quinta-feira, 4 de julho de 2013

Do Porto de Vítor Pereira ao Porto de P. Fonseca – Evolução na continuidade.(parte 2)

  • Passemos à análise táctica
O Paços de Paulo Fonseca apresentava como ponto forte exactamente a mesma característica da equipa de V. Pereira…consistência. O Paços não praticava um futebol tão exuberante do ponto de vista técnico como o S. C. Braga, por exemplo, nem apresentava um modelo de jogo inovador. Uma equipa compacta, a jogar em 4-3-3, e à semelhança do Porto, com um jogador a jogar como falso extremo, no caso do Porto James que deambulava por todo o terreno, no Paços Josué, um médio de ofício, um jogador mais cerebral, que tem menos capacidade no transporte de bola ou no drible como tem James, mas que pensa como um médio e por isso distribui bem o jogo e é eficaz no último passe.
O Paços em momento defensivo, ficava com 4 jogadores no meio campo, pois Josué recuava e ajudava nas tarefas defensivas, muito graças à cultura de médio que é a sua posição de origem. O Porto com James não conseguia a mesma organização defensiva, daí que em alguns jogos, V. Pereira apostasse em Defour num flanco, exactamente para que ele fizesse movimentos semelhantes aos que Josué fazia no Paços, reforçando assim o miolo aquando do momento da transição ataque/defesa e organização defensiva.

Para quem acompanhou os jogos do Paços na temporada transacta, encontrou uma equipa muito compacta entre sectores, com uma mentalidade competitiva forte, mas que não praticava propriamente um jogo muito técnico e apelativo.
Sabia usar muito bem o factor casa, na forma como aproveitava bem as dimensões do campo e sabia pressionar o adversário, mas não era de chegar e impor o seu jogo em todos os campos.
 
Nesse aspecto, Marco Silva ( que também seria o preferido do autor deste texto em relação à opção P. Fonseca), e o seu Estoril apresentava um futebol mais “romântico” se assim se pode denominar. Um estilo de jogo repleto de movimentação e trocas posicionais do meio campo para a frente, a explorar a velocidade e criatividade dos seus atletas, proporcionando um caos ordenado nos movimentos ofensivos que confundia marcações. Uma equipa que gostava de sair sempre a jogar, num futebol apoiado de pé para pé, alternando a posse com transições ofensivas fortíssimas mas sem implicar um jogo directo.
 
Uma equipa que jogava na 1ª Liga, com as dificuldades inerentes à mesma, da mesma forma que jogava na 2ª em que lutou pela subida. Via-se uma identidade muito definida, que não se alterava por maus resultados. Das poucas equipas que ousou expor-se em pleno estádio da Luz discutindo o jogo pelo jogo. Noutros jogos como com o F. C. Porto correu mal, mas a identidade não mudou.
O Paços de Paulo Fonseca ficou em 3º é um facto. Era mais resultadista. As substituições de Fonseca desde o banco também não denotavam grande rasgo ou inovação. Sempre substituições tradicionalistas e conservadoras, maior parte das vezes troca por troca.
 
O que diferenciou este Paços do Braga, foi o trabalho defensivo do Paços, o facto de praticar um futebol talvez menos vistoso do ponto de vista técnico, mas mais aplicado e equilibrado. Uma equipa que se construía de trás para a frente, enquanto a do Braga pensava primeiramente no momento ofensivo descurando depois o momento da perda de bola onde sofria bastante. 
Mesmo no confronto directo entre ambas as equipas se viu esses dois estilos em confronto. O Braga a querer mais bola, a querer variar o centro do jogo, e a querer dominar o adversário, e um Paços capaz de ser pressionante quando tinha que ser, e a congelar o jogo nos momentos chave para travar o ímpeto do adversário. Quando necessário recorrendo até ao anti-jogo com perdas de tempo. Tudo pelos pontos. Cada jogo encarado como uma final. Primeiro os pontos e depois a chamada “nota artística”.
 
P. Fonseca fez crescer jogadores, casos claros são a recuperação de Josué, a potenciação de Cícero ou a projecção de André Leão como um dos melhores trincos do campeonato.
 
Em tudo semelhante a V. Pereira que também projectou Jackson, fez crescer Mangala e deu outra dimensão a Fernando no raio de acção que abrange hoje e que antes não abrangia.
 P. Fonseca encontrará no Porto um plantel que encaixa bem no seu modelo de jogo ( ou será antes o modelo de jogo preconizado por P. Fonseca que encaixa bem no F. C. Porto…? ), um 4-3-3, com a possibilidade da variante de um dos extremos jogar mais por dentro. Saindo James essa posição poderá ser ocupada quer por Josué que já conhece bem P. Fonseca ou ainda por Defour numa perspectiva mais calculista ou ainda por Carlos Eduardo ex- Estoril que dará maior criatividade e capacidade de desequilíbrio no 1x1, um pouco à semelhança de James.
 
A velocidade que encontrará na defesa, permitirá jogar com um bloco defensivo mais alto, a apertar na pressão mais uns metros acima, e obrigará a um reajuste. P. Fonseca com o Porto tem que entrar para dominar adversários. Daí talvez a 2ª maior nuance de diferença em relação a V. Pereira. P. Fonseca gosta de equipas compactas, que não se desequilibrem do ponto de vista defensivo quando têm a bola ( tal como V. Pereira), mas não é um apologista tão acérrimo da posse. Em muitos jogos com o Paços não se importava de dividir a posse com o rival para poder aproveitar momentos de transição.
Talvez a maior diferença palpável entre ambos os técnicos, será a capacidade de relacionamento de P. Fonseca com os atletas. Todos sabemos o que V. Pereira sofreu para impor a ordem num grupo que tinha vindo de uma época de sonho, e as incompatibilidades que levaram inclusive à saída de alguns atletas.
 
P. Fonseca é um ex-jogador. É batido no que diz respeito ao exercer influência nas dinâmicas de um grupo de trabalho. É um conciliador, consegue agrupar sensibilidades e coloca-las, sem se darem conta, na rota que ele pretende. A forma como recuperou Josué, uma esperança que poderia estar a passar ao lado de uma boa carreira, foi um bom exemplo disso.
No F. C. Porto já deu o primeiro sinal para o balneário e para o exterior com a anunciada reintegração de Fucile, atleta proscrito com V. Pereira.
 
Obviamente que o desafio será maior. Não é o mesmo gerir os egos de jogadores do Paços de Ferreira ou gerir os egos de um plantel com os jogadores de gabarito internacional que o F. C. Porto tem. A velha história de que gostava de comprar uns frangos para os jogadores do Paços, talvez no F. C. Porto já tenha que ser reajustada…
 
Algo que também terá que alterar será a capacidade de entender a melhor forma de derrotar o Benfica de Jesus nos confrontos directos. V. Pereira não obstante não ser conhecido como mestre da táctica, a verdade é que quase sempre soube levar a melhor na batalha dos bancos em relação a Jesus.
Fonseca diz ser admirador de Jorge Jesus, contudo não deixa de ser curioso que o estilo de jogo apresentado pelas suas equipas foge totalmente ao futebol de ataque vertiginoso do 4-1-3-2, de Jorge Jesus.
 
Com o Paços em 4 ocasiões na mesma época em todas elas P. Fonseca pareceu nunca entender a melhor forma de contrariar o jogo do Benfica de Jesus, algo que obviamente terá que corrigir no F. C. Porto e terá mais meios para isso.
 
O que salta à vista nesta escolha de P. Fonseca para o banco do Porto, foi que Pinto da Costa, desta vez não optou por uma escolha mais arriscada, que viesse impor uma alteração maior ao modelo e aos procedimentos da equipa. Fonseca trata-se de mais um produto a ser trabalhado na máquina F. C. Porto que se especializa ultimamente na valorização não apenas de atletas, mas também na capacidade de fabricar treinadores campeões.
 
Não se espera que Fonseca venha alterar algo no F. C. Porto, espera-se que siga o percurso, com o seu estilo, mas sem grandes alterações no que têm sido as linhas fundamentais do futebol da equipa e do estilo comunicacional. Espera-se que seja F. C. Porto a transformar P. Fonseca num treinador campeão e não tanto P. Fonseca a transformar o jogo do F. C. Porto.
Pinto da Costa não quis correr riscos. Para correr, teria optado por uma escolha menos óbvia, como a de Domingos Paciência. Um treinador que seria mais semelhante a Villas Boas, pela forma como o seu amor ao clube poderia estabelecer uma simbiose única com os adeptos.
 
Outra opção dentro do campeonato, seria Marco Silva. Um treinador mais jovem ainda que P. Fonseca e que efectivamente viria alterar o paradigma do futebol da equipa e dar-lhe outro entusiasmo e assim, porventura, despertar maior interesse nos adeptos.
 
Paulo Fonseca significa evolução na continuidade. Daí que me espante que alguns falem em aposta arriscada… Terá sido mesmo das apostas menos arriscadas do presidente do F. C. Porto em muitos anos… Arriscado foi apostar num José Mourinho e dar-lhe os poderes para construir um plantel novo, risco foi apostar em Del Neri que nada sabia do futebol português, ou apostar em Villas Boas com apenas meia época de treinador principal na Académica.
Risco foi apostar em Fernando Santos que vinha do Estrela da Amadora e não era um treinador da moda como é hoje Paulo Fonseca apos o surpreendente 3º lugar do Paços. Pinto da Costa apostou num dos poucos treinadores que ninguém ousaria a duvidar da pertinência da escolha. Pinto da Costa costuma gostar de surpreender, mas desta vez optou efectivamente pelo treinador da moda, capaz de ganhar qualquer concurso de popularidade no final desta época que recentemente terminou.
  • Evolução na continuidade, foi a opção 


1 comentário:

Anónimo disse...

Penso que nao basta elogiar o futebol do Marco Silva quando comparado com o do Paulo Fonseca...
É preciso comparar os "ovos" que cada um tinha, e neste caso o Paulo Fonseca com um plantel pior (o Estoril é patrocinado pela Traffic que la colocou alguns craques brasileiros - Jefferson, Carlos Eduardo... tinham tambem o Licá) conseguiu uma classificação bem melhor que o estoril.
é preciso sublinhar tambem a capacidade que o Paulo Fonseca teve de recuperar jogadores (nao sei se o marco silva enfrentou alguma situaçao assim...)
O ideal seria encontrar um treinador simultaneamente resultadista e de futebol espectaculo... mas se tiver que optar...quero ser campeao!