sábado, 31 de maio de 2014

Análise de Contas

Face ao descalabro que as Contas da nossa SAD tem apresentado, alguns leitores deste blogue solicitam-me informações sobre a melhor forma de as analisar. Como já tenho dito noutros lados não é muito diferente do que “ver” as contas de um qualquer negócio. Numa sociedade desportiva o raciocínio terá que ser o mesmo. Partindo do princípio que temos um orçamento (previsão de receitas e despesas) a regra de ouro será: não gastar mais do que se recebe.
O nosso objeto é a “venda” de espetáculos de futebol, para o que temos que procurar os mais capazes. Não estamos a falar em compras e vendas de “mercadoria” estamos a falar de pessoas (atletas, equipas técnicas, gestores). Precisamos de trabalhar com os melhores. Naturalmente que para isso temos que analisar a nossa atividade dos últimos anos para, no tal “orçamento”, sabermos com que verbas poderemos contar. Onde temos essa informação?
 
Primeiro que tudo no Balanço que descreve o estado financeiro da sociedade no momento. Ficamos a saber quais os nossos Ativos (bens e direitos) os nossos Passivos (dívidas e obrigações) e o Capital Próprio (o saldo entre ambos). Ajuda-nos a responder a algumas questões como:
 
- Qual o valor dos equipamentos da sociedade, edifícios, existências etc.
 
- De quanto dinheiro dispõe a sociedade à data do balanço, e quanto valem os atletas.
 
- Quanto devem à sociedade as empresas (clientes) e quanto deve a sociedade a médio ou longo prazo (a fornecedores, banca, fundos, etc.)
 
- Se está muito ou pouco endividada e como se tem financiado; se manteve ou não e quanto vale o seu património.
 
- Outra fonte de informação financeira determinante é a Demonstração de Resultados que, basicamente é um resumo dos Proveitos e Custos, durante cada trimestre ou 1 ano.
A última fonte de informação financeira da sociedade que reputo de muito importante é a resultante da Demonstração dos Fluxos de Caixa durante o mesmo período da Demonstração de Resultados. Aí podemos testar se a sociedade é capaz de gerar cash-flow (dinheiro vivo) ou se, pelo contrário, é capaz de ter Lucros, mas não é capaz de gerar “dinheiro” seja porque tem dificuldades em receber dos clientes ou porque está demasiado endividada e tem que pagar o “serviço da dívida”, ou ainda porque está a financiar o arranque de novos projetos.
 
Esta análise permite avaliar se a sociedade foi capaz de gerar lucros; quais foram as suas fontes e o valor dos Proveitos; e qual o valor e a natureza dos seus Custos. Mais do que esta análise, quanto a mim, é muito importante verificar “o comparativo” de anos anteriores para aferir se
 
1 - A sociedade tem crescido, tem conseguido controlar os Custos e logo aumentar os Lucros
 
2 - Não consegue e tem que recorrer a mecanismos externos como são os recursos a Fundos ou Empréstimos Obrigacionistas que nos levam “couro-e-cabelo”.
 
As Contas da SAD estão disponíveis quer no portal do clube, quer na CMVM, mas gostava de dizer que para uma análise correta da performance da sociedade deve comparar-se com o setor em que está inserida; se o desempenho é melhor ou pior do que a média do setor; e sobretudo fazer a análise comparativa com os 4 ou 5 anos anteriores. Infelizmente para a nossa SAD a tendência é negativa.
 
Até à próxima

7 comentários:

Anónimo disse...

Pediram-te ajuda com as contas mas fugiste com o rabo à seringa. Não é sério. Sendo assim mostro uma análise às contas encontrada na net.


"O Porto continua na sua espiral recessiva. A bolha está rapidamente a esvaziar.
Com a venda de Otamendi e Walter neste 3ºT conseguiram vendas brutas de 14,1M mas mais valias de apenas 8,5M (60%). Sem estas mais valias o resultado líquido no fim do 3ºT teria sido de -47,2M€ (eu tinha previsto -45M€) o que daria uma resultado líquido médio superior a -5M/mês.

Admira-me que os responsáveis ainda não tenham feita nada a respeito destes resultados que eu chamo de desastrosos quando sabemos que os Custos de Pessoal (CP) e os Fornecimento de Serviçoes Externos (FSE) - cerca de metade são custos de pessoal - têm vindo a subir ano após ano.

Os CP foram ao fim do 3T, 39,4M€ (superior 6,5% ao ano anterior) e os FSE, 31,7M€ (13,2% superior ao ano anterior). Os CP continuam a ser exactamente 70% dos proveitos operacionais, conforme exigência do FairPlayFinanceiro (FPF) da UEFA, percentagem essa que vai sendo ajustada com a transferência de CP que superam esse valor para os FSE. O “outsourcing” destes custos permite assim continuar a respeitar os rácios do FPF, mas é, no entanto, uma forma artificial de gestão e mais cedo ou mais tarde a realidade não mais poderá ser escondida. Andam a tentar esconder o sol com uma peneira, andam a enganar os adeptos e investidores e essa não é a maneira mais correcta nem transparente de transmitir os resultados ao público e admira-me, ou talvez não, que a CMVM ainda não tenha dito nada sobre este assunto.

Os custos financeiros continuam a subir (9,7M€) e a liquidez a deteriorar-se. Acabaram o trimestre com um défice de caixa de -2,6M€.

A capacidade de investimento continua a deteriorar-se, os activos intangíveis (jogadores) baixaram para 64M (o ano passado eram 83,2M). A capacidade de investimento tem vindo a diminuir, os activos têm vindo a perder valor comercial a olho nu, não é preciso ser-se empresário para ver isso, e não se vislumbram capacidades de investimento a médio prazo que possa inverter esta tendência.

No fim do período, sem as vendas de passes, os resultados irão ultrapassar os 50M€ negativos. A actividade operacional é fortemente deficitária, o cashflow é altamente negativo e tem vindo a aumentar e esta tendência só poderá ser invertida com a ajuda de elevados proveitos extraordinários através da vendas de activos, jogadores.

Os proveitos operacionais no 3ºT foram de apenas 16,2M€ (quando os outros dois trimestres foram de 20M€/trimestre) e o 4º trimestre não se vislumbra ser melhor sabendo nós que não costuma haver proveitos substanciais em Maio, Junho, (nem Julho). Os custos operacionais (28,5M) subiram substancialmente neste 3T. O resultado operacional (-9,7M) do 3ºT constitui 60% dos proveitos o que é muito mau.

Irão ser por isso obrigados a vender os activos mais valiosos durante o período de verão. Lembremo-nos que o ano passado no mesmo período tinham vendido um total de 60M€ brutos (Hulk, APereira, etc) que geraram mais valias de apenas 33M€ (60%).

Significa que mesmo que vendam os melhores jogadores este verão num total bruto de 70M€, Jackson, Mangala (57% do passe), Fernando (80%), Defour (57% do passe), se a percentagem de mais valias (60%) for igual ao passado recente esse valor (42M€) será até inferior pois não têm a totalidade dos passes, não será por isso suficiente para cobrir os resultados negativos, as necessidades de tesouraria nem as de investimento.

Quanto à venda do Iturbe por 15M é bom lembrar que o Porto detinha apenas 45% do passe. As mais valias não serão superiores a 4M a ajuizar pelas percentagens já referidas.

PS. Sabendo que os activo tangíveis estão contabilizados nos resultados consolidados por pouco mais de 200.000€ gostaria de saber onde estão contabilizados os activos respeitantes ao estádio e demais equipamentos imobilizados. E já, agora, os respectivos passivos."


Carlos disse...

Será sério tirar conclusões ao final do 3T num negócio como o futebol ? e numa exploração que ano após ano é determinante o final da época e as respectivas vendas.

Será sério SÓ de xx sobre activos que o clube deteve 60% ou 40% do passe ?

JOSE LIMA disse...

Caro anónimo
Esta crónica não tinha como objetivo analisar as Contas. Isso já foi feito pelos jornais e comentadores da especialidade, cada qual à sua maneira, já se vê. Aquilo que me pediram foi uma ajuda sobre a melhor forma de as interpretar e quais os items mais importantes que se devem ler.
Aliás como o meu caro fez, e muito bem, na sua análise. Este ano saiu-nos a fava mas há outras sociedades desportivas (uma das quais teve prejuízos 5 anos consecutivos) com quem nem vale a pena perder tempo. Então se formos analisar o Grupo... meu Deus!
Quanto à sua última questão sobre os Ativos e Passivos do estádio, devo dizer-lhe que não entram nas Contas da SAD visto que, como deverá ter conhecimento, esse bem pertence à Euro-Antas, uma sociedade fora do perímetro da consolidação.
Pode ficar descansado que os pagamentos referentes ao serviço da dívida relativos ao project finance concebido à data da sua construção estão em dia, e que essa sociedade pertence a 100% ao Futebol Clube do Porto e não à SAD de cujas Contas estamos a falar.
O Clube poderia perfeitamente “integrar” o estádio nas Contas da SAD mas isso só serviria para fingir que esta tinha um grande património e enganar os sócios. O termo do pagamento do Estádio do Dragão termina no ano de 2018.
Melhores cumprimentos

Anónimo disse...

Não percebi. Só serviria para enganar os sócios? Mas não é isso mesmo que estão a fazer quando "escondem" informação relevante sobre activos importantes, os mais importantes, não só para os associados e simpatizantes como para os investidores?

Mas então para que serve uma SAD cotada em Bolsa? As regras da transparência são passadas a ferro porque não querem "fingir" que têm um grande património? Porquê? Querem que o valor das acções baixem e não reflitam o verdadeiro valor do clube?
Então querem mostrar que têm um pequeno património? E estão cotados em bolsa?

Sempre ouvi dizer que, "quem não deve, não teme".

JOSE LIMA disse...

Volto a repetir: o estádio não faz parte da SAD. Pertence a outra empresa.
Cumprimentos

Rui disse...

Caro anónimo:

Se o estádio pertence à SAD os credores da mesma poderao apropriar-se dele, como no caso das SAD do SLB e SCP.
Serve para maquilhar as contas porque neste momento o estádio é um activo valioso com um passivo, dado o project finance, muito menos que o activo. Serviria, como serve no caso das SAD do SLB e SCP para maquilhar as contas aumentando o activo. Nao esquecer que mesmo assim essas SAD têm capitais proprios negativos, estao em falencia técnica, como alias está a SAD do FCP. Mas se esta ultima, infelizmente, incorporar o estádio na SAD, ficaria com capitais proprios positivos de vários milhoes de euros.

JOSE LIMA disse...

Caro Rui
Já dei para esse peditório.
Enunciei na crónica os pontos-chave onde se devem ler e analisar os números.
Depois é só "fazer as contas" como dizia o outro.

Cumprimentos