quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Orçamento ao Fundo

O Decreto-lei nº67/97 de 3 de Abril que legisla a criação das SAD tentou proteger as receitas orçamentais exigindo também uma disciplina empresarial de controlo e fiscalização mais ativa obrigando as sociedades a terem um revisor oficial de contas e auditorias externas. Foi assim uma espécie de Fair Play Financeiro da época.
 
O Futebol Clube do Porto criou a primeira Sad em Portugal, a Sociedade Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD em 5 de Agosto de 1997, com os acionistas fundadores Investiantas – Investimentos Desportivos, Lda 99.997 ações (49.998%); Futebol Clube do Porto 80.000 ações (40%); e Câmara Municipal do Porto 20.000 ações (10%).
 
O motivo do aparecimento destas novas Sociedades é simples de explicar face às dificuldades económicas da maior parte dos clubes. Surgiram como uma espécie de balão de oxigénio que permitiu a entrada de dinheiro fresco mas, infelizmente, viciadas à nascença. Baseiam-se em resultados desportivos, imprevisíveis, o que conduz desde logo à incerteza no sucesso do investimento e à sua pouca liquidez.
 
Mas a moda pegou e os clubes aproveitaram esta forma de gerir o seu negócio. Hoje, com os 3 grandes à cabeça, os resultados estão à vista de todos. Ao fim destes 19 anos, e naquilo que respeita à Primeira Liga, as SAD apresentam-se com resultados catastróficos, falidas tecnicamente, tendo algumas já sido extintas ou tomadas por investidores externos (Salgueiros, Leiria, Beira-Mar, Estoril, Atlético, Belenenses, etc) estando outras em vias de seguirem o mesmo caminho.
 
Pensou-se de início que a criação de uma SAD permitisse um maior controle financeiro e uma diminuição de despesas mas aconteceu precisamente o contrário. No nosso caso com várias societárias paralelas detidas pela SAD, dirigentes principescamente pagos, mais funcionários, número de atletas e instalações em crescendo, aumentaram progressivamente os Custos tornando-se necessário elaborar um Orçamento com o máximo rigor.

Sendo um orçamento uma projeção de Receitas e Despesas das duas uma: ou nele cabem todos os Proveitos e Custos com um mínimo de possibilidade de erros ou então foi feito em cima do joelho e está baseado em castelos de areia (vendas de jogadores, classificações uefeiras, etc). Ultimamente o Conselho de Gestão nem nos Orçamentos acerta.
Para a última época o documento projetou um resultado líquido positivo de 1.8M€. Quanto aos Proveitos aproximaram-se nas Vendas, Bilheteira, Publicidade e Corporate que estarão mais ou menos dentro da média do ano anterior. Na Receita TV também se pode acreditar no valor previsto pois existe o contrato assinado com Joaquim Oliveira. A projeção nos passes foi um desastre. Esqueceram-se que tudo o que se relaciona com transferências (sobretudo nas vendas) é perfeitamente aleatório dependendo de fatores como: a presença da equipa nas competições Uefeiras, a respetiva performance e, sobretudo, os níveis individuais da prestação de cada um dos jogadores que os possam tornar apetecível. Como viemos de vela panda na última época os Proveitos da Uefa diminuíram substancialmente.

No 4º Trimestre (1 de Abril a 30 de Junho 2016) vão apresentar quedas as receitas de bilheteira, as quotizações, a publicidade, e o merchandising. Os prejuízos que vem acumulados dos trimestres anteriores e as prestações das compras a vencerem-se todos os meses ameaçam a Tesouraria. Enfim, o caminho aberto para mais empréstimos, ou quiçá, ir buscar mais uma fatia do Estádio do Dragão ao Clube. Quando lá para Setembro se dignarem publicar as Contas (das quais obviamente já conhecem o resultado) apresentarão o maior desvio desde a constituição da SAD. Vão contando com mais de 50M€ de prejuízo.

Até à próxima

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