As euforias de Manchester não entram em campo frente ao Estrela da Amadora. O F.C. Porto encara todos os jogos com a mesma responsabilidade e Jesualdo Ferreira isola ainda a qualidade do oponente para reforçar esta necessidade semanal. O encontro de amanhã, no Estádio do Dragão, pode ainda servir para voltar a juntar a família azul e branca. Os Tricampeões tudo farão para somar mais três pontos.
Será necessário refrear uma certa euforia que parece reinar na equipa?
Jesualdo Ferreira: Não direi que seja necessário travar a euforia. Temos consciência de que existe uma onda exterior que pode provocar isso, mas temos consciência, porque conhecemos os jogadores, de que eles conhecem os limites. Têm consciência do trabalho que fizeram e do que tem sido feito nos últimos meses. Exteriormente não podemos parar isso. Mas estou seguro de que sabem a importância deste jogo e nenhum está a jogar um jogo a pensar noutro. Já demos provas disso nos jogos até agora. Há um lastro de experiencia que nos faz sentir que conseguimos dividir as coisas. A responsabilidade interior está segura.
O que sentiu à chegada de Manchester e viu a alegria dos adeptos?
JF: Senti-me bem e vivi um sentimento de reconhecimento dos atletas. Fizemos o nosso trabalho, fomos felizes e sabemos que, do ponto de vista dos adeptos, as suas reacções têm a ver com os resultados e com os momentos. O controlo emocional das pessoas em relação ao futebol tem muitas variantes e nós profissionais temos de ter consciência por que é que essas coisas acontecem. Deixa-nos satisfeitos, mas com clareza para saber por que é que aconteceu. Os adeptos sentiram-se extremamente orgulhosos, por isso foi uma manifestação natural e normal.
Estão tranquilos em relação ao que tem de ser feito amanhã, frente ao Estrela da Amadora?
JF: Sempre estive tranquilo, especialmente depois de tomar as decisões. Neste momento temos ainda alguns lesionados e alguns em fase de projecção, para além de dois castigados. Sabemos perfeitamente aquilo que querem dar. O jogo de amanhã tem grau de dificuldade elevada. Tem um risco, como todos, mas temos a segurança e a responsabilidade para saber que é um jogo muito importante para o trajecto do F.C. Porto neste campeonato. Faltam sete jornadas, cada vez que jogamos falta menos uma e o caminho vai-se fazendo jogo a jogo. Para nós, o encontro de amanhã tem dois quadros claros: uma equipa do Estrela que faz bons jogos e está bem classificada, apesar dos problemas que todos conhecem, e um ambiente exterior que esperamos possa ser de acordo com o momento que atravessamos. Sabemos que estamos numa quadra festiva, que vem aí um jogo europeu e há uma crise, mas podia ser um jogo das famílias, com o Dragão cheio. Neste momento percebemos que o apoio é mais fácil, mas muito mais importante é quando precisamos e neste momento precisamos, pois estamos numa cruzada de três frentes. Amanhã seria bom dia para a família do F.C. Porto se juntar.
Vai fazer alterações na equipa, tendo em conta o ciclo que o F.C. Porto atravessa?
JF: É possível que venha a acontecer. Todos sabem que fomos sujeitos a um esforço muito grande, esforço que é continuado, porque estão muitos jogos para trás e vem outros para a frente. Não tenho nenhuma decisão tomada, mas a linha de processos está traçada e a identidade não será perdida. Não há poupanças no F.C. Porto. O que há é rendimento, que tem a ver com estabilidade emocional e com as condições para o obter. O treinador tem de procurar que isto aconteça. A intensidade de jogo é alta e essa é uma das formas que temos para ganhar os jogos, mas isso só acontece quando os jogadores estão em condições. Por isso devemos retirar a palavra poupança.
Acha que a sua posição saiu reforçada depois de Manchester?
JF: Já disse várias vezes que me sinto cómodo. Tenho três objectivos pela frente que queremos conquistar. Não faz muito sentido estar a desperdiçar energias e atenções naquilo que vai acontecer no futuro. O futebol é a minha vida e vive-se de forma apaixonada, por isso não dá tempo para pensar em mais nada. O que vier a acontecer no futuro dependerá daquilo que eu for capaz de fazer. E não faz sentido pensar nisso, até porque o F.C. Porto ainda não ganhou nada.
Antes do jogo com o Estrela serão entregues as taças correspondentes às duas ligas que o F.C. Porto conquistou consigo. O que lhe parece este facto?
JF: É ridículo, não consigo entender como pode acontecer numa liga profissional e que tem clubes que são campeões da Europa, que ganham a taça UEFA… Ridículo é a palavra…
Sente-se bem ao fazer evoluir os jogadores?
JF: Acho que um treinador é obrigado a fazer crescer os seus jogadores, tenham eles a idade que tiverem. É preciso que os jogadores percebam o jogo e saibam por que é que fazem aquelas coisas em campo. É neste quadro que os jogadores têm de crescer, mas só crescem os que querem e os que têm capacidade para isso. Os jogos decidem-se pelas capacidades tácticas das equipas. É impossível que um jogador mesmo com 34 ou 35 anos não possa aprender.
Cissokho disse a uma rádio francesa que lhe tirava o chapéu. Que comentário lhe merece?
JF: Ele não tem chapéu! O Cissokho é um jogador novo, com pouca experiência, conhecimento rudimentar do jogo, um potencial fabuloso, mas um detalhe importante: uma apetência tremenda para aprender, tal como o outro menino do meio, por isso qualquer informação que se passe a um jogador deste tipo, ele recolhe-a e põe em prática. E depois tem outra qualidade: é que quando não percebe pergunta. Nesta perspectiva, de repente viu-se envolvido num filme destes e para ele aquilo foi claramente uma novidade, ele próprio ficou espantado com o F.C. Porto. Como devem calcular já falei com ele e não foi para lhe agradecer por me ter tirado o chapéu. Foi apenas para lhe vincar que a partir de agora outras questões se colocam na vida dele e no seu trabalho. A tarefa do treinador é muito mais complicada que o 4x3x3, que o tira aquele ou que o mete aquele. Ao nível a que o futebol está, não são essas as características mais importantes para se liderar uma equipa.
Não é Portista quem quer, só é Portista quem pode
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