segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pensamentos de um Mito - F.C.Porto, os novos desafios



Mais um início oficial de Temporada, mais uma Supertaça revestida de Azul e Branco. Recuar na memória e lembrarmo-nos dos tempos em que as hostes Portistas estavam sedentas dos campeonatos e taças que invarialvelmente acabavam nas vitrinas dos grandes clubes de Lisboa começa a tornar-se um exercício tão ou mais difícil quanto o de manter uma dinâmica de vitórias décadas a fio.

A história do jogo com o Paços de Ferreira vem reafirmar esta realidade; Este (novo) Porto de Jusualdo é uma equipa em obras, obrigada que está, em virtude da venda de peças nucleares, a reformular o seu Onze para se manter Triunfante nas competições caseiras e digno representante dos pergaminhos Europeus que o clube ostenta nos confrontos da Champions.

Em 3 anos os adeptos viram partir Pepe, Anderson, Quaresma, Bosingwa, Paulo Assunção, Lucho, Lisandro e Cissoko. Cada um com as suas especificidades, é pacífico reconhecer que todos tinham em comum o facto de serem extraordinários executantes, com talento para conquistar o seu espaço em qualquer outro colosso do velho continente.

Perder sistemáticamente jogadores deste calibre tem um preço, que vai muito além do montante a gastar nos jogadores que vêm para os substituir.

Os jogadores de nível superior, além do excelente futebol, deixam algo que não está à venda no mercado: Hábitos de Jogo - que em muitos casos passam a vícios (Recordam-se dos tempos de Mário Jardel?…). Porquê? Porque podem dar-se a esse luxo! Porque as equipas não podem prescindir deles, sabedoras que só explorando o que estes talentos têm de único poderão marcar a diferença no terreno de jogo.

Diz-se que nenhum jogador ganha os jogos sozinho. É um facto que apenas alguns Magos da Bola, jogadores de excepção (e que por isso mesmo constituem “a” excepção) poderão contrariar; mas se falarmos em duplas, ou seja, nas pequenas sociedades que se formam entre jogadores, então teremos encontrado atalhos para se chegar à vitória; pois se houve um tempo em que os cruzamentos de Drulovic encontravam invariavelmente, e quase que por magia a cabeça de Mário Jardel, na história recente foram os passes de “El Comandante” Lucho Gonzalez a encontrar resposta na mobilidade e instinto de Lisandro Lopez.

De sociedades como estas está muitas vezes dependente todo o futebol atacante de uma equipa.

Desaparecida a dupla Argentina, como se irá processar o ataque ao Penta?

O primeiro nome que nos vem à memória é naturalmente Hulk, que após uma época de adaptação ao futebol Europeu e ao modelo de jogo do Porto, tem reunidas as condições para fazer mais e melhor que na época transacta.

Tendo sido utilizado no centro do ataque Portista durante grande parte da pré-temporada (por força das lesões de Farías e Orlando Sá e da chegada tardia de Falcão), Jesualdo apressou-se a esclarecer que não é nessa posição que espera que Hulk desequilibre. Analisando as suas exibições neste início de temporada, incluindo a final da Supertaça, é fácil verificar que jogando no meio o Brasileiro perde espaço de explosão.

Porque insistiu então Jesualdo em coloca-lo nessa posição?

Simples: porque embora o jogador fique (mais) limitado nas suas acções, a equipa está numa fase de construção em que necessita de alguém nessa posição que estique o caudal ofensivo até ao último terço.

Normalmente (e naturalmente) é o meio-campo de uma equipa a servir de rampa de lançamento para os desequilibradores lá na frente, e o ano passado o Porto teve seguramente, em termos de verticalidade, um trio atacante como poucas vezes terá tido na sua história. Alimentados pelos passes de Raul Meireles e Lucho (sobretudo este último), Rodriguez, Lisandro e Hulk eram setas envenenadas nos contra-ataques que se tornaram a imagem de marca da era-Jesualdo.

Neste momento passa-se o contrário: como ao meio-campo ainda falta automatismos e intensidade competitiva, é o sector atacante que tem impulsionado toda a equipa para a frente. Isto acontece por 2 razões:

- Belushi ainda procura o seu espaço na máquina Azul e Branca, embora já seja perceptível que Jesualdo lhe peça para ser o elemento do meio-campo a invadir com mais frequência o último terço do terreno, procurando desmarcações ou surgindo ele mesmo para finalizar

- Raul Meireles ainda não assumiu por completo os galões de “El Comandante”. Não é uma questão de tornar-se um jogador igual a Lucho, mas sim o de assumir as despesas de jogo e de ser o pêndulo que a equipa necessita. Possui qualidade para ser o patrão da equipa e esta é a época em que deverá demonstrá-lo.

Outro grande problema com que se depara Jesualdo é que o Professor, estou em crer, ainda não teve oportunidade de colocar o Seu Onze em campo uma vez que fosse, e aqui surge um nome cuja lesão não tem deixado Jesualdo tranquilo: Christian Rodriguez

O Uruguaio tornou-se peça fulcral pela sua capacidade de desequilibrar com as suas arrancadas pela ala esquerda ao mesmo tempo que se tornava o quarto médio (que é o seu sector de origem) sempre que a equipa o requeria. Neste Porto ao qual ainda faltam transportadores de bola, Rodriguez faz demasiada falta, até porque essa sempre foi a sua vocação, não a de jogador de faixa.

Por agora, e enquanto se aguarda que Varela concretize em exibições consistentes o (exemplar) esforço que vem demonstrando, que Valeri comece a mostrar porque o apelidaram de Virtuoso, e Falcão(ou Farias?) se torne a referência de área que a equipa necessita, os adeptos podem continuar a confiar na excelente dupla de Centrais (desejando que Bruno Alves continue entre nós, e que continuemos a ver maravilhas como o golo que marcou ontem), nos seus laterais (Fucile continua igual a si mesmo e Álvaro Pereira parece-me um belo jogador, ainda que não possa fazer entradas como a que lhe valeu ontem o amarelo), em Fernando, e nesse monstro Físico-Técnico chamado Hulk.

É, pois, mais um início de temporada complicado para este Porto sob a alçada de Jesualdo Ferreira, e se por um lado este constante estado de refundação em que vive o plantel acaba por ser uma meia garantia de não morrer de êxito, por outro origina estes partos difíceis, que nos últimos 2 anos custaram igual número de derrotas frente ao Sporting em finais da Supertaça.

No ano em que o Benfica aposta tudo - como talvez nunca na sua história apostou - na conquista do campeonato, e estando o Porto obrigado a ser igual a si mesmo, prevê-se um ambiente de cortar à faca (dentro e fora de campo) até ao final da Liga Portuguesa. Haja espectáculo.

2 comentários:

Bad Boy disse...

Na minha opinião, ao colocar Hulk a avançado centro JF não pretende esticar mas sim, como ele gosta de salientar, confiar em jogadores que já interpretam o seu modelo de jogo. Como tinha referido anteriormente, Belluschi está a ter dificuldades em fazê-lo. Mas isto não é novidade, o miolo do meio-campo é sempre o mais complexo da filosofia de JF, o próprio Meireles ainda se está a adaptar a jogar sem Lucho. E todos sabemos o trabalho que deu em substituir o Paulo Assunção.
Nas extremidades esse trabalho é mais facilmente conseguido, veja-se o Cebola no ano passado e a boa evolução que Varela está a ter este ano.
O Farias não está preparado para uma partida completa e o Falcao ainda está a anos de luz do que se pretende daí a solução óbvia passar por Hulk.
Quando Rodriguez estiver apto veremos que opção tomará JF. E não me admirava, pelas razões que dei acima, se víssemos Mariano a jogar como interior nesta fase inicial.

ricardocosta disse...

Parabéns pela excelente análise!
saudações portistas