Pensamentos de um Mito (XIII) – F.C.Porto versão 2009/2010: Falta de Classe?

Terminou mais uma jornada Europeia para as equipas Portuguesas, que à semelhança da anterior pautou-se pelos bons resultados obtidos em geral. Não fosse a completa incapacidade do Nacional da Madeira em segurar nos minutos finais as vantagens no marcador e este ano poderíamos pensar em saltar pelo menos 3 lugares no Ranking da UEFA. Não havendo grande coisa a comentar relativamente aos jogos disputados pelos grandes de Lisboa – com um Benfica a acabar por vencer naturalmente uma patética equipa do Everton (já nem falo em classe, quando uma equipa Inglesa a partir dos 55m(!) deixa de correr algo de muito errado se passa…) e um Sporting a exibir fragilidades que ameaçam ultrapassar a esfera estrutural e passar a caso clínico –, já o mesmo não se pode dizer em relação ao Porto. E há mesmo muito a dizer (e a reflectir).

Os últimos jogos que a equipa tem disputado e os dados concretos que se puderam retirar dessas exibições já foram devidamente dissecados um pouco por toda a imprensa assim como pelos meus colegas Cronistas do Mística Azul e Branca.

Acho, contudo, que chegou o momento de simplificar as explicações e reduzir ao osso a análise daquilo que tem sido visível para todos: Este Porto não tem classe alguma a jogar! Dói, e toda a crítica (construtiva) que se queira fazer tem de partir desta evidência. E aí sim, não haverá respostas simples.

Ao contrário de uma certa corrente de pensamento que anda muito em voga, não vejo na constituição do plantel um dos principais motivos. Belluschi, Varela, Valeri e Falcão (focando-nos nos jogadores que actuam nas zonas de criação de jogo/decisão) são atletas que de mancos não têm rigorosamente nada e considero que óptimas adições à classe já existente de Raul Meireles, Rodriguez e, sobretudo, Hulk (Farías é um caso aparte..). Tudo somado, temos um belo naipe de executantes de excepção, pelo que, repito, o problema não advirá daqui.

Na minha crónica anterior foquei a onda de lesões que tomou a equipa de assalto como a fonte do mal, da qual posteriormente se desdobraram todos os outros problemas; e efectivamente de nada adianta termos jogador A ou B no plantel se este está lesionado ou recém-recuperado e por conseguinte sem ritmo ou rotinas de jogo. Para mal dos nossos pecados este cancro parece ter especial apetência para atingir os jogadores que se supõem os mais criativos e desequilibradores do plantel. Tudo isto são verdades indesmentíveis e gostaria que alguém do clube nos elucidasse sobre o porquê de no F.C.Porto não existir(?!?) na sua equipa técnica a figura do Preparador Físico, pois consta que é Jesualdo Ferreira que tem assumido as despesas desta área. O que está em causa não é a capacidade do “Professor” ou os seus conhecimentos nesta área, mas o facto de que um homem como José Mourinho - um obcecado pela planificação dos treinos e pela preparação dos jogadores - nunca abdicou de ter ao seu lado um homem como Rui Faria. Uma questão então de “separação”? Não Sr. Professor…Especialização.

Algo que os últimos jogos também deixaram a nu - e que não tem nada a ver com lesões ou com a concepção do plantel - é a concepção da “Equipa” e a própria ideia que ela tem de si mesma. Jesualdo é um fiel seguidor do 4-3-3 e daí não advém mal nenhum, mas creio que Jesualdo está a cair no erro de, perdidos Lisandro e Lucho, tentar pôr a equipa a jogar exactamente da mesma forma. Assim, ao invés de explorarmos as virtudes e vantagens que Falcão e Belluschi têm em relação aos seus “antecessores” (respectivamente, o “jogo de área” do Colombiano e a mobilidade no último terço e poder de drible do Argentino) temos sido forçados a assistir a uma pequena Via-sacra dos 2 Sul Americanos, que Falcão tem disfarçado pela sua (cá está) classe, mas que no caso de Belluschi torna-se muito mais complicado pois trata-se do bloqueio ao seu próprio futebol, ainda para mais agravado pelos problemas que Raul Meireles atravessa.

O professor, pela sua idade, saberá melhor que muitos que uma história nunca acontece duas vezes da mesma maneira e que a mudança pertence à ordem natural das coisas. Uma maneira simples de resolver esta questão seria um 4-4-2 em Losango, com Belluschi no vértice ofensivo e Hulk liberto no ataque a acompanhar Falcão; desta forma ficariam ambos mais perto da baliza e acabava-se de vez com tanta correria inútil (Hulk em particular beneficiaria em ter nas suas costas um “Maestro” que o coloca-se a correr na direcção certa..).

Com um sistema de jogo mais estável (no “modelo” de jogo, assente em transições rápidas, não se mexe), e com o eventual regresso da legião de lesionados, a equipa respiraria bem melhor. E nós também.

PS: E mesmo com isto tudo, não é que já carimbámos o passe para os “Oitavos”? Mais, já repararam na quantidade de antigos Campeões Europeus que ainda não o conseguiram e talvez nem para lá caminhem?...