sexta-feira, 13 de abril de 2012

Muito mais que um campeonato.

O Porto está a 3 vitórias de ser campeão nacional. Noutra época qualquer, tal frase seria algo corriqueiro e pouco chocante. O título valeria como tantos e tantos outros que fazem o F. C. Porto ser a equipa mais forte do futebol português há décadas.

No entanto, o título, esta época, tem outro sabor. Não direi que é especial ou que sabe melhor ou pior para os portistas. Acima de tudo é um título que a ser conquistado ( e para isso é preciso que o Porto o garanta, algo que está longe de ser um dado adquirido, mais a mais quando falamos desta equipa do Porto) será uma bofetada enorme no orgulho benfiquista, na sua auto estima, na campanha orquestrada durante esta época para dourar a pílula do futebol do Benfica, será porventura o fim do mito Jorge Jesus e um ponto final no seu festival de megalomania e fanfarronice.

Um ponto final? Não exactamente… Claro que Jorge Jesus continuará a achar-se acima da instituição do Benfica, e um treinador ao nível dos melhores do Mundo (mesmo que só tenha até ao momento conquistado um título de campeão nacional), a diferença é que por muita vontade que os benfiquistas tenham é difícil alimentar mais essa ilusão. Os factos são por demais evidentes. É certo que os benfiquistas na sua maioria têm dificuldades em chegar a conclusões que para quem vê de fora parecem lógicas…

Veja-se o que se passou com Vale e Azevedo… É a diferença de se torcer por um clube que habituou os seus adeptos a vitórias constantes e por isso obriga a um maior grau de exigência (ao ponto de o treinador líder da Liga ser aquele que parece ser o favorito a perder o seu cargo mesmo que seja campeão), ao contrário do Benfica… Um clube que vive das glórias do passado e das promessas de conquistas avassaladoras, de campeonatos que quando conquistados parecem valer por 20 ou 30, tamanha é a cobertura dada pelos midia… Com adeptos assim, é fácil manter-se no cargo um treinador que no ano passado acabou a Liga a mais de 20 pontos do 1º e que na Liga Europa foi eliminado pelo Braga… É fácil vender ilusões aos benfiquistas. Muitos não têm grau de comparação com anos melhores… A referência são os anos 60 e esses só se podem rever a preto e branco. Assim que, aparecendo um treinador que até não é muito mau, que valorize activos, e que coloque o Benfica a jogar um bom futebol, logo pareça que o Benfica está destinado a ganhar todas as competições em que está envolvido, com toda a naturalidade e ainda com nota artística.

A estratégia de comunicação do Benfica para esta época até passou por refrear o ímpeto megalómano do seu treinador que no ano anterior até havia apontado à conquista da Champions… Acabou com uma taça da liga… No entanto, teve ainda os adeptos do seu lado e a direcção. Só no Benfica... Eram capazes de imaginar um treinador no F. C. Porto ficar a 21 pontos do 1º lugar, perder uma meia final europeia para o Braga, não ganhar a taça e ficar mais um ano? Pior que isso… ficar mais um ano e com adeptos a comprarem a ideia de que estão perante um mestre da táctica?

O Benfica este ano até nem comentava arbitragens no início da temporada… Dizia que os árbitros eram todos muito bons…até apoiaram Vítor Pereira para presidente da Comissão de Arbitragem (ao contrário do F. C. Porto). O Benfica gracejava ao olhar para o insucesso desportivo do F. C. Porto nas competições europeias e pela falta de qualidade do sucessor de André Villas Boas… Sentiam que assim o título estava no papo. Um F. C. Porto que esteve muito aquém do que é capaz de fazer, que teve um treinador talvez dos mais fracos da história recente do clube, e que por isso reforçava ainda mais a convicção do Benfica de que este ano o céu era o limite…Era para ganhar tudo e com nota artística. Nada havia para os impedir… Nem o F. C. Porto que parecia caminhar para uma época dolorosa de transição após a saída de AVB, à semelhança da ressaca que viveu com a saída de José Mourinho.

Ora o que o Benfica não contava é que a sua megalomania e a máquina de propaganda tão bem montada, criaria uma ambição desmedida nos seus adeptos e que uma vez colocadas a nú as fragilidades que sustentavam todo esse brilho que era polido, a queda seria dura, muito dura

Esqueceu-se também que nunca se pode subestimar o F. C. Porto seja em que circunstância for… O Benfica já havia cometido esse erro na época de AVB, quando Jorge Jesus dizia que em Portugal o Benfica não tinha rival à altura e que por isso só na Champions encontrariam um desafio… Sim, porque a Liga já era “peanuts”… Acabou derrotado de forma contundente e até mesmo humilhado desportivamente por um F. C. Porto totalmente arrebatador… Um Porto que ganha a Liga no Estádio da Luz e que elimina o Benfica da Taça de Portugal, deixando-lhe o já habitual troféu de consolação: a taça da liga.

O Benfica deixou-se embebedar pelas odes que faziam ao seu futebol, à sua grandeza, aos seus jogadores, ao seu presidente, ao fantástico treinador… Tudo era demasiado bom para ser verdade… até as madeixas de Jorge Jesus pareciam mais loiras e autênticas que nunca…

Assim, sem dar por isso, o Benfica menosprezou adversários como a Académica ou o Guimarães e acabou por pagar caro… Um campeonato que o Benfica previa resolver no clássico da Luz, acabou por ser relançado na Luz e deixando o favoritismo do lado desse tal F. C. Porto, “o mais fraco dos últimos anos” que parecia que iria ser carne para canhão contra o futebol de outra galáxia que diziam que o Benfica praticava…

Aí deu-se o ponto de viragem no discurso. A equipa que não falava em arbitragens, teve que arranjar uma manobra de distração de massas… Nada melhor que apontar ao lance do golo de Maicon em fora de jogo… O Benfica assim não teria que justificar aos seus adeptos como é que um F. C. Porto tão fraco tinha passado de estar a 5 pontos de atraso para estar a 4 de vantagem… Afinal, sobrava ainda o Benfica da glória europeia para enganar adeptos…

Pelo caminho já Jorge Jesus tinha feito das suas… Após celebrar uma passagem dos oitavos de final como se tratasse de uma final da champions, JJ desvalorizou a história do Benfica dizendo que nunca os benfiquistas mais novos tinham visto o Benfica chegar tão longe na champions, tendo ainda a audácia de comparar o seu Benfica ao Benfica dos anos 60… Sim, o Benfica bicampeão europeu de Eusébio, Mário Coluna, José Augusto e companhia… Ninguém achou grave. Tudo valia para manter a chama imensa bem viva, ainda que fosse uma chama com uma luz tão periclitante e tão capaz de falhar como aquela que na época passada falhou aquando da conquista do campeonato do F. C. Porto…

Depois coloca-se a velha questão… As equipas de Jorge Jesus têm por hábito caírem fisicamente no final da época. Normal, porque a equipa do Benfica joga em campo com a mesma sofreguidão que Jesus a orienta do banco. Falta-lhe a dose de realismo e humildade que também falta ao técnico. Praticam um futebol vertiginoso, com pé a fundo, sem serem capazes de assentar o jogo numa toada mais calma e de descansar com bola. Isso pode ter tanto de espectacular como de estúpido quando se faz depois o balanço de uma época e se fazem balanços do que foi a preparação de uma temporada. Uma equipa que quisesse apenas ganhar uma competição, acho que poderia apontar para aquilo que se chamava de picos de forma, e então jogavam assim com tanta intensidade e descansavam o resto da competição. O problema é que as épocas não se ganham só no início. Há uns anos atrás era o que se fazia no Brasileirão, uma vez que se tratava de um campeonato que tinha uma fase final. Um “mata-mata” entre os 8 primeiros que permitia que uma equipa andasse meia época a fazer os mínimos para depois apontar todas as baterias e preparar fisicamente a equipa para atingir o pico de forma na fase final. Infelizmente para Jorge Jesus, essa fórmula nem no Brasil existe mais…

A única hipótese de sucesso dessa fórmula é cavar uma distância grande que possa ser gerida mais tarde quando fisicamente a equipa começar a quebrar. O Benfica não foi capaz de cavar essa vantagem decisiva, nem o seu treinador abdicou totalmente da forma vertiginosa de jogar da sua equipa.

Na Champions apanhou pela frente um Chelsea que é 5º ou 6º da Liga Inglesa, que é muito menos espectacular, mas que sem ter que forçar muito ganhou a 1ª mão com alguns suplentes. No segundo jogo, veio o balão de oxigênio tão desejado. Jorge Jesus não acreditava assim tanto que o Benfica pudesse passar. Prova disso foi o não ter forçado a utilização de Luisão e Garay como forçaria depois com o Sporting…. Aí até acho que foi quando Jesus foi racional, ao contrário de outros momentos chave da época, mormente na meia final da taça da liga em que Jesus insistiu em jogar com o seu melhor onze contra um F. C. Porto de reservas, tudo porque se sentia obcecado com o Porto e achava que seria ganhando na taça da liga que provaria quem era a melhor equipa… Pagou mais tarde a factura. A equipa que já vinha em queda, com uma sucessão de jogos difíceis em curto espaço de tempo, pior ficou…

Aí veio o discurso inflamado do Benfica das várias frentes….Jorge Jesus repetiu até à exaustão que ao contrário do Porto, o Benfica tinha muito com que se preocupar e que estava em várias frentes…Como se fosse ganhar a Liga dos Campeões…Jesus ao repetir vezes sem conta essa realidade, não constatou que ao invés de se estar a vangloriar estava era a desvalorizar-se e a constatar uma lacuna sua. A incapacidade de treinar um clube grande que queira disputar várias competições.

Entende-se a euforia… para o Benfica disputar tantos jogos e chegar longe na champions é realmente algo pouco comum nos últimos anos…Mas apenas é uma prova de incapacidade e de como o Benfica por mais que se esforce em vender essa ideia, ainda não está no nível do F. C. Porto.

Para o Porto disputar várias competições e ter vários jogos é normal. Tal nunca serviu nem podia servir de desculpa para dar alguma espécie de vantagem aos nossos rivais na luta pelo título, esse sim o grande objectivo da época. Prova disso foi a época com AVB em que o Porto ganhou Liga, Taça e Liga Europa sem nunca abrandar ou tirar o pé…deixando o Benfica treinado por Jesus a 21 pontos… Parece que não aprenderam com esse exemplo.

Jesus no meio de tanta competição, acabou por perder-se nesse labirinto que parece que terminará invariavelmente na competição fetiche do Benfica… a taça da liga.

A acontecer tal cenário, o que é que isso significa? Para os portistas não ganhar esta Liga não seria o fim do Mundo. Afinal, todos sabemos que o Porto é capaz de fazer muito melhor. Os portistas são por natureza adeptos exigentes, habituados à excelência. Não se deixam levar por promessas e ilusões. Vivem e alimenta-se de vitórias a sério. Não de vitórias morais como aquela que o Benfica retirou de Londres, chegando ao cúmulo do ridículo de contestarem Michel Platini, o mesmo personagem que anos antes era o herói de todos os benfiquistas e o justiceiro que iria mostrar ao F. C. Porto como é que são as coisas na Uefa… Entretanto o Porto ganhou uma Liga Europa, o Benfica é eliminado e atira-se a Platini e transporta para as competições europeias aquele delírio de que existe uma cabala dos árbitros contra o Benfica…Isso até passaria… Uma vez que a imprensa em Portugal alimenta a máquina, quer vender, e então fazem de conta que contra o Braga nada de estranho se passou e a arbitragem foi boa (mesmo que tenha ficado um penalti por marcar a favor do Braga), e fazem odes ao fantástico Benfica que caiu de pé em Londres e que não fosse, uma vez mais as arbitragens, teria cilindrado o Chelsea…

Obviamente que também preferem maquiar o facto do Chelsea ter perdoado uma goleada ao Benfica nesse jogo… Assim como, a mesma imprensa que dá eco às queixas benfiquistas, esquece-se de destacar que os lances de que o Benfica tanto se queixava até foram, afinal, bem ajuizados…

Tudo isto passaria… Como? Se o Benfica ganhasse em Alvalade e o Porto tropeçasse em Braga como muitos esperariam… Para grande azar deles, o Porto ganha em Braga sem mácula e com um Hulk decisivo, e o Benfica leva um banho de bola em Alvalade de um Sporting que até tinha tido menos um dia de descanso…

Assiste-se ao desmoronar de toda uma estratégia… O desespero toma conta das hostes benfiquistas. Jorge Jesus na flash interview quando perguntado pela exibição do Benfica, só sabe falar de um penalti ao minuto 1 tentando passar por cima do que o Benfica (não) fez nos 89 minutos seguintes.

Na conferência de imprensa ninguém sabia muito bem o que perguntar ou como perguntar… Foi preciso um jornalista brasileiro para dizer aquilo que toda a gente viu e que ninguém tinha tido até hoje a coragem de perguntar a Jorge Jesus… Que estava a falar tanto do árbitro, mas que na teoria dos “ses” que se o Braga tivesse tido o penalti na Luz também ficaria aos 70 e tal minutos a ganhar 1-0 e o jogo seria diferente… Com uma simples pergunta desmonta-se toda uma construção estratégica de comunicação do Benfica para o pós-jogo. Artur foi o único jogador a falar e também levava o recado bem estudado, talvez passado por João Gabriel. Artur, o mesmo que evitou a goleada do Sporting, falou de um campeonato manchado por erros de arbitragem… O sinal de que o Benfica já deita a toalha ao chão. Esse tipo de discurso só se tem quando já não se acredita.

Lendo a imprensa afecta ao Benfica no rescaldo de jogo, nota-se um misto de reacções. Por um lado tenta-se não descurar a versão oficial do Benfica de que se não fosse a arbitragem o jogo seria outro…mas também se começam a ver algumas fendas nesse muro que tentava afastar os benfiquistas da versão real do seu clube. A supremacia do Sporting foi tão óbvia e constrangedora para alguns, que foi difícil escapar a essa realidade e até a alguma crítica à equipa do Benfica.

O que diferencia bem o Porto do Benfica são estes pormenores que todos juntos se tornam por maiores. Antes do jogo do Porto em Braga foi ver um festival de notícias para desestabilizar o grupo antes do jogo, desde saídas de jogadores até ao Vítor Pereira que afinal até podia ser campeão que saíria na mesma, até à já mais que gasta notícia de que Jardim será o próximo treinador do Porto

Engraçado como grande parte da comunicação social guardou essa série de lugares comuns todos para o momento antes do jogo com o Braga… A estratégia estava montada… Para isso era preciso era que o Porto deixasse de ter o adn ganhador que ainda tem. É disso que se esqueceram. Este tipo de campanhas só nos faz mais fortes todos os anos, e em vez de desestabilizarem só fortalecem. Depois era preciso outro factor… Uma equipa pode ser levada ao colo pela imprensa, mas é preciso que no campo façam qualquer coisa que ajude a vender ilusões… Sem isso, não há teoria da cabala que aguente…

No final do jogo do Porto, em vez de ver elogios ao Porto ou a constatação de que tinha ultrapassado um difícil obstáculo, o que vi foi a enorme tentativa de desvalorização. O Braga afinal já não era candidato assim tão forte como quando foi à Luz, o Hugo Viana é que tinha dado a vitória ao Porto porque tinha falhado um passe (os mesmos que não acharam que foi o Elderson que com um penalti ridículo deu a vitória ao Benfica, curiosamente…), e no final de tudo… o Benfica teria ainda uma palavra a dizer. E esse foi o problema… Confiaram as suas esperanças e teorias numa grande reacção do Benfica no jogo contra o então 5º classificado a 11 pontos do Braga.

Correu mal. Não foi por falta de tentativa de empurrar a equipa e de deitar abaixo o Porto. Estava a fazer zapping no domingo e o que vejo no “Tempo Extra” de Rui Santos? Uma análise à vitória do Porto? Claro que não. Um barómetro para ver qual seria o próximo treinador do Porto…Era essa a notícia e mensagem que convinha passar, para ver se assim se passava por cima dessa pressão que teria o Benfica de entrar em campo a 4 pontos do Porto. O tal Porto mais fraco dos últimos anos e que não faria sombra a um Benfica demolidor, espectacular, comparável até ao Benfica dos anos 60.

Por aqui também se vê a diferença entre Porto e Benfica. O Porto vai à frente e o seu treinador, dizem, já cá não estará na próxima época. Jorge Jesus após ter acabado a época passada a 21 pontos do 1º e só com a Taça da Liga, arrisca-se a ficar outra vez só com a Taça da Liga e perder um campeonato que já sentia estar no bolso. Um campeonato conquistado pelo pior F. C. Porto dos últimos anos. Repetido vezes sem conta por analistas e pela comunicação social em geral e, aceite sem grande contestação entre os adeptos do Porto.

Por isso mesmo, esta liga ,para os portistas, é mais uma, até pouco esperada. Uma Liga conquistada num ano que parecia ser de transição e que mesmo assim pode resultar em mais um título. Para o Benfica é muito mais que uma Liga. É a estocada final neste Benfica versão Jorge Jesus. O Benfica das várias frentes, do futebol de outro mundo.Encerra de vez aquela ideia que o presidente do Benfica atentou vender após a liga dos túneis…

A de que finalmente se assistira a uma vitória estrutural do Benfica e a não apenas mais uma vitória episódica como já havia sido a Liga conquistada com Trapattoni. Depois de na época passada o Porto humilhar o Benfica, fosse com os 5-0, ou fosse conquistando a Liga na Luz sem luz… acho que este ano, este título será ainda mais doloroso. Considero até que é uma humilhação ainda maior do que ver o Porto de AVB sagrar-se campeão no Estádio da Luz, mais massacrante que os 5-0, porque isso é um jogo e esquece-se… O Porto a conquistar este título, isso nunca saíra da cabeça dos benfiquistas… E os sonhos e ilusões vendidos esta época se encarregarão de tornar o pesadelo benfiquista ainda maior. Afinal para a história, nas suas cabeças ficará o facto que o Benfica de um futebol espectacular, de um treinador magnífico, de um plantel com várias soluções com um banco com: Saviola, Nelson Oliveira, Nolito, Eduardo, etc, perdeu o campeonato para um F. C. Porto sem treinador, que teve uma péssima época europeia, que foi eliminado da taça após 3-0 com a Académica, que até acabou a época só com 4 médios e que jogou uma época inteira sem um ponta de lança decente.

Esse Porto que parecia ser o mais fraco de décadas, ainda assim, conseguiu ser melhor que o melhor Benfica dos últimos 30 anos como muitos afirmavam…O Benfica comparável ao dos anos 60 é derrotado pelo F. C. Porto mais fraco dos últimos anos. Para os portistas saíra ainda mais reforçada a ideia que qualquer treinador no Porto se arrisca a ser campeão e que temos de facto um presidente e uma estrutura que não abanam nos momentos difíceis. O mesmo presidente que teve a coragem de manter um treinador contra tudo e todos e que teve a teimosia de achar que até com Vítor Pereira poderia ser campeão e que o melhor para a equipa e para o clube seria reforçar autoridade de quem dirige o plantel e não dar força ao plantel, caso contrário isto tornar-se-ia o Chelsea. Uma ditadura dos jogadores.

Vitor Pereira está longe de ser querido pelos jogadores ou até respeitado pelo que se vê em reacções de alguns pesos pesados do plantel… Mas o que se tem visto é que foi importante para o F. C. Porto detectar essas lacunas e tentar corrigi-las dentro de portas, fosse com um discurso forte para dentro do balneário reforçando a autoridade do treinador, fosse fazendo ajustes na equipa a meio da época, e até em pequenas mas importantes alterações na hierarquia da equipa técnica que auxilia Vítor Pereira.

É aqui que se vê a enorme diferença entre F. C. Porto e Benfica e é aqui que se vê que a estrutura do Benfica, embora estando melhor, ainda tem muito que crescer para se comparar à do F. C. Porto…Mais a mais quando vemos que a estrutura se entregou nas mãos de um treinador megalómano que sempre achou que a instituição era demasiado pequena comparada à sua capacidade, ainda que este apenas tenha dado uma liga até ao momento ao Benfica.

Por isso mesmo, para os benfiquistas perder esta Liga valerá por muitas. Para o Porto será apenas uma prova mais de que a estrutura é tal que qualquer um pode ser campeão no Porto. Para os benfiquistas, depois de tantos sonhos e ilusões vendidas, acabar a época outra vez com uma taça da liga e perdendo para o Porto do treinador que tanto gozaram que até gostavam que continuasse no Porto por muitos anos…Será a suprema humilhação. Quando se pensava que após a época passada seria impossível fazer com que os benfiquistas se sentissem ainda mais humilhados…eis que aparece esta possibilidade de ver Vítor Pereira campeão frente ao melhor Benfica de Jorge Jesus.

O engraçado é que ninguém perguntou a Jorge Jesus se colocava o lugar à disposição ou se sentia o seu futuro em risco… No Porto já dão por adquirido que este Porto, mesmo campeão, mudará de treinador. O Porto que era tão fraco que o normal seria esperar que fosse goleado pelo Benfica na mesma proporção, pelo menos, que o Porto goleou o Benfica na época passada… Mas não, o que se vê é que numa liga a 3 (Porto, Benfica e Braga) o Porto fez 10 pontos para apenas 5 do Benfica…Nem nos confrontos directos o Benfica se pode refugiar. Este Porto emperrou foi mesmo com as equipas pequenas. Nos grandes momentos, nos jogos com os candidatos, o Porto respondeu presente.

Não deixa de ser curioso que Jorge Jesus seja visto como o melhor treinador da história recente do Benfica (cheguei a ver um programa desportivo a lançar uma votação para saber se ele seria o melhor treinador da história do Benfica. Também vi António Pedro Vasconcelos a afirmar que Jorge Jesus era até melhor que Mourinho…) possa vir a ter em 3 anos apenas duas taças da liga conquistadas.

Aqui se vê a diferença de exigências…Jorge Jesus não é questionado pelos jornalistas e até pode continuar mais uma época no Benfica e terminar o contrato mesmo ficando duas épocas a ganhar apenas taças da Liga…E é considerado do melhor que já passou pelo Benfica…Não deixa de ser irónico que para a história das conquistas, Jesus na sua melhor época tenha ganho tantas competições como Vítor Pereira poderá conquistar esta época se for campeão…Com uma diferença. O Benfica campeão de Jorge Jesus teve a “felicidade” de disputar uma liga com muitos túneis e pôde ser campeão contra um Porto sem Hulk durante vários jogos indevidamente e um Braga sem Vandinho.

Este Porto será campeão contra um Benfica na sua máxima força e glória… Elogiado por todos. Jesus em 3 épocas de Benfica pode vir a ter um palmarés com apenas: uma liga e duas taças da Liga.Para fazermos uma comparação, vejamos o último treinador que completou 3 épocas de dragão ao peito… Jesualdo Ferreira. Jesualdo nas suas primeiras 3 temporadas de Porto ganhou: 3 ligas, uma supertaça e uma taça de Portugal. Jesualdo Ferreira que ainda assim nunca foi querido pela grande maioria dos adeptos e que acabava todas as épocas com o seu futuro questionado…Nunca entrou para uma galeria dos melhores treinadores da história do F. C. Porto…Jorge Jesus que ainda parece ter crédito para ir para a sua 4ª época de Benfica e que até já foi apelidado de “mestre da táctica” e considerado do melhor que aconteceu ao Benfica…ao fim de 3 épocas tão gloriosas poderá vir a ter, tão só: 1 liga e 2 taças da Liga. 5 títulos de Jesualdo para 3 de Jorge Jesus…Sendo que dos 5 de Jesualdo 3 foram campeonatos…Um era criticado pelos portistas, Jesus até justificava cânticos e tarjas de apoio por parte dos benfiquistas…

São estes factos que tornam as vitórias do Porto cada vez mais uma mera obrigação, e as derrotas do Benfica cada vez mais dolorosas…

4 comentários:

JOSE LIMA disse...

Caro Ricardo
O seu artigo é, como sempre, muito bom. Comparativamente costumo visitar os blogues da “instituição” e verifico que começam a existir tímidas reacções às potencialidades do mais maior grande.
A campanha que tem levado o clube do regime ao colo (basta observar os notáveis que se acotovelam na tribuna presidencial) está a esmorecer. A BOLHA e a CHIC suportes de há longos anos, uns Donos da Bola recrutados nos pasquins rádios e tv’s da capital, começam a dar sinais de saturação, onde apenas parece resistir um inenarrável Rui Gomes qualquer-coisa, paradigma do que não deve ser um comentador.
Não lhes auguro grande futuro. Um Clube e SAD completamente falidos perdoem o pleonasmo, activos hipotecados (atletas, publicidade, quotas, receitas ordinárias, e eventuais transferências), ou sem valor de venda (estádio e aviário do seixal), 50 jogadores de rastos, cedidos de borla a dezenas de clubes por essa Europa, caracterizam a pior gestão de que tenho memória, uma década onde o Passivo foi multiplicado seis vezes, ultrapassando largamente a de Vale e Azevedo que, de quando em vez, invocam para servir de álibi.
O tempo do senhor Vieira está a chegar ao fim, contrastando com Pinto da Costa que, pese embora, alguns maldizentes, está para lavar a durar. “Basta fazer as contas” como dizia o outro!
Grande abraço

Pedro Silva disse...

@ Ricardo Costa

Faço minhas as palavras do Lima.

A única coisa que acrescento é a minha dúvida se depois de sair do Benfica o Viera será tramado pelos amigos e se teremos ali outro Vale Azevedo.

È que isto das tramoias é moda lá para os lados da 2ª Circular. Que o diga o Sporting!

Aquele abraço!

Ricardo Costa disse...

Muito obrigado pelos comentários.
Caro José Lima, acho que toca num aspecto interessante e que tem passado ao lado dos benfiquistas que é a situação económica do Benfica.
É certo que Jesus tem valorizado activos e o Benfica até tem tido mais valias na venda de jogadores,mas é bom salientar que também gastou mais do que nunca. Jesus teve à sua disposição planteis caríssimos e em 3 épocas tal pode resultar apenas numa liga o que é manifestamente curto.
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O que me parece é que os benfiquistas têm muita dificuldade em identificar este tipo de problemas e são facilmente ludibriados pela comunicação social e por dirigentes populistas. Veja-se o caso de Vale e Azevedo. Para qualquer não benfiquista era claro que aquele senhor estava a arruinar o Benfica, no entanto, os benfiquistas até à pancada andavam em AG para o defender. Bastava a Vale e Azevedo vender sonhos e atacar o F. C. Porto e o seu presidente. Receita simples e que de certa forma tem sido repetida por Vieira embora obviamente com mais obra feita que Vale e Azevedo.
Isto também demonstra a diferença entre Porto e Benfica. No Porto seria impensável aguentar um treinador com o tipo de discurso de Jorge Jesus, que se julga acima de tudo e todos, e que ainda para mais em 3 épocas arrisca-se a ganhar apenas um campeonato.
No Porto mesmo ganhando o campeonato a esmagadora maioria exige a saída de Vítor Pereira.
É também pelo facto de termos adeptos exigentes (por vezes até demais) que também atingimos o nosso actual estatuto.
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Obviamente que ser presidente de um clube de futebol,principalmente de um grande é quase uma espécie de imunidade. Se Vieira tiver que ser julgado por alguns negócios mais obscuros,obviamente que só o será se o deixarem cair no Benfica.
A questão é que não vejo que isso seja possível. Os sócios do Benfica nesse aspecto deixam-se levar por mais que a realidade depois seja outra. Muitos ainda vão na treta das arbitragens e deixam que lhes atirem com areia para os olhos. Basta-lhes falar de apito dourado e desculpam logo tudo e acham que o Benfica é espectacular e que só não é campeão por causa dos árbitros.

um abraço aos dois

Ricardo Costa disse...

E Jorge Jesus por aquilo que vai transparecendo pelos meios de comunicação do regime, deve continuar. Mesmo o discurso do Rui Gomes da Silva assim o denuncia.
Mais uma vez, Pinto da Costa deu a tal goleada a LFV...Quando no início da época anterior deu carta a branca ao seu amigo Jorge Jesus para dar a entender ao Benfica que o Porto estaria interessado nele (mesmo já se sabendo que seria AVB o treinador do Porto)...LFV cego com a ideia de perder o seu treinador para o grande rival fez um grande favor ao F. C. Porto e a Jorge Jesus renovando-lhe o contrato e colocando-o, ao que tudo indica, como o treinador mais bem pago em Portugal em toda a história da liga nacional. Além disso, com medo de que alguém lhe fosse roubar o "mestre da táctica" colocou ainda uma elevada cláusula de rescisão...O grande problema é que se agora quiser dispensar Jorge Jesus terá que lhe pagar 7 milhões de euros. Depois do caso BPN não me parece que JJ esteja assim tão pouco apegado ao dinheiro...Assim que Jorge Jesus só saírá se quiser.
O Benfica poderá dar-lhe mais um ano,embora fazendo como neste...tentando retirar algum poder a Jorge Jesus e entregando toda a pasta do futebol em exclusivo ao presidente LFV. O problema é que já se viu que JJ não é de acatar ordens. Prova disso é a forma como ostracizou jogadores como Capdevilla só porque não foi escolha sua.
Acho que Jorge Jesus só saírá numa situação limite em que possa colocar a própria continuidade de LFV em risco em ano de eleições...Neste caso seria se o Benfica perdesse a taça da liga e ficasse em 3º atrás do Braga.
Garantindo o 2º e a taça da liga,lá ficará Jorge Jesus mais uma época,embora entre claramente para o 4º ano já com a imagem desgastada e muito menor margem de manobra.
Mesmo os benfiquistas que queiram acreditar naquilo que a imprensa lhes quer vender, terão dificuldades em ver o Benfica de Jorge Jesus da mesma forma como viram estas épocas.