para a próxima época. Numa época em que a contenção de custos deveria ser imperiosa devido à situação económica actual, parece-me que os investimentos para a próxima época deverão ser cirúrgicos, a velha táctica do contentor de trazer uns 10 jogadores para ver se se acerta em 2 ou 3 não pode ser repetida. Assim será importante detectar algumas soluções internas. Nomeadamente dos jogadores que o F. C. Porto colocou a rodar por empréstimo.

Aqui radica o motivo deste meu texto. Pelo que tenho lido e pelos sinais que têm sido dados pela estrutura F. C. Porto salta-me à vista o facto de ainda não ter sido dada qualquer indicação a André Castro para se apresentar no estágio. Isto tudo se torna mais grave quando se sabe que Castro tem contrato apenas por mais um ano e que já fez saber que após 3 anos de empréstimos que esta época ou se fixa no seu clube do coração ou que prefere ser transferido ( e mercado não lhe falta, principalmente em Espanha).

Uma vez mais causa-me muita confusão a forma como o F. C. Porto trata os jogadores da sua cantera. O gondomarense André Castro é aquilo que tanto se reclama para o clube. Um jogador “à Porto”. Com outra vantagem, é um jogador “à Porto” e do F. C. Porto. Portista desde que nasceu e que completou praticamente todos os escalões de formação no clube.

Numa época em que o futebol é cada vez mais negócio e menos paixão, André Castro é o exemplo de jogador que ama o seu clube e que anseia jogar no seu clube de sempre. Podia render-se e querer ir ganhar mais dinheiro para outras ligas, mas não. Ele próprio abdica desse plano imediato para poder cumprir o sonho de ser importante com a camisola azul e branca que sempre foi para ele como uma segunda pele. Na senda de outros portistas como F. Couto, Domingos, Baía, J. Costa etc... Infelizmente, casos cada vez mais raros no nosso clube.  Numa época em que assistimos a tantos jogadores do clube a fazerem públicos os seus desejos de saírem. Jogadores que pareciam ansiosos por se virem livres do clube, não me deixa de causar estranheza que o F. C. Porto deixe escapar um jogador portista de coração e que quer de facto mais que muitos dos que compõe o plantel envergar a camisola com o escudo do bicampeão nacional. O que para uns é apenas profissão, para Castro é mais que isso. É um sonho tornado realidade.

Claro que só o facto de ser um grande portista não chega. Mas a qualidade é também mais que muita. André Castro sempre que fez pré-época com a equipa demonstrou argumentos para ficar no plantel e sempre que chamado cumpriu. O que o fez ser constantemente emprestado era a proliferação de opções a meio campo e o sentimento de que seria benéfico para André Castro o ganhar mais maturidade para voltar para lutar por uma vaga.

Ora esses empréstimos não poderiam ter corrido melhor. Logo no 1º, André Casto sob o comando de Jorge Costa no Olhanense foi claramente o melhor jogador do Olhanense nessa época. Quando se pensava que na época seguinte ele teria opções no plantel principal, tal não se verificou. Como sempre, em caso de dúvida os jovens da cantera cederam lugar a estrangeiros pagos a peso de ouro mas que não raras vezes não ofereciam muito mais do que os da cantera podiam oferecer. Assim deu-se a ida para Espanha. Desafio complicado, uma das melhores ligas do Mundo, uma experiência no estrangeiro… Pois, André Castro, uma vez mais, demonstrou a sua fibra de campeão e triunfou por lá também. Duas épocas consecutivas cotando-se como um dos melhores do Gijón e ganhando estatuto na Liga Espanhola, ao ponto de hoje ser cobiçado por equipas que jogarão as competições europeias.

Ora, passados estes anos, pensei que este fosse finalmente o ano de André Castro. Mais a mais quando até ficou perto da selecção nacional. Outro factor que reforçaria esta tese, seria a sangria do meio campo do Porto que se procedeu a meio da época com as saídas de Souza, Belluschi e Guarin. O Porto precisa de preencher pelo menos duas vagas no meio campo. Pensei que uma poderia ser com um reforço para a vaga de Lucho, um P.H. Ganso. Mas que a outra seria para Castro. Um jogador raçudo, que deixa tudo em campo, que joga sempre em alta rotação, com uma boa meia distância e com uma versatilidade que lhe permite fazer as 3 posições do meio campo do Porto, um pouco à semelhança de Defour mas com outro grau de intensidade e com rotinas de trinco que Defour não possui.

Numa altura em que se foi buscar Paulinho Santos para adjunto e em que se promoveu o regresso de Lucho, pensei que o renovar da mística fosse prioritário. E que melhor do que passar o testemunho a um jogador que incarna todos os valores do F. C. Porto quer no campo quer fora dele?

Uma vez mais, a estrutura do F. C. Porto demonstra um dos seus calcanhares de Aquiles… A incapacidade de aproveitar o investimento que é feito nos escalões de formação. E não é por falta de qualidade. É certo que não espero que o Porto seja como o Sporting. Nem pode. O aproveitamento da formação do Sporting dá-se pela falta de qualidade no plantel principal e pela impossibilidade de investimento. O que não significa que o F. C. Porto deva descurar o aproveitamento da sua formação, principalmente para que os valores do clube se mantenham e a mística não esmoreça.  E entre optar por um estrangeiro que em campo tem valor semelhante ou que vem para encher o plantel, acho que seria preferível apostar num André Castro e noutros tempos num Vieirinha, Helder Barbosa e Paulo Machado.

É chocante como uma geração de campeões da Europa de sub-17 passou totalmente ao lado de uma carreira no Porto e retardaram a sua chegada ao topo por terem passado pelo F. C. Porto. É triste, mas hoje em dia quando vejo a aparecer um jovem talento português, quase que desejo que ele vá para o Sporting porque sei que aí terá oportunidades para evoluir e chegar ao topo mais rápido enquanto sei que no Porto provavelmente acabará esquecido após sucessivos empréstimos. O exemplo paradigmático é essa geração campeã da Europa. O Porto tinha a espinha dorsal dessa geração: Bruno Gama, Paulo Machado,Márcio Sousa, Helder Barbosa e Vieirinha. Nenhum foi aproveitado ou teve sequer grandes oportunidades.

Nessa mesma geração havia um tal de João Moutinho que era suplente de P. Machado e que não tinha metade do destaque de P. Machado mas que tinha a fortuna de ser jogador do Sporting… Devido a isso e ao seu talento e esforço ele curiosamente acabaria… no Porto. Por ser um jogador” à Porto”. Não deixa de ser curioso que para o ser teve que fazer a formação fora do Porto… O mesmo se aplica a Miguel Veloso que hoje joga na selecção principal a trinco e que naquela geração era central e dos elementos mais fracos do onze.

Fez-me muita confusão que P. Machado, outro jogador à Porto tivesse que ser incluído como moeda de troca no negócio Guarín. P, Machado que nunca teve uma oportunidade a sério no Porto e que teve que em França subir a pulso e recuperar algum tempo perdido na sua carreira em empréstimos a clubes medíocres.

Tenho imensa pena se o mesmo se verificar com Castro. Principalmente porque o Porto também não deixa que estes jogadores possam rumar aos seus rivais. Ou seja, por um lado aparentam não acreditar no seu talento, mas por outro também não os deixam reforçar os rivais e obrigam-nos a ter que seguir um caminho mais longo e complicado. Do que se tem falado, os jogadores que terão oportunidade de fazerem a pré-época com a equipa serão: André Pinto, Atsu, Kelvin,Beto e possivelmente Sereno.

Faz-me alguma confusão que Kelvin que nem sempre foi titular do Rio Ave tenha uma oportunidade e André Castro depois de 3 anos a jogar não a tenha… Mas depois analisando mais calmamente, poderemos observar que enquanto que Kelvin é um reforço que exigiu que o Porto despendesse alguma verba por ele, e que gerou também comissões, André Castro não. O seu único clube sempre foi o Porto. Os demais só o foram porque o enviaram por empréstimo. Se ficar ninguém ganhará nada com isso a não ser o próprio e o clube com o que possa render em campo. Talvez por a equação ser tão mais simples é por isso que será mais fácil vendê-lo e desfazer-se de mais um dos bons produtos da cantera, tal como se fez com P. Machado. 

Não deixa de ser engraçado que depois se fale tanto da possibilidade do Porto roubar Adrien Silva ao Sporting, por se tratar de um…jogador “à Porto”. Os jogadores ”à Porto” agora formam-se na Academia de Alcochete. Não deixa de ter a sua piada. Principalmente quando falamos de um jogador para o meio campo, tal como André Castro. O Porto mais depressa encontra jogadores “à Porto” no quintal do vizinho do que na sua própria casa. Às vezes procuramos tanto e não reparamos que o que precisamos está mesmo à nossa frente… Espero que o Porto corrija este tipo de política a tempo e que André Castro seja o rosto dessa mudança. Caso contrário, fica a pergunta… Que é feito do projecto visão 611?  

 

5 comentários:

Pedro Silva disse...

@ Ricardo Costa

Este tema já foi o meu cavalo de batalha de há muitos anos.

O FC Porto tem uma excelente academia que por norma forma Campeões nos vários escalões. Quantos chegam á Equipa Principal? Zero.

Eu já desisti de bater nesta tecla porque os Adeptos do FC Porto apenas querem ganhar seja com quem for e de que maneira for.

Eles querem lá saber se no Porto existe um sucessor do Moutinho. Se o FC Porto for ao Brasil buscar o flop Ganso acredita que até vão ao aeroporto busca-lo ao colo e pouco lhes interessa que esteja ali um barrete que é caro e que não honra a camisola que veste mas sim os milhões que ganha.

Depois ficam muito indignados com as atitudes que Jogadores como o Cebola e o Palito tomam.

Pode ser que um dia a malta acorde para a realidade. Só espero é que na altura não seja tarde demais.

Aquele abraço.

Ricardo Costa disse...

@The Blue One

Eu também não quero que o Porto seja uma espécie de Sporting.O Porto tem que ter uma equipa competitiva e não apenas de jovens da formação. Esperava apenas que cumprissem com o Visão 611 e que por época colocassem pelo menos 2 jogadores da formação no plantel principal. Mas não é fazer como fizeram há duas épocas com o Ukra e o Castro em que eles eram praticamente só opção para a taça da liga...
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É dar-lhes oportunidades a sério.O mesmo nível de oportunidades que dão aos reforços.
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O P. H. Ganso é um grande talento.Dos maiores do futebol brasileiro e seria certamente um excelente reforço. Tal reforço não invalidaria a permanência de Castro no plantel.O Ganso viria para disputar a vaga com Lucho.
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Já fui mais apologista da investimento em Ganso. Agora que ele caminha para a sua 3ª cirurgia ao joelho direito,já não estou tão seguro do investimento de um jogador tão jovem e com já 3 operações ao mesmo joelho.

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Mas ainda mais confusão me mete ver e ouvir alguns entendidos a dizer que o Porto poderá roubar o Adrien ao Sporting e que o Adrien é um jogador "à Porto". Parece mais fácil ao Porto nos dias que correm recrutar jogadores "à Porto" do que aproveitar os jogadores "à Porto" e made in Porto.
O caso de Castro é paradigmático.

Um abraço.

Pedro Silva disse...

@ Ricardo Costa

Talvez seja eu que tenho algum problema na escrita, mas sempre que defendo uma maior aposta do FC Porto na formação atiram-me logo á cara com o Sporting.

Mas eu por acaso alguma vez defendi que o nosso Clube deveria seguir o modelo Sportinguista?

Não! Simplesmente a mim faz-me uma certa confusão ver o Hélder Barbosa a jogar bem e a marcar golos no Braga e não ter lugar no FC Porto: E este é só um pequeno grande exemplo, pois se formos para fora de Portugal os exemplos triplicam.

O caso do Adrian é um bom exemplo da política despesista e do contratar só para chatear que os Dirigentes do FC Porto têm seguido. Isto vai acabar mal, mas eu estou preparado para me manter sempre fiel ao FC Porto. Os tais que defendem que o que interessa é ganhar seja como for r com quem for e não ganhar garantindo o futuro é que não.

O Ganso é outro Pato. Uma nulidade que foi vendida ao primeiro nabo que se deixou levar pelo marketing de um Clube que quis fazer fortuna com um Jogador que é manco todos os dias.

Até fez dó ver o Ganso a jogar na Selecção Brasileira com o rótulo de super estrela. Ele que se mantenha bem longe do FC Porto. Tão longe como o Diabo da Cruz.

Aquele abraço!

Ricardo Costa disse...

@the blue one,

Acho que estás a ser muito injusto com o Ganso.Não podes avaliar um jogador por apenas 3 ou 4 jogos que viste na Copa América que correu mal ao Brasil e em que o Ganso até vinha de lesão.
Tens é que ver os jogos do Ganso pelo Santos.
Se fosse avaliar pela Copa América nem o Neymar era um grande jogador.O Messi na Copa América não jogou nada também. Não posso avaliar um jogador por uma só competição.
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O Ganso é dos maiores talentos da nova fornada do futebol brasileiro. A sua qualidade está fora de questão. A única dúvida está no facto de ter tido já 3 operações ao joelho direito.
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O Pato é um caso diferente,ele saíu muito cedo do Inter de Porto Alegre.Mal jogou como sénior lá.Tem tido muitas lesões mas já fez excelentes jogos pelo Milan.

Pedro Silva disse...

@ Ricardo Costa

Eu não estou a ser injusto com o manco do Ganso. Simplesmente não engulo marketing e gosto de avaliar um Jogador por aquilo que ele faz numa Competição a sério e não no brinca na areia do Brasileirão/Libertadores.

Já sei que a tua opinião é contrária. Guarda-la para ti porque não vale a pena. Sei lá porque gostas de fazer de conta que a realidade é virtual, pois para ti Jogador que é um espetáculo no Brasil é espetáculo na Europa quando a realidade nos mostra que são raríssimas as vezes em que isto acontece. Por norma a mega vedeta do Brasil quando chega á Europa espalha-se ao comprido.

Grandes craques do Brasil são aqueles que deixam a brincadeira que é o futebol sul-americano e aguentam o poderio do Futebol Europeu. Foi assim com Ronaldinho, Ronaldo, Rivaldo, Romário, Hulk, etc.

Não deves ter visto os mesmos jogos da Argentina que eu. O mal daquela Selecção das Pampas era o seu Selecionador que tinha ideias loucas. Ele até podia ter 10 Messis que acabava por estragar tudo.

Aquele abraço e deixa lá o Ganso no Clube de Ladrões e aldrabões onde está. Lixo já tem o FC Porto que chegue.