Começo este artigo com a constatação de um facto que, pese já ser visível no Presente, adquirirá muito maior ressonância no Futuro: Este Porto de André Villas Boas não tem comparação com nenhum outro na História do Clube. Não quero com isto afirmar que é a melhor Equipa da sua História (não o é, pelo menos para já), mas necessitou de apenas um ano para se colocar entre as 3 melhores, e fê-lo da única maneira possível – muitos Títulos e muito bom Futebol.
Digo que não tem comparação porque na sua caminhada houve factores, pormenores e Jogadores que se cruzaram e conjugaram para que a mesma possuísse um cunho próprio, detentor daquele “travo” especial apenas possível de ser encontrado nos melhores Vinhos e nas melhores Equipas. Quebraram-se recordes, choveram goleadas, golearam-se eternos rivais, viraram-se resultados até estes adquirirem contornos escandalosos no futebol moderno, emanciparam-se Treinadores, confirmaram-se Craques, descobriram-se outros tantos.
Com a excepção do Porto de Mourinho - versão 2003 - não há memória de uma Equipa recolher tantos elogios pelo Futebol praticado como aconteceu este ano, conquistando a admiração da Europa do Futebol pela qualidade e velocidade no passe, pela segurança defensiva e pela tremenda capacidade goleadora revelada.
Mas não menos impressionante foi a imensa gama de recursos apresentados. Se o Porto de Mourinho era uma equipa de Toque e posse de bola e o de Jesualdo vivia sobretudo de transições rápidas, a verdade é que o de Villas Boas faz ambas as coisas e igualmente bem, contando ainda com um “Upgrade” em relação ás anteriores: a quantidade de rematadores de meia-distância que possui - Hulk, Guarín, Moutinho (que só peca por faze-lo poucas vezes, como o próprio já reconheceu), Belluschi….e se a isto acrescentarmos a capacidade goleadora demonstrada pelos Centrais, é fácil concluir que esta Equipa atacou por Terra, Ar e Mar.
Principais Figuras? Falcão e Hulk são, cada um do seu modo, jogadores únicos nas posições que ocupam. Olho para eles um pouco como olho para a equipa: poderá haver quem seja melhor do que eles, mas não há nada nem ninguém que se lhes assemelhe. Hulk é um fenómeno da natureza; não por ser rápido ou forte (não falta quem também o seja), nem pela potência que demonstra no remate ou pela agressividade que coloca em todo o seu futebol. O que surpreende é a forma como todas estas características se conjugaram e coexistem de forma harmónica neste Atleta, já de si possuidor de excelente técnica; isto, e o facto de ser quase infatigável; jogando sempre a ritmos elevadíssimos sem se lesionar e sem aparentar necessitar descanso algum. Durante o longo e difícil mês de Janeiro, em que a equipa se viu privada de Falcão (e depois também de Álvaro Pereira) e sofreu enorme quebra de forma (sabemos hoje que planeada, para assim poder atacar o último terço da temporada na plenitude das suas capacidades) e de jogo, foi ele que levou a equipa ás costas no Campeonato e na Taça de Portugal. E fê-lo de forma brilhante.
Mas Falcão é um caso ainda mais raro e sério. Peço a todos que se tentem recordar do que pensaram e sentiram quando viram pela primeira vez este jovem Colombiano, em plena “ressaca” da saída de Lisandro Lopez para o Lyon - Porque não era rápido como este; porque Lisandro era desequilibrador e goleador numa só peça e olhando para Falcão não dava para perceber o que era ou deixava de ser. Fosse qual fosse o ângulo de comparação, ficava sempre a perder em algo para o saudoso Argentino. Mas a verdade é que havia aterrado na Invicta um monstro de jogador, que é a vários tempos um predador de área como já não se fazem, um fantástico Cabeceador (onde a um timing de salto perfeito se une uma técnica de execução não menos perfeita), um óptimo rematador e um extraordinário Jogador de Equipa. Mas o que mais retemos ao vê-lo jogar é o seu Estilo; tal como ocorria com Deco quando este pegava na bola é impossível confundir Falcão com qualquer outro dos jogadores em campo; o modo como se antecipa e ganha espaços aos defesas; o modo como, não sendo forte, é quase impossível tirar-lhe a bola, tal a forma como a esconde e protege; o modo como recua em apoio aos médios ressurgindo segundos depois nas costas das defesas adversárias como um fantasma para concluir a jogadas; e acima de tudo, a Classe com que executa os seus melhores Golos, chegando a sobrepor-se aos mesmos. Há dois momentos que ilustraram isto de forma perfeita: O golo que decidiu a final da Liga Europa e o golo de calcanhar na goleada ao Benfica no Dragão; no primeiro, pôs meio mundo de boca aberta com o modo como se impulsionou e desferiu o cabeceamento; no segundo, atendendo ao modo como se contorceu todo no ar, quase como se fosse de borracha, para de seguida fazer o que fez, atrevo-me a dizer que foi o mais belo golo que Marco Van Basten (nunca) marcou. E em ambos os casos uma constatação: normalmente, quando se assiste ás repetições de grandes golos apreciam-se pormenores como a trajectória da bola, o efeito que a mesma leva, ou a potência com que o remate foi desferido. No caso de Falcão, ao fim de 5 repetições, ainda não tiramos os olhos foi do jogador…
Como Portista, comparar Hulk com Falcão é um exercício de puro gozo, pois faço-o com a satisfação de ter ambos na minha equipa; mas sendo este um espaço de discussão e partilha, não deixarei de dar a minha opinião: Hulk é um jogador que, bem orientado, possui limites difíceis de calcular. Mas não tenho dúvidas em afirmar que, actualmente, Falcão é melhor Jogador, com um Futebol mais equilibrado (e de certo modo até mais completo) e interpretando o Jogo de um modo mais inteligente. Favorece-o ainda o facto de possuir um estilo menos exposto a oscilações de rendimento.
Não o duvidem, se os muitos Olheiros que os observaram se sentassem todos num Café e discutissem sobre o que viram de ambos chegariam todos à mesma conclusão: Hulk é verdadeiramente Incrível (ainda que não o saiba ser em todos os momentos do jogo), mas numa outra equipa e num outro Campeonato tanto o poderá ser como não; já Falcão dá a todos a sensação de que será Incrível em qualquer Equipa ou Campeonato, faça chuva ou faça sol (ou faça neve…).
Dito tudo isto, não deixa de ser notável que a grande figura do Campeonato seja o Treinador, que no exercício da sua função demonstrou ser tão ou mais decisivo e desequilibrador que qualquer um dos Futebolistas supracitados: não há mais elogios que possa fazer a Villas Boas pois este já tem a Europa toda a elogia-lo. Mas num Clube como o F.C.Porto, que na sua História já conquistou Campeonatos com todo o tipo de jogadores, de estilos de jogo e de sistemas tácticos, considero fascinante o facto de também ser possível ganhar estando sentados no banco Homens de personalidades tão díspares como as de Yustrich, Ivic, Robson, Pedroto, Mourinho, Jesualdo e Villas Boas. Considero Mourinho o melhor Treinador do Mundo, mas repito: é bom ver como o Porto também consegue ser Conquistador intra e extra muros possuindo um Treinador com o perfil de Villas Boas, que muito aprendeu de Mourinho mas cujos estilos estão bem demarcados; igual de inteligente mas mais sorridente, com uma abordagem mais positiva nos confrontos fora de campo; e enquanto Mourinho criou uma “Persona” para os momentos em que surge em público, já Villas Boas limita-se a ser ele mesmo. Feliz o Clube que soube retirar o melhor partido de ambos…
Uma palavra ainda para Helton e para James Rodriguez. Quiçá revigorado pela Braçadeira de Capitão, Helton realizou a sua melhor Temporada de Dragão ao peito, e deixo um repto aos leitores da Mística Azul e Branca: que Guarda-Redes a actuar na Europa realizou este ano melhor Temporada que este Veterano Brasileiro, que não sabe estar num jogo sem ser com um sorriso nos lábios?
Já James Rodriguez representa o Futuro (passando a ter em breve a companhia de Iturbe), tendo terminando a temporada a exercer de Maestro da Equipa em pleno Jamor e transformando em ouro cada jogada em que interveio. A sua actual posição em campo - no lado esquerdo do ataque - prender-se-á com o facto de aí estar tacticamente mais “resguardado”, pois olhando para ele é difícil vislumbrar-se um “Extremo” (como o sabem ser Hulk e Varela); falta-lhe o pique na velocidade, a agressividade e o descaro a enfrentar os defesas próprios deste tipo de jogadores. O Futebol de James cresce na exacta medida em que se aproxima de zonas mais centrais, como um 10 vagabundo que pode também pode (aí sim) cair para as alas. Nestas condições a sua técnica e a sua qualidade de passe respiram muito melhor. Classe tem ele a rodos e tem apenas 19 anos – a mesma idade que tinha Carlos Alberto quando Mourinho fez dele um dos artífices do último Porto Campeão Europeu. Não seria mau se alguém do Clube lhe mostrasse o que foi a trajectória de Carlos Alberto desde então…..Há histórias de desperdício de Talento que são demasiado más para se permitir que se repitam.
P.S. – Como Portista, quero deixar aqui uma palavra de agradecimento a Jorge Nuno Pinto da Costa. Neste mesmo espaço, e não há muito tempo, critiquei-o e elogiei-o por igual. Mantenho todas as críticas, como mantenho todos os elogios: agradeço-lhe pelo excelente trabalho que continua a realizar à frente dos destinos do meu Clube, tendo-se este inclusive tornado o Clube Português mais Titulado. Como Vencedor, poucos Presidentes na História do Futebol Mundial lhe poderão fazer sombra, para mais sabendo que aqui, e diga-se o que se disser, as nossas vitórias tiveram como principais pilares o Esforço e a Competência. É por tudo isto que eu desejava que o comportamento e o discurso que por vezes adopta não ensombrassem esses mesmos pilares. Mas acima de tudo, Obrigado!
Saudações Azuis e Brancas.
4 comentários:
Mas que fabuloso post...!!!
Caro Mito
Parabéns pela sua excelente reflexão sobre o nosso Clube. O meu amigo sabe "ler" bem o futebol e gostava de o ver mais vezes por cá.
Abraço
Agradeço a ambos a "visita" ao meu Pensamento, assim como os elogios. A verdade é que a nossa Equipa facilitou-me em muito a tarefa. O prazer que tenho ao escrever sobre ela é equiparável ao de ver este Porto jogar. O Futebol é jogado para nós adeptos, mas é pelos jogadores que nós vamos ao estádio ou "colamos" no ecrã.
E Supertaça Europeia contra o Barcelona.......há muito tempo (contaram-me que) vencemos o Arsenal na Constituição, que por aqueles anos era a melhor equipa do mundo; Foi tão especial que até se mandou fazer um Troféu a assinalar essa vitória. Desde então, o Porto cresceu muito; já não será na Constituição, mas tão só no Mónaco. e à nossa frente estará novamente a mehor equipa do mundo. Desta vez, se ganharmos dão-nos logo uma taça para as mãos ;)
Caro Mito
Só uma achega: o jogo com o Arsenal foi no Campo do Lima cedido pelo Académico Futebol Clube em 7 de Maio de 1948 visto o Campo da Constituição não reunir as condições necessárias para um jogo dessa envergadura. Ganhámos por 3-2 e eu que tinha 10 anos ESTIVE LÁ! O nosso treinador era o Vaschetto e o guarda-redes o famoso Barrigana. A minha prenda por ter passado na 4ª classe foi o meu Pai meter-me sócio do clube. Era o sete mil e tal, o que corresponderia hoje se ainda fosse sócio, a um número abaixo de 500.
Ih!Ih!Ih! Sou velho como o caraças...
Abraço
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