terça-feira, 4 de abril de 2017

A Subjetividade Objetiva

“Cada juiz cada sentença” pode ser a partir de agora um novo provérbio. Vem isto a propósito da mudança de classificação do ilícito cometido por Bruno de Carvalho e Octávio Machado por declarações proferidas aos pasquins, passando estas de “infrações leves” para “infrações graves”. 
 
Já noutra altura (24 de Fevereiro), na sequência do alegado comportamento do presidente do Sporting para com um elemento da equipa técnica do Gil Vicente, no final do jogo entre ambas as equipas, em Alvalade, o líder leonino foi suspenso por um mês, por "lesar a honra e a reputação de agentes desportivos", sendo ainda obrigado a pagar uma multa de 765 euros.
 
Agora, praticamente um ano depois, o TAS acaba por dar razão a Bruno de Carvalho, que logo à data dos acontecimentos tinha prometido recorrer da decisão do CD da FPF. O organismo com sede em Lausanne, na Suíça, revogou "a decisão recorrida, sancionando o recorrente [Bruno de Carvalho] com base no disposto do artigo 141.º do Regulamento Disciplinar da Liga", ou seja, considerando que o comportamento do dirigente deveria ter sido analisado nos termos do capítulo "Infrações Disciplinares Leves" do Regulamento de Disciplina.
 
Enquanto isso a Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga classificou os agora apontados a Bruno e Octávio como “lesão de honra e reputação”. A decisão resulta de uma queixa apresentada pelo Benfica depois de uma derrota no dérbi para a Taça de Portugal, em novembro de 2015. O Benfica denunciou declarações e condutas públicas impróprias destes dirigentes alegando “abuso de influência e coação sobre os árbitros.”
Veja-se a “gravidade” das declarações de Bruno de Carvalho.
 
1 - A 15 de Janeiro de 2016, após o final do Sporting-Tondela, visando Vítor Pereira, então presidente do Conselho de Arbitragem: "Os jogos não se jogam dentro das quatro linhas"; "Gosto pouco de estar a brincar ao futebol. O Senhor Vítor Pereira já ultrapassou todos os limites do ridículo".
 
2 - Também a 15 de Janeiro de 2016, através da sua página de Facebook: "Inacreditável... A pressão aos árbitros já mete nojo! Querem provocar o pânico aos árbitros nos jogos que arbitram do Sporting e ainda passar a mensagem que os jogadores do Sporting têm de estar a ser sempre punidos. Vítor Pereira já não perdeu só o bom senso a nomear, já perdeu toda a noção do ridículo!".
 
3 - A 23 de Janeiro de 2016, num artigo de opinião na BOLHA: "Tem sido evidente, não posso deixar de salientar, a falta de critério e bom senso em muitas nomeações este ano, nunca sendo de atribuir a culpa aos árbitros porque estes apenas são nomeados. Tem sido claro que após conflitos públicos existentes entre a instituição Sporting e alguns árbitros, no que diz respeito à sua atuação menos positiva, os mesmos têm sido constantemente escolhidos para arbitrar jogos do Sporting numa perfeita afronta ao clube e num total desrespeito com a própria defesa do respetivo árbitro"; "Significa apenas o total desnorte e falta de bom senso daquele que devia decidir em prol do futebol e da classe dos árbitros: Vítor Pereira". "São exemplos e factos concretos de que o futebol continua a ser jogado fora das quatro linhas, de que a forma como é feito já nem sequer é velada".
Ou seja: Bruno de Carvalho “objetivamente” tentou explicar a estes burros o que qualquer espetador com bom senso conhece há vários anos. O poder de Vítor Pereira, eleito em listas separadas fez com que o Circo da Luz, na questão das nomeações, fosse sempre beneficiado com árbitros próximos da sua cor, sempre em detrimento dos seus rivais diretos, Sporting e FC do Porto.
 
Enquanto isso o Conselho de Disciplina da FPF “subjetivamente” acha que o senhor Vítor Pereira, tadinho, “não teve um comportamento ridículo ao beneficiar apenas um dos clubes” e, pasme-se, “foi lesado na sua honra e reputação”! Mas qual “honra e reputação” qual carapuça! O Sporting e o FC do Porto deviam era instaurar-lhe um processo cível por “perdas e danos” resultante das suas habilidades como tratador de cãezinhos amestrados que valeram, para já, 3 títulos ao clube da treta.
Ainda não me esqueci que Vítor Pereira foi utilizado como moeda de troca para permitir a Fernando Gomes alcandorar-se ao mais alto cargo da FPF. Uma troca de favores ou seja: o clube da treta apoiou a candidatura de Fernando Gomes com a promessa de Vítor Pereira ficar por lá sem ninguém hierarquicamente superior para poder controlar à sua vontade as suas nomeações. E que bem que ele o fez! Os árbitros que eventualmente não tivessem o clube da treta como “o seu clube” foram todos de vela, ficando por lá a ajudar à roubalheira Duarte Gomes, João Ferreira, Bruno Paixão, Carlos Xistra, João Capela, Manuel Mota, etc. com algumas promessas de aviário a rechear o bolo. Só falta mesmo sabermos para que cargo será “convidado” Vítor Pereira pelos bons serviços prestados ao clube da treta.
 
Curiosamente depois desta entrevista na TVI onde Bruno de Carvalho se defendeu com a “objetividade das suas observações” foi alvo de novo processo disciplinar por parte do Conselho de Disciplina. A decisão foi comunicada através de uma nota publicada no sítio da Federação Portuguesa de Futebol e assinada pelo seu presidente José Manuel Meirim, um reconhecido benfiquista. Novamente a “subjetividade” do censor ficou a ganhar.
Como, no meu entendimento, uma sanção desportiva não poderá nunca sobrepor-se à liberdade constitucional de um cidadão se expressar livremente vamos ver os recursos surgir em catadupa. Quando chegarem ao Tribunal Arbitral recheado até ao teto de benfiquistas (foi para isso que foi criado) quero ver como se vão desenvencilhar desta anedota.
 
Refira-se que as mesmas declarações e comentários de Bruno de Carvalho poderiam (e deveriam) ter sido feitas pelos dirigentes da nossa SAD visto que o FC do Porto está há vários anos numa situação idêntica ao clube de Alvalade. Repare-se nesta temporada em quantos jogos fomos prejudicados pelas arbitragens e tirem-se conclusões. Andamos há 3 épocas a ser “objetivamente” gamados mas atiramos o problema para trás das costas.
 
Até à próxima

Sem comentários: