quarta-feira, 3 de julho de 2013

Do Porto de Vítor Pereira ao Porto de P. Fonseca – Evolução na continuidade.(parte 1)

O F. C. Porto através da sua direcção decidiu (em conjunto com V.Pereira, aparentemente) que teria chegado ao fim o ciclo deste treinador no clube.
 
Uma decisão que se adivinhava durante grande parte da época, fruto de mais uma campanha que, apesar de quase imaculada no campeonato, deixou a desejar na Taça de Portugal, com opções para lá de discutíveis de Vítor Pereira, e que apesar de ter melhorado na Champions em relação à primeira época, não deixou de ser algo decepcionante pela forma como o Porto acabou por ser eliminado pelo Malaga.
O desgaste de V. Pereira junto dos adeptos vinha sendo claro, mas uma recta final em que terminou com a conquista de mais um suado título, deixou em aberto a hipótese de Pinto da Costa oferecer uma nova oportunidade de V. Pereira para continuar com o projecto, até porque grande parte dos adeptos já apresentavam uma reforçada margem de tolerância relativamente ao técnico espinhense.
 
Tal não sucedeu. E deu-se assim um novo virar de página. Um processo mais moroso do que tem sido hábito no reino do Dragão. Sucessores havia alguns, mas nenhum nome óbvio. Leonardo Jardim parecia o sucessor crónico, mas comprometeu-se com o Sporting. Sobravam Domingos ( um símbolo do clube e já com tarimba de clubes com ambições e o favorito aqui do autor deste texto), Marco Silva do Estoril, e P. Fonseca do Paços de Ferreira.
 
Ao contrário de alguns, acredito que esta foi a escolha menos arriscada dos últimos anos por parte do presidente do Porto.
Escolheu o treinador da moda. Aquele que ninguém ousaria apontar o dedo como sendo uma escolha totalmente desproporcionada. Um treinador que conseguiu um surpreendente 3º lugar pelo Paços e que era apontado como sendo o possível treinador dos outros 3 clubes com mais ambição em Portugal. Se Jesus saísse, P. Fonseca era provavelmente um dos maiores candidatos ao banco do Benfica, o mesmo se passou em relação ao banco do S. Braga, e só não sucedeu ao do Sporting pela aposta em Leonardo Jardim em jogada de antecipação.
  • Depois da escolha efectuada, fica a questão. O que se altera no F. C. Porto com esta escolha?
Neste sentido, poderá dizer-se que não se trata de uma escolha que venha propriamente abalar os alicerces do clube. Reforça o modelo de organização do clube ao longo de décadas que sofreu apenas uma ligeira alteração aquando da passagem de Mourinho. Trata-se de um treinador que é escolhido para integrar uma estrutura já delineada e montada que sobrevive sem a definição concreta do nome do treinador. Antes é o treinador que é escolhido por poder aceitar e adaptar-se ao estilo e ao modelo que se exige para a equipa, delineada pela tal estrutura.
De Vítor Pereira e do seu legado no Porto, ficam os campeonatos com apenas uma derrota, e uma equipa que mais do que espectacular apresentava consistência como argumento mais forte, em oposição ao futebol vertigem do Benfica de Jorge Jesus, mais espectacular mas menos capaz de ganhar campeonatos.
 
De Vítor Pereira criticava-se o facto de ter uma pecha, admitida pelo próprio, ao nível da comunicação. Quer interna, mas acima de tudo externa. Não motivava adeptos, não chamava holofotes e de certa forma era até enfadonho para qualquer jornalista que tivesse que ir trabalhar para a sala de imprensa do Dragão. Não tinha cuidado na mensagem que passava, embora este ano tenha mostrado algumas melhorias. Não tanto pelo conteúdo, mas pela forma por vezes repetitiva dos mesmos chavões e de uma mensagem que embora muitas vezes repetida se diluía por carecer de alguma inovação e rasgo na forma como era passada.
O F. C. Porto ganhou dois campeonatos a um Benfica superlativo que enchia as medidas da crítica, contudo o jogo portista tendia a não ser tão apreciado pelos adeptos em geral, por ser mais equilibrado e menos vertiginoso. Um jogo de posse que vinha desde o tempo de André Villas Boas, que sofreu com a indefinição da primeira época de V. Pereira e com os problemas de balneário com que teve que lidar, e que encontrou o seu expoente máximo na 2ª época de V. Pereira. Uma posse que rapidamente passou de ponto forte, a problema quando se percebeu que por vezes se tratava de posse pela posse e que a própria equipa ficava refém da mesma sem outro tipo de soluções. A falta de soluções no plantel e apostas esdruxulas a meio da época em jogadores como Izmailov e Liedson apenas reforçaram esse problema, a falta de soluções no banco para rodar a equipa e acima de tudo a falta de profundidade e largura no jogo da equipa, potenciada ainda mais quando o único extremo capaz de dar essa largura e profundidade que seria Atsu deixou de ser opção.
O F. C. Porto demonstrou uma enorme consistência, uma mentalidade e capacidade competitiva fortíssima que permitiu que mesmo estando atrás do Benfica até às últimas jornadas, jogando melhor ou pior, nunca deixasse de acreditar no título. Essa capacidade mental permitiu ao F.C. Porto superar o Benfica ao cair do pano.
 
Mas se pensarmos em exibições que tenham enchido o apetite insaciável dos adeptos portistas, lembramo-nos de 5 ou 6 exibições no máximo. Era um estilo de jogo que de tanto compararem ao do Barcelona, apanhou os vícios do jogo do Barça. Por vezes tornava-se enfadonho para quem assiste quando não há dinâmica colectiva e trocas posicionais capazes de baralhar marcações. Esmagava-se em posse mas não tanto em capacidade de desequilibrar as defesas adversárias.
 
A reforçar este ponto está a diminuição das assistências no Dragão mesmo tendo o Porto ganho 2 campeonatos com V. Pereira.
 
V. Pereira sofreu também pela comparação a Villas Boas que deixou o clube após uma época de sonho, com um futebol de ataque, entusiasmante, e com um carisma e uma capacidade de comunicar ímpar e que não encontrava sucessor à altura em V. Pereira, que é um homem de trabalho e de poucas palavras. 
Daí que a escolha sobre o novo treinador prometia. Por um lado para perceber se a mudança numa equipa técnica vencedora significaria a tal aposta na recuperação da ilusão por parte dos adeptos em relação ao estilo de jogo da equipa e à forma do novo treinador comunicar com o exterior.
 
Tal não significaria um terramoto táctico. Esperava-se que o novo treinador se adaptasse ao já instituído 4-3-3 que é um traço de identidade do clube.
 
Mas houvesse a intenção de entusiasmar mais os adeptos, esperava-se um treinador mais carismático, com uma maior capacidade de seduzir os adeptos como tinha André Villas Boas, e um treinador que em campo colocasse as suas equipas a jogar um futebol um tudo ou nada mais chamativo, sem perder a consistência que tem sido imagem de marca do clube.
 
Nesse aspecto pode-se dizer que a montanha pariu um rato. Não pela falta de qualidade de P. Fonseca, mas porque analisando o seu percurso, nomeadamente o seu Paços de Ferreira, se nota que não apresenta assim tantas alterações de estilo em relação a V. Pereira.
 
As semelhanças começaram logo na sua apresentação com direito a directo no Porto Canal, onde P. Fonseca demonstrou as suas dificuldades em manter um discurso assertivo, bem articulado e expressivo.
Já no Paços, Paulo Fonseca não ficou conhecido por ser propriamente carismático nas conferências de imprensa a preparar os jogos. Não era muito dado a “mind games”, e o seu discurso era sempre sereno, e a bater muito nos lugares comuns, tentando sempre esvaziar qualquer tipo de euforia, fazendo o seu papel mas sem se mostrar ser um grande comunicador.
 
Trata-se de mais um homem de terreno, tal como já o era Vítor Pereira. Alguém que evita a tudo o custo a exposição mediática, que cada vez faz mais parte daquilo que se pode considerar a preparação para cada jogo que , tal como defende Mourinho, começa logo na sala de imprensa na antevisão ao jogo e na mensagem que se tenta passar, quer para motivar os nossos, quer para condicionar os adversários. Com P. Fonseca também os jornalistas podem tirar o cavalinho da chuva se esperam por grandes tiradas de 1ª página… (cont)
 

2 comentários:

Paulo disse...

Muito boa a analise aqui feita,concordo que Paulo Fonseca,me parece mais proximo de Vitor Pereira do que de AVB em aspectos de comunicação e imagem,vamos ver como será futebolisticamente.

P.S. Espero que mantenha o hábito de ganhar ao nosso rival deixado pelos
anteriores treinadores.

Paulo Almeida

Ricardo Costa disse...

Muito obrigado pelo comentário caro Paulo Almeida.
Esperemos é que PF tenha melhores resultados nos confrontos directos com o Benfica do que os que teve ao leme do Paços de Ferreira...;)

Um abraço