Aqueles que me conhecem sabem que no início da década de 60 fiz parte, aqui no Porto, do movimento musical que ficaria conhecido como “Anos 60”. Os Shadows eram a coqueluche do momento com Apache ou Guitar Tango, musicas que faziam as delícias dos participantes das festas de estudantes ou dos bailes de garagem, assim meio às escondidas, porque a polícia política do regime de então achava que mais de 3 pessoas juntas podia ser considerada uma “reunião clandestina”!
Os conjuntos eram quase todos constituídos por amadores sem nenhuma formação musical, baseados em 3 violas (solo, ritmo, e acompanhamento), e bateria. Os músicos profissionais das “orquestras à séria” até nos apelidavam de “orelhudos”. Queriam eles dizer no seu infinito saber que tocávamos de ouvido quando, de repente, “rebentaram” os Beatles, esses sim já com conhecimentos de composição e, sobretudo, traziam debaixo do braço um expert em marketing: Brian Epstein.
A apresentação de Love Me Do, o primeiro single da banda no Reino Unido, foi na linguagem discográfica “um estouro”. As tais 3 violinhas mais a bateria, correram mundo e o sucesso mediático e económico foi de tal ordem que em vários países europeus, americanos e asiáticos, as imitações nasceram como cogumelos.
Por cá, a nossa modesta realidade não fugiu à regra e assistimos à formação de dezenas e dezenas de bandas, tendo eu participado em duas (Académico Orfeu e Morgans) e ao aparecimento de músicos de topo como Jean Sarbib, Jorge Lima Barreto e Pedro Osório que substituiu uma das violas pelo piano, onde foi mestre. A crise académica de 62 e a partida de jovens para Angola, desmembrou a maior parte dos agrupamentos que depois, levaria anos a reagruparem-se.
Quando o conheci morava na Rua Firmeza a escassos metros duma sala alugada onde o meu grupo ensaiava a meias com outra banda do Porto, Walter Behrend e frequentemente alternávamos em Bailes de Finalistas, Passagem de Ano, Carnaval, programas de televisão, etc.
1967 – Da esquerda para a direita: Pedro Osório, Jean Sarbib, Adrien Ransy, Carlos Carvalho e José Manuel Fonseca (em baixo) na imagem.
Depois o Pedro, como tantos outros, foi para Lisboa estudar engenharia mecânica e musica. Colaborou com a Sociedade Portuguesa de Autores, com o Sindicato dos Músicos, compôs temas para Festivais, e chegou a Maestro.
Perguntam os meus caros: O que tem isto a ver com o nosso Clube? Nada! Só vos queria dizer que fiquei mais pobre. Perdi um amigo.
3 comentários:
Já agora, por curiosidade: O Pedro Osório era Portista (ou pelo contrário, como tantos que foram para Lisboa)?
Caro Armando
Quando vivia no Porto não ligava ao futebol. O Passatempo favorito dele era o xadrez, aliás costumava jogar no antigo Café Palladium onde o Grupo de Xadrez do Porto tinha uma sala alugada. Foi membro da Associação Portuguesa de Xadrez Por Correspondência, chegou a disputar Campeonatos Internacionais, e em Outubro de 2006 ainda jogou com Kasparov.
Pode ver em http://www.facebook.com/afteryou.pt
ou em http://www.pedro-osorio.com na Galeria de Fotos, ou ainda em http://www.apxcpt.blogspot.com/ que, por sua vez, tem links para outros sites.
Abraço
Amigo Lima: ficamos todos mais pobres com a "partida" de do Maestro: os que o conheceram, porque perderam um amigo; os que beneficiaram do seu talento, como é o meu caso, porque perderam uma referência; a cultura portuguesa, porque perdeu uma das suas mais proeminentes figuras; finalmente, a nossa sociedade porque perdeu um Cidadão (e o meu Amigo sabe a importãncia que dou quando escrevo com maiúsculas uma palavra).
Um abraço,
Santos D
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