Caro Jesualdo
Começo por deixar claro que em sítio algum desta carta me dirigirei a ti como “Professor”. Não o farei porque sei que muitos dos que ao longo dos anos te trataram por esse nome fizeram-no num tom jocoso, como que referindo-se ao Professor de Educação Física que ao mesmo tempo tem a mania que é “Teórico”. Foi preciso chegares ao Dragão para encontrares um habitat onde pudesses explanar o teu conhecimento e concretiza-lo em vitórias - as mesmas que te escaparam durante tantos anos. Aguentaste firme e deste o peito ás balas aquando do obrigatório silêncio do Presidente Portista no apogeu do “Apito Dourado”, e perante as dúvidas da imprensa ou mesmo dos adeptos Portistas – fosse porque não te reconheciam méritos ou porque não esqueciam o teu passado Benfiquista. Limaste progressivamente o teu discurso à medida que te mentalizaste do Clube onde estavas (e o que ele significava) e assim fizeste-te respeitar. Passaste de ser “o Professor” para o “Jesualdo”, e nos últimos três anos ofereceste-nos também várias tardes e noites de bom Futebol; sempre com um cunho bastante pessoal. Isso não esqueço.
Admito que temos um fraquinho especial para os discursos ambiciosos e noutras vezes caímos para os discursos de confronto e um bocadinho incendiários; Já para ouvir desculpas simplesmente não prestamos e não há nada a fazer em relação a isso, e essa incapacidade é, aliás, uma das razões pelas quais nos orgulhamos de ser Portistas. Assim, é agradável ver como os 4 anos de casa fizeram com que interiorizasses isto de tal maneira que, agora que a equipa não dá uma para a caixa, as tuas aparições nas Flash Interviews estão a tornar-se como que um Acto de Contrição em sucessivos capítulos, pois já sabes que não te podes desculpar mas também não tens outros alvos aonde apontar. Noutros jogos, em temporadas anteriores, quando a equipa tinha índices de rendimento tão fracos como neste jogo com o Marítimo (não estou certo que isso tenha acontecido…) era ver-te no final a rogar pragas pela atitude dos jogadores e a deixar claro que tal “não se repetiria”.
Desta vez não fizeste nada disso, e só quem não viu o jogo na Madeira pode ter ficado surpreendido: os jogadores não podem com a alma, quanto mais pedir-lhes que joguem com intensidade e/ou qualidade. Acrescente-se a isso o facto de todos os jogos termos uma média de 5/6 jogadores impedidos de jogar devido a lesão (por entre “supostos” titulares e “supostos” suplentes) e de o nosso meio-campo estar em plena pré-época (com a excepção do Fernando, mas mesmo ele não se vai aguentar muito mais tempo naquele Caos). Tudo somado, é pacífico afirmar que se a equipa neste momento não dá mais é mesmo porque não pode.
Mas tu sabes melhor que todos que tem de poder, e se eu fosse a ti encarava esta nova paragem no Campeonato sob uma nova perspectiva: em vez de te queixares por perderes muitos dos titulares e assim não poderes “afinar processos de jogo” (desculpa, mas mesmo quando os tiveste a todos nem por isso melhoraram o entendimento entre eles) devias antes reflectir sobre o modo como queres que eles joguem e o sistema em que o deverão fazer. Não é que o teu 4-3-3 seja mau, acontece é que a equipa não apresenta forma física ou mental para suporta-lo – pois é de manual que para se jogar em “transições rápidas” há que ser rápido de raciocínio e de pernas, e neste momento estamos penosamente lentos, imprecisos e previsíveis.
Já sabíamos que, perdido Lucho González (sobretudo este), não seria fácil dar com a tecla certa do Bom Futebol, mas a ideia que passa (e esta sim, é “A” crítica que eu te faço) é que em vez de procurares a tecla certa continuas a carregar na errada na esperança que esta funcione. Talvez seja o momento de escutares menos a voz da tua consciência e passares a ouvir a voz da razão…ou em alternativa acordares para o desespero do Belluschi e do Raul Meireles – um porque pede a gritos que o libertes para zonas mais adiantadas no terreno e o outro porque precisa urgentemente de parar para recuperar em condições sob pena de continuar a fazer todos os jogos como uma alma penada.
Uma vez que este ano o nosso principal Rival aparenta ter reentrado nos eixos e saca goleadas nos quatro cantos do País é normal que nos aches um bocadinho mais nervosos e impacientes, e embora tenhamos razões para isso eu aqui tenho mesmo de pedir-te que nos ignores, e explico-me: o grande erro do Benfica nas últimas décadas foi precisamente a pressa em querer fazer as coisas - sem nunca apostar na estabilidade e no trabalho faseado – e que se traduziu em anos de eternos “recomeços” que nunca os levaram a parte alguma. Aprendamos com os erros dos outros.
Nenhum clube pode ganhar sempre e é ingénuo pensarmos que podemos criar equipas campeãs ano sim, ano sim. Podemos é (temos de!) exigir-te “resultados”, e este ano essa palavra poderá não passar tanto por títulos como pela construção e consolidação de uma equipa nova (sim, também temos olhos para ver que o Porto tem um plantel bastante jovem), preparada para voltar a dominar. Acredita-me! Se nos mostrares que estás realmente a construir algo de novo e que a equipa está realmente a “crescer”, como tanto gostas de repetir, ser-nos-á a nós muito mais fácil de aceitar e ultrapassar esta fase difícil. Palavra de Adepto.”
Começo por deixar claro que em sítio algum desta carta me dirigirei a ti como “Professor”. Não o farei porque sei que muitos dos que ao longo dos anos te trataram por esse nome fizeram-no num tom jocoso, como que referindo-se ao Professor de Educação Física que ao mesmo tempo tem a mania que é “Teórico”. Foi preciso chegares ao Dragão para encontrares um habitat onde pudesses explanar o teu conhecimento e concretiza-lo em vitórias - as mesmas que te escaparam durante tantos anos. Aguentaste firme e deste o peito ás balas aquando do obrigatório silêncio do Presidente Portista no apogeu do “Apito Dourado”, e perante as dúvidas da imprensa ou mesmo dos adeptos Portistas – fosse porque não te reconheciam méritos ou porque não esqueciam o teu passado Benfiquista. Limaste progressivamente o teu discurso à medida que te mentalizaste do Clube onde estavas (e o que ele significava) e assim fizeste-te respeitar. Passaste de ser “o Professor” para o “Jesualdo”, e nos últimos três anos ofereceste-nos também várias tardes e noites de bom Futebol; sempre com um cunho bastante pessoal. Isso não esqueço.
Posto isto, como devo eu, jovem Portista, com o Ego do tamanho do mundo e a Barriga cheia de Títulos (mas nunca satisfeito..) encarar o actual momento que a equipa atravessa. Pedia-te ajuda, pois, para compreender tudo o que se está a passar, certo de que me ajudarás.
É que quando um Treinador “aterra” neste clube, uma das primeiras coisas que aprende desde bem cedo é que não vale a pena tomar-nos (aos adeptos) por lorpas. Quando as coisas não correm como o desejado, os exercícios de retórica nas conferências de imprensa podem surtir maior ou menor efeito, consoante o clube em questão…mas a questão é que neste clube pura e simplesmente eles não surtem qualquer efeito, porque não temos o mínimo de disposição para os ouvir!Admito que temos um fraquinho especial para os discursos ambiciosos e noutras vezes caímos para os discursos de confronto e um bocadinho incendiários; Já para ouvir desculpas simplesmente não prestamos e não há nada a fazer em relação a isso, e essa incapacidade é, aliás, uma das razões pelas quais nos orgulhamos de ser Portistas. Assim, é agradável ver como os 4 anos de casa fizeram com que interiorizasses isto de tal maneira que, agora que a equipa não dá uma para a caixa, as tuas aparições nas Flash Interviews estão a tornar-se como que um Acto de Contrição em sucessivos capítulos, pois já sabes que não te podes desculpar mas também não tens outros alvos aonde apontar. Noutros jogos, em temporadas anteriores, quando a equipa tinha índices de rendimento tão fracos como neste jogo com o Marítimo (não estou certo que isso tenha acontecido…) era ver-te no final a rogar pragas pela atitude dos jogadores e a deixar claro que tal “não se repetiria”.
Desta vez não fizeste nada disso, e só quem não viu o jogo na Madeira pode ter ficado surpreendido: os jogadores não podem com a alma, quanto mais pedir-lhes que joguem com intensidade e/ou qualidade. Acrescente-se a isso o facto de todos os jogos termos uma média de 5/6 jogadores impedidos de jogar devido a lesão (por entre “supostos” titulares e “supostos” suplentes) e de o nosso meio-campo estar em plena pré-época (com a excepção do Fernando, mas mesmo ele não se vai aguentar muito mais tempo naquele Caos). Tudo somado, é pacífico afirmar que se a equipa neste momento não dá mais é mesmo porque não pode.
Mas tu sabes melhor que todos que tem de poder, e se eu fosse a ti encarava esta nova paragem no Campeonato sob uma nova perspectiva: em vez de te queixares por perderes muitos dos titulares e assim não poderes “afinar processos de jogo” (desculpa, mas mesmo quando os tiveste a todos nem por isso melhoraram o entendimento entre eles) devias antes reflectir sobre o modo como queres que eles joguem e o sistema em que o deverão fazer. Não é que o teu 4-3-3 seja mau, acontece é que a equipa não apresenta forma física ou mental para suporta-lo – pois é de manual que para se jogar em “transições rápidas” há que ser rápido de raciocínio e de pernas, e neste momento estamos penosamente lentos, imprecisos e previsíveis.
Já sabíamos que, perdido Lucho González (sobretudo este), não seria fácil dar com a tecla certa do Bom Futebol, mas a ideia que passa (e esta sim, é “A” crítica que eu te faço) é que em vez de procurares a tecla certa continuas a carregar na errada na esperança que esta funcione. Talvez seja o momento de escutares menos a voz da tua consciência e passares a ouvir a voz da razão…ou em alternativa acordares para o desespero do Belluschi e do Raul Meireles – um porque pede a gritos que o libertes para zonas mais adiantadas no terreno e o outro porque precisa urgentemente de parar para recuperar em condições sob pena de continuar a fazer todos os jogos como uma alma penada.
Uma vez que este ano o nosso principal Rival aparenta ter reentrado nos eixos e saca goleadas nos quatro cantos do País é normal que nos aches um bocadinho mais nervosos e impacientes, e embora tenhamos razões para isso eu aqui tenho mesmo de pedir-te que nos ignores, e explico-me: o grande erro do Benfica nas últimas décadas foi precisamente a pressa em querer fazer as coisas - sem nunca apostar na estabilidade e no trabalho faseado – e que se traduziu em anos de eternos “recomeços” que nunca os levaram a parte alguma. Aprendamos com os erros dos outros.
Nenhum clube pode ganhar sempre e é ingénuo pensarmos que podemos criar equipas campeãs ano sim, ano sim. Podemos é (temos de!) exigir-te “resultados”, e este ano essa palavra poderá não passar tanto por títulos como pela construção e consolidação de uma equipa nova (sim, também temos olhos para ver que o Porto tem um plantel bastante jovem), preparada para voltar a dominar. Acredita-me! Se nos mostrares que estás realmente a construir algo de novo e que a equipa está realmente a “crescer”, como tanto gostas de repetir, ser-nos-á a nós muito mais fácil de aceitar e ultrapassar esta fase difícil. Palavra de Adepto.”
2 comentários:
"nos últimos três anos ofereceste-nos também várias tardes e noites de bom Futebol"
lololol este adepto pelo que diz nesta frase e neste post não deve ser de cá..deve tar a falar doutro clube e doutro treinador, só pode!!
enfim..vejo que ainda há crentes que ingenuamente pensam que jesualdo é treinador com nivel para o Porto!
Saudações
Fredy, não só te asseguro que sou de "cá" como também te asseguro que a minha frase não era para ser levada em tom irónico.
É uma simples constatação: Jesualdo não é nem nunca será um profeta do "Belo Futebol", como um Arséne Wenger, para dar um exemplo; mas a verdade é que sob o Consulado de Jesualdo Ferreira houve várias exibições de optimo nível - sobretudo em jogos da Champions, quer no Dragão, quer fora de Portas (podíamos falar do Manchester a época passada mas ouve mais...bem mais).
A consideração sobre o Jesualdo ser ou não "um Treinador de nível para o Porto" mereceria vários artigos aparte.
Contudo, gostava que me desses a tua definição de "Treinador de nível para o Porto".
Cumprimentos
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