quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Meio campo sem meio-termo.

Já em textos anteriores tinha deixado patente a minha perplexidade face à aparente inversão na política de contratações da Sad do Porto. Hoje gostaria de me debruçar naquilo que para mim é um enigma que carece de explicação. O meio campo do Porto.

Se há sector que na última época me pareceu ser o mais forte, mais completo e com mais soluções foi sem dúvidas o meio campo. Era aquele sector onde o treinador tinha mais soluções, capazes até de permitir que fosse feita uma gestão de grupo, apelando a uma rotatividade que mantivesse todos os jogadores concentrados e em forma para jogar a qualquer altura. Um sector que oferecia qualidade, categoria e jogadores com as mais diferentes características para atacar cada jogo com armas específicas tendo em conta aquilo que o jogo exigia e o plano para esse momento competitivo.

Havia ainda a almofada de segurança de saber que o Porto tinha opções para o caso de qualquer lesão. Jogadores como: Moutinho, Fernando, Belluschi, Guarín, Souza, Ruben Micael davam garantias de qualidade e de profundidade num sector que poderia facilmente ceder ao desgaste mas que foi muito bem gerido ao longo da época.

Na pré-época o sector manteve-se forte. Resistiu a possíveis saídas e aí deu-se o primeiro negócio difícil de entender. A saída de Ruben Micael. Um jogador que no 4-3-3 do Porto poderia facimente fazer duas posições do meio campo. Um jogador capaz de oferecer qualidade de passe e visão de jogo. Um jogador que chegou ao Porto no mercado de Janeiro da última época de Jesualdo e que acabou por ser uma excelente solução até ao final da época.

Entretanto mesmo com algumas oscilações e com mais concorrência, o facto é que Micael havia-se tornado internacional português, vendo por isso abertas as possibilidade de uma ida ao Europeu e uma consequente valorização do seu passe… Eis que ele é incluído num negócio algo estranho de Falcao para o Atlético de Madrid. Parece que o Porto o inclui no pack do negócio Falcao, obrigando os dirigentes do Atlético de Madrid a contratar Micael por forma a poderem levar o seu objectivo principal que era Falcao… Micael passa de ser uma boa solução no Porto, para ser um jogador emprestado pelo Atlético de Madrid ao Saragoça, uma equipa de fundo da tabela da Liga Espanhola. Micael acaba por não render qualquer mais valia ao clube. Algo estranho atendendo a que chegou como um alvo apetecível de vários clubes europeus, entretanto ganhou um campeonato, uma Liga Europa e ainda se tornou internacional português, mas acaba por sair sem representar uma mais valia financeira para o clube. Estranho no mínimo…

O primeiro sinal de estranheza. Mas tudo bem… As soluções ainda eram muitas. Belluschi e Guarín poderiam ocupar a sua vaga… Já antes devido à abundância de opções, um jogador da casa, Castro, havia novamente sido emprestado ao Gijón, não obstante ter provado, uma vez mais, durante a pré época que poderia ser uma opção interessante a ter no plantel e provavelmente a solução mais capaz para cobrir a vaga de Fernando em caso de lesão. Para além disso seria mais um jogador português e formado na casa e ainda por cima capaz de fazer as 3 posições do meio campo do Porto.

Castro foi novamente emprestado. Não havia espaço. Preferiram apostar no Souza e num novo reforço para o meio campo… Defour. Um sector que já estava bem preenchido, recebeu um novo e caro reforço que não poderia vir apenas para fazer número.

Dele se dizia que era o substituto de Moutinho… Acontece que Moutinho não saiu. Ou seja, o Porto fica com um mini-Moutinho. Um Defour que se dizia que até podia ter ido para o Manchester United e que até recebia cartas de Ferguson… Esqueciam-se era de situar essa informação… Isso acontecia antes de uma grave lesão. Depois de vários problemas físicos Defour não era mais o mesmo e até a titularidade na Bélgica havia perdido… O craque desse Standard também estava no meio campo, mas acabou no grande rival… Chama-se Witsel.

Mas tudo bem. Era mais uma opção, para ficarmos com um meio campo forte e ainda com mais opções. Defour foi jogando, mas não demonstrou acrescentar nada de muito novo ao meio campo portista... Nada que outros jogadores que o Porto já tinha não pudessem acrescentar, inclusive os que haviam saído, como Castro e Micael.

O grande enigma deu-se neste mercado de Inverno. Uma mini limpeza de balneário, será? Não vejo motivos para a saída de Guarín e Belluschi. Pelos vistos nem Vítor Pereira, uma vez que no descalabro de Barcelos e já com Beluschi com as malas feitas para Itália, foi por Belluschi que Vítor Pereira chamou quando precisou de alguém para pôr alguma ordem a meio campo e a verdade é que Belluschi partiu como o melhor jogador do Porto em campo.

Se a saída de Guarín poderia ser justificada por uma vontade do jogador em sair que já se arrastava desde o início da época e com um possível encaixe financeiro interessante para a Sad… Já não se entende que ele saia por empréstimo para o Inter… Pouco tempo antes do Porto ter rejeitado uma proposta de 11 milhões da Juventus pela sua venda… Tudo porque o Porto exigia 13…

Ou seja, o Porto deu mais uma inversão na sua política. Depois de contratar jogadores acima de 25 anos, agora aceitava negociar empréstimos de jogadores úteis ao plantel. O Porto que sempre se gabou de fazer vendas milionárias aos melhores clubes do Mundo, agora até pedincha empréstimos com opção de compra… Envia jogadores importantes no grupo, jogadores com provas dadas, internacionais, jogadores com mercado, para irem prestar provas a outros clubes… Se servirem, todos ficam felizes, se não o jogador volta desmotivado à procedência… Uma política de clube vendedor pequeno… Até o Braga já está a deixar de lado esse tipo de negócios.

Se a saída de Guarín custava algo a engolir - até porque no Porto não há nenhum jogador com as suas características - mais difícil ainda é de entender a cedência de Belluschi ao Génova. Aqui nem se trata de um grande clube. Ainda por cima trata-se de um jogador que era apenas o mais utilizado do meio campo do Porto… O único jogador com qualidade técnica para transportar jogo, com a bola controlada no pé e de poder criar esse tipo de desequilíbrios. De todos os médios era claramente o mais criativo e mais capaz de assumir a posição 10 se necessário.Uma vez mais um jogador para o qual o Porto não tem substituto. Pelo menos não tem um jogador que ofereça as mesma soluções que Belluschi oferecia.

Muitos poderão afirmar em defesa da Sad que se tratava de um jogador de 28 anos, que era uma oportunidade de ter algum retorno… Mas tal argumento cai por terra quando o Porto contrata Janko com os mesmos 28 anos… Que retorno financeira pensa o Porto ter com o Janko? Custa-me a aceitar que um jogador que ganhou o que Belluschi ganhou no Porto saia do Porto a valer o mesmo pelo qual o Porto o contratou… Não me parece que também fosse o sonho de Belluschi jogar no Génova, nem nunca foi claro que Belluschi estivesse insatisfeito no clube…

Fala-se que Lucho veio para cobrir essa posição… Mas numa altura em que Souza foi emprestado ao ao Grêmio de Porto Alegre fica a questão… Lucho é bom, mas daí a dizer que ele pode fazer o papel de 3 jogadores de características tão diferentes, isso parece-me no mínimo exagerado… Entrou um médio para saírem 3? Eu compreendia que saísse Guarín e entrasse Lucho. Mas porquê a saída de Belluschi e porquê estes negócios em cima do joelho? Questões disciplinares? As finanças do clube estão assim tão mal ao ponto do Porto já precisar de até realizar encaixes com empréstimos com opção de compra…?

Se já antes achava esta razia a meio campo estranha, pior fiquei quando ouvi as explicações esfarrapadas do treinador… Vítor Pereira afirmou que ambos os jogadores tinham vontade de acumular mais minutos nas pernas… Como assim? Guarín que eu saiba está lesionado até final do mês? Como é que ele se podia queixar de falta de minutos se ele nem podia competir? E Belluschi? As estatísticas provam que Belluschi era o jogador com mais minutos a par de Moutinho no meio campo do Porto... Uma explicação claramente muito pouco credível…

Ora se Lucho pode fazer a diferença em campo e claramente é uma mais valia, não me parece que ele possa jogar a trinco… Sim, porque agora Souza saiu. E que outra opção para trinco tem o Porto? Se Fernando se lesiona quem jogará a trinco? Mesmo sem ser um grande fã do Souza, a verdade é que no plantel foi aquele que tem sido trabalhado para jogar na posição 6. Dá a ideia que com a saída de Defour da equipa titular para a entrada de Lucho, que Defour será o 12º jogador. Pau para toda a obra. Já que não é particularmente brilhante em nenhuma posição, então será o bombeiro de serviço em todas. Se Lucho se cansar, entra Defour. Se Moutinho estiver castigado entra Defour… Se Fernando se lesionar entra… Defour.

Fica agora a questão… E se tudo ocorrer ao mesmo tempo? Só existe um Defour e ele nem é propriamente um fora de série em nenhuma das posições.

O Porto passou de ter várias e boas opções para ter um sector de grande qualidade mas sem banco para o substituir em caso de necessidade. Uma equipa que quer ainda discutir 3 títulos, não pode só ter uma opção para o trio titular de meio campo. Com a saída de Souza o Porto passa a ter apenas 4 jogadores para o meio campo. Fora Danilo que tem que apagar o fogo criado por Vítor Pereira na direita da defesa… A não ser que quando Fernando não possa jogar que Vítor Pereira invente mais um bocado e adapte o Maicon ou o Mangala a trinco… Já agora era o que faltava…

Mas fica o enigma. Como é que o sector que era o mais forte da equipa, após alguns meses se viu dizimado e com apenas 4 opções? Porque ainda não foi dada uma explicação credível para as saídas de Guarín e Belluschi? Porque é que o negócio Ruben Micael não foi bem explicado? Se o balneário estava tão mal e se já era intenção fazer esta limpeza, porque não se apostou logo no início da época em Castro? Pior serviço que Defour não faria e está mais familiarizado com o clube e com as 3 funções no meio campo do Porto.

Já nem falo apenas na hipótese de lesões e castigos. Moutinho e Lucho são óptimos, mas também eles terão dias maus. Ou pura e simplesmente haverá jogos em que será necessário ter um jogador que carregue mais jogo como Belluschi e não o teremos, ou que será necessária dar dimensão física no meio campo e ter um jogador capaz de rematar bem de longe e não teremos porque foi emprestado… Ou um jogo em que precisaremos de outro trinco e não teremos.

Como se passou da fartura de opções a uma situação quase de fome? Questões financeiras? Técnico-tácticas? Balneário? Não consigo entender. E acho que todos os portistas mereciam uma explicação.

2 comentários:

Pedro Silva disse...

@ Ricardo Costa

Como tu sabes eu nunca vi nada de especial no Guarín. Sempre achei que este Jogador é fraco demais para estar no FC Porto. Nem o facto de o Colombiano ter um remate canhão, de fazer passes longos muito bons e precisos e de fazer excelentes segundas metades de Temporadas me faz ver algo de positivo no Guarín.

Mas a forma como colocas o problema do actual meio campo do FC Porto faz-me realmente pensar se o Guarín não seria uma mais-valia pois isto de ter o Defour (que é um Jogador fenomenal) a tapar os possíveis buracos é um risco enorme.

Também já ouvi o VP a justificar esta situação dizendo que caso precise de Jogadores para o centro do campo que lhe basta fazer avançar o Danilo e colocar outra vez o Maicon a defesa direito. Um argumento que não encaixa pois o Maicon joga muito bem a Central e o Danilo é para jogar a defesa direito senão não tivessem despachado o Fucile.

Depois existem as vendas que ninguém percebe...

Qual a justificação para se mandar o Belluschi embora quando o VP contava com ele? E a venda do Micael que era um Jogador que jogou quase todos os jogos da pré temporada?

O Guarín estava aflito para sair do FC Porto, mas tanto o Madeirense como o Argentino não deram mostras de terem vontade de sair.

Eu sobre o Castro já nem falo. Já ando há séculos a dizer que os Dragões devem apostar na prata da casa em vez de irem ao mercado contratar toscos. Mas a Comissão parece ter muito mais força na SAD Azul e Branca e depois temos todos de ficar com cara de parvos a perguntar como é que o Castro serve para o Futebol Espanhol, o Ukra e Hélder Barbosa para o SC Braga, o André Pinto para Inglaterra, o Vieirinha para o Futebol Alemão, etc.

Grande abraço.

Ricardo Costa disse...

Caro @The Blue One, eu acho que no teu próprio texto tu desvendas várias qualidades no Guarín para eu discordar que o catalogues como demasiado fraco para o Porto...
Discordo eu e pelos vistos o Inter e Juventus.
Mas isso é uma questão de gosto.
Há portistas que não gostam mt do Belluschi,outros que não gostam do Guarín,outros que não viam nada de especial no Micael ou outros que não gostam do Defour ou que o acham um craque ( como aparentemente é o teu caso).
Eu aqui dou de barato a discussão sobre a qualidade de cada um dos jogadores.Falo é das opções que o Porto tinha e o que cada uma delas acrescentava ao jogo portista.
E o que escreveste sobre o Guarín mais nenhum médio do Porto oferece.
Dimensão física, qualidade de passe, bom remate de longe.
Defour não dá isso.
Muito sinceramente prefiro todos os médios que saíram do Porto a Defour porque considero que todos eles acrescentam mais que o Defour.
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Acho que já escrevi isto, o Defour é uma espécie de Moutinho Low Cost.
Foi contratado para ser o substituto de Moutinho mas a verdade é que Moutinho ficou.
Para fazer as coisas que o Moutinho faz não precisamos de Defour,pq temos o original que o faz muito melhor.
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Precisavamos era de médios com características diferentes dos que já temos.
O que achas do Guarín, eu acho do Defour.Um jogador banal demais para custar o que custou e para ter lugar no Porto.
Guarín é um médio de classe internacional. Figura máxima da selecção da Colômbia e foi dos melhores jogadores da época passada.
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As explicações de Vítor Pereira não me convencem. Danilo pode jogar no meio?Claro que sim. Mas para isso terá que adaptar o Maicon a lateral direito uma vez que o VP tem algum problema com o Fucile e já o despachou e tem um problema com o Sapunaru.
VP criou um incêndio no lado direito da defesa e a solução para aí só pode ser Danilo.
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Depois com a saída de Souza fica a questão-.E o trinco? Defour terá que jogar em todo o lado.
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Muito sinceramente se era um médio com essa versatilidade que o Porto queria e se era para ceder:Micael,Guarín e Belluchi..então mais valia o Porto ter ficado com o Castro. Porque o Castro é um médio capaz de fazer as 3 posições, é da casa e é mt mais barato que Defour.
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Sobre a questão da aposta na formação,subscrevo totalmente...Uma pena que os miúdos tenham que ir para outras paragens para provar que tinham talento para integrar o plantel do Porto. Porque contratamos Defours quando temos um meio campo farto ao ponto de até termos que ceder o Castro?

Um abraço.