segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Truques de Ilusionismo

Os mais antigos devem recordar-se do Circo de Natal no Coliseu e do CONDE DE AGUILAR um mágico que tirava cigarros da boca uns atrás dos outros e fazia desaparecer canários de uma gaiola. No final da sua atuação abria a casaca, mostrava umas faixas com as cores portuguesas e o Tony Dantas gritava impante de orgulho: PALMAS! É UM ARTISTA PORTUGUÊS!
Conde d'Aguilar, nome artístico de Saúl Fernandes de Aguilar (Lisboa, 21 de Janeiro de 1909 - Lisboa, 12 de Fevereiro de 1988). Na juventude Saúl jogou como júnior no Sport Lisboa e Benfica, pois claro, a maior parte dos ilusionistas passou por lá. Em 1926 estreou-se como faquir, e dez anos depois tornou-se mágico, atividade pela qual ficou internacionalmente conhecido. O "Conde d'Aguilar" tinha uma figura muito característica, apresentava-se de casaca, faixa verde e vermelha por cima da camisa, e muitas medalhas na lapela ganhas em concursos internacionais.
 
Hoje vou falar-vos de outro grande ilusionista, também português, de sua graça Nélio Lucas, que entrou no mundo do futebol pela mão do agente israelita Pini Zahavi. Move-se na área do futebol como peixe na água e numa passagem fugaz pelo Beira-Mar em 2003 contribuiu para que o popular clube aveirense desaparecesse da primeira Liga.
Consegue de uma só penada enganar jogadores, diretores desportivos, treinadores, presidentes de clubes, ilustres membros dos Conselhos Fiscais dos clubes e, pasme-se, até os próprios Tribunais como veremos mais adiante! Este auto intitulado CEO, diretor executivo do fundo de investimento Doyen Sports afirma que a sua empresa é "genericamente contra a copropriedade TPO (Third Party Ownership) de passes de jogadores, preferindo o modelo do coinvestimento".
 
“Somos a favor de um modelo TPI” (investimento por parte de terceiros) disse Nélio Lucas num seminário sobre o tema em Madrid. Trocando por miúdos significa que em vez de comparticiparem na compra dos passes como fazem os Fundos de Investimento normais preferem “emprestar” dinheiro aos clubes para que estes façam os seus negócios revertendo mais tarde uma parte (mais valias e juros) de eventuais transferências para a Doyen.
 
Segundo Nélio Lucas os reguladores do futebol como a FIFA e a UEFA estão a criar instrumentos que aumentam a diferença entre os clubes como as leis do fair play financeiro e retiram os poucos instrumentos ao alcance dos clubes mais pobres para que possam competir ao mais alto nível. Mais diz este santinho que “o jogador não faz parte dos nossos contratos nem está sujeito a qualquer tipo de pressão por parte da Doyen", rejeitando também que esta prática contribua para qualquer espécie de interferência nos clubes.
 
Ora aqui é que a porca torce o rabo. É claro que interferem e de que maneira. Não permitem que os clubes façam o seu negócio livremente quando são postos à margem de transferências que considerem pouco vantajosas para a Doyen. Se algum clube sai daquela estratégia já sabe que na primeira oportunidade que precise de um financiamento é posto de lado.
Um exemplo é Geoffrey Kondogbia contratado pelo Sevilha em 2012 por €3M€. O dinheiro veio da Doyen como mostra a investigação Football Leaks, a partir de documentos obtidos pela revista alemã "Der Spiegel", e a Doyen ficou com 50% dos direitos económicos de Kondogbia. Para ter os restantes 50%, o Sevilha prometeu pagar à Doyen €1,65M€, mais prestações de €150 mil ao ano até que o jogador fosse vendido a outro clube. Na prática, o Sevilha obteve um empréstimo de €1,5M€, com juros de 10% ao ano!
 
Este contrato com o Sevilha foi um dos primeiros. No pior dos cenários, se outro clube não adquirisse os direitos de Kondogbia até 2015, a Doyen receberia do Sevilha €3,4M€. Mas não foi isso que aconteceu. Em Agosto de 2013, Kondogbia foi contratado pelo Mónaco, que pagou €20M€, o valor da cláusula de rescisão. A Doyen, que tinha 50% dos direitos, encaixou €10M€ o que deu um lucro de €8,5M€ em apenas um ano: uma rentabilidade do capital investido de 567%, antes de descontadas as comissões.
Em julho de 2012, aconteceu um caso semelhante com o Sporting. Contrataram o futebolista argentino Marcos Rojo ao Spartak de Moscovo, por €4M€. Desse valor, €3M€ foram financiados pela Doyen, que ficou com 75% dos direitos económicos do jogador. Em agosto de 2014, o Sporting não quis saber do contrato e vendeu os direitos de Marcos Rojo ao Manchester United por €20M€. Descontando €4M€ para o antigo clube de Rojo, o Spartak, caberia à Doyen €12M€ o que dava um lucro de €9M€, ou 300%, em apenas dois anos. Só que o Sporting decidiu rasgar o contrato e apenas restituir ao fundo os €3M€ investidos em 2013. 
 
Claro que o fundo processou o clube na Suíça, e um acórdão de Dezembro de 2015 deu razão à empresa, condenando o Sporting a pagar os €12M€. Mesmo assim, o Sporting para ganhar tempo, recorreu para o Supremo Tribunal da Suíça, argumentando que a sentença “obriga os leões a pagar juros usurários e valida contratos que violam direitos fundamentais dos jogadores”. Contudo o Supremo acha “que um contrato é um contrato” e confirmou a sentença de primeira instância condenando o clube a pagar à Doyen os €12M€ mais juros. O honorável Tribunal Suíço não considerou o argumento dos Calimeros que considerava o contrato “excessivo e com cláusulas leoninas.”
 
Se o Conde de Aguilar ainda estivesse entre nós devia rir-se destes novos ilusionistas! 
 
Até à próxima e BOAS ILUSÕES

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