sábado, 11 de fevereiro de 2012

Jogadores de Formação ou de Importação?

Está muito na moda dizer-se que os clubes não apostam na “formação” e recorrem cada vez mais a contratos com jogadores estrangeiros. É uma grande falácia. Basta vermos as 24 equipas que disputam o Campeonato Nacional de Juniores-A (os Sub-19) em duas séries, Norte e Sul, com uma média de 25 jogadores por plantel, totalizam 600 atletas. Depois temos os Sub-17, Sub-15 e por aí abaixo com várias equipas em cada escalão, com números, assim por alto, a rondar os 3.000 participantes.

Naturalmente que destes milhares de jovens Atletas, só costumam sair para as primeiras equipas alguns Sub-19, e mesmo assim, como sabemos, a conta-gotas. Se verificarmos quem e quantos chegaram aos patamares mais elevados com internacionalizações e/ou transferências sonantes para o estrangeiro nos últimos 30/35 anos, não me recordo de muitos. Normalmente são apontados, como “exemplos” (que me recorde e, por ordem alfabética), Abel Xavier, Brassard, António Oliveira, Bruno Alves, Domingos, Fábio Coentrão, Fernando Couto, Fernando Gomes, Figo, Folha, Futre, Hugo Almeida, João Moutinho, João Pinto, João Vieira Pinto, Jorge Costa, Jorge Couto, Nani, Pavão, Paulo Alves, Paulo Madeira, Paulo Sousa, Peixe, Quaresma, Raul Meireles, Ricardo Carvalho, Ronaldo, Rui Costa, Secretário, Sérgio Conceição, Simão Sabrosa, Vítor Baía, e poucos mais que me tenham escapado (naturalmente pedindo desculpa aos leitores e atletas), o que representa apenas, em média, 1 por ano.

Esta discussão sobre o exagerado número de praticantes estrangeiros que proliferam em diversas equipas do nosso futebol, e a consequente falta de oportunidades que é dada aos nossos “formandos”, parece que veio para ficar. Não há cão nem gato que não queira botar faladura. Comentadeiros, blogueiros, pasquineiros e ofícios correlativos, tentam esgrimir argumentos utilizando a hipocrisia do “nacional é bom”! Este governo da treta até criou um grupo de trabalho para equacionar a “importante questão”, onde faz parte (como sempre nestas iniciativas) um fóssil do qual não se conhece obra feita o Senhor Comandante (continência) José Vicente Moura do Comité Olímpico Português.

Se deixarmos, por uns momentos, o assunto do “futuro da formação para a equipa nacional”, e entrarmos na complexidade que são as equipas de clubes ou Sociedades Desportivas convirá explicar a estes visionários que, no que toca a Portugal, nenhuma limitação poderá ser aplicada a jogadores brasileiros, pela circunstância da existência de acordos bilaterais entre Portugal e Brasil, assim como, a atletas de países da União Europeia, embora, já haja para aí uns espertalhaços que querem contornar a livre circulação de pessoas e bens, com um alegado “interesse nacional”!

Acresce ainda por este facto acrescentar, que uma eventual redução na “importação” de jogadores, pouco ou nenhum efeito terá para os nossos clubes, visto que em mais de 300 jogadores a actuar entre nós a maior parte, cerca de 200, são brasileiros pelo que, resta escolher se nas competições internacionais queremos ter equipas para ombrear com os sheiks e as petrolíferas que por aí aparecem como cogumelos, ou brincar às casinhas.

É tudo uma questão de objectivos. Se pensarmos nas centenas de clubes amadores que fazem desporto, naturalmente que na sua esmagadora maioria, os escalões jovens são formados por praticantes amadores portugueses. Se analisarmos algumas modalidades como o Atletismo, Andebol, Basquetebol, Voleibol, Hóquei etc. já com um tirocínio “semi-profissional” temos que encontrar um “compromisso” entre estes 2 conceitos. Mas se olharmos para o chamado desporto-rei a nível profissional, aí, não podemos ter hesitações. Clubes e/ou Sociedades Desportivas que prossigam objectivos de topo nas competições da UEFA, face à pouca “produção” de atletas jovens em quantidade, têm forçosamente que encarar o recurso à “mão-de-obra externa”.

Os Arnaults, Relvas e Mestres do nosso desgoverno, que não devem ter mais que fazer do que andar a esmiuçar o futebol profissional com o qual nada tem a ver, bem podiam dedicar-se a outro desporto, por exemplo, à pesca.

Até para a semana.

3 comentários:

O lado do futebol disse...

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Pedro Silva disse...

@ Lima

Li o seu artigo e existem pontos com os quais concordo e outros que não concordo.

Pelo que percebi os "artistas" que estão no Governo querem fazer o mesmo que fizeram no Atletismo Nacional, ou seja, proibir um Estrangeiro que esteja ao serviço de um Clube Português de ganhar as Competições que se realizam em Portugal.

Esta política está errada e os resultados imediatos de tão genial ideia foram que o nosso Atletismo recuou mais de 40 anos no que á competitividade diz respeito.

Quer se queira ou não, o Atleta Estrangeiro traz sempre com ele a competitividade e alguns ensinamentos que os Portugueses teimam em não aceitar.

Contudo eu não acho que os Clubes devam deixar praticamente de lado a aposta na Formação de Jogadores. E os exemplos que enunciou não são os melhores pois o Chelsea está pela hora da morte e nunca mais se encontra por muito € que o Russo lhe meta nos Cofres e o Manchester City tem sido um papão de € que ainda não ganhou absolutamente nada.

Veja lá que um Clube como o SSC Napoli conseguiu atirar com este mega Poderoso City borda fora da Champions.

O que os Clubes devem fazer, e em especial o nosso FC Porto, é apostar com alguma razoabilidade na Formação. Não estou com isto a afirmar que os Dragões devam ter um Plantel maioritariamente composto por Jogadores oriundos da Formação.

O que eu defendo é um misto entre Jogadores formados na casa e jogadores contratados no Estrangeiro para se evitar que cenas como as do actual Chelsea surjam por cá porque há uma Mística que é fundamental manter, para além de que cada vez mais me custa ver Jogadores como o Castro, Vieirinha, Ukra, Hélder Barbosa, André Pinto e outros terem mercado no Estrangeiro e não terem lugar no FC Porto.

Grande abraço.

JOSE LIMA disse...

Caro The Blue One
O que eu tentei dizer é que, sob o ponto-de-vista financeiro, a formação para ser feita a sério, é "um mau negócio", pese embora também concordar que não a devemos descurar.
Depois temos ainda aquela ideia muito portuguesa de que o que é estrangeiro é melhor do que o feito internamente.
Quer isto dizer que: ou o atleta é tão bom que se afirma ou, se for mediano, é queimado pela massa associativa em 2 tempos.
De resto, nada contra a formação.
A "intromissão" governamental é que me parece exagerada, quando o Estado que devia primar pela formação desportiva dos jovens, entrega essa tarefa aos pobres Clubes.
Abraço