quarta-feira, 25 de abril de 2012

Temos de alterar o Balanço

A frase pertence ao seráfico presidente de um dos circos da 2ª Circular, referindo-se à aproximação do prazo para a aplicação das medidas de controlo financeiro anunciadas pela UEFA, presumivelmente a serem adoptadas a partir da próxima época.

Vejamos, em linhas gerais, do que se trata:

Foi criado pela UEFA um Painel de Controlo Financeiro dos Clubes com o intuito de monitorizar e garantir que os clubes seguem as normas do fair play financeiro. Estas medidas estão a ser implementadas ao longo de um período de três anos, com a avaliação do "equilíbrio" a cobrir os resultados finais dos anos financeiros de 2012 e 2013 a ser feita em 2013/14 a começar com a apreciação por parte do Painel de Controlo Financeiro dos Clubes de todas as transferências e folhas salariais desde o Verão de 2011.

Para o efeito, foi reiterada a necessidade de regulamentação dos gastos dos clubes, para fazer face a alguns sinais preocupantes na modalidade, confirmados recentemente pelos números do relatório de avaliação comparativa de licenciamento, que destaca os problemas das dívidas que atingem muitos clubes, com “metade dos principais emblemas europeus a apresentarem despesas e prejuízos crescentes." Através destas medidas, os clubes ficam obrigados a ter as suas contas equilibradas ou positivas – ou seja, não gastar mais do que ganham – e a agir de forma responsável para ajudar a proteger a viabilidade e sustentabilidade do futebol europeu a longo prazo. Repare-se, por exemplo, que neste final de temporada existem na Liga Sagres, clubes com valor orçamentado de receitas extraordinárias (vendas de jogadores) de 50 milhões de euros, enquanto na mesma competição há clubes com 4 e 5 meses de salários em atraso.

“Precisamos de agir com celeridade”, disse Gianni Infantino secretário-geral da UEFA. As receitas totais do futebol europeu profissional de clubes cresceram dos 12 mil milhões de euros (em 2009) para os 12,8 mil milhões de euros (em 2010). Tal mostra que, do ponto de vista da popularidade, o futebol continua extremamente saudável – as receitas continuam a crescer, num período em que se vive uma situação económica muito complicada em todo o Mundo." "O problema que temos", prosseguiu, é que os custos do futebol de clubes também cresceram, de 13,3 mil milhões de euros (em 2009) para 14,4 mil milhões de euros (em 2010). Cerca de 56 por cento dos clubes do escalão principal reportaram perdas líquidas. Esta é, definitivamente, a última chamada de alerta. Esta tendência tem de ser invertida rapidamente, se queremos salvaguardar o futebol europeu. Todos os anos as receitas tem crescido, mas os gastos têm aumentado igualmente.

Já expliquei noutras crónicas as relações Proveitos/Custos e Activos/Passivos mas, há outro factor muito importante que é o “movimento” das Acções e Obrigações. As Acções são partes do Capital duma Sociedade Anónima onde, como por exemplo num Banco, os Accionistas, possuidores das Acções, têm maior ou menor representatividade nessa Sociedade, consoante o número de Acções que detenham da mesma. As Obrigações são títulos de crédito emitidos por uma Sociedade e depois adquiridos por entidades singulares, empresas, particulares, investidores etc. A subscrição das Obrigações, reveste uma forma de empréstimo dos adquirentes à sociedade emitente durante um período de tempo determinado e, mediante o qual, recebem um Juro pré-estabelecido que normalmente lhes é pago semestralmente. No final do prazo, em regra 3 ou 5 anos, a importância que investiram é restituída ao titular das Obrigações.

Enquanto o Capital Social constitui um bem da Sociedade, as Obrigações são dívida. Um Accionista é um co-proprietário, tem direito aos lucros se os houver, enquanto o Obrigacionista é um credor, recebe o Capital investido mais o Juro. Quanto aos riscos, para os seus titulares, naturalmente as Acções andam na corda bamba, flutuam ao sabor das cotações, enquanto as Obrigações são mais seguras, tem reembolso e uma taxa de juro garantida desde que, obviamente, a entidade emissora tenha solvabilidade na data do seu vencimento.

Então, o que vai ser analisado pela UEFA será o “comportamento” do Clube ou SAD durante os 3 anos, imediatamente anteriores a cada época. Naturalmente que não será através duma inspecção do género Troika, resultará da análise dos Balanços e, muito especialmente da Demonstração de Resultados, ou seja o “resultado da exploração do ano em curso”. Isto é: podem não interessar tanto os números que transitam de épocas passadas mas, aqueles que efectivamente ocorrem no último ano, como se a Sociedade tivesse iniciado e terminado a sua actividade nesses 360 dias.

Tenho noção que a tarefa é demasiado complicada para ser avaliada apenas pelos frios números contabilísticos. O historial do Clube, a credibilidade do seu comportamento perante os Fornecedores, o montante do Passivo Financeiro (dividas à Banca) em função dos Proveitos, o rácio Salários/Custos, a observação dum controlo orçamental rigoroso, bem como a sua exequibilidade, deverão ser factores a ter em conta pela UEFA. Uma SAD com um Passivo galopante que aumenta há 10 anos, como por exemplo a do Benfica, terá que puxar muito pela cabeça para “enganar” os auditores, em relação a outra, como o Braga, que tenha as continhas equilibradas.

“Temos de alterar o Balanço”. Confesso que não compreendo, a menos que a frase seja dita em sentido figurado, género “vamos mudar de vida”, ou “a partir de segunda-feira tenho que deixar de fumar”. Há uma outra hipótese. Talvez quisesse dizer: “temos que alterar o Orçamento”. Vinda de onde vem não me admira nada, o Clube tem azar com os seus presidentes. Uns são incompetentes como Santana Lopes, e José Bettencourt. Alguns serão inábeis como Dias da Cunha e Soares Franco. Outros são vendedores da banha da cobra como Jorge Gonçalves e Godinho Lopes.

Até para a semana

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