segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Uma derrota que se fez por merecer

Há equipas de futebol memoráveis. Há jogos marcantes. Até aí, nada de novo. Mas quando são dois rivais que estão em campo, a coisa muda de figura. O que aconteceu na Luz não é irrepetível, é "apenas" inesquecível. Durante hora e meia o futebol Português vibrou com duas das suas emblemáticas equipas. A Águia voou mais alto, e os Benfiquistas com ela. Eusébio, que tantas alegrias deu à Nação Benfiquista, teve uma homenagem total na Luz (2 x 0).
 
Ainda a (pouca) luz solar iluminava os céus de Lisboa e já se sentia no ar o cheiro a Clássico. Por todas as razões e mais algumas um duelo entre Benfica e FC Porto mistura toques de prazer, loucura e dedicação até.
 
Um Clássico encerra sempre espectacularidade e, às vezes, um toque assustador. Espectacular, porque há todo um conjunto de rituais que atingem o esplendor máximo quando pela frente está o rival; mas também assustador pois o resultado final pode ser negativo e com toques de "tortura" à moda do século XVIII. No mundo da bola, tal como na vida, perder para um adversário histórico é sempre "cruel".
 
Na Luz, havia emoção, crença, lealdade. Tudo ao rubro mas, desta vez, acrescido com um sentimento de perda por parte da família Benfiquista, naquele que foi o primeiro jogo oficial depois do adeus a Eusébio.
 
Ainda que para um clássico nenhuma das equipas precise de motivação especial (os jogadores querem sempre vencer as partidas, seja em que quadro for e contra qualquer adversário), neste caso, a questão, naturalmente, não foi esta. Tratava-se, sim, de "afastar" os jogadores Encarnados, sobretudo eles, de uma carga exterior, exclusivamente emocional.
 
Desde bem cedo, todos os sentidos foram colocados lá longe, no imaginário de adeptos e artistas da bola, perdidos entre memórias deixadas ficar pela Pantera Negra. Antes do apito inicial, o estádio rendeu-se na homenagem a Eusébio com um minuto de silêncio. Também foi feita uma coreografia com cartazes e uma tarja onde se lia «Eusébio sempre» e, na num dos topos podia ler-se «A tua glória engrandece a nossa história. Obrigado, Eusébio». Durante o minuto de silêncio em memória doPantera Negra o estádio procurou respeitar a homenagem mas ouviram-se algusn gritos e assobios. Depois, as bancadas berraram pelo seu ídolo: «Tu és o nosso Rei, Eusébio».
 
Um duelo entre rivais mais não é que poço vivo de recordações e história, onde a ambição do presente vive de mãos dadas com o desejo de vitória. Sempre! O Benfica entrou, por isso, no relvado da Luz com a pressão de querer vencer para prestar homenagem ao Pantera Negra mas também de manter-se na corrida pelo título. Já os Portistas chegaram à Capital com a intenção de impedir essa comemoração, sabendo também da importância dos três pontos da vitória para as suas aspirações na procura do Tetracampeonato.
 
Neste duelo as Águias queriam também "vingar" a frustrante derrota em Maio último, no Dragão, no jogo que, decisivamente, valeu o Título para os Portistas. Os dados estavam, pois, lançados para o duelo.
 
Na distribuição das equipas, Jorge Jesus, a contas com várias ausências por lesão na equipa Encarnada, apostou em Nico Gaitán e Rodrigo na frente. Sem abdicar de Enzo Pérez e Matic, Jesus procurou dar consistência aos corredores da defesa com Maxi Pereira e Siqueira. Na baliza, durante a semana, muitos defenderam a continuidade de Jan Oblak, por motivos plausíveis, mas outros defenderam que deveria ser Artur, por razões também compreensíveis. O técnico do Benfica apostou em Oblak.
 
Do outro lado, sem surpresa, Paulo Fonseca maquilhou o "seu Porto" com o onze de gala. Alex Sandro, que até começou a semana a treinar de forma condicionada, recuperou o seu espaço no lado esquerdo do eixo defensivo. Otamendi avançou para a equipa principal, enquanto que Licá e Varela foram aposta nos corredores dos Azuis e Brancos. Jackson Martínez, como habitual, foi a referência de área nos Tricampeões Nacionais. Ricardo Quaresma e Kelvin ficaram no banco de suplentes.
 
O jogo teve um começo intenso com as duas equipas apostadas em marcar cedo uma posição em campo. O Benfica estava, no entanto, por cima. A equipa de Jorge Jesus dominava o meio-campo e ia criando algumas situações de perigo junto das redes de Helton. Seria, porém, o FC Porto a estar perto de abrir o activo, aos nove minutos; a bola rondou a linha de golo, depois de um cruzamento, mas nenhum dos jogadores dos Azuis e Brancos acreditou para o desvio.
 
Com Paulo Fonseca e Jorge Jesus sempre de pé a dar indicações para dentro das quatro linhas, o Benfica iria inaugurar o marcador. Aos 13 minutos, Rodrigo colocou as Águias na frente com um forte pontapé, depois de uma assistência de Lazar Markovic; o Sérvio pegou na bola, levou tudo e todos na sua frente e assistiu para o golo o avançado Encarnado.
 
O golo do Benfica incendiou as bancadas da Luz que animaram-se ainda mais com a capacidade ofensiva e defensiva da sua equipa. De resto, o conjunto orientado por Jorge Jesus foi sempre superior ao adversário, no primeiro tempo, ganhado muito a bola a meio-campo e aproveitando algumas facilidades concedidas pelo "miolo" Azul e Branco.
 
Nos minutos finais da primeira parte o FC Porto carregou em busca do empate mas sem efeitos no marcador. Jan Oblak mostrou-se sempre seguro e atento às investidas dos Portistas, tal como o eixo defensivo dos Encarnados.
 
No segundo tempo, o FC Porto procurou o empate e teve, de resto, a primeira oportunidade numa bola parada. Rodrigo fez falta sobre Jackson Martínez na meia-lua. No livre, Carlos Eduardo atirou para defesa segura de Oblak.
 
Mas a partida ia aquecer, e de que maneira, de seguida com o Benfica a reclamar uma grande penalidade. Aos 52 minutos, Mangala toca a bola com o braço dentro da grande área. Artur Soares Dias nada assinalou. Os adeptos e jogadores do Benfica pediam castigo máximo.
 
A Luz era, por esta altura, um palco em "ponto de rebuçado" e "fervia". E mais quente ficou quando, aos 53 minutos, Ezequiel Garay fez o segundo golo para o Benfica. O internacional Argentino, na sequência de um canto, atirou para o fundo das redes de Helton. Festa dos adeptos do Benfica.
 
Perante um FC Porto perdido no Inferno da Luz, Rodrigo podia ter carimbado a vitória encarnada, aos 61 minutos. O avançado das Águias apareceu isolado perante Helton mas atirou a bola por cima da trave da baliza Portista.
 
O jogo viveu, nos minutos seguintes, uma quebra no ritmo com Artur Soares Dias, o árbitro, a ser chamado a analisar alguns lances complicados. Um deles ocorreu na grande área do Benfica, aos 74 minutos, quando Danilo sofreu um contacto e caiu. Os Dragões pediram grande penalidade, o árbitro entendeu que o Brasileiro tentou cavar a falta, dando-lhe o segundo amarelo e a correpondente expulsão.
 
Desorientado táctica e mentalmente em campo, o FC Porto viu-se obrigado a jogar os últimos minutos reduzidos a 10 unidades.  Até final, ouviram-se olés vindos da bancada por parte dos adeptos do Benfica.
 
A equipa de Jorge Jesus comanda a Liga portuguesa com mais três pontos que o FC Porto e mais dois que o Sporting.
 
Retirado de zerozero
 
Melhor em Campo: Fernando

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