quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Pensamentos de um Mito (VI) – As Grandes Batalhas no Futebol Europeu; Elogio a Jesualdo

Escrevo este texto em plena ressaca da (nova) derrota do meu Clube em Londres. A grande vantagem de se fazerem análises nestas condições é que, podendo o texto perder algo em frieza e lucidez, ganhará seguramente na atenção ao pormenor e na incisão.

Nada me apaixona mais como adepto de futebol do que os grandes jogos internacionais, jogados a ritmo vertiginoso, onde cada lance se disputa de forma viril (mas leal), onde os clubes históricos da velha Europa defendem o seu prestígio e onde o factor casa é, por si só, uma instituição, pois nenhum adepto (seja este da Juventus, do R.Madrid, do Porto, do Bayern…) pode conceber que no seu Estádio haja outro desfecho que não seja a vitória, e quanto maior for o poderio do adversário, maior será a glória alcançada…“e venha o seguinte!”.

Ora, sabendo-se isto de antemão, sempre observei com particular curiosidade qual o comportamento adoptado pelas equipas visitantes sempre que estas visitam os grandes palcos…e conseguem sair ilesas desses infernos. Historicamente, são os clubes Italianos a conseguir os melhores resultados fora de portas - colocando-se confortavelmente à defesa, tendo o anfitrião a obrigação natural de tomar a iniciativa, fazem depois valer a sua famosa rateirice (eu chamo suprema eficácia…) nos lances de contra-ataque. Ora, salvo as excepções que confirmam a regra (como este Barcelona e o Real Madrid, que só sabem encarar os jogos pegando-lhes pelos colarinhos), a maioria dos Clubes passou, com o tempo, a adoptar postura semelhante nos confrontos fora de portas, e quanto mais avançada for a fase da competição, maiores cautelas daí resultarão (infelizmente, a Champions também já nos deu muitos jogos soporíferos, como a penúltima final - entre o Manchester e o Chelsea).

Passando à análise do jogo e referindo-nos ao Chelsea, importa separar as águas. O Chelsea ainda não possui o estatuto de Clássico do Futebol Europeu, nem Stamford Bridge tem a carga mítica de um San Siro, um Anfield Road ou um Nou Camp; contudo, é um clube que desde os tempos de Mourinho assimilou uma cultura vencedora e faz do seu reduto uma fortaleza praticamente inexpugnável (só o Barcelona de Rijkaard, no ano em que se sagraria Campeão Europeu, conseguiu vencer neste estádio).

Na preparação deste jogo, Jesualdo Ferreira não pôde deixar de considerar o seguinte:

- Neste ciclo de jogos verdadeiramente diabólico, o jogo de Londres não só era, com diferença, o mais difícil, como era também o único em que Jesualdo sabia que nem que tivesse o plantel todo disponível e no máximo das suas capacidades, o adversário afigurar-se-ía sempre superior (há que reconhecer que o plantel do Chelsea está um nível acima do nosso, e atendendo aos nomes e ao capital neles investido não há vergonha alguma nisso), para além de ser também o único jogo em que, independentemente do resultado, nada poderia ser dado como ganho ou perdido – era o primeiro jogo de um total de 6.

- Já ao virar da esquina, seguiam-se dois jogos (estes sim, decisivos) para o Campeonato, contra Braga e Sporting, e seria impossível repetir o onze três jogos seguidos.

Quero fazer aqui o elogio a Jesualdo Ferreira, que conseguiu apresentar em Londres um F.C.Porto capaz de jogar Tête-a-Tête e discutir o resultado até ao último instante com um Chelsea em boa forma, ganhar um jogador (Guarin, que esta temporada só havia jogado verdadeiramente pela sua selecção – sinal que o Professor, mesmo à distância não deixa de olhar com atenção para os seus pupilos), e reservar Bellushi (que era dos jogadores com mais minutos das pernas) para as próximas batalhas.

Era meu desejo, como o de qualquer adepto do Porto, conseguir um brilharete em Londres, mas também sei que a equipa está envolvida em muitas frentes e que a chave da qualificação nunca esteve neste jogo, mas sim na dupla jornada no Dragão com o Atlético Madrid e Apoel.
Para terminar, 3 notas:

Ritmo – A diferença de ritmo e capacidade de resposta a um futebol mais físico entre o Porto que ontem defrontou o Chelsea e o Porto que o ano passado foi goleado em Londres pelo Arsenal chegou a ser abismal. Jesualdo não só está a tornar-se especialista em criar equipas novas de ano para ano como está a conseguir retirar rendimento das mesmas em muito menos tempo.

Silvestre Varela – Ficaram muitos adeptos Portistas de água na boca pelo excelente jogo que o Varela fez nos minutos em que esteve em campo e a perguntarem-se porque diabo não foi ele titular em detrimento de Mariano González. Não se iludam estes, porque é muito diferente entrar num jogo no momento em que Varela entrou ontem, com a equipa balançada na direcção de Petr Cech, e entrar como titular, apanhando com o previsível assédio inicial do Chelsea e tendo de controlar e temporizar vários momentos do jogo. Mariano, que a atacar esteve ontem uma nulidade (o seu estilo trapalhão de controlar a bola nunca combinou com um relvado tão encharcado), foi contudo de extrema utilidade a auxiliar Fucile e nunca perdeu a sua posição na teia de pressão exercida sobre o meio campo do Chelsea. Não é acaso que Varela e Falcão estivessem a aquecer quase desde o início do jogo – Jesualdo sabia muito bem quem iria lançar para o assalto final, com a defesa adversária mais desgastada.

Fernando e Essien - Começo por dizer que Fernando fez ontem um jogo à sua imagem; sempre no caminho da bola e (cada vez mais) competente a distribuir jogo. Perdoo-lhe até a expulsão, pois é notável que um médio defensivo tenha ido disputar até ao fim um lance quase na área adversária. Infelizmente, foi de um erro seu que nasceu o lance que resultou no golo do Chelsea. De Michael Essien digo que foi - a meias com o Helton (já nos devia à muitos anos um jogo assim) – o melhor jogador em campo, e que provou uma vez mais não existir, naquela posição, jogador mais forte, veloz e com maior fulgor (que ele varra literalmente o espaço defensivo da sua equipa é uma coisa, mas quando passados 7 segundos está a fazer exactamente o mesmo no ataque então é de fábula..).

7 comentários:

Bad Boy disse...

Aquando do lançamento da partida na rádio, mal saiu o 11 inicial, as excelências comentadeiras do costume foram logo a cortar no Jesualdo, especialmente no que se referia ao Guarin.
Comecei a pensar no jogo, num campo encharcado, adversário forte fisicamente e pressionante, FCP a ter que fazer um jogo de contenção e de apoios e estes magos da bola a estranharem a alteração no meio-campo.
As opções de JF foram todas lógicas. O Falcao seria uma presa fácil quando se sabia que o FCP teria que jogar mais em transição do que em ataque organizado, além disso, no meio de centrais daquele calibre, o colombiano não duraria mais que uma parte (veja-se como Hulk, com a força que tem, acabou a partida).
Já a saída de Varela não me pareceu boa opção. Tenho defendido aqui Mariano como ninguém e percebe-se que Jesualdo tenha querido colocar um jogador de combate, mas nunca, na minha opinião, se deve retirar um jogador com os níveis de confiança tão em alta, por mais valoroso que seja o adversário. No ano que lá fomos, ainda com Mourinho no Chelsea, não deixámos Quaresma no banco para equilibrar o meio-campo e ele retribuiu com um golo. varela teria merecido tal oportunidade também.
De resto quem quer discutir a justiça das opções de JF que olhe para os factos dado pelas estatísticas do jogo e perceberá que o resultado foi uma mera casualidade.

Pedro Silva disse...

Bad assino por baixo tudo o que escreveste. 100% de acordo.

Nesta partida de Londres não há nada a criticar no que concerne ás opções de Jesualdo. Quem o fizer será apenas por pura maldade e por ser um adepto no verdadeiro sentido do termo.

Saudações Portistas!!!

pquental disse...

Mais um excelente artigo, Mito!

Parabéns pela clarividência!

Dragaopentacampeao disse...

Longe de ser uma critica destrutiva para com Jesualdo, que diga-se em abono da verdade, tem orientado a equipa com alguma maestria, continuo a achar que Mariano não tem lugar em qualquer equipa de top e que só por fetiche joga no FC Porto.

Não estou de acordo com a análise que fizeste em relação ao Varela.

Este tem as mesmas capacidades defensivas se lhe forem pedidas. Tem força, resistência e classe. É jogador para entrar na equipa de caras.

No resto estou de acordo.

Um abraço

Mito disse...

Saudações Portistas

Creio ser um acto de justiça reconhecer que Jesualdo esteve bem na abordagem a este jogo.

Sendo a "Mística Azul e Branca" um espaço de opinião livre e que está longe de se esgotar nas antevisões, análises e crónicas, tomarei a liberdade de entrar no debate (porque é para isto amigos, que aqui estamos, discutir (ou esmiuçar, como diria um certo grupo humorístico ;)sobre este fabuloso desporto!
Partindo então das análises realizadas pelo "Bad Boy" e pelo "Dragaopentacampeao", recordo-me perfeitamente desse (outro)jogo com o Chelsea, em que entrámos em campo sem Ponta de Lança e com Quaresma na posição de avançado e com muita liberdade para se movimentar na frente de ataque (o que durante muito tempo funcionou a nosso favor, porque os centrais do Chelsea ficaram sem referências de marcação). Contudo, era um jogo diferente, a eliminar (era o 2º jogo dos oitavos de final), e onde o principal desiquilibrador da equipa (então Quaresma) teria de caber sempre. Varela ainda não tem esse estatuto, mas fosse o jogo desta terça também a eliminar e não tenho dúvidas que Jesualdo jamais abdicaria dele na equipa titular, ainda para mais com a força e confiança que vem demonstrando!
Concordo a 100% com o "Dragaopentacampeao" quando diz que Varela reúne todas as condições para realizar o tipo de trabalho defensivo que normalmente é pedido ao Mariano (e Jesualdo pensa o mesmo, pois quem esteve atento reparou que Varela, quando entrou, foi posicionar-se exactamente na mesma zona anteriormente ocupada pelo Argentino - só mais tarde passou para Extremo - e até fez algumas recuperações de bola), faltar-lhe-á apenas alguma experiência em jogos Europeus e mais alguns pozinhos de cultura táctica.
Desta vez, o professor preferiu resguarda-lo e apostar nele para o assalto final(onde faria sempre mossa), e creio que não foi má opção.

Tewrmino por agradecer ao "pquental" pelo elogio e a todos por entrarem na discussão e ajudarem a tornar a "Mística" num espaço de excelência para os amantes do Futebol (em todas as suas vertentes).

Ricardo de Sousa disse...

Excelente artigo.
Completamente de acordo e assino por baixo a análise ao Varela.

Já o afirmei, não se pode fazer um escalonamento táctico em jogos com o Leixões e depois com o Chelsea.
Jesualdo este muito bem na análise ao adversário, na escolha do onze.

Apenas um reparo. Não é só fora de portas que se adopta uma tactica de tracção atrás contra os gigantes europeus. Ontem o Inter a jogar em casa, defendeu e muito. Pode até dizer-se que colocou o autocarro.

Abraço

Pedro Silva disse...

Mito bons ventos te tragam á Caixa de Comentários.

E continua com estes grandes textos que tens estado excelente. Que o digam os nossos Comentadores habituais.

Um forte abraço e saudações Portistas!!!