sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pensamentos de um Mito (XXII) – E que tal meter uma Lança em África?

A poucos dias do arranque do Campeonato do Mundo e terminados os jogos de preparação, a ansiedade de atletas e adeptos subirá em espiral até ao pontapé de saída. Ainda bem que assim é, pois Futebol sem emoção não é nada, e nas próximas semanas, paralelamente ao que se passar nos relvados Sul-africanos, vai-se jogar com as emoções de milhões de pessoas em todo o mundo, unidas na paixão mas tão diferentes entre si.

Uns, Brasileiros, nem saberão bem o significado da palavra nervosismo, pois por cultura e predisposição irão festejar e sambar antes, durante e depois dos jogos do “Escrete”. O resultado e a exibição da sua equipa virão sempre depois.

Outros, Alemães, estão-se a borrifar para a praga de lesões que afastou do torneio quase metade da equipa que vinha sendo titular (Ballack incluído!), pois por mentalidade e responsabilidade sabem que SÃO a Alemanha, e é impossível não os considerar.

Os Italianos defendem o título mundial… mas praticamente só no papel, pois não me recordo de uma equipa Italiana tão pouco favorita como esta. Jogadores importantes na campanha de 2006 estão ausentes/afastados (o que até poderia ser aceitável dada a idade de alguns) e não chegou ninguém com o talento para os substituir. Considero-os o maior ponto de interrogação da prova.

Os Espanhóis vão, por uma vez, com uma fé na vitória condizente com o estatuto de favoritos com que durante tantas décadas se auto-atribuíram (fosse realista ou não). Têm jogadores de Top Mundial em todas as linhas e um modelo de jogo elogiado e consolidado, sobrando apenas uma dúvida: Como vão lidar com o (real) estatuto de favoritos?

Os Argentinos, pese todas as dúvidas (legítimas) em torno do seu Seleccionador, possuem no sector atacante um arsenal sem paralelo em qualquer outra Selecção. E depois há Messi…e eles sabem-no.

E Portugal? Sinceramente, apesar do Ranking da FIFA nos colocar terceiros, creio que quase ninguém conta connosco. Ronaldo? Pois, aí é que reside a diferença: O mundo olha para Ronaldo, não para Portugal, e isso só pode jogar a nosso favor. Deco está esquecido; Nani e Bosingwa - bem conhecidos pelas suas actuações na Premier League - estão ausentes; jogadores como Liedson e Danny são praticamente desconhecidos do grande público.
Mas a realidade é que a dupla de centrais está forte, as laterais estão bem cobertas (Fábio Coentrão é uma adição fabulosa, e na ausência de Bosingwa será ele o nosso lateral ofensivo), Pedro Mendes está concentrado e Deco e Raul Meireles estão frescos como uma alface - depois de uma temporada em que ambos se debateram com problemas físicos. Todos eles podem surpreender.

Ronaldo merece uma análise mais profunda e cuidada. Reduzi-la ao já clássico “..ele joga que se farta nos clubes e na Selecção é o que se vê..” é pura preguiça mental e demonstra um completo desinteresse em perceber as causas. Ronaldo nunca teve na Selecção uma “entourage” como a que possuía no Manchester e possui agora no Real Madrid (Quiçá no Euro2004, mas aí os líderes eram outros, e ele próprio (ainda) não era o jogador que é hoje). À semelhança do que acontece com Messi (quando passa do Barcelona para a sua Selecção), os automatismos são outros, a qualidade de (alguns) dos jogadores que tem ao seu lado é inferior, e a própria mentalidade com que se aborda um jogo é diferente. Manchester, Barcelona e Real Madrid pertencem ao clube restrito de clubes que ocupam o patamar máximo na modalidade. Existe um ou outro ao mesmo nível, mas seguramente ninguém acima deles, e isso pesa (de uma forma positiva) nos seus atletas.

Já Portugal situa-se no segundo patamar, abaixo de Selecções Históricas como Brasil, Itália ou Argentina. São camisolas carregadas com o peso da história e quem pensar que isso não conta vive iludido. Reparem na Alemanha, que apesar de nos últimos torneios ter apresentado equipas sem brilho e sem um único jogador de nível superlativo (Oliver Kahn terá sido o último, mas já no ocaso da carreira) conseguiram chegar a uma final de Mundial e a outra de Europeu.

Todos os que privam ou privaram com Ronaldo – todos - descrevem-no como um tremendo profissional e um exemplo de esforço e dedicação. Pensar que alguém como ele não se “esforça” na Selecção é – plagiando José Mourinho – Prostituição Intelectual. Aparte dos factores acima referidos, creio que Ronaldo se prejudica por querer fazer tudo sozinho e depressa demais, num misto de auto-responsabilização exacerbada e egoísmo (natural no seu jogo). Creio que se o nosso CR7 conseguir marcar frente à Costa do Marfim irá serenar o suficiente para finalmente explodir num grande torneio (parece contra-senso mas é mesmo assim).

Sou só um adepto, como todos vocês, mas não o escondo: Acredito muito nesta Selecção, e acredito também que, uma vez chegados aos oitavos de final (a meta lógica e exigível) tudo será possível. Este Mundial é perfeito para que haja um vencedor inédito. Porque não nós? Possuímos uma boa equipa, assim como um Seleccionador ao qual - pese todas as críticas que a imprensa, os adeptos em geral (e eu próprio neste espaço) lhe dirigiram - se reconhece inteligência e bom senso.

Na sua longa História, Portugal, além de ter dado novos mundos ao mundo, também deu ao Futebol equipas talentosas e alguns dos seus melhores intérpretes. Que tal metermos uma lança em África?

2 comentários:

JOSE LIMA disse...

Caro Mito
O meu amigo não é "só um adepto", é um excelente comentador e analisa muito bem a situação.
Oxalá entremos com o tal pé direito.
Abraço

Mito disse...

Caro José Lima, antes de mais um agradecimento pelo seu comentário.
Penso que a nossa Selecção tem realmente reunidas as condições para fazer uma boa prova, pese embora o "espectro" de apanharmos os Espanhóis nos Oitavos.
Há uma outra Selecção da qual poucos falam mas que eu vejo com uma capacidade tremenda....a Inglaterra, e todos sabemos como Fabio Capello não brinca em serviço.
Mas que seja o nosso Mundial!
Saudações Desportivas