segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A Trapalhada do Estádio do Belenenses

Em 13-01-2018 publicámos neste blogue uma crónica. Como surgiram algumas dúvidas dos nossos leitores mais atentos sobre as formas de utilização do Estádio do Jamor, vamos recordar todo este imbróglio e prestar uma informação mais atualizada sobre o tema.

No dia 30 de junho de 2018, o protocolo entre o clube e a SAD do Belenenses, relativo ao usufruto do Estádio do Restelo, terminou e a equipa sénior teve de mudar o seu “quartel- general” para o Estádio do Jamor. Este episódio foi o culminar de uma série que se arrastava desde 2012 e que promete não ficar por aqui. Vamos ver um resumo da situação e mostrar o que os dois lados deste litígio dizem sobre o problema.

Entrada em cena da CSM - Codecity Sports Management e início da confusão

Em 2012, o C F Os Belenenses” passou por uma situação financeira delicada, o que levou os sócios a decidirem em Assembleia-Geral vender 51% do capital da SAD à Codecity Sports Management por cerca de 500€. No entanto, o acordo dava aos sócios a possibilidade de recompra da maioria das ações da SAD, em outubro de 2014 e outubro de 2017.

Em abril de 2014, antes da chegada de Patrick Morais de Carvalho à presidência do clube, a Codecity rescindiu unilateralmente o acordo que contemplava as cláusulas de recompra do clube e o verniz estalou. Rui Pedro Soares sustentou esta decisão com o facto de o clube “não ter as mínimas condições” para assegurar uma situação estável para o Belenenses, em caso de recompra das ações.

O imbróglio seguiu para o Tribunal Arbitral que acabou por decidir a favor da SAD que apontou mais três situações que levaram a esta rescisão: jogo Belenenses x Benfica, onde a Direção impediu a entrada de adereços dos encarnados na bancada de sócios; Belenenses x Beira-Mar, em que a segurança não cumpriu os requisitos necessários; dívida da Direção anterior no valor de 300 mil euros.
A mudança para o Jamor

Terminado o protocolo de utilização das instalações do Restelo, clube e SAD negociaram os novos termos de usufruto do espaço. Segundo Rui Pedro Soares, o clube propôs o pagamento de 15 mil euros por jogo, “algo insustentável, já que o “valor anual de despesas superava o meio milhão de euros”. Além disso, os seniores do Belenenses teriam de utilizar “um balneário partilhado, semana a semana, se o clube assim entendesse, e um ginásio que não era de uso exclusivo da equipa”. A solução passou, então, pela mudança para o Jamor.

Já Patrick Morais de Carvalho afirmou que o “clube financiava em cerca de 300 mil euros a atividade da SAD” (era o clube que pagava tudo dentro do Restelo) e acusou a entidade gerida por Rui Pedro Soares de se propor a “pagar uma renda ao IPDJ e ao Estado, em vez de pagar ao clube fundador, que precisava de ajuda”.

Cabe aqui um parágrafo para dizer que a utilização do Complexo do Jamor se rege por regras tuteladas pelo IPDJ através da Portaria Nº 455/2000 que define, entre outras, as normas e os valores praticados para a sua utilização. 
No somatório total das despesas no Estádio do Jamor, a SAD do Belenenses e a Codecity Sports Management vão pagar 189.440€ anuais pela utilização do espaço fora outras despesas com segurança e operacionais. Além do fator financeiro a SAD suporta esta decisão com o “intuito de dar melhores condições aos sócios e aos jogadores e um estádio com a dignidade que a equipa merece, uma vez que o Restelo até possuía algumas limitações.” 

Patrick Carvalho revelou que pretende impedir a SAD de usar o nome e símbolo do Belenenses e que inscreveu uma nova equipa, com o nome original do clube, na terceira divisão distrital de Lisboa. “O processo de refundação é simples: apresentar aos sócios um projeto sólido, sem dívidas, sem passivo, a zeros, para chegar à primeira liga em cinco anos. Se fizermos o caminho que queremos, vamos ser o primeiro clube português a ser campeão em todas as divisões”, referiu o Presidente do emblema do Restelo.
Rui Pedro Soares não está preocupado com esta “retaliação”, revelando que está tranquilo caso tenha de ir novamente aos tribunais. O líder da Codecity também criticou a ação “humilhante” do clube, que tentou adquirir os direitos desportivos do Mosteirense (equipa de Portalegre) por 50 mil euros, algo recusado pela Federação Portuguesa de Futebol.

Passada esta polémica adivinha-se outra no horizonte: o projeto de requalificação do Complexo Desportivo do Restelo foi aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa e o concurso foi ganho pela Lidl. A rede de supermercados alemã anunciou que vai construir um hipermercado da parte de fora do Topo Sul do Estádio, liquidar a divida de cinco milhões de euros do clube ao Banif (desde 2007) e construir um ginásio e piscinas. A obtenção do licenciamento está prevista para daqui a seis meses e o arranque das obras para o próximo ano.

A primeira fase do projeto vai ter um custo de 15 milhões e Rui Pedro Soares opõe-se. O Presidente da SAD acusa o clube de querer fazer especulação imobiliária com esta renovação do Restelo e mais afirmou que foi expulso de sócio. “Patrick de Carvalho teve medo da sua eventual candidatura à presidência do Belenenses."

Aguardemos pelos próximos capítulos

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