Um olhar sobre o Sporting actual

No seguimento do artigo que escrevi na semana passada sobre o actual momento do Benfica, esta semana elaboro um pensamento semelhante, desta vez sobre o Sporting. A curta história do Sporting deste início de época tem, no entanto, muitas variáveis interessantes a considerar.

Começamos pelo início. As belas ideias do Platini em promover uma competição europeia mais acessível aos restantes países da Europa veio entalar os países médios, como é o caso de Portugal. Durante 3 anos o segundo classificado do nosso campeonato – o Sporting – tinha o direito de disputar, por via directa, a Liga dos Campeões.

Este ano não foi assim. Este ano o nosso segundo classificado teve que disputar não uma eliminatória, mas duas. Ou seja, a época para o segundo classificado começava mais cedo, em Julho. Assim, ao ser o primeiro dos grandes a entrar em competições oficiais, também teve que abrir a oficina mais cedo. Ainda, a condicionante de ter que jogar jogos oficiais em Julho também implicou que ao contrário do que era habitual, o Sporting também só disputaria 3 ou 4 amigáveis ao contrário dos habituais 7 ou 8. O único grande ponto forte deste arranque do Sporting 2009/2010 foi a eleição do José Eduardo Bettencourt. Tal como o seu homólogo Luís Filipe Vieira, JEB obteve um grande apoio da massa adepta. O “Paulo Bento Forever” terá sido o seu momento negativo, colocando em causa o seu sucesso com o do Paulo Bento.

A pré-época do Sporting também só introduziu uma cara nova: o Matiás Fernandez. Embora não queira discutir o valor dele, um pouco como acontece com o Benfica, questiono-me como é que o Villareal foi vender um jogador daqueles. Será ele tão bom quanto todos pensam que é? Veremos. Portanto, com uma aquisição e com um regresso – Saleiro – o Sporting partiu para uma pré-época medíocre.

O primeiro jogo da época foi contra uma equipa muito fraca e rendeu a primeira e única vitória da pré-época. Seguiram-se Nottingham, Guimarães e o Feyenoord. Duas derrotas e um empate. O sorteio da Liga dos Campeões ditou por sua vez um embate contra o Twente. Apesar de ter sido segundo classificado na Holanda, o Sporting era o claro favorito. No entanto, o seu futebol não o mostrava.

Mais uma vez o Sporting era a equipa de sempre. Paulo Bento era leal ao seu 4-4-2 losango e por nada o mudaria. Chamem-no teimoso, tolo ou chamam-no crente nos seus métodos… mas que ele não altera a táctica, isso é verdade. Se por um lado isso facilita a introdução de qualquer elemento no onze; torna demasiado previsível o jogo do Sporting.

Provavelmente o grande golpe do verão para o Sporting foi a saída do Derlei. Apesar do seu feitio por vezes menos correcto, Paulo Bento encontrou no Ninja o parceiro ideal para Liedson. Com a saída de Derlei, Liedson passaria a ser novamente órfão; sem um irmão e um parceiro que o entendesse como Derlei mostrara o conhecer. Ainda, de salientar que a abordagem do departamento médico do Sporting no caso Izmailov foi muito fraca; tentaram a recuperação por via de fisioterapia para depois partir para a cirurgia, tirando de combate durante ainda mais tempo do que o previsto.

O primeiro jogo do Sporting em casa mostrou um Sporting semelhante ao da pré-época. Esforçada em momentos mas muito inseguro em momentos em todo o terreno; sobretudo na defesa. Mesmo a jogar em vantagem numérica, não conseguiram marcar um golo. Na segunda mão o Sporting mostrou ser novamente uma equipa esforçada mas desta vez encontrou a sorte divina com um golo a cair do pano, algo semelhante ao ocorrido em Alkmaar. Ao passar a segunda pré-eliminatória saiu a Fiorentina: a equipa que o JEB não queria. Não sendo a mesma Fiorentina de há alguns anos, ainda era uma equipa importante e com bons jogadores.

O primeiro jogo da terceira pré-eliminatória mostrou um Sporting muito rápido a atacar e muito decidido. No entanto, ao contrário de muitos, creio que o Sporting jogou bem porque a Fiorentina os deixou. Reparem: no jogo em Alvalade, a Fiorentina marcou cedo e depois ficou à espera do Sporting, ficou à espera para ver do que seriam capazes. Assim que o Sporting se colocou em vantagem a Fiorentina transformou-se; jogou ao ataque, pressionou e não deixou o Sporting jogar. Acabou por chegar ao empate porque jogaram para isso e não deixaram o Sporting controlar nem aumentar a vantagem. Mas também deve ser referido que o Sporting encontrou um árbitro amador ao nível dos piores portugueses. A segunda mão também revelou um Sporting forte, mais forte que a Fiorentina. A Fiorentina deixava-se pressionar e jogava no contra-ataque. Assim que o Sporting marcou, a Fiorentina foi para cima deles e nunca mais o Sporting foi igual nesse jogo. Eu admito que o Sporting foi a equipa que mais quis passar a eliminatória; mas ao bom modo italiano, a Fiorentina fez o que foi preciso para a vencer.

No meio desses dois confrontos europeus decorreu a estreia do Sporting na Liga. Foi um empate 1-1 no terreno do Nacional. A imprensa ficou escandalizada. Não sei porquê. Acabaram de empatar fora contra a quarta melhor equipa da época passada. Mas o grande problema é que o Sporting mais uma vez entrou a perder como em tantos outros jogos e demonstrava uma desatenção defensiva preocupante. A segunda jornada trouxe a primeira derrota; contra o Braga e em Alvalade. Sim, foi uma derrota amarga mas o Braga esteve muito bem e soube explorar as fragilidades do Sporting. A terceira jornada resultou na primeira vitória, desta vez frente a Académica. Mais uma vez o Sporting entrou algo mal no jogo mas conseguiu o mais importante: os três pontos e algum moral para enfrentar a reentrada na Liga.

Ora, resumidamente – espero eu – tentarei explicar na minha óptica o que esta melhor e pior no Sporting deste início de época para tentar perceber o que poderá surgir daqui para a frente.

Um novo presidente. Um novo presidente trouxe uma nova mentalidade, novos conhecimentos e uma diferente paixão e visão. Não trouxe no entanto um novo treinador, nem dinheiro. Os problemas financeiros não desapareceram durante o defeso portanto a política de aquisições manteve-se. Fruto disso apenas houve uma compra: Matiás. Dois regressos: Saleiro e André Marques. Um empréstimo: Caicedo. Um resgate: Angulo. Assim, ao contrário dos outros adversários, o investimento em reforços esta época ficou abaixo dos 5 milhões de euros. Se o Presidente não trouxe dinheiro, trouxe uma nova mentalidade de exigência bastante mais ferroz que a do Filipe Soares Franco. Portanto, em termos de motivação directiva, o Sporting estava melhor servido.

Mesmo treinador. Paulo Bento iniciou mais uma época no comando do Sporting. Sem grandes reforços, pegou no que tinha e colocou os melhores e os que mais garantias davam em campo. Não se podia exigir mais dele nesse aspecto. No entanto, como velhos hábitos são difíceis de esquecer, a forma de jogar do Sporting manteve-se igual, como se do primeiro dia de Paulo Bento se tratasse. Como referi, por um lado facilita a adaptação de jogadores mas por outro lado torna tudo mais previsível. Mas novamente, o Sporting não pode jogar com um formato para o qual não tem jogadores. Há por aí alguns experts que dizem e que imploram para que Paulo Bento mude de figurino; que tenha uma opção B.

Mas vamos a factos: o Sporting não tem jogadores para outro modelo se não o losango. No jogo em Twente o PB apresentou um 4-3-3. Não resultou. Não podemos esperar que o Djaló e Postiga sejam alas. Não há rotinas e muito menos jogadores. Se é verdade que o Sporting fabricava alas – Figo, Simão, Ronaldo, Nani, Quaresma – agora todos os escalões do Sporting jogam em losango e será difícil aparecer brevemente outro ala fenomenal. Portanto, para os que tanto desejam um novo esquema; não o vão ver porque é, neste momento, incompatível com Paulo Bento e até com a nova política base de formação e enquadramento de jogadores nos escalões inferiores.

Defesa inconstante. É estranho como um campeão do mundo como o Polga consegue estar tão nervoso e abaixo de forma esta época. Nos primeiros jogos oficiais esta época o Polga metia sempre água. Nem parecia o mesmo. Por outro lado há o Carriço, o salvador daquela defesa. O jovem central promete ser, para breve, titular da selecção portuguesa quando Ricardo Carvalho já não o puder ser. O Carriço evoluiu de forma excelente na última época e é mais uma aposta ganha do Paulo Bento. Nas laterais; nem sei o que dizer. Nem o Abel nem o Pedro Silva dão garantias; Grimi está lesionado e ainda não se viu esta época. André Marques poderá ser uma boa surpresa mas teremos que aguardar para ver se o PB o consegue moldar.

Veloso renascido. Tanta polémica deu este Veloso. Nem parece o mesmo. Não sei quem disse o quê a quem, mas o Miguel Veloso regressou esta época em grande. Como não surgiram propostas, teve que ficar. Talvez esteja a dar tudo para poder sair no inverno, não sei. Mas que o Sporting ganhou muito com este seu regresso, lá isso ganhou. Até Paulo Bento tinha agora uma boa razão para deixar Rochemback no banco…

Matiás Fernandez. Como tive a oportunidade de dizer, faz-me confusão a forma como o Villareal terá vendido um jogador que tantos categorizam como excelente. Não digo que não o é. Pelo que vi, sobretudo no jogo de Alvalade contra a Fiorentina, é um grande talento. Acho que vai ser a solução que o Sporting precisa para o vértice ofensivo do losango. Vai fazer esquecer o Romangoli que nunca foi uma verdadeira solução para o Sporting. Vai ser uma estrela naquela equipa.

Liedson. Pior do que ter começado muito cedo a época, teve que a começar sem o seu melhor jogador. O Liedson, embora presente fisicamente, esteve ausente dos golos, algo frequente nos arranques de temporada. Um Liedson mais concretizador poderia ter resultado num desfecho diferente na Liga dos Campeoes. No entanto, com o regresso aos golos, tanto no Sporting como na selecção, o Liedson promete ser o finalizador que todos conhecemos.

Agora para umas últimas notas. Com o regresso para breve de Izmailov, de Postiga e de Caicedo mais a integração plena de Angulo; o Sporting só pode melhorar. Pior do que já fez em alguns momentos desta época será difícil. Portanto, o melhor Sporting ainda está para vir. Assim, todos aqueles que pensam que o Sporting irá lutar pelo 4º ou 5º lugar vão ter que esperar sentados. O Paulo Bento é um bom treinador; não é um treinador de classe mundial.

No entanto, não sei se haverá por aí muitos outros treinadores tão corajosos para fazer o que ele faz e fez no Sporting. Sim, o Luís Pontes não se importaria de ir para lá. Mas esse também não faria pior do que já fez em alguns clubes. No entanto, também reconheço que o ciclo de Paulo Bento já deveria ter terminado. Embora nunca ganhou um campeonato, já fez muito mais com menos do que o rival da segunda circular fez com todo o apoio do mundo.

Aguardo o Sporting forte esta época. Tão forte ou mais do que na época passada.