Pensamentos de um Mito ( II ) – Uma Carta

Caro Givanildo Vieira De Souza,

Deste-me ainda não há muito tempo uma enorme alegria quando um jornalista te perguntou qual era a sensação de ser a “Estrela” da equipa e o centro de todas as atenções. A isto respondeste, serenamente, que não te sentias uma coisa nem outra, e que eras apenas mais um elemento da equipa e que estavas aqui para trabalhar e ajudar, como todos os outros. E quando te pediram para opinar pelas faltas que sofrias jogo após jogo e que ficavam por marcar, deste nova lição de elegância ao admitires que os defesas adversários estavam apenas a fazer o seu trabalho, e que apenas desejavas que os árbitros fizessem o mesmo. Perfeito! Mas, e se eles não o fizerem, que fazes tu?...

Ontem, ao ver-te vociferar o tempo todo (que estiveste em campo..) com o árbitro, e observar como disputavas os laces divididos mesmo depois de veres o Cartão Amarelo, percebi que só por milagre chegarias ao fim do jogo. Mais do que fisicamente debilitado pelas entradas que sofrias, vi-te nervoso e desconcentrado, e considero que o vermelho subsequente não resultou de um acto irreflectido da tua parte, mas da irresponsabilidade de um jovem que, com a sua equipa a perder, esqueceu-se que esse era o momento em que mais o necessitavam, e também por isso o momento em que o adversário, sabedor, mais o provocaria. Foste “Hulk” por todas as razões erradas.

É bom que percebas que há muitas maneiras de ser egoísta. E que num jogador das tuas características, que a cada jogo o adversário tentará travar a todo o custo, a concentração competitiva passa tanto pelo auto-controlo emocional como pelo instante em que és chamado a concretizar uma oportunidades de golo para a tua equipa.

Porque tu ÉS o talento maior desta equipa e deste campeonato, e isso meu caro, não só não te dá qualquer direito a mais do que os teus colegas de equipa (como tu tão bem reconheceste), como essa importância te dá uma responsabilidade maior que muitos deles! E isto é o que te falta compreender para que te tornes - mais que um predestinado - um grande jogador de equipa, e um jogador à Porto.

Hoje, quando entraste no treino e te deparaste com os teus companheiros, espero que lhes tenhas agradecido a lição que te deram: Tal como viste o cartão vermelho e sentiste a revolta de estarem a retirar à tua equipa o seu “Super?Herói”, também viste como os que ficaram em campo foram todos Super…na tua vez!

É que sabes, este clube tornou-se um fenómeno único no panorama futebolístico Português (e também também não raras vezes no Europeu...) não só à custa dos grandes talentos que acolheu e criou, mas também porque adoptou valores como o trabalho, a dedicação e o espírito de sacrifício.

Sem ti, a equipa socorreu-se do orgulho, do brio e do coração para não sair derrotada (mas isto meu amigo, não chegou a esta equipa contigo, já cá existe muito antes de tu teres sequer nascido…).

Peço-te, a ti que já deste provas de possuir todas estas qualidades que fazem os alicerces desta equipa e deste clube, que nunca mais voltes as costas aos teus companheiros que tão bem te receberam e apoiam; ao teu treinador que trabalha para que te tornes o melhor dos melhores; e a uma massa adepta que percebe de futebol e que é justa como poucas (quem já frequentou anos e fio as bancadas do Estádio das Antas ou do Estádio do Dragão saberá bem a que me refiro).

Do teu fã, José Guimarães