quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Estádio Voador

Hoje lembrei-me do Estádio das Antas e de todos os portistas que no dia 28 de Maio de 1952 tiveram a alegria de o ver inaugurado ainda incompleto. Não tinha sido possível construir todo o redondel, ficou em frente à bancada principal uma abertura com uns 60 metros, chamada “Porta da Maratona” que levaria vários anos até ser fechada.
Recordo-me que por cima do estádio ainda passavam suspensas dum cabo, as cestas que transportavam o carvão desde as minas de S. Pedro da Cova com destino à estação de Contumil onde seguiriam para vários destinos. Mesmo junto ao relvado existia uma pista de cinza para o Atletismo, conseguindo-se acrescentar mais tarde uma de ciclismo.
Este Estádio das Antas que tanto nos custou a edificar dava sinais no final do século de ficar desatualizado para receber jogos internacionais face a estádios de outros países com melhores condições. Como a quase totalidade dos terrenos anexos ao estádio era do Futebol Clube do Porto, todos se recordam que por alturas do ano 2000 se começou a pensar na melhoria das infraestruturas desportivas. Com a atribuição ao nosso país do Euro 2004 a Direção resolveu, e bem, erguer o que se viria a chamar Estádio do Dragão no mesmo local onde existia o anterior que afinal tinha resistido 50 anos. Por sugestão do Eng.º Nuno Cardoso, deslocou-se o projeto um pouco mais para Sudeste de forma a aproveitar ao máximo a topografia do terreno.
 
Um destes dias fomos surpreendidos com a convocatória de uma Assembleia-Geral Extraordinária da Sad onde o ponto principal é a aquisição, pela Sad ao Futebol Clube do Porto, de ações representativas de 50% do capital da sua societária EuroAntas. Resumidamente o que se passa é o seguinte: O Futebol Clube do Porto aquando da construção do novo estádio constituiu uma sociedade imobiliária que detém a 100%, denominada EuroAntas. Ao mesmo tempo estabeleceu um protocolo com o FCP/Sad e FCP/Estádio para financiamento, construção, exploração e utilização do Estádio do Dragão.
 
No âmbito deste acordo, a EuroAntas, cedeu à Sad a exploração de diversas atividades do espaço desportivo do mesmo, por um período de 30 anos, na contrapartida dum encargo global anual, uma espécie de leasing com “renda linear”, que tem vindo a ser paga ao longo dos anos. Acontece porém que a Sad, principal societária do Grupo Futebol Clube do Porto, atravessa algumas dificuldades que se tem vindo a agravar nos últimos anos, acumulando Passivo e um desvio negativo do Capital Próprio, o que contraria as atuais recomendações da UEFA no que respeita ao Fair Play Financeiro.
 
Até aqui tudo corria lindamente ninguém se importava com estas minudências, empurrava-se o Passivo para a frente escondido numa teia de sucessivos empréstimos, uns obrigacionistas, outros em papel bancário, e a rusga lá seguia, mais susto, menos tropeção, cantando e rindo alegremente, ajudada por transferências milagrosas (Proveitos Extraordinários) de alguns dos nossos atletas.
Sendo os Proveitos Operacionais os mesmos, e com os Custos sempre a aumentar, o saldo de exploração corrente (aquilo que se faz durante 1 ano) é negativo. Quem segue a vida interna do clube e da Sad já deve ter visto nos Relatório e Contas anuais referências a estes problemas e as soluções possíveis para a sua resolução. Para equilibrar as Contas, e partindo do princípio que a banca já não pode ou quer emprestar dinheiro, “alguém” terá que injetar Capital.
 
Então esta operação a ser aprovada começa com a SAD a adquirir ao Futebol Clube do Porto 50% das ações da EuroAntas ao preço calculado por um avaliador externo de 6,37€ cada, para ficar com o património aumentado em 55M€, (metade da EuroAntas que está avaliada em 110M€). Ou seja aquilo que sempre criticamos ao Benfica. Tirar dum bolso e meter no outro.
 
Todo o articulado deste Ponto 3 da convocatória está suportado com detalhes técnicos sobre a avaliação da EuroAntas, nomeadamente: o Balanço, Demonstrações Financeiras; Valor Liquido dos Ativos, bem como, a fórmula de cálculo atualizado do valor dos terrenos, presumindo-se que todos estes pormenores para a operação estarão de acordo com a lei.
 
A esta hora já os meus amigos estão a colocar as questões óbvias: Onde é que a Sad tem o dinheiro? Nos Acionistas claro! Afinal são eles os donos da Sad. E é isso que vai acontecer. O acionista maior da Sad é o Futebol Clube do Porto, possui um Ativo valioso, o estádio através da sua societária EuroAntas da qual detém 100% do Capital Social, e “quer ajudar”, com uma injeção de Capital na forma de “subscrição de 7.500 Ações preferenciais (a emitir) ao preço de 5€ a fim de aumentar o Ativo da Sad e também o Capital Próprio para valores positivos.
 
E lá está no ponto 4 da Ordem de Trabalhos, “a Direção do Futebol Clube do Porto manifestou à Sad a sua disponibilidade para, sujeito à aprovação pela Assembleia Geral do Futebol Clube do Porto, subscrever esse aumento de capital no mencionado calendário”.
 
Se todos os pontos forem aprovados bem como os da Assembleia-Geral Extraordinária do Clube (ainda sem data) esta vai ser a quinta vez que o nosso palco principal muda de sítio. Do Campo da Rainha para a Constituição, dali para o Campo do Lima, a seguir Estádio das Antas, depois Dragão, e agora parece que vai “voar” do Clube para a SAD!
Até à próxima

1 comentário:

Fernando Tavares disse...

Muito bem explicado.
Todos os adeptos e simpatizantes do FCPorto tem de estar esclarecidos sobre esta e outras matérias que o nosso Lima, ao longo do tempo tem chamado a texto aqui no Mística.
Obrigado Lima, pela explicação de tão importante acontecimento.
ft