domingo, 5 de junho de 2016

Contas à Moda do Porto

Perante os resultados apresentados há uma semana, já era tempo dos sócios começarem a pensar. Se calhar nem reparam como “aquilo” vai subindo… subindo. “Aquilo” é o Passivo claro. Desculpam-se com o Ativo: “estamos safos é maior”. Pois mas não é dinheiro vivo! É “apenas” um valor Contabilístico.
A Televisão das Sopeiras até lhes chama “Dívidas”. Não será bem assim prefiro o termo responsabilidades. Os valores apresentados acima correspondem aos Passivos Totais acumulados até ao 3º Trimestre (1 de Julho de 2015 até 31 de Março de 2016.) Haveria muitas Contas a explorar mas fixemo-nos apenas no Passivo.
 
Vamos explicar devagarinho a ver se os menos habituados a estas andanças entendem. O Passivo engloba várias subcontas como Empréstimos (bancários, ou obrigacionistas); Credores (fornecedores de bens ou serviços); Responsabilidades (aos trabalhadores) pós Emprego; Impostos (diferidos); Provisões (para eventuais encargos judiciais, financeiros, prémios a jogadores, ou eventuais imparidades nos Passes), etc.
 
Conforme os prazos em que esses “compromissos” se venham a verificar estão divididos em dois grandes grupos. O primeiro chama-se Passivo Não Corrente (compromissos a mais de 1 ano por exemplo o que estamos a pagar desde 31 de Março de 2005 até 30 de Setembro de 2018 relativo ao financiamento do Estádio do Dragão); Resgates dos Empréstimos Obrigacionistas na altura do resgate; pagamentos mensais relativos a Empréstimos Bancários; prestações aos Fornecedores pela cedência dos Passes que, normalmente, são diluídos pelo período do contrato, e o segundo grupo, o Passivo Corrente (pagamentos até um 1 ano) que inclui os Empréstimos bancários a Curto Prazo; Empréstimos Obrigacionistas (nas datas de vencimento dos cupões, trimestrais ou semestrais); pequenos Fornecedores e Serviços; Factoring (adiantamento de receitas TV ou dívidas de Clientes); Letras Descontadas, etc.
 
É sobre estes que temos que dirigir a nossa atenção. Se não estiverem devidamente orçamentados (previstos), verifica-se desde logo uma quebra de Tesouraria que nos vai obrigar a novos Empréstimos bancários ou ainda pior, Empréstimos Obrigacionistas que nos vão deixar reféns durante vários meses ou anos. O primeiro EO em 2003 destinou-se a fazer face ao financiamento do Dragão. Daí em diante, foi só tapar buracos, e empurrar cada resgate para a frente com um novo Empréstimo. Já houve seis (abaixo em milhões de Euros) e, ou muito me engano, não tardará a aparecer outro.
No 3º Trimestre desde ano verificamos que o Resultado negativo de quase 40M€ deriva dos Proveitos Operacionais (os decorrentes nesse período) terem diminuído; os Custos terem aumentado; as Transferências com Passes terem baixado; e o Ativo também ter diminuído. Este efeito conjugado provocou um desequilíbrio no Capital Próprio (diferença entre o Ativo e o Passivo) que nesta altura está (como aconteceu durante muito tempo) na chamada falência técnica (sempre que não atinge, pelo menos, 50% do Capital Social).
 
Todos sabemos o que falhou: Falharam os resultados desportivos, os prémios da UEFA e, por arrasto, as receitas de bilheteira, e as receitas televisivas. A talhe de foice convém recordar que o anunciado contrato com a MEO só produz efeitos a partir de 2018 e nem sequer podemos confiar nos seus prazos porque anda por aí uma reguladora que não deixa fazer contratos com prazos superiores a 3 anos. Ainda não vimos um tusto!
Resta dizer que (assim) não há dinheiro para grandes voos a menos que se registe mais um milagre. Os habituais lucros com transferências de jogadores podem estar comprometidos pela necessidade que temos de conservar os melhores e adquirir reforços para alguns lugares. Mesmo a verificar-se um equilíbrio entre os valores das entradas e saídas, as perspetivas para o fecho das Contas a 30 de Junho apontam para o maior prejuízo final dos últimos anos.
 
Até à próxima

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