sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Uma equipa sem super herói mas com Comandante

Já passaram algumas semanas desde a saída de Hulk e o Porto teve o seu 1º teste sem o brasileiro e logo num jogo fora de casa na Champions. O que deu para ver é algo que já aqui havíamos previsto. Não é pela saída de um jogador que o modelo de jogo e a táctica da equipa mudaria, menos ainda tratando-se de um extremo como Hulk que é um jogador que vive mais para furar esquemas tácticos do que propriamente para ser parte integrante de movimentos e comportamentos colectivos.
Tal como se havia referido, ao contrário do Benfica que perdeu dois elementos nucleares a meio campo sem substitutos claros (mais grave a perda de Javi Garcia que a de Witsel) e que por isso alterou já a sua táctica de um 4-1-3-2 ou 4-2-3-1 para um 4-3-3 no jogo de Champions, alterando o modelo de jogo e os seus comportamentos com e sem bola, até pela aposta num ataque mais móvel e sem uma referência como Cardozo.
 
No Porto nada se alterou a não ser as características e a perda da qualidade de um jogador que não tem igual no mercado a que o Porto tenha acesso. Saiu um extremo e entrou outro, neste caso Varela. Contudo os comportamentos da equipa são os mesmos. Viu-se uma equipa com automatismos bem definidos, assumindo o jogo, sabendo em que zonas pressionar e dando fluidez ao jogo através dos corredores laterais, com constantes subidas de Miguel Lopes e Alex Sandro.
 
Falta ainda que James encontre o seu espaço para suceder ao Incrível como estrela da companhia e possa disfrutar da liberdade que tanto gosta para percorrer todo o ataque, mas o mais importante foi reparar que se perdeu um grande jogador que resolvia os problemas colectivos com acções individuais, mas que a equipa respondeu da única forma possível… Colectivamente. Já o havia referido, a perda de Hulk não seria tão grave para a identidade colectiva como a perda de referências a meio campo como Fernando e Moutinho, mas para isso seria necessário que a equipa respondesse presente e não acontecesse o mesmo que na época passada em que teve que ser Hulk a sair em resgate da equipa variadíssimas vezes.
 
A equipa deixou de esperar por esse super herói para ser salva nas situações de maior aperto. Ganhou a consciência de que é com os 11 jogadores que tem que encontrar as soluções para os problemas que os adversários apresentam não podendo agora esperar que um só jogador resolva todos os problemas. Tal não significa que a equipa tenha ficado órfã. Para isso ficou “El Comandante”. Não deixa de ser um sinal claro da sua importância dentro e fora do campo a opção do Porto de que, ao contrário de outros clubes que apresentam 5 capitães de equipa, que no Porto apenas 2 sejam apresentados como os capitães: Helton e Lucho.
O jogo do Porto foi mais colectivo e a equipa em vez de buscar as explosões de um jogador vindo das alas, procurou muito Lucho que foi e será o farol desta equipa. A equipa confia nele e ele faz a equipa ter mais confiança em si mesma sabendo que ele está lá para ler o jogo e para dar sempre a linha de passe e oferecer a qualidade da sua visão de jogo quer em acções ofensivas quer defensivas.
 
O que faltou ao Porto em Zagreb foi acima de tudo mais agressividade no último terço do campo. Um problema que Hulk ajudava a esconder, mas numa zona do campo em que nem deveria ser ele a resolver o problema, a zona central.
 
Falamos da questão do ponta de lança
 
O Porto na época passada não acautelou devidamente a saída de Falcao nem em quantidade nem em qualidade. Tentou a meio da época resolver o problema da quantidade acrescentando Mark Janko à equação, mas tal não resolveu a questão da qualidade. Kleber demonstrou não estar ainda à altura do FC Porto e de precisar de crescer (talvez fora da equipa, com menos pressão e mais minutos), e por isso se canalizaram grande parte dos recursos financeiros desta época na aquisição de um ponta de lança: Jackson Martinez.
 
Jackson demonstra ser um jogador com bom toque de bola, que sabe recuar e comunicar com a equipa. Tabela bem, segura bem a bola e sabe posicionar-se. Falta-lhe contudo maior agressividade a aparecer no espaço e a atacar a bola. Pode-se dizer que o Porto na época passada jogava com 10 por não ter ponta de lança e tinha que ser Hulk a fazer duas funções em campo. Com a contratação de Jackson resolveu-se a questão da inferioridade numérica e passou-se a jogar com 11, mas não passamos até ao momento a contar com um ponta de lança que marque diferenças. O lance do falhanço de Jackson em Zagreb é sintomático. Um lance em que um ponta de lança com killer instinct nunca falha. Mas seria injusto analisar a sua prestação só por esse lance. De uma forma mais alargada vê-se que lhe falta sempre ou um bocadinho de mais velocidade, um bocadinho mais de explosão para ser aquela mais valia no momento de surgir em zonas de finalização.
Falcao valia por 2. Quando Porto jogava com Falcao era como se jogasse com 12 jogadores, se acrescentarmos a ele Hulk no ataque, o Porto jogava com 13 jogadores todos os jogos. Daí a supremacia absoluta na época de AVB quer em termos domésticos quer na Europa. Não é necessário encontrar um substituto de Hulk porque ele não existe lá fora. A equipa vai encontra-lo de forma natural diluído no seu jogo colectivo, mas sem Hulk torna-se ainda mais urgente que o Porto tenha um ponta de lança que não seja apenas um ponta de lança mas o ponta de lança. A figura que a equipa possa confiar que vai resolver jogos com os seus golos e dar pontos desde que bem servido. Não basta a equipa ter ganho um jogador, é preciso que tenha ganho um matador.
 
E é a essa questão que Jackson terá que responder nos próximos compromissos e que será muito importante para aquilatar da valia desta equipa que pode viver sem Hulk mas que terá dificuldades se não tiver encontrado ainda um ponta de lança que seja uma mais-valia indiscutível. O valor que pagou por Jackson a isso exige. Não apenas passar a jogar com 11 jogadores ao contrário da época passada, mas jogar com um pouco mais que isso. É claro que ao ver falhanços daqueles torna-se impossível não olhar para o lado e ver como Saviola mesmo já na casa dos 30 foi despachado pelo Benfica para ir marcar golos e ser mais-valia no Malaga ou como Lima, figura crucial do Braga, e que poderia ser uma boa solução para o Porto, vai para o Benfica para ser suplente.
 
Deixo um destaque final para Atsu
 
Parece-me que se trata de um jogador que inevitavelmente terá que acabar por ser titular desta equipa. Não é Hulk mas dos extremos que o Porto tem é aquele capaz de provocar maiores desequilíbrios nas transições através do seu arranque e velocidade. James é um jogador que busca mais o passe, Varela um jogador mais táctico e que segura mais a bola, e falta depois aquele extremo que crie terramotos no jogo com as suas arrancadas e esse jogador é Atsu.
O texto começou com Hulk. Nada mais apropriado que acabar tem com o Incrível. Muitos quiseram fazer crer que o Porto não sobreviveria sem Hulk, ora bem, até ao momento acho que se pode dizer que tem sido Hulk a sentir mais falta da equipa do Porto que o inverso. Dois jogos no Zenit e duas derrotas. O que sustenta que Hulk pode resolver problemas colectivos com as suas acções individuais mas que por si só, não influi no modelo de jogo de uma equipa de forma decisiva, a não ser que esse modelo não exista e a equipa jogue apenas à espera de momentos concretos de um só jogador.

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