Na semana passada foi divulgado por um jornal e informação generalista, o DN, que o treinador do FC Porto para a próxima época será estrangeiro. Ao princípio manifestei-me surpreendido pela parece que já tomada decisão do Presidente Pinto da Costa. Mas depois de alguma reflexão, parece-me que estamos face a mais uma contra-informação vinda dos meandros do Dragão, táctica tão bem utilizada e por nós aprovada para, à maneira do Presidente, se preparar descansadamente a próxima época. Não me espantaria nada que, no futuro, se ficasse a saber que Domingos, Villas-Boas ou outro treinador português já estava contratado à hora a que escrevo esta crónica.
Um facto no entanto está à vista: Jesualdo Ferreira acabou o seu ciclo. Goste-se ou não Jesualdo é um treinador campeão do nosso clube. No entanto, o consulado de Jesualdo, longo para o que estávamos habituados, apesar de factos bastantes positivos também levou por diversas vezes ao desespero a maioria dos adeptos azuis e brancos. Desde a sua falta de coragem para assumir o risco em diversas ocasiões, até ao modo como muitas vezes a equipa se encontrava preparada para assumir jogos importantes contra rivais em que a palavra de ordem à saída do balneário devia ser "ganhar!". Estes "defeitos" (se tal poderemos chamar) pareceram esbatidos (finalmente, ao fim de três anos) quando na pretérita época o Porto enfrentou em Old Trafford o poderoso Manchester United e fez um jogo quase perfeito. Nessa altura disse-se, em crónicas de comentadores desportivos, em conversas de café, em tantos locais onde o orgulho de ser portista irradia, que Jesualdo compreendera o que era o famoso "jogar à Porto". Que finalmente compreendera que o clube que tinha a honra de treinar era um dos clubes de topo a nível europeu.
Porém, enquanto esta penosa época prossegue, apercebemo-nos que estes pensamentos que fizeram sonhar com uma época de Penta cheia foram puro engano. Jesualdo continuava a claudicar, a fazer a sua equipa entrar sem grande chama em tantos jogos. O adjectivo "cobarde" tantas vezes lhe foi dado, devido ao pouco risco que Jesualdo desenha nas suas equipas. E devido, principalmente, à sua mentalidade. Mas porquê esta maneira de ser, esta falta de um pouco mais e azul que faria a equipa arrancar grandes exibições muitas vezes, em vez de estas raramente acontecerem (neste ano apenas contra o Sporting para a Taça, com o Braga para o campeonato e jogos seguros, mas sem grande brilho, na Champions).
Jesualdo faz parte de uma geração de treinadores muito bem preparada técnica e teoricamente. Ele é, até pela sua idade, um dos Professores do futebol português. Não duvidamos, por isso, que Jesualdo percebe muito de futebol. Mas o futebol não é um jogo onde onze peças mecânicas entram em jogo contra outras onze. É um jogo jogado por seres humanos, por homens com medos, com ambições e com vontade. Ao contrário de treinadores como o saudoso Mourinho, Jesualdo não foi capaz de criar um estado de alma diferente aos jogadores, de os fazer superar. Penosos clássicos se jogaram com Jesualdo, onde o Porto não entrava à Porto mas com um respeito exagerado por adversários que, quer nos seus estádios (Alvalade e Luz) quer no Dragão, entravam em campo sem aquela chama de Dragão que o Porto de outros tempos transmitia. Bom exemplo são as finais jogadas pelo FC Porto neste consulado de Jesualdo (e há mais uma no próximo Domingo). As finais são aqueles jogos que, como disse Pinto da Costa, «se fizeram para ganhar». Para nelas jogar há que entrar com mentalidade ganhadora, com conhecimentos do adversário. Com garra, com crer. Na sua segunda época aos comandos da equipa (2007/08) o Porto chega à final da Taça com o Sporting de Paulo Bento (na época anterior o Porto havia sido eliminado no Dragão pelo Atlético de Lisboa, lembram-se?). Perde por 2-0 no prolongamento, tendo o Porto realizado uma confrangedora exibição. Nesta altura duas Supertaças seguidas também são perdidas pelos homens comandados por Jesualdo. Ambas também contra o Sporting! Pasme-se que as únicas duas finais ganhas por Jesualdo foram contra o Paços de Ferreira, na época passada.
E agora, actualmente, o Porto em pleno mês de Março vê como salvação da época não o tão querido e esperado segundo Penta mas as Taças da Liga e de Portugal. Analisando os três campeonatos de Jesualdo, podemos ver que apesar de ganhos e bem, se levanta a questão esta época de quando surgiu um dos dois adversários directos melhor preparado que antes, o Porto claudicou. Apesar de não crer que Jorge Jesus, muito provavelmente o próximo treinador campeão nacional (e custa escrever isto), seja um portento de conhecimentos técnicos, ele tem uma coisa que falha a Jesualdo: garra, determinação. Na noite em que o Benfica goleou o Everton por 5-0 para a Liga Europa, a meio da goleada, quando já a vitória estava assegurada, Jesus berrava furioso para dentro de campo pedindo aos seus jogadores para não abrandarem o ritmo, para continuarem a dar o seu máximo. Raramente se viu isso em Jesualdo. E essa determinação que se pede no futebol moderno pode fazer toda a diferença. O Professor não escapou a polémicas desnecessárias que podia ter ultrapassado com outras atitudes, caso da primeira época em que Bosingwa deu a entender que o verdadeiro treinador era Vítor Baía.
Sei que não analisei a fundo neste texto outras causas do falhanço desta época. Sei que existe outro tema paralelo ao treinador que são os jogadores ao dispor do treinador do FC Porto. Mas parte do falhanço desta época passa por ele. É certo que o Porto fez maus negócios, que nunca devia ter vendido Lucho (o esteio da equipa) após vender Lisandro. A equipa ficara partida. Mas Jesualdo não se livra de culpas, nem da falta de atitude perante as adversidades. Isto é tema que dá pano para mangas. Fica para uma próxima crónica.
Porém, enquanto esta penosa época prossegue, apercebemo-nos que estes pensamentos que fizeram sonhar com uma época de Penta cheia foram puro engano. Jesualdo continuava a claudicar, a fazer a sua equipa entrar sem grande chama em tantos jogos. O adjectivo "cobarde" tantas vezes lhe foi dado, devido ao pouco risco que Jesualdo desenha nas suas equipas. E devido, principalmente, à sua mentalidade. Mas porquê esta maneira de ser, esta falta de um pouco mais e azul que faria a equipa arrancar grandes exibições muitas vezes, em vez de estas raramente acontecerem (neste ano apenas contra o Sporting para a Taça, com o Braga para o campeonato e jogos seguros, mas sem grande brilho, na Champions).
Jesualdo faz parte de uma geração de treinadores muito bem preparada técnica e teoricamente. Ele é, até pela sua idade, um dos Professores do futebol português. Não duvidamos, por isso, que Jesualdo percebe muito de futebol. Mas o futebol não é um jogo onde onze peças mecânicas entram em jogo contra outras onze. É um jogo jogado por seres humanos, por homens com medos, com ambições e com vontade. Ao contrário de treinadores como o saudoso Mourinho, Jesualdo não foi capaz de criar um estado de alma diferente aos jogadores, de os fazer superar. Penosos clássicos se jogaram com Jesualdo, onde o Porto não entrava à Porto mas com um respeito exagerado por adversários que, quer nos seus estádios (Alvalade e Luz) quer no Dragão, entravam em campo sem aquela chama de Dragão que o Porto de outros tempos transmitia. Bom exemplo são as finais jogadas pelo FC Porto neste consulado de Jesualdo (e há mais uma no próximo Domingo). As finais são aqueles jogos que, como disse Pinto da Costa, «se fizeram para ganhar». Para nelas jogar há que entrar com mentalidade ganhadora, com conhecimentos do adversário. Com garra, com crer. Na sua segunda época aos comandos da equipa (2007/08) o Porto chega à final da Taça com o Sporting de Paulo Bento (na época anterior o Porto havia sido eliminado no Dragão pelo Atlético de Lisboa, lembram-se?). Perde por 2-0 no prolongamento, tendo o Porto realizado uma confrangedora exibição. Nesta altura duas Supertaças seguidas também são perdidas pelos homens comandados por Jesualdo. Ambas também contra o Sporting! Pasme-se que as únicas duas finais ganhas por Jesualdo foram contra o Paços de Ferreira, na época passada.
Mas não só as finais perdidas mostram os problemas de montar equipas carismáticas na era Jesualdo. Nenhum outro treinador na história recente do clube deve ter sido tantas vezes goleado, ele que é considerado um treinador defensivo. Recordemo-nos, para além da recente humilhação em Londres (em que Jesualdo esteve mal do início ao fim, do colocar no onze o inexperiente Nuno André Coelho até ao medo de arriscar), dos jogos miseráveis em Liverpool onde perdemos por 4-1, doutro jogo com o Arsenal em que perdemos por 4-0 (em que o resultado também não foi mais dilatado devido a Helton), etc. Apesar disso, Jesualdo fez boas campanhas na Champions, passando sempre a fase de grupos. Porém, faltou também aqui um pouco mais de azul, isto para uma equipa que três ou quatro épocas antes estivera sentada no trono do futebol português.
E agora, actualmente, o Porto em pleno mês de Março vê como salvação da época não o tão querido e esperado segundo Penta mas as Taças da Liga e de Portugal. Analisando os três campeonatos de Jesualdo, podemos ver que apesar de ganhos e bem, se levanta a questão esta época de quando surgiu um dos dois adversários directos melhor preparado que antes, o Porto claudicou. Apesar de não crer que Jorge Jesus, muito provavelmente o próximo treinador campeão nacional (e custa escrever isto), seja um portento de conhecimentos técnicos, ele tem uma coisa que falha a Jesualdo: garra, determinação. Na noite em que o Benfica goleou o Everton por 5-0 para a Liga Europa, a meio da goleada, quando já a vitória estava assegurada, Jesus berrava furioso para dentro de campo pedindo aos seus jogadores para não abrandarem o ritmo, para continuarem a dar o seu máximo. Raramente se viu isso em Jesualdo. E essa determinação que se pede no futebol moderno pode fazer toda a diferença. O Professor não escapou a polémicas desnecessárias que podia ter ultrapassado com outras atitudes, caso da primeira época em que Bosingwa deu a entender que o verdadeiro treinador era Vítor Baía.
Porque falhou Jesualdo? Muito simplesmente, também, porque Jesualdo tarde chegou a uma equipa de topo. E entre arriscar ser maior e poder falhar e não arriscar e manter uma média razoável preferiu esta última solução. Jesualdo faz parte de um passado do futebol português em que as equipas e a selecção entravam em campo com o pensamento na possível derrota e não na possível vitória. Uma geração que não soube viver com o impossível. No fundo, Jesualdo é o melhor treinador da velha escola do futebol português. Uma escola ultrapassada nestes tempos por Mourinho, o maior de todos, e com novas esperanças em Domingos, Jorge Costa, Vilas Boas e outros que a partir de agora sabem que para ganhar há que correr riscos. Esperemos que seja neste nova escola que o FC Porto vá buscar o seu novo treinador. Jesualdo ficará na história do clube como um treinador campeão. Mas ao lado dos seus títulos e de boas noites de glória figurará um número demasiado grande de resultados menos bons, de exibições menos conseguidas.
1 comentário:
Bom artigo Duarte;
Também creio que o ciclo de Jesualdo terminou no Porto. Não porque ele é o elo mais fraco, mas porque o futebol português é assim.
Fosse o Jesualdo um treinador em Inglaterra e certamente que ficaria mais uns anos por lá.
Algum dia passaria pela cabeça de um qualquer dirigente do futebol inglês despedir um treinador que, em 4 épocas, ganhou 3 campeonatos?
E, em que ano, após ano, perdeu as mais valias?
O Jesualdo é, dentro da comparação possível, uma espécie de Wenger na medida em que se vê forçado a construir equipas a cada época. O Wenger, que já nao ganha nada de "jeito" há anos, continua forte ao leme do Arsenal.
Claro, são outras mentalidades.
Mas acho que a questão central não é o "cagançaõ" de Jesualdo. Claro que todos nós gostamos de ver o Porto ganhar na Luz e em Alvalade. Mas são raras as épocas em que são esses jogos que decidem campeonatos. Vejam o ano do Adriaanse. Perdemos na Luz e no Dragão com o SLB e ganhamos nos instantes finais contra o Sporting em Alvalade. O que verdadeiramente interessa é saber se o FCP joga "à Porto nos restantes" 26 jogos da época. E creio que, excepto nesta época, foi isso que aconteceu. Vejamos a recta final da época passada onde íamos a qualquer campo, fora do Dragão, impor futebol.
Para mim, o ciclo essencial que terminou foi o do modelo de gestão.
O Rui Moreira bem diz no programa onde aparece que é preciso perceber bem para que serve o projecto 611 e se o investimento deu ou não frutos.
o ciclo que esgotou é o de contratar 3 jogadores (sul-americanos) por cada jogador bom que saia. isto quase que parece as regras da função publica.
é preciso investir bem, nem que seja com mais dinheiro.
e para isso, é preciso entrar o treinador certo. o paulo bento seria uma solução interessante que naturalmente iria conciliar os nossos jovens (Castro, Ukra, Hélder Barbosa... quem sabe, promover o Ventura a titular da baliza). O Domingos, apesar do bom trabalho, não sei se tem um pulso firme... nem tão pouco o Jorge Costa apesar do seu "feitio".
Mas se vier um portugues, permitem que eu lance aqui um nome que pode parecer ridiculo mas, nunca se sabe: Carlos Queiroz. Claramente se dá bem com o presidente e se as coisas correrem mal na África, poderá até aceitar o convite...
Quase impossível, mas que me leva a pensar de vez em quando, é o próprio jorge Jesus. Sim, esse mesmo. Reparem que, mesmo tendo quase a Liga no bolso, ainda nao renovou com o Benfica. Está claro, a proteger-se para o futuro. Vencer a Liga e quiçá, a Europa, poderia abrir grandes portas. Mas, sendo ele amigo do Pinto da Costa, porque não iria ele também pensar em voltar ao Norte....
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