Arrancou a nova temporada, e o F.C.Porto, no seguimento de um dos anos mais memoráveis da sua história - tanto pelo número de títulos conquistados como pelo futebol praticado - terá pela frente a mais difícil das tarefas: após tudo (e todos) conquistar, continuar a faze-lo a um nível superior, sabendo que perdeu 2 dos principais pilares (o Treinador e o seu Goleador) e que pela frente terá adversários mais difíceis tanto a nível interno – com Sporting e Benfica (sobretudo este) a rearmarem-se – como na Europa….Champions é Champions e não permite comparações com nenhuma outra competição.
Considero que o F.C.Porto lidou de forma exemplar com a questão da substituição de André Vilas Boas. Fez tudo o que podia para segura-lo, não deixando de antecipar a saída do mesmo, e o resultado foi que o tempo que Vilas Boas demorou a “pagar” a sua cláusula e fazer as malas para Londres foi o tempo que Pinto da Costa demorou a chamar Vítor Pereira à sala de imprensa e apresenta-lo. Não houve tempo para rumores, teorias ou conjunturas, e no caminho a continuidade ficou assegurada (uma continuidade e um trabalho que já vêm de Jesualdo Ferreira, como o próprio Vilas Boas reconheceu mais de uma vez). Depois, fez aquilo que faz a todos os seus Treinadores; usando a estrutura do clube para apoia-los na exacta medida que o necessitarem. Comparem o Vítor Pereira ansioso, até desconfortável, do dia da sua apresentação, com o Treinador seguro e confiante que se apresentou aos jornalistas após o jogo da Supertaça Europeia. Jogo esse, aliás, que constituiu a sua primeira prova de fogo (e que prova!), e da qual considero que passou com uma óptima nota; a equipa apresentou uma excelente atitude em campo, muito bem organizada e com a lição de como enfrentar o Barcelona muito bem estudada, sendo de destacar a forma como colocámos o ataque catalão em fora-de-jogo uma e outra vez (aqui já se vê o cunho pessoal de Vítor Pereira, fazendo o upgrade da pressão alta de Vilas Boas).
Contudo, o jogo da Supertaça Europeia também centrou o foco das atenções sobre uma outra questão: a da substituição de Radamel Falcão, e sobre o Jogador chamado a faze-lo: Kléber.
Acho que, tal como aconteceu há 2 anos aquando da partida de Lisandro, o mais importante é não procurar no recém-chegado os traços do seu antecessor. Falcão foi visto durante algum tempo com desconfiança (mais tempo do que muitos agora poderão admitir) apesar de ter chegado ao Porto com um Currículo de respeito ao serviço do River Plate e sendo já um jogador feito. No Porto tirou o Doutoramento. Já Kléber chega com a Licenciatura ainda por concluir, sendo que todos os clubes que representou até ao momento não o prepararam para a realidade competitiva da Elite Europeia. Concentrando-nos no jogador em si, parece-me pacífico dizer que salta à vista que mora ali um excelente avançado, rápido (muito mais do que se poderia supor dada a sua estatura) e bom tecnicamente, mas é claramente um projecto ainda por concluir, faltando-lhe agressividade na disputa dos lances e a capacidade para aplicar as suas qualidades na procura do bem essencial para qualquer avançado (e equipa) – o Golo. Quando se falou que o F.C.Porto procurava mais um avançado, só me surgia um nome na cabeça: Diego Forlán, pois preenchia os 2 requisitos que considerava essenciais: Um avançado de qualidade contrastada, capaz de entrar imediatamente na equipa para ser titular, mas também já experiente e conhecedor do Futebol Europeu ao mais alto nível….um jogador ao lado do qual Kléber pudesse crescer a todos os níveis, aliviando-o também do fardo de ter de ser, no imediato, o Goleador da equipa, a quem tudo é (naturalmente) exigido. Na próxima temporada, mais maduro, Kléber já poderia ser tudo o que dele esperamos.
Mas as coisas não seguiram este rumo e o clube, não se querendo precipitar, decidiu ficar apenas com Kléber (havendo ainda Walter, que não acredito ser uma carta fora do baralho), depositando nele todas as suas esperanças (e as nossas). Poderá ele tornar-se o 9 que necessitamos? Já esta Temporada? Sim, pode. Mas para isso necessitará de tempo, e numa equipa da dimensão do F.C.Porto esse é um bem demasiado precioso, apenas disponibilizado quando (e se) se ganha ininterruptamente, e isto é tão verdade para os jogadores como para as equipas em formação (tanto o Porto de Mourinho como o de Vilas Boas “construíram-se” na temporada de estreia porque em ambos os casos as contínuas vitórias alicerçaram o crescimento da equipa, sendo que também em ambos os casos beneficiaram do menor nível de exigência da Taça Uefa/Liga Europa (comparativamente à Champions, entenda-se). Ora, poderá o Porto ganhar “ininterruptamente” tendo Kléber a 9 titular? Esta é a questão que apenas o futuro poderá responder. A verdade é que no Porto o tempo parece correr mais depressa do que noutros clubes (veja-se a “formação-relâmpago” de Vitór Pereira a nível emocional e comportamental como Treinador do Porto, desde que chegou), e ainda bem!
Gostaria de, enquanto adepto que gosta de bom futebol, aproveitar este espaço para dar as boas vindas a Axel Witsel. Independentemente de ter vindo reforçar um clube rival, é essencial que jogadores com a sua qualidade continuem a vir para o futebol Português. Depois de Lucho González, o nosso campeonato volta a receber um médio de nível internacional capaz de influir no jogo a um nível superior a qualquer um dos outros jogadores em campo. Apenas uma diferença: enquanto Lucho transpirava classe e serenidade os 90 minutos (serenando com isso a sua equipa) e possuía uma capacidade de último passe anormal, Witsel possui uma capacidade de resistência não menos anormal que lhe permite estar em todo o lado (que a equipa necessita…lá está) durante os 90m (e com isso mantém os seus colegas sempre ligados à corrente). Este jogador é também um exemplo que felizmente poderemos observar de perto de algo que já se vinha percebendo: após quase duas décadas na escuridão, o Futebol Belga renovou-se e rearmou-se. Num país que nos deu jogadores como Jean Marie Pfaff, Michel Preud’homme, Eric Gerets, Ceulemans ou Scifo, este regresso dos Diables Rouges é uma excelente notícia para o futebol Europeu.
Ricardo Carvalho foi e é um dos mais extraordinários Centrais/Liberos Portugueses de sempre. A sua qualidade tornou-o uma referência mundial e permitiu-lhe usufruir de um estatuto ao alcance de muitos poucos jogadores. Ora, um jogador com a sua qualidade, estatuto e experiência não pode pegar neles e utiliza-los como se fossem armas de arremesso ou (como aconteceu neste caso) como pretexto ou desculpa para certo tipo de atitudes. Ricardo Carvalho estava no seu pleno direito em considerar que estava em melhores condições que o seu colega para ser titular frente ao Chipre, mas tudo tem hora e local para acontecer. Se efectivamente discordava das opções do seu Seleccionador esperava pelo final da concentração para lho fazer saber. Deixar a equipa em vésperas de um compromisso e logo de seguida anunciar que abandona a Selecção foi demasiado mau para todos...mas sobretudo para o próprio, que pode até ainda não se ter apercebido, mas marcou o maior auto-golo da sua carreira. Prefiro pensar que todos temos dias (muito) maus…até Ricardo Carvalho.
Saudações Azuis e Brancas.
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