terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Um Tiro No Porta-Aviões

Recordam-se enquanto muito jovens do “pilha-galinha-choca”, do “bate-fica”, das corridas com as tampas dos refrigerantes (sameiras ou caricas) em pistas desenhadas a giz? Da bola de trapos feita com papel de jornal muito bem amassado revestido com as peúgas velhas do avô? Do jogo do berlinde e do pião? E o “jogo da barra”? Cinco ou seis de um lado do recreio, outros tantos do outro lado, divididos por uma linha imaginária, quem apanhasse a bola tentava acertar num contrário. Lembrei-me do título para esta crónica porque há muitos, muitos anos, jogava com os colegas do secundário a BATALHA NAVAL.
Jogo de estratégia, normalmente para 2 jogadores, cada qual tentava adivinhar, do lado de lá duma caixa, em pé onde o outro ”dispunha” os barcos, para ninguém perceber onde estavam escondidos. Quem começava as hostilidades tomava notas da zona para onde mandava os “tiros” (a4, d7 etc.) e no fim de cada jogada, o adversário anunciava, por exemplo “um tiro num barco de 2 canos” ou então, o mais frequente, “água”! Quem “afundasse” primeiro todos os barcos, ganhava o jogo. Se bem me lembro (como dizia o outro) cada esquadra era composta por 4 submarinos (que ocupavam um quadradinho); 1 barco de 4 canos (ocupava 4); 2 de 3 canos, (ocupavam 3 casas cada); 3 de 2 canos (duas casas cada) e 1 porta-aviões que ocupava 6 casas. Por acaso era o barco/comandante mas o mais fácil de acertar. Visto de cima parecia um “cristo” com os braços abertos!
Uma das regras do jogo era que nenhum dos barcos podia estar encostado a outro, incluindo os submarinos. Logo que tínhamos a certeza da posição correta dum barco afundado eliminávamos o espaço em redor, para não desperdiçar mais munições para aquela área.
A crónica desta semana vai então, dedicada por inteiro, a um novo jogador da BATALHA NAVAL. Vamos debruçar-nos sobre a declaração tempestuosa de Bruno de Carvalho, própria do estado do tempo que transformou os estádios em batatais, com telhas voadoras e outras que tais. Alegando o prejuízo dos Viscondes Falidos em todos os jogos que participam com “evidentes erros de arbitragem” tomou uma decisão firme: Os árbitros têm que ser nomeados por sorteio!
Um sorteio puro e duro que poderia, por exemplo, esquecer na gaveta por várias semanas os melhores árbitros para os jogos mais complicados ou, pior ainda, colocar o Bruno Paixão a dirigir um Porto x Benfica no Dragão com as habituais inclinações do homem para o lado do costume. Não resolve nada. Salvo duas ou três honrosas exceções sabe-se que são todos sócios, adeptos, ou simpatizantes do clube da treta. Veja-se quem foi nomeado para o jogo em Paços de Ferreira. Um benfiquista confesso com cartão e tudo! Os que não se assumem, entram em campo a tremer, e com a pressão feita pelos pasquins, caem também para o mesmo lado.

Segundo rezam os regulamentos os critérios de designação são os seguintes:

1 – Os árbitros e árbitros assistentes que se encontrem disponíveis, são designados para os jogos das competições organizadas pela Liga segundo os critérios estabelecidos nos números seguintes.

2 – Nenhum árbitro ou assistente pode deixar de ser designado em razão da sua filiação distrital ou das suas preferências clubistas.

3 - Na designação de Árbitros e árbitros assistentes, a Secção Profissional deve ter em consideração, designadamente, os seguintes critérios:

a) Classificação obtida pelos árbitros e árbitros assistentes na época anterior

b) Avaliação do seu desempenho na época em curso

c) Grau de dificuldade dos jogos em causa

d) Para os jogos tidos de grau de dificuldade acrescido são designados preferencialmente árbitros internacionais ou árbitros classificados até ao 12º lugar na época anterior

4 – Para efeitos do disposto na alínea c) do número anterior o grau de dificuldade dos jogos é aferido pela ponderação conjugada dos seguintes fatores

a) Posição ocupada na tabela classificativa pelos clubes intervenientes

b) Rivalidade existente entre os clubes intervenientes

c) Quaisquer factos considerados relevantes ocorridos anteriormente à data da designação
Tenho para mim que a culpa não é do critério das nomeações, muito menos da relação de simpatia árbitros/clube (até podem ser condicionados por isso), ou das notas dos observadores que conduzem à classificação no final da época. O problema é mesmo resultante da falta de qualidade dos homens do apito, há anos enfeudados ao único culpado desta situação. Um árbitro que enquanto exerceu a profissão nunca passou da mediania. Consta que o senhor é adepto do Sporting mas, com o apoio do Benfica, foi novamente recolocado na comissão de Arbitragem.

O senhor Vítor Pereira é o responsável pelo treino dos cãezinhos amestrados que se passeiam impunemente pelos relvados. Tanto faz ser em Alvalade ou no Campo dos Arcos, no Dragão ou em Barcelos, na Madeira ou na Capital do Móvel. O homem não serve para isto, pronto! Como não tem que responder a ninguém (foi eleito isoladamente) não há uma hierarquia a quem tenha que prestar contas. É assim uma espécie de sociedade unipessoal, trabalha para si mesmo.
Curiosamente, quando o Benfica espirra, o senhor Pereira constipa-se. Rastejante, vem logo “explicar” porque correu mal a arbitragem (um caso por outro), ao clube do regime. Um verdadeiro lambe-botas. De resto, como sabemos, no futebol indígena foi sempre assim desde Calabote até Lucílio Baptista, de Carlos Valente a Bruno Paixão, um rol de nunca mais acabar.
Esta atitude de Bruno de Carvalho será mais uma condenada ao fracasso. Já foi tentada nos primórdios da Liga mas revelou-se pior a emenda que o soneto. Isto só lá vai quando varrerem esta corja da arbitragem, iniciarem cursos com mestres competentes, enfim começarem tudo de novo.
Como seria de esperar, a este ataque ao status quo vigente que só interessa à “instituição”, opuseram-se os mais de 100 jogadores sob contrato do clube da treta, técnicos, agentes dos atletas, representantes do Fundo BES, e a administração que fez questão de posar para a posteridade, todos fardados a propósito, com um toque a reunir.

Voltando ao nosso exemplo da BATALHA NAVAL, sabe-se que para ganhar, o mais difícil é acertar nos submarinos. Navegam em águas esconsas e profundas, é muito difícil encontrá-los. Afinal o senhor Bruno de Carvalho, apenas deu um tiro no porta-aviões.

Até à próxima

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