1 - Mourinho acaba o seu livro editado no fim da gloriosa época 2002/03 com a frase: “Inesquecível, mas que ninguém diga irrepetível”. Aquilo que muitos viam como uma profecia para o ano seguinte, em que o FC Porto teve o momento mais alto da sua história com a vitória na Champions, pode agora ser visto também como uma profecia para o futuro. De facto a época que estamos a viver está a ser de sonho, uma época de novo inesquecível. Dominamos estrondosamente a nível nacional e estamos às portas de mais uma final europeia, a quinta da nossa história nas principais competições da UEFA (se juntarmos as da Taça Intercontinental e as da Supertaça Europeia é a 10ª!).
Nos últimos anos a única equipa portuguesa com créditos firmes na Europa foi o Porto, desde Mourinho principalmente. Com Jesualdo Ferreira o Porto passou sempre as fases de grupo da Champions sem grandes problemas. Mas andávamos sempre sós nestas andanças. Sporting, que também andava pela Champions nos anos Paulo Bento, acabava sempre por sair pela porta pequena, como foi o caso em 2009 das goleadas impostas pelo Bayern de Munique.
Mas este ano a Liga Europa, segunda competição uefeira, é quase a Taça de Portugal com uma equipa espanhola. Merecemos destaque da imprensa estrangeira, que tão raras vezes fala (e de modo injusto) do futebol praticado em terras lusitanas. O “El País”, diário espanhol, dedicou há dias uma página inteira a este “milagre” português. Numa interessante análise, apontava como principal factor uma mudança de mentalidade do jogador português na era pós-Mourinho em Portugal. Comparava até essa mentalidade com o famoso slogan do Presidente Obama: “Yes, we can”.
Quanto a nós este é, de facto, o principal motivo. Estão a passar os tempos do futebol pobrezinho e sem sorte na Europa, em que as equipas portuguesas só de atravessarem a fronteira já estavam a perder. Braga é o caso paradigmático. Mas até o próprio Benfica de Jesus, equipa que perdia antes muitas vezes em fases das provas europeias que não condiziam com os seus ditos pergaminhos (apesar da alegria que era para os portistas), está diferente. Era impensável, até esta época, o Benfica voltar a uma meia-final europeia, tal como impensável e utópica era a temporada genial que o Braga está a fazer este ano. O futebol português muda e para melhor. Os jogadores que actuam em Portugal perderam o medo dos pretensos colossos lá de fora (por vezes meras equipas sem renome, mas que bastava serem estrangeiras para derrotarem as equipas portuguesas) e os próprios treinadores mudaram a sua visão defensiva.
Assistimos ao surgimento de treinadores sem medo de arriscar, sem medo de serem felizes, surgidos após a passagem de Mourinho em Portugal. São os casos de Domingos, Manuel Machado (recorde-se o feito do Nacional da Madeira, no início da época passada, ao eliminar o Zenit de San Petersburgo da Liga Europa, detentor ainda na altura da Supertaça Europeia, feito no entanto que, recorde-se, foi desvalorizado nesse dia pela comunicação social pois o Benfica também jogou e venceu), Jorge Costa, Villas-Boas, Paulo Bento em certos aspectos e até de Jorge Jesus (mais pela atitude, menos pela pretensa sabedoria táctica). Claro que ainda há muito para andar, que ainda há Marítimos (como se viu este ano) e outras equipas medrosas e sem mentalidade ganhadora. Mas a escola desta nova mentalidade está a aumentar. O que é um sinal de esperança, que se parece concretizar com a primeira final europeia só entre equipas portuguesas, um luxo que até agora sempre víamos aos países futebolisticamente mais fortes!
2 - É por demais evidente que numa final europeia entre FC Porto e Benfica o tratamento da lusitana comunicação social será sempre favorável aos encarnados. O Porto será tratado como clube estrangeiro, mesmo que não pareça. A SIC, se for este o canal da transmissão da Final, terá os seus bajuladores encarnados, que nem contra o Braga ao que parece conseguiram disfarçar as suas verdadeiras cores, veja-se este link.
Mas o importante, claro, é mesmo o jogo em si, felizmente arbitrado por um juiz estrangeiro. Nunca ousei escrever este sentimento que sempre me ocorreu na alma, pois achei por bem não ferir susceptibilidades patrióticas. Mas agora que podemos estar na eminência de uma Final Europeia contra os nossos rivais de sempre, chegou a altura de o exprimir: nunca senti que as vitórias do FC Porto na Europa fossem vitórias de Portugal. O mesmo país que nos maltrata e sempre nos maltratou, na altura das finais europeias lembra-se hipocritamente que o FC Porto é Portugal? Que o Norte existe? Veja-se, por exemplo, o comentário de Carlos Queiroz.
Não! Viena, Tóquio, Sevilha, Gelsenkirchen e Yokohama nunca foram finais ganhas por Portugal mas sim pela gente do Norte, pela equipa portuguesa mais odiada a sul do Douro. Uma equipa que teve sempre que enfrentar mais que as outras, que soube crescer sem ajudas externas, e mais importante, contra essas ajudas aos outros. Se nós conseguimos o que conseguimos foi porque acreditámos em nós, foi porque lutámos e continuaremos a lutar. Este é o espírito do Porto, do FC Porto e das suas gentes! Nunca foi Portugal que esteve no erguer da Taça dos Campeões pelos capitães Jorge Costa e Vítor Baía, como disseram os comentadores da RTP1 nessa noite mágica de 26 de Maio de 2004. Não foi Portugal que ergueu a Taça UEFA em Sevilha, nesse emocionante jogo da equipa de Mourinho., como quiseram passar a ideia os jornais desportivos do Sul, por uma vez lembrando-se que acima do Douro ainda não é a Galiza.
Portugal só ganhou as taças já cheias de pó do início dos anos 60 (já lá vão quase cinquenta anos). O Porto e o Norte ganharam depois as suas taças europeias e mundiais, com o seu clube-símbolo, o FC Porto. E voltarão a ganhar, assim o esperamos, no próximo dia 18 de Maio.
Próxima crónica: uma análise só virada para a carreira europeia do FC Porto nesta época.
1 comentário:
Caro Dragão
O Grandioso Futebol Clube Porto não representa nem Portugal, nem o norte ou a cidade. O FCP representa-se a si próprio e é muito melhor que qualquer das regiões supracitadas. O país odeia-nos, o norte conspira e alia-se aos medíocres na UEFA e a cidade ( a oficial/boavisteira - CMP) é o que se sabe.
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