A habitual imprensa afecta à “instituição” noticiou há dias com grande relevo, a recusa dum contrato de 111 milhões de euros por 5 anos oferecidos pelo empresário Joaquim Oliveira, para a transmissão dos 15 jogos/ano em casa, da equipa principal de futebol. Duas hipóteses para o facto me ocorreram: Ou está cheia de dinheiro ou tem melhor oferta. Para conhecer a resposta, e aproveitando o facto de há 1 semana ter sido publicado o RC da SAD relativo ao 1º semestre da época 2011/2012, lá fui analisar as 108 folhas, (1) da gestão daqueles músicos, onde constatei algumas coisas “estranhas”.
1 – COENTRÃO – “a Benfica SAD alienou os direitos desportivos do atleta Fábio Coentrão ao Real Madrid pelo montante de 30 milhões de euros” (pág. 6). É uma afirmação enganosa. Pode parecer que foi o valor encaixado mas, mais à frente, a Sad diz (pág. 12) “os proveitos com transacções de atletas estão essencialmente relacionados com a transferência do Fábio Coentrão para o Real Madrid no início da época, que gerou uma receita líquida de 16,4 milhões de euros”. Claro! Tem que se abater ao montante bruto, 20% que pertence ao Fundo, mais as comissões pagas ao conhecido “agente Fifa” que está sempre pronto para lhes comprar ou vender jogadores.
2 – FUNDO – “a Benfica SAD mantém uma estreita ligação com o Benfica Stars Fund”. Aquele cómico que representa a “instituição” no programa DIA SEGUINTE costuma dizer que o Fundo pertence ao Benfica. É mentira. A SAD é um investidor entre outros, só lá tem uma participação de 15% em 40 milhões pela qual teve que pagar 6M€. (pág. 65) Nem percebo como “entra” na consolidação. Não é a SAD que o controla nem os 15% obrigam a tal, e a gestão é feita pelo Banco BES e não pela SAD como fazem querer aos incautos. É a ESAF quem avalia e aceita os atletas a integrar no Fundo, que não podem ser vendidos sem o seu aval. Nas contas da SAD deveria ser considerado “investimento financeiro” mas enfim, nas continhas chamam-lhe “associação de interesses económicos” (pág. 66). A 31 de Dezembro estavam lá colocados, melhor dizendo, penhorados 24 atletas no valor de 38,2M€ (pág. 7), sendo que revertem para o Fundo as percentagens que foram “adiantadas”, caso haja alguma transferência. Pormenor importante é que os atletas integrados no Fundo que não forem transaccionados até ao fim da vigência dos seus contratos, constituem perdas de imparidade para o Fundo (na percentagem que tiver adquirido); para a SAD (sobre o preço de compra do atleta), e para os seus investidores, entre os quais o inefável Joe Berardo, Isabel dos Santos, e Jorge Mendes que apanham por tabela.
3 – PROVEITOS OPERACIONAIS – “quotizações no semestre: 5M€”. (pág. 10) Continuo sem perceber como 75% (percentagem que fica para a SAD) do valor das quotas, dos proclamados 220 mil sócios só “rendem” 12 ou 13 milhões/ano. A não ser que muitos se esqueçam de as pagar ou a maior parte sejam sócios daqueles kits da treta que só dão direito a ver 1 ou 2 jogos por ano. Por isso lá dizia o outro: ”há sócios que não são sócios e estão sentados… e há sócios que são sócios e estão de pé”.
4 – IMPARIDADES – “a rubrica de depreciações e perdas de imparidade de atletas regista um crescimento de 13,1%”. Atingiram no semestre 14,4M€. (pág. 12). As imparidades representam a diferença entre o valor de compra dos atletas, e o preço pelo qual são transferidos sempre que o preço da venda é inferior.
5 – PASSIVO – As sub contas mais representativas são: Empréstimos: 254M€ (Passivo Financeiro) (pág. 74), Fornecedores: 43M€ e Outros Credores: 38,2M€. (pág. 24). “O passivo total consolidado do Grupo aumentou cerca de 6,3%” (pág. 14). Faltou sublinhar que já vai nos 403,7M€, o maior de sempre, quintuplicou, em contraste com o apresentado no tempo de Manuel Vilarinho que era de 82M€ mas para o mestre em gestão Domingos Oliveira parece ser normal. (Ver também Credores pág. 87 e seguintes). Afinal “investiram” durante 10 anos mas conseguiram, com a ajuda de alguns amigos, grandes conquistas desportivas: Algarvegate; Campeonato dos Túneis e a Taça Lucílio Batista.
6 – ACTIVO – Vejamos as sub contas mais sonantes do ACTIVO: Activos Tangíveis: 153,7M€ referentes ao valor do Estádio construído com os dinheiros do Euro 2004, e ao Campo de Treinos do Seixal que naturalmente não são vendáveis. Activos Intangíveis: 109,7M€ que representam o valor atribuído ao plantel. Em contraponto acresce que além do plantel do qual poderão vender 2 ou 3 atletas, têm sob contrato mais 41, espalhados aquém e além-mar, que só servem para deitar ao gato, se o gato não for muito exigente. “O valor do activo consolidado da Benfica SAD ascende a 411,3 milhões de euros” (pág. 16). Se “contabilisticamente” existe, na realidade é um número enganador, ninguém vai comprar o estádio ou o campo de treinos, a menos que apareça um Santana Lopes qualquer que lhes “adquira” os terrenos e depois lhos ofereça outra vez, como aconteceu em 2001. Mas isso já é com a CML que como sabemos está falida, com a EPUL, idem, e com o Tribunal de Contas que até já produziu um Acórdão. (2)
Agora o estádio foi “desviado” do clube, para ser “integrado” na SAD, e valorizar artificialmente os activos, a fingir que estão bem de dinheiros! Esta “habilidade” foi muito elogiada pelo associado Bagão Félix considerando “tratar-se de uma solução genial”. Não admira vindo dum colega de MFL a senhora que aceitou como garantia do pagamento de dívidas fiscais e à Segurança Social, uns papéis sem qualquer valor, para evitar que a “instituição” não se pudesse inscrever no campeonato.
Agora o estádio foi “desviado” do clube, para ser “integrado” na SAD, e valorizar artificialmente os activos, a fingir que estão bem de dinheiros! Esta “habilidade” foi muito elogiada pelo associado Bagão Félix considerando “tratar-se de uma solução genial”. Não admira vindo dum colega de MFL a senhora que aceitou como garantia do pagamento de dívidas fiscais e à Segurança Social, uns papéis sem qualquer valor, para evitar que a “instituição” não se pudesse inscrever no campeonato.
7 – OUTROS DEVEDORES – Vejam esta pérola (pág. 74) “o saldo da rubrica de adiantamento a fornecedores de imobilizado está essencialmente influenciado pelos valores adiantados a diversos clubes no âmbito dos contratos celebrados que dão à Benfica SAD um direito de preferência numa futura aquisição de direitos económicos e/ou desportivos de activos intangíveis” (leia-se: de jogadores) Esta “situação” já eu a conhecia (Vitória Guimarães). Daí até imaginar que a colocassem num Relatório e Contas só me sugere um comentário: De facto o clube da treta tem muita lata! Contrata nas vésperas dos encontros, senão no próprio dia, jogadores aos clubes com quem vai jogar, empresta-lhes dinheiro ficando com “preferência” em eventuais contratos, enfim uma situação boa para os amantes da verdade desportiva (ah!ah!ah!) analisar. Isto em Chicago usava-se muito, só falta mesmo “oferecer protecção” para substituir o relvado, limpar os balneários ou aumentar os estádios. Podiam começar pelo Marítimo do senhor Carlos Pereira que parece um campo de concentração
8 – FORNECEDORES – E se vos disser que na sub conta “fornecedores imobilizado títulos a pagar” aparecem lá 5,3M€ em débito ao Atlético de Madrid relativos à compra do Roberto? (pág. 34). O tal que depois, foi vendido a um clube falido, o Saragoça, por 8,5 M€.
9 – GARANTIAS PRESTADAS – Os meus amigos nem imaginam o que por ali vai (pág. 98 a 101). Desde “saldos de contas bancárias” até “penhor sobre todos os bens penhoráveis”, passando por “créditos de contratos com fornecedores”, “patrocínios”, “acções”, “receitas de bilheteira”, “direitos de superfície”, “namimgs”, “bilhetes de época”, “rendas”, “créditos futuros”, “direitos desportivos sobre jogadores”, “quotas”, está tudo hipotecado.
10 – PARECER – Faz parte das Contas, como é normal, o Relatório do Auditor e Revisor Oficial de Contas. A estas entidades compete apenas a “verificação da informação financeira contida nos documentos sobre se é completa, verdadeira, actual, clara, objectiva, lícita e em conformidade com o exigido pela CMVM”. Apenas foi entendido colocarem uma ênfase sobre a não adequação da sociedade ao famoso art. 35 (encontrar-se perdido mais de metade do Capital Social). Mas que diabo! Embora não seja da sua competência, podiam chamar a atenção para os buracos daquelas contas.
É que parecem a face oculta da Lua.
Até para a semana
(1) http://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/PCS37795.pdf
(2) http://www.jn.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1480714
(2) http://www.jn.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1480714
3 comentários:
Boas, costumo apenas ler os títulos mas se algum me intriga, adivinhando a origem ou a razão de ser, vou ler.
Obrigado pela lição de descodificar um R&C, pois sou um leigo e nunca li tal coisa de forma tão simples e objectiva como aqui nos é apresentado.
Além das revelações dignas da Bíblia, coisa que a Imprensa de sarjeta não tem alguém capaz de fazer, ficam as explicações.
Parabéns! E longa vida à Instituição...
Olá Zé Luís
Obrigado por ter comentado. É que, salvo honrosas excepções ninguém liga nada a este assunto e, depois, ficam muito espantados quando lêem que clubes, como por exemplo, o Leixões, Vilanovense, Seixal, Académico do Porto, Amora, Marco, Boavista, Lamas, Salgueiros, etc. atravessam graves dificuldades financeiras, tendo alguns já encerrado, e mesmo da Liga Sagres, como Vitória de Setúbal, Leiria, Beira-Mar, Vitória de Guimarães, Benfica e Sporting.
Se o amigo gosta de analisar as contas, deixo-lhe umas dicas, que pode ver numa crónica que escrevi há cerca de 2 anos, aqui no nosso blogue:
UM BALANÇO QUE FALA POR SI
http://misticaazulebranca.blogspot.com/search?updated-max=2010-03-08T00:00:00Z&max-results=6&start=12&by-date=false
.
Um grande abraço
Bem haja alguém que tenha paciência para ler tal literatura, a mastique e nos dê, a nós leigos, já fácil de digerir ;)
Enviar um comentário